Rudyard Kipling é um dos grandes escritores de sempre.
A sua obra é sempre inspiradora para o Cinema.
Eis uma das mais felizes adaptações.
Com grandes nomes à frente e atrás das câmaras.
Índia, Século XIX.
Três militares britânicos e o seu ajudante nativo procuram destruir uma seita assassina do culto Thuggee.
Aventura exótica clássica que assenta na dinâmica do trio protagonista, na forma como agem e se complementam, na personalidade de cada um, onde todas as complicações e peripécias se resolvem com cavalheirismo, sorrisos e destreza.
Em paralelo há a presença humilde e dedicada de um nativo que “só” pretende ser um militar de Sua Majestade.
É a aventura e vontade do simpático Gunga Din, a sua relação com os três militares e a cumplicidade entre eles que valorizam ainda mais o humor e a riqueza humana da narrativa.
George Stevens combina, agilmente, ritmo, humor, romance, espectáculo, relevo humano e grande entretenimento (a hilariante apresentação dos três protagonistas é um magnífico exemplo de como introduzir e apresentar personagens; a cena na aldeia é admirável – começa com uma calma tensão e explode numa incrível set piece de estonteante acção).
Cary Grant, Victor McLaglen e Douglas Fairbanks Jr. estão perfeitos no seu cavalheirismo, simpatia, boa disposição e heroísmo, mostrando perfeita química entre eles.
Sam Jaffe é adorável.
Joan Fontaine é uma Lady.
Um alegre momento de aventura exótica, ao nível do melhor do género.
Um clássico.
Obrigatório.
“Gunga Din” tem edição portuguesa e já andou a bom preço. Mas é uma raridade nas lojas (a edição é da “Costa do Castelo”, que muito clássico dos 30s e 40s editou). O filme existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: George Stevens
Argumentistas: Joel Sayre, Fred Guiol, Ben Hecht, Charles MacArthur, William Faulkner (sem crédito), Lester Cohen (sem crédito), John Colton (sem crédito), Vincent Lawrence (sem crédito), Dudley Nichols (sem crédito), Anthony Veiller (sem crédito), inspirados pelo poema de Rudyard Kipling
Elenco: Cary Grant, Victor McLaglen, Douglas Fairbanks Jr., Sam Jaffe, Eduardo Ciannelli, Joan Fontaine, Montagu Love, Robert Coote
Trailer
Filme
https://ok.ru/video/276410862243
O Poema de Rudyard Kipling
Orçamento – 1.9 milhões de Dólares
Bilheteira – 2.8 milhões de Dólares
Nomeado para “Melhor Fotografia – P&B”, nos Oscars 1940. Perdeu para “Wuthering Heights” (Gregg Toland)
“Filme a Preservar”, pelo National Film Preservation Board 1999.
Produção de Pandro S. Berman.
Os direitos do poema de Kipling foram adquiridos em 1936 e procurou-se que Howard Hawks realizasse o filme. Hawks pensou em Robert Donat, Ronald Colman, Spencer Tracy, Ray Milland e Franchot Tone. Hawks dedica-se primeiro a “Bringing Up Baby” (1938, também com Cary Grant). O flop deste filme foi decisivo para que o estúdio rejeitasse Hawks.
William Faulkner elabora um primeiro argumento, com Ben Hecht e Charles MacArthur a fazerem alterações quando Hawks ainda estava ponderado como realizador.
George Stevens chegou a ser cameraman para Hal Roach e filmou muitas comédias com Stan Laurel & Oliver Hardy. Essa experiência na comédia foi determinante para a sua escolha como realizador.
Na fase Hawks, o personagem Cutter ia ter o rosto de Douglas Fairbanks Jr..
Consta que Cary Grant queria mesmo ser Cutter (estava pensado para ser Ballantine – que seria entregue a Fairbanks Jr.) e pediu ao produtor Pandro S. Berman para trocar com Fairbanks Jr..
Consta que Grant sugeriu Fairbanks Jr. (eram grandes amigos) para Ballantine.
Consta que George Stevens pediu a Fairbanks Jr. e a Grant para jogarem ao “cara ou coroa” para se decidir quem ficaria com o personagem Cutter. Grant ganhou.
Sabu ia ser Gunga Din. Mas o actor estava indisponível, pelo que Sam Jaffe foi chamado. Jaffe tinha 47 anos. Jaffe diria anos depois que baseou a sua interpretação em… Sabu.
