Título original – Desperate Hours
O clássico de William Wyler (já aqui visto) já tinha (bom) estatuto.
Mesmo assim, alguém se lembrou de um remake.
Michael Cimino assina. Dino De Laurentiis produz.
Um óptimo elenco protagoniza.
Um trio de criminosos em fuga encontra refúgio numa casa de família.
Seguem-se horas de desespero, conflito e tensão numa situação que parece não ter fim ou solução.
O argumento de Joseph Hayes é de tal modo bom, que não sofre alterações na sua estrutura.
Mudam é alguns detalhes narrativos.
O filme acaba por ser, tal como o original, sinal dos tempos.
A família é fragmentada (um “truque” que Martin Scorsese usaria para outro remake – o de “Cape Fear”, em 1991); o vilão é refinado, sedutor e bem-falante; há mais cenas de exterior; há mais acção, tiroteios, violência e sangue.
Mantém-se o bom suspense viciante, a sensação de temor e cerco, a procura incessante de uma solução para uma situação que parece não ter saída.
Tal como no filme original, também no remake se pode ver uma parábola social – o vilão acaba por ser um anjo vingador sobre uma sociedade governada por yuppies, o luxo material e o vazio emocional.
Boa fotografia (limpa, viva, nítida) e cenografia (a casa é imponente).
Michael Cimino dirige com competência, eficácia e elegância, sabendo dar ritmo sem ser atabalhoado, sabendo criar tensão sem cair em facilitismos.
É um dos seus trabalhos mais entretidos.
Muito boa prestação do elenco, com Mickey Rourke e Anthony Hopkins muitos intensos na sua fisicalidade.
Uma muito correcta modernização de um clássico. Nada de novo oferece (apenas variantes), mas mantém o (bom) valor de entretenimento.
Muito recomendável.
“Desperate Hours” tem edição portuguesa e anda a bom preço. Pode ser uma raridade nas lojas. Algumas edições europeias têm legendas em Português e andam a bom preço.
“Desperate Hours” tem os seus méritos, mas é um remake.
Vamos ver como se mede face a “The Desperate Hours”:
- Ambos contam a mesma história, com pequenas variações de pormenor (ou seja, a mesma história pode ser contada com imensas variações – estado da família, localização da casa, raça e extracto social da família, nível de violência e acção, aspecto e dimensão da casa, atitude dos vilões, etc. – mas não é isso que a melhora). “Desperate Hours” muda alguns detalhes, mas isso não faz com que tenha melhor argumento.
- “The Desperate Hours” e “Desperate Hours” têm garra na criação da tensão, mas o filme de Wyler é mais tenso e angustiante que o de Cimino.
- “The Desperate Hours” e “Desperate Hours” contam com boa realização, mas a de Wyler é mais viva.
- “The Desperate Hours” e “Desperate Hours” contam com óptimas interpretações, mas as do filme de Wyler são mais puras, naturais, emocionais e intensas.
Conclusão?
Vitória (sem dificuldade) de “The Desperate Hours”.
Mas “Desperate Hours” merece a visão, OK?
Realizador: Michael Cimino
Argumentistas: Lawrence Konner, Mark Rosenthal, Joseph Hayes, a partir da peça teatral e romance de Joseph Hayes
Elenco: Mickey Rourke, Anthony Hopkins, Mimi Rogers, Lindsay Crouse, Kelly Lynch, Elias Koteas, David Morse, Shawnee Smith, Danny Gerard
Trailer
Clips
Orçamento – 18 milhões de Dólares
Bilheteira – 2.7 milhões de Dólares
Mickey Rourke esteve nomeado (não exageremos!!!) para “Pior Actor”, nos Razzie 1991. Andrew Dice Clay foi preferido, por “The Adventures of Ford Fairlane”.
A história inspira-se num evento verídico ocorrido em Setembro de 1952. A família Hill foi tomada como refém durante 19 horas. Tudo se resolveu, de forma até algo tranquila.
A peça teatral de Joseph Hayes foi um enorme sucesso e ganhou um Tony para “Melhor Peça Teatral”. Estreou em Fevereiro de 1955 e esteve em cena durante 212 sessões. Voltaria aos palcos em Agosto de 1955. Paul Newman, George Grizzard e George Mathews eram os vilões; Karl Malden e Nancy Coleman eram o casal, com Pat Peardon e Malcolm Brodrick a interpretarem as crianças.
Christopher Cain (“The Principal”, “Young Guns”) era o realizador inicial, mas abandonou o projecto ainda em fase de pré-produção. William Friedkin foi chamado, mas preferiu fazer “The Guardian”. Mickey Rourke (então já escolhido como um dos protagonistas) sugeriu Michael Cimino, pois já tinham trabalhado juntos.
Reencontro entre Cimino e Rourke, depois de “Heaven`s Gate” (1980) e “Year of the Dragon” (1985).
Cimino volta a ter produção de Dino De Laurentiis, depois de “Year of the Dragon”.
As filmagens terminaram com 5 dias de atraso face ao previsto.
Ao que parece o cut de Michael Cimino foi adulterado pelos produtores (algo quer Cimino já tinha experimentado em “Heaven`s Gate” e “The Sicilian”).
É o último filme que Cimino viu estreado nas salas.
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