Título original – The Uninvited
Uma pérola do cinema de terror, com adendas verdadeiramente notáveis.
Dois irmãos compram uma velha e enorme mansão.
Mas descobrem que ela está assombrada.
Com a ajuda da filha da antiga dona, todos procuram resolver o mistério.
Ghost story, com alguns elementos de suspense thriller, aliados a melodrama e tragédia familiar.
A combinação de todos os géneros é magistral, conseguindo-se até colocar um ligeiro toque de humor.
O terror convence (sente-se a presença sobrenatural na casa), o drama é natural (uma filha que não consegue superar a perda da mãe), a conspiração é lógica (uma rivalidade entre mulheres e as consequências).
O filme marca pontos pela atmosfera criada e pela combinação de diferentes géneros, mas também se destaca por outros dois elementos.
Com grande finesse, o filme consegue meter algum humor através da postura de um dos protagonistas. Tal nunca cai no ridículo ou banaliza a seriedade da narrativa, servindo apenas para relaxar dos sustos, nunca levando o filme para a comédia ou paródia.
Por outro lado, e indo contra a corrente dos arquétipos do género (na época e hoje), o protagonismo não fica num casal típico (marido e esposa) mas sim em dois irmãos (que vivem como um casal, com uma incrível sintonia no seu relacionamento e comunicação).
Excelente fotografia, bem carregada nas cenas escuras, criando uma atmosfera sombria.
Óptimo aproveitamento do espaço (a casa e como ela é sentida e vista).
Muito boa prestação do elenco, com destaque para um esplêndido Ray Milland, cuja atitude descontraída desarma tudo e todos. A sua química com Ruth Hussey e Gail Russell é maravilhosa.
Lewis Allen tem aqui o seu melhor trabalho e filme.
Revela grande mestria no equilíbrio de todos os géneros, sabe criar suspense, terror e atmosfera sombria, sabe quando suavizar com o humor e tem sempre o lado humano da narrativa como prioridade, dando espaço aos actores para brilhar.
Uma verdadeira referência no campo das ghost stories.
Um clássico.
Obrigatório.
“The Uninvited” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, com preço jeitoso. Tem edição na “Criterion Collection” (de grande qualidade, como sempre), mas o preço é mesmo um “susto”. A edição UK também é bem fornecida de conteúdos cinéfilos.
Realizador: Lewis Allen
Argumentistas: Dodie Smith, Frank Partos, a partir do romance de Dorothy Macardle
Elenco: Ray Milland, Ruth Hussey, Gail Russell, Donald Crisp, Cornelia Otis Skinner, Dorothy Stickney, Barbara Everest, Alan Napier
Trailer
Clip
“The Uninvited” no TCM
Nomeado para “Melhor Fotografia”, nos Oscars 1945. Perdeu para “Laura”.
Primeiro filme de Lewis Allen. Allen já era um reputado director de Teatro, em West End, em Londres. Já tinha 30 peças no seu curriculum.
Helen Walker e Veronica Lake foram consideradas para protagonistas.
Gail Russell recebe no crédito a indicação de “being introduced“. Contudo, a sua introduction ocorreu em 1943, no filme “Henry Aldrich Gets Glamour” (1943).
Alguns dos sets da mansão são os mesmos de “I Married a Witch” (1942, de René Clair, com Fredric March e Veronica Lake).
A canção “Stella By Starlight” foi composta de propósito para o filme. Foi editada três anos depois do filme e foi um enorme sucesso.
A acção decorre em 1937.
O quadro da personagem Mary Meredith tem a pose da actriz Elizabeth Russell. Lynda Grey interpretou o fantasma da personagem. Grey não pode posar para o quadro, pois não estava disponível. A semelhança das duas actrizes ajudou.
A senhora que entra na loja é Moyna MacGill, a mãe de Angela Lansbury.
Iria haver uma cena de exorcismo na casa, mas foi retirada.
Allen não queria mostrar os fantasmas, deixando-os à imaginação do espectador. A Paramount recusou tal. As aparições fantasmagóricas seriam retiradas no cut para o Reino Unido. Os críticos britânicos elogiaram Allen pela sua subtileza face aos fantasmas.
O filme gerou alguma controvérsia nalguns sectores conservadores. Tudo por causa da personagem Miss Holloway que tinha (segundo esses sectores) conotações lésbicas.
Foi dos primeiros filmes a tratar com seriedade o tema dos fantasmas, fugindo à moda que estava vigente que era abordar tal através da comédia – “The Ghost Goes West” (1936, de René Clair, com Robert Donat), “Topper” (1937, de Norman Z. McLeod, com Cary Grant), “The Cat and the Canary” (1939, com Bob Hope e Paulette Goddard), “Blondie Has Servant Trouble” (1940), “Abbott and Costello’s Hold That Ghost” (1941).
Martin Scorsese tem “The Uninvited” na sua lista de “11 Mais Assustadores Filmes de Sempre”.
É um dos filmes preferidos de Guillermo del Toro e um dos seus eleitos como os seis mais assustadores.
O “The Screen Guild Theater” emitiu uma versão radiofónica de 30 minutos, em Agosto de 1944. Ray Milland e Ruth Hussey retomaram os seus personagens.
O “Screen Director’s Playhouse” emitiu uma versão radiofónica de 30 minutos, em Novembro de 1949. Ray Milland retomou o seu personagem.
As duas radio play constam nalgumas edições DVD.