John Sturges (futuro realizador de Cinema – “The Magnificent Seven”) era um dos editores (o seu nome não recebe crédito). Sturges faria um remake de “Gunga Din” – “Sergeants 3” (1962, com Dean Martin, Frank Sinatra, Peter Lawford e Sammy Davis Jr.).
O final ia ter um actor a interpretar Rudyard Kipling (o testemunhar de tais eventos ia inspirá-lo para o poema que inspira o filme). Reginald Sheffield interpretava o escritor. A família do escritor protestou e tal cena foi removida. Recentemente a cena foi restaurada na montagem final.
Filmado na Califórnia.
Recorreu-se a mais de 600 extras.
O filme foi feito antes da independência da Índia.
Na época era o filme mais caro da RKO. Ultrapassou o orçamento inicial em 500.000 Dólares.
Joan Fontaine apaixonou-se por George Stevens durante as filmagens.
Os personagens Cutter, Ballantine e MacChesney são baseados nos personagens Otheris, Mulvaney e Learoyd, protagonistas de “Soldiers Three”, de… Rudyard Kipling.
O personagem de Cary Grant chama-se Archibald Cutter. Archibald Leach é o nome verdadeiro de Cary Grant.
O som do gongo no genérico inicial é o mesmo que foi usado para chamar “King Kong” (1933).
A cena da ponte foi feita em estúdio com uma ponte criada de propósito, elevada a poucos metros do chão. O fundo é um matte painting.
O confronto final entre o exército britânico e os Thuggees foi uma ideia da RKO, pois considerava o final inicial muito brando.
Na época, a revista indiana “Filmindia” referia-se negativamente ao filme devido à visão errada da Índia e dos seus habitantes.
Fairbanks Jr. conheceu muitos hindus que acreditavam que o filme tinha sido filmado na Índia.
Douglas Fairbanks Jr. considera que “Gunga Din” é a única obra-prima cinematográfica da sua carreira.
Cary Grant e Joan Fontaine reencontrar-se-iam em “Suspicion” (1941) – realizado por Alfred Hitchcock, Fontaine ganharia o Oscar para “Melhor Actriz”.
O filme é mencionado numa canção de Bob Dylan, “You Ain’t Goin” –”Clouds so swift and rain fallin’ in / Gonna see a movie called Gunga Din / Pack up your money, pull up your tent, McGuinn / You ain’t goin’ nowhere“.
Nos 80s, Menahem Golan (um dos líderes da Cannon Films) planeou um remake – o seu quarteto ideal era Sean Connery, Michael Caine, Roger Moore e Ben Kingsley.
Em 1998, o American Film Institute incluiu “Gung Din” na lista de 400 filmes candidatos aos “Top 100 Greatest American Movies”.
Em 2000, o American Film Institute incluiu “Gung Din” na lista de 500 filmes candidatos aos ”Top 100 Funniest American Movies”.
Está na posição #74 dos “100 Years…100 Cheers”, do American Film Institute.
Está nos “1001 Movies You Must See Before You Die”, de Steven Schneider.
“Gunga Din” é um dos filmes preferidos de William Goldman (prestigiado escritor, argumentista e script supervisor). O seu primeiro romance, “The Temple of Gold” tem o título como referência ao local do final do filme; o filme é mencionado em “The Princess Bride”.
“Gunga Din” foi uma influência em diversos filmes – “Star Wars – Episode VIII: The Last Jedi” (2017), “Sahara” (1943), “Bridge on the River Kwai” (1957), “Seven Samurai” (1954), “Twelve O’Clock High” (1949), “To Catch a Thief” (1955, também com… Cary Grant), ”Three Outlaw Samurai” (1964), “Letter Never Sent” (1960), “Indiana Jones and the Temple of Doom” (1984).
“Indiana Jones and the Temple of Doom” (1984) tem referências a “Gunga Din” – no jantar, o Capitão Blumburtt fala sobre eventos ocorridos no filme; alguns eventos e cenas são nítidas referências e homenagens ao filme de Stevens.
Rian Johnson obrigou cast & crew a ver “Gunga Din” antes das filmagens de “Star Wars – Episode VIII: The Last Jedi”.
Sobre Rudyard Kipling:
https://www.goodreads.com/author/show/6989.Rudyard_Kipling
https://www.nobelprize.org/prizes/literature/1907/kipling/biographical/
https://www.britannica.com/biography/Rudyard-Kipling
https://www.poetryfoundation.org/poems/46473/if—
http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/kipling_rudyard.shtml
http://www.poetryloverspage.com/poets/kipling/kipling_ind.html
Pode comprar este filme aqui ou aqui.