A Vingança (1999)

Payback - Poster 2

 

Título original – Payback

 

“Point Blank” (1967) tornou-se muito emblemático como título neo-noir.

O romance de Donald Westlake (escrito sob o pseudónimo de Richard Stark) que o inspirou gozava de excelente reputação (bem como a popularidade vivida pela saga literária do personagem Parker).

Eis uma nova adaptação.

Brian Helgeland (a caminho do Oscar ganho como “Melhor Argumento Adaptado” em “L.A. Confidential”) estreia-se na realização.

Mel Gibson produz e protagoniza.

 

Porter, um bem-sucedido ladrão, é traído pelos seus colegas e deixado como morto.

Depois de curado, Porter parte em busca do seu dinheiro e de vingança.

Payback - screenshot 1

Payback - screenshot 2

Payback - screenshot 3

Eis o gangster noir, clássico e puro, de volta ao seu melhor nível – ou seja, à 60s e 70s, à Don Siegel e à Sam Peckinpah.

Payback - screenshot 8

Payback - screenshot 9

Payback - screenshot 10

Pleno de politicamente incorrecto (o protagonista a roubar dinheiro a um “deficiente”; é a esposa do protagonista que dispara sobre ele; a aliança cravada na parede por uma seringa; polícias corruptos a meterem-se no meio e quererem um quinhão; a relação sexo e violência entre o vilão e uma call girl; o protagonista salva a rapariga porque se esqueceu dos cigarros) e violência (a tortura ao protagonista), o filme não se inibe de um humor bem cínico (a forma como o protagonista despacha os seus inimigos e emprega a violência), procurando a ausência de simpatia e complacências para com o espectador.

Payback - screenshot 13

Payback - screenshot 16

Payback - screenshot 17

É certo que o protagonista é um bad guy, mas este é o mau menor face à escumalha que o rodeia e traiu. Se Porter não ganha totalmente a nossa simpatia, pelo menos recebe o nosso aval face às suas motivações e acções.

Payback - screenshot 18

Payback - screenshot 20

Payback - screenshot 21

Excelente fotografia, com um descolorido “lavado em lexívia” a compensar o facto de não ser a P&B.

Payback - screenshot 22

Payback - screenshot 23

Payback - screenshot 25

Música bem moody, adaptada ao estilo do filme, com laivos jazzy dos good old days.

Payback - screenshot 15

Payback - screenshot 4

Payback - screenshot 5

Payback - screenshot 11

Payback - screenshot 19

Mel Gibson tem aqui uma das sua mais perfeitas interpretações, criando um personagem duro, violento, com uma moral (muito) própria.

Gregg Henry cria um vilão verdadeiramente odioso.

O restante elenco é igualmente notável, com destaque para uma ardente Lucy Liu.

Payback - screenshot 37

Payback - screenshot 26

Brian Helgeland dirige com estilo (o uso da cor), garra (o tom dado ao filme) e criatividade (as cenas de acção – atenção ao tiroteio entre táxi e carrinha, a funcionar como um modelo de encenação, planeamento e montagem), pleno de ritmo, sabendo dar o tom perfeito e filiando o filme nos modernos clássicos do género.

Payback - screenshot 14

O filme foi alvo de dois Cuts:

  • O Director`s Cut é mais violento (Porter chega a espancar a esposa), menos complacente (há menos humor), Porter é mostrado como um violento sem redenção e deixa um final ambíguo face ao “herói”.
  • O Theatrical Cut mantém alguma violência, dá um tom mais descontraído, cria uma love story, mostra um Porter mais simpático e cria um final mais “optimista”.

 

São dois cuts brilhantes que originam dois filmes diferentes e igualmente excelentes.

 

A visão das duas versões é estimulante para uma reflexão/debate cinéfilo.

Payback - screenshot 27

Payback - screenshot 28

Um entusiasmante festival de violência e bad guys, que retoma o melhor do gangster noir, com grande estilo.

 

Obrigatório.

 

“Payback” tem edição portuguesa e anda a bom preço. Mas é o Theatrical Cut. O Director`s Cut pode ser encontrado em diversas edições europeias (a espanhola tem legendas em Português), a bom preço.

