Título original – The Cassandra Crossing
Elenco de luxo, numa produção de luxo (de Carlo Ponti) e internacional (a envolver Itália, USA, Inglaterra, França, Suiça, Alemanha), num grande actioner catastrofista.
Os passageiros de um comboio internacional, que viaja entre vários países, vêem-se a braços com uma doença viral a bordo, cerco de autoridades e a possibilidade do comboio estar a ser encaminhado para uma ponte antiga, que pode desabar a qualquer momento.
Os 70s foram prodigiosos em filmes-catástrofe.
A certa altura, alguém se lembrou (e bem) de combinar esse (sub-)género com o thriller e o suspense.
“The Cassandra Crosing” é um desses exemplos e um dos melhores.
A catástrofe? Vírus mortal e contagioso à solta num combóio.
Thriller? Quem deveria salvar os passageiros quer é matá-los e cria uma falsa justificação para os acalmar.
Suspense? A praga não pára de fazer novos doentes, a conspiração avança e ninguém a percebe.
Acção? Alguns dos passageiros percebem o que se está a passar e organizam uma revolta.
Ahhh, querem outra catástrofe? O comboio avança para uma ponte a cair de podre.
O filme faz-nos sentir todo este stress, claustrofobia, urgência e pânico, criando até grandes morceaux de bravoure (o resgate do cão com um helicóptero, com o comboio em movimento; o “escalar” do comboio a alta velocidade; o tiroteio a bordo, com o constante salvar de passageiros que surgem na line of fire; o travar e fugir do comboio quando este se aproxima da ponte maldita).
E não é que a maldita ponte se parece mesmo com a Ponte D. Maria, do Porto?
(não admira que na época alguns espectadores desenvolvessem um medo tal de nunca passar a dita ponte em comboio)
À boa maneira do género, somos apresentados a uma variedade de personagens, que nos suscita estima e preocupação.
Inserido nas regras do género, presença de elenco luxuoso, cheio de estrelas da época e respeitáveis veteranos.
George Pan Cosmatos era um bom tarefeiro para action thrillers (“Escape to Athena”, “Rambo: First Blood – Part II”, “Cobra”) e aqui volta a demonstrá-lo. O ritmo é vivo, rápido, tenso e faz o espectador sentir-se a bordo do comboio e não na sala.
O elenco é grandioso e presta-se de forma adequada ao filme.
No campo do cinema-espectáculo, cinema-catástrofe, action thriller (dos 70s ou outro tempo), um marco indiscutível.
Um pequeno clássico.
Muito recomendável.
“The Cassandra Crossing” não tem edição portuguesa. A edição espanhola conta com legendas em Português. O filme existe também noutros mercados, a bom preço.
Realizador: George Pan Cosmatos
Argumentistas: George Pan Cosmatos, Robert Katz, Tom Mankiewicz
Elenco: Sophia Loren, Richard Harris, Martin Sheen, O.J. Simpson, Lionel Stander, Ann Turkel, Ingrid Thulin, Lee Strasberg, Ava Gardner, Burt Lancaster, Lou Castel, John Phillip Law, Ray Lovelock, Alida Valli
Trailer
Filme
Orçamento – 5 milhões de Dólares
Bilheteira – 15 milhões de Dólares
O filme inspira-se numa experiência verídica de George Pan Cosmatos, quando criança, a viver no Egipto. O realizador assistiu e viveu um surto de cólera, com toda a paranóia das pessoas.
Charlton Heston recusou ser o protagonista, pois não queria passar 12 semanas em Itália e Suíça; por outro lado, o lendário actor achava que filmes sobre doenças não vingavam nas bilheteiras.
Peter O’Toole também recusou ser protagonista.
James Coburn recusou o personagem que seria entregue a O.J. Simpson. Curiosamente, Coburn, Simpson e Sophia Loren encontrar-se-iam em “Firepower” (1979, de Michael Winner).
Grande parte do orçamento veio de um fundo alemão.
Lord Lew Grade (importante produtor britânico dos 70s) também investiu no orçamento do filme.
O filme já tinha garantidos direitos televisivos e de distribuição britânica e americana antes do começo das filmagens.
O serviço ferroviário suíço forneceu um comboio completo para as filmagens.
As filmagens na Suíça tiveram atrasos devidos a actos de vandalismo ao comboio usado.
Os interiores foram filmados nos Estúdios Cinecittà, em Roma.
Sophia Loren disse que Ava Gardner a aconselhou a filmar os seus close-ups pela manhã – segundo a diva veterana, o (bonito) look (de ambas) não iria durar todo o dia.
O filme reúne dois casais – Carlo Ponti & Sophia Loren (produtor e protagonista), Richard Harris & Ann Turkel (protagonista e secundária).
Turkel estava grávida durante as filmagens.
Reencontro entre Ava Gardner e Burt Lancaster, depois de “Killers” (1946). Neste novo encontro, os dois não contracenam.
Segundo de quatro filmes onde Richard Harris e Ann Turkel contracenam – “Ravagers” (1979), “Golden Rendezvous” (1977), “The Cassandra Crossing” (1976) e “99 and 44/100% Dead” (1974).
A ponte é referida como “The Kaslindrliv Bridge”. A ponte real usada era “The Viaduct of Garabit”, localizada no Sul de França. Construída entre 1881 e 1884, teve como arquitecto Gustave Alexandre Eiffel (o mesmo da Torre Eiffel e da… Ponte D. Maria). Apesar do que se mostra no filme, a ponte ainda está em óptimo estado para uso de comboios.
O filme seria o primeiro de oito, numa parceria entre Carlo Ponti e o governo iraniano, com filmes a serem filmado no Irão. O negócio nunca avançou.
Apesar de ter sido um flop nos USA, o filme conseguiu sucesso suficiente na carreira europeia e, principalmente, no Japão.