Título original – Fair Game
Cindy Crawford era, nos 90s, uma das top models mais populares e importantes do meio.
O Cinema bateu-lhe à porta e convidou-a a ser actriz.
Eis o seu primeiro filme.
Uma jovem advogada é alvo de várias tentativas de homicídio.
Um jovem polícia procura protegê-la e descobrir o que se passa.
É um policial actioner de moldes clássicos na sua ideia (bons, maus, polícias corruptos, beldade em perigo, perseguições, confrontos, incompatibilidade de personalidades e depois muita paixão).
Assim sendo, nada de novo nem personalizado.
Elogia-se o ritmo imparável, mas que sacrifica a lógica e a coerência dos eventos.
Destaque para a perseguição na auto-estrada, de bom nível.
William Baldwin e Cindy Crawford cumprem, mas sem chama. Ele não consegue igualar os grandes action heroes da época, ela tem beleza e presença mas não convence nas suas lines e emoções.
Ambos protagonizam a cena de sexo mais desnecessária e parva do cinema recente.
Steven Berkoff é sempre temível como vilão (“Beverly Hills Cop”, “Rambo II”), mas aqui limita-se a fazer o (bom) uso da sua voz.
Entretém e diverte.
Mas deixa a sensação de “apenas mais um”.
Era mais prático fazer dele um telefilme ou um Pilot para uma série televisiva, pois parece um produto mais virado para o pequeno ecran.
Vê-se bem.
“Fair Game” não é um remake de “Cobra”. Mas é uma nova adaptação do mesmo livro, com história semelhante.
Meçamos alguns parâmetros:
- Narrativamente, as semelhanças são muitas. Só muda a profissão da menina e as motivações dos vilões.
- Realização em ambos os casos de modo meramente ilustrativo, sem rasgos. Elogia-se o bom ritmo em ambos, mas há frequentes erros de transição, algum atabalhoamento e falta de lógica e coerência.
- Há boa acção, mas “Cobra” tem mais.
- Ambos são plenos de violência e elevado body count (frequentemente desnecessários, nos dois casos, até mais em “Fair Game”).
- Ambos têm visual próprio (“Cobra” é mais dark e estilizado, “Fair Game” é mais “limpo” e standard).
- “Cobra” tem ar de produção mais luxuosa, “Fair Game” parece mais baratucho.
- Cindy Crawford e Brigitte Nielsen são bonitas e com boa presença face às câmaras, mas são péssimas actrizes. Cindy vence, pois é mais bonita.
- William Baldwin não se porta mal em termos de presença e capacidade como action hero. Mas não tem qualquer hipótese face a Sylvester Stallone, um action hero real deal.
- O personagem de Billy é apenas mais um polícia, o personagem de Sly é mais estilizado, personalizado e com poder icónico.
“Cobra” consegue ser melhor actioner que “Fair Game”.
“Fair Game” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Andrew Sipes
Argumentista: Charlie Fletcher, a partir do romance de Paula Gosling (“A Running Duck”)
Elenco: William Baldwin, Cindy Crawford, Steven Berkoff, Miguel Sandoval, Salma Hayek, Jenette Goldstein
Trailer
Orçamento – 50 milhões de Dólares
Bilheteira – 11 milhões de Dólares (USA); 26 (mundial)
Várias nomeações para os Razzie 1996 – “Pior Actriz” (Cindy Crawford foi derrotada por Elizabeth Berkley em “Showgirls”), “Pior Casal em Cena” (William Baldwin & Cindy Crawford foram vencidos por qualquer par em “Showgirls”), “Pior Nova Estrela” (Cindy Crawford foi derrotada por Elizabeth Berkley em “Showgirls”).
Nomeada para “Pior Actriz”, nos The Stinkers Bad Movie 1995. Cindy Crawford foi derrotada por Julia Sweeney em “It’s Pat: The Movie”.
O romance de Paula Gosling foi editado em 1974 e recebeu muitos elogios e prémios.
O romance de Gosling já tinha sido alvo de uma adaptação cinematográfica – foi em 1986, com “Cobra” (de George Pan Cosmatos, com Sylvester Stallone e Brigitte Nielsen).
Produção de Joel Silver.
É o primeiro e único filme de Andrew Sipes, um argumentista com curriculum em Televisão e séries policiais (“Simon & Simon”, “The Equalizer”, “Spenser: For Hire”).
Keanu Reeves foi considerado como protagonista, mas recusou.
Julianne Moore, Geena Davis, Brooke Shields e Drew Barrymore foram consideradas como protagonista.
Elizabeth Peña participava, mas os test screenings não lhe eram favoráveis.
Salma Hayek substituiu Peña.
Hayek aceitou participar, mas na condição de ela reescrever as suas lines.
Steven E. de Souza (um habitual nos actioners produzidos por Silver – “48 Hrs.”, “Commando”, “Die Hard”) foi chamado para fazer alterações no argumento.
Michael Kamen era o compositor do score (Kamen já era um habitual nos actioners produzidos por Silver – “Lethal Weapon”, “Die Hard”, “Road House”). O seu score foi rejeitado e Mark Mancina foi chamado para o substituir.
O filme teve imensos problemas na sua post-production. Os primeiros test screenings foram desastrosos, o que obrigou a filmar novas cenas e a fazer uma nova montagem.
Muitas nas cenas novas envolviam a personagem de Crawford (no sentido de a definir melhor) e ela com Baldwin (no sentido de procurar criar mais humor e tensão sexual entre ambos).
Dan Hedaya tinha mais screen time do que aquele que se vê no cut final. Tudo por causa da remontagem.
Cindy Crawford não lamenta ter feito o filme, mas reconhece a sua falta de preparação como actriz.
Sobre Paula Gosling:
https://www.fantasticfiction.com/g/paula-gosling/
https://www.goodreads.com/author/show/71096.Paula_Gosling