Payback - screenshot 30

Payback - screenshot 31

MSDPAYB EC006

Realizador: Brian Helgeland

Argumentista(s): Brian Helgeland (no Director`s e Theatrical Cut), Terry Hayes (no Theatrical Cut), a partir do romance (“The Hunter”) de Richard Stark (pseudónimo de Donald E. Westlake)

Elenco: Mel Gibson, Gregg Henry, Maria Bello, David Paymer, Bill Duke, Deborah Kara Unger, John Glover, William Devane, Lucy Liu, Jack Conley, James Coburn, Kris Kristofferson (no Theatrical Cut), Sally Kellerman (no Director`s Cut)

 

Orçamento – 90 milhões de Dólares

Bilheteira – 81 milhões de Dólares (USA); 161 (mundial)

 

Trailers

 

Payback - Poster 5

Nomeado para “Melhor Thriller”, nos Prémios Saturn 2000. Perdeu para “The Green Mile”.

Mel Gibson esteve nomeado para “Actor Favorito – Acção”, nos Prémios Blockbuster 2000. Perdeu para Pierce Brosnan em “The World is not Enough”.

“Melhor Música”, nos Prémios BMI Film & TV 1999.

“Prémio do Público”, no Festival du Film Policier Cognac 1999.

Payback - screenshot 6

Brian Helgeland estava a trabalhar em “Payback” durante as filmagens de “Conspiracy Theory” (de Richard Donner, com Mel Gibson e Julia Roberts). Gibson gostou da ideia a decidiu produzir o filme.

 

O filme é uma nova adaptação do romance que já inspirara “Point Blank” (1967, de John Boorman, com Lee Marvin). Em momento nenhum se falou em Remake do filme de Boorman.

 

Helgeland queria contar com a presença de Angie Dickinson (ela fazia parte de “Point Blank”), para dar voz à vilã.

Helgeland queria tanto Maria Bello no filme, que chegou quase a persegui-la.

 

Gibson chegou a considerar filmar a Preto-e-Branco, mas mudou de ideias por tal ser perigoso nas bilheteiras.

Mesmo assim, o filme foi alvo de um “banho de lexívia” para escurecer um pouco a cor.

 

Reencontro entre Mel Gibson e James Coburn, depois de “Maverick” (1994). Os dois actores deram-se muito bem e Gibson convidou Coburn para este novo filme.

Reencontro entre James Coburn e Kris Kristofferson, depois de “Pat Garrett and Billy the Kid” (1973, de Sam Pekinpah).

Payback - screenshot 12

As filmagens começaram em 1997. Devido ao complicado processo de re-shoots (já explico), o filme só ficaria pronto em 1999.

Filmado em Chicago e em Los Angeles. A história nunca refere a cidade onde se passa a acção.

 

Deborah Kara Unger chegou a partir duas costelas numa cena (quando é atacada pelo personagem de Gibson – tal cena só consta no Director`s Cut).

Coburn não gostava dos charutos que lhe davam (como props). Como tal, foi até ao trailer de Gibson e roubou-lhe alguns.

 

Numa cena, um dos polícias diz a Porter “Don’t Let The Bastards Get You Down” – é uma referência a uma canção de Kris Kristofferson.

Um bar chama-se “Varrick’s” – é uma referência a “Charley Varrick” (1973, de Don Siegel, com Walter Matthau), clássico do género e filme muito influente sobre “Payback”.

A arma de Porter é uma Smith & Wesson Model 27 357 Magnum.

Payback - screenshot 35

John Boorman (realizador de “Point Blank”) confessou não ter visto “Payback”, mas leu o argumento – afirmou que lhe parecia uma versão rejeitada por ele e Lee Marvin.

O filme estreou 20 anos depois de “Mad Max”. Nesse filme e em “Payback”, Gibson interpreta personagens em busca de vingança, mas em lados opostos da Lei.

Payback - screenshot 34

Após as filmagens, o cut de Helgeland é mostrado.

O estúdio considera o filme demasiado frio e duro, alguns amigos de Gibson consideram que o filme muda e prejudica a imagem simpática que o actor tem junto do público.

São pedidas mudanças, no sentido de tornar o protagonista mais simpático, de criar uma love story e dar mais humor.

Helgeland recusa e é despedido (dois dias depois de ter ganho o Oscar).

Para fazer a escrita das novas cenas, Gibson chamou Terry Hayes, que já conhecia da saga “Mad Max” – Hayes tinha escrito os episódios 2 e 3.

