Título original – Cheyenne Autumn
É o último Western de John Ford.
Viagem intimista e humana ao mundo dos nativos americanos.
Farto das promessas do governo americano, um grupo de Cheyennes parte em busca da sua terra ancestral.
Um oficial da Cavalaria move esforços no sentido de os ajudar e evitar novos conflitos.
Ainda que em ambiente de Western, o filme é mais um melodrama sobre o racismo, o perdão, a compreensão, a tolerância, o entendimento entre povos e uma jornada de sobrevivência de um povo que sempre teve que lutar por tal.
Aqui é menos sobre bons e maus, onde o mal está no preconceito, no racismo, na indiferença, na intolerância, na incompetência e na politiquice.
É essa enorme presença humana, emocional e social que dá força ao filme e o separa do “vulgar” Western.
Claro que Ford não se inibe dos seus ambientes e personagens (o episódio em Dodge City é bem fordiano, pleno de humor, riqueza humana e relacional; está algo fora de sintonia com a narrativa principal, mas é um momento de “alívio” perante o drama presente até então).
John Ford assina com o seu habitual brilhantismo visual (aquele Monument Valley filmado daquela maneira…!!!) e olhar humano.
Muito boa prestação do elenco (carregado de grandes nomes, embora alguns tenham apenas um par de cenas), com destaque para Richard Widmark, Carroll Baker, Ricardo Montalban e Gilbert Roland, pela convicção emocional que entregam.
Um belíssimo filme, que permite um olhar diferente sobre os Native Americans e sobre os erros dos “caras-pálidas”.
Obrigatório.
“Cheyenne Autumn” não tem edição portuguesa. Vende-se uma edição espanhola (com legendas em Português), inserida num pack (“Western Essentials” – ao lado de “Dodge City” e “The Furies”), a bom preço.
Realizador: John Ford
Argumentista: James R. Webb, a partir do conto de Mari Sandoz
Elenco: Richard Widmark, Carroll Baker, Karl Malden, Sal Mineo, Dolores del Rio, Ricardo Montalban, Gilbert Roland, Arthur Kennedy, James Stewart, Edward G. Robinson, Patrick Wayne, Elizabeth Allen, John Carradine, Victor Jory, Mike Mazurki
Trailer
Clips
Entrevistas
A bela banda sonora de Alex North
Orçamento – 4.2 milhões de Dólares
Mercado doméstico – 3.5 milhões de Dólares
Nomeado para “Melhor Fotografia”, nos Oscars 1965. Perdeu para “My Fair Lady”.
Gilbert Roland esteve nomeado para “Melhor Actor Secundário”, nos Globos de Ouro 1965. Perdeu para Edmond O’Brien em “Seven Days in May”.
Nomeado para “Action Drama”, nos Laurel 1965. Perdeu para “Goldfinger”.
“Bronze Wrangler”, nos Western Heritage 1965.
O verdadeiro “Cheyenne Autumn (Trail)” deu-se em 1878, quando Little Wolf, líder dos Cheyenne, conduziu os seus até à terra ancestral, no Montana. A Cavalaria procurou impedi-los, mas sem sucesso.
Richard Widmark chegou a falar sobre este projecto a John Ford, anos antes (já tinham trabalhado juntos em “Two Rode Together”, em 1961). Ford recusaria, mas mudaria de ideias.
Ford queria fazer um filme sobre o êxodo dos Cheyennes. Em 1957, chegou a escrever um argumento com o seu filho Patrick. Seria um filme pequeno (na sua logística e orçamento), com actores não-profissionais de origem nativa.
Ford queria Anthony Quinn e Richard Boone para interpretar dois líderes Cheyenne. O estúdio deu preferência a Ricardo Montalbán e Gilbert Roland.
Spencer Tracy ia participar, mas um ataque cardíaco deixou-o em casa, em total repouso. Edward G. Robinson foi chamado para o substituir.
Jeffrey Hunter ia participar (já tinha trabalhado com Ford em “The Searchers”, em 1956). Teve de recusar para participar na série “Temple Houston” (1963). Patrick Wayne (filho de John Wayne, actor habitual de Ford) substituiu-o.
Último filme de George O’Brien.
Último filme de Carleton Young.
Reencontro entre John Ford, Richard Widmark e James Stewart, depois de “Two Rode Together” (1961). Ao contrário desse filme, neste Widmark e Stewart não têm cenas juntos.
Stewart e Ford já se tinham encontrado em “The Man Who Shot Liberty Valence” (1962).
Filmado em Super Panavision 70mm.
Filmado em Monument Valley (local favorito de Ford, onde ele tantas vezes lá filmou).
Ford recorreu a Navajos para interpretar Cheyennes.
Ford não permitiu que Sal Mineo falasse devido ao seu sotaque do Bronx.
O episódio com Stewart (o tal em Dodge City) foi feito por Ford no sentido de