Muito se especulou sobre quem era o novo realizador para os re-shoots. Falou-se em Richard Donner (grande amigo de Gibson – dirigiu-o nos quatro “Lethal Weapon”, em “Maverick” e “Conspiracy Theory” – este escrito por… Helgeland), Gibson chegou a dizer que era John Myhre (o production designer), até se confirmar que era Paul Abascal (que realizaria mais tarde “Paparazzi”, produzido por… Gibson).

O Director`s Cut mostra um Porter mais psicótico e violento, há menos humor, o final é ambíguo.

O Theatrical Cut mostra um Porter mais acessível, dá um pouco mais de humor, o final é (ligeiramente) mais claro.

Nos dois cuts há personagens que se mantêm, alguns entram, outros saem, alguns sobrevivem num cut mas não noutro.

O Director`s Cut não faz o recurso à voz-off que se dá no Theatrical Cut.

Cerca de 30% do filme teve de ser refilmado, mas sem Helgeland.

Devido à necessidade de re-shoots, novos actores e ao compromisso de Gibson com “Lethal Weapon 4”, a produção ficou adiada por um ano.

O Director`s Cut só foi editado em 2005. O material recuperado teve de passar pelo mesmo processo químico que o Theatrical Cut.

Sally Kellerman participa no Director`s Cut, mas só dá voz.

No Theatrical Cut, Kellerman é substituída por Kris Kristofferson (que tem presença visível).

Scott Stambler teve de escrever um novo score para o Director`s Cut. Helgeland achava que a música do Theatrical Cut não se inseria no tom do novo cut.

Payback - screenshot 36

Parker é uma das mais brilhantes criações de Donald Westlake (um dos grandes nomes da literatura hard-boiled), criado sob o pseudónimo de Richard Stark.

 

O cinema já o adaptou:

  • “Point Blank” (1967) – referencial título do neo-noir, assinado com muita classe por John Boorman, com um impecável (e implacável) Lee Marvin.
  • “The Split” (1968)- , eficaz actioner noir, com Jim Brown.
  • “The Outfit” (1973) – vibrante título, vigorosamente assinado por John Flynn, com Robert Duvall.
  • “Payback” (1999) – notável e estilizado neo-noir, realizado por Brian Helgeland, com um estupendamente violento Mel Gibson, num título de montagem complicada(teve direito a um pouco convencional theatrical cut e a um transgressor director`s cut).
  • “Parker” (2013) – muito eficaz action noir, de Taylor Hackford, com Jason Statham.

Os cinco títulos são (bem) merecedores de (re)descoberta.

 

Westlake nunca permitiu que as adaptações cinematográficas usassem o nome Parker, a não ser que os produtores se comprometessem com uma saga (era assim que acontecia nos livros).

Só com Statham é que o personagem (cinematográfico) se chamou Parker. Com Marvin chamou-se Walker, com Brown chamou-se McClain, com Duvall chamou-se Macklin, com Gibson chamou-se Porter.

 

“Parker” usou o romance “Flashfire”. O mesmo conto (“The Hunter”) inspirou “Point Blank” e “Payback”. “The Seventh” foi a fonte para “The Split”. “The Outfit” inspirou o homónimo filme. Um dos romances (“The Jugger”) foi “adaptado” por Jean-Luc Goddard em 1966, com o filme “Made in U.S.A.”. Mas como os responsáveis não compraram direitos a Westlake, este conseguiu que o filme fosse interdito de estreia em diversos países.

 

Westlake faleceu em 2008 e os seus herdeiros autorizaram o uso do nome Parker.

 

Parker teve direito a adaptações como graphic novels. Foi pela (excelente) mão de Darwyn Cooke. Esta saga de bd está editada em Portugal.

https://www.goodreads.com/series/54156-parker-graphic-novels

https://www.idwpublishing.com/product-category/richard-starks-parker/

https://www.subtraction.com/2014/07/01/darwyn-cookes-adaptation-of-parker/

 

 

Sobre Parker e Donald Westlake/Richard Stark:

http://violentworldofparker.com/

http://www.thrillingdetective.com/parker.html

http://www.donaldwestlake.com/

https://www.goodreads.com/author/show/13634.Richard_Stark

https://www.fantasticfiction.com/s/richard-stark/

https://www.bookseriesinorder.com/richard-stark/

https://www.goodreads.com/author/show/30953.Donald_E_Westlake

https://www.bookseriesinorder.com/donald-e-westlake/

https://www.fantasticfiction.com/w/donald-e-westlake/

http://www.thrillingdetective.com/trivia/westlake.html

 

payback - cinema one sheet movie poster (2).jpg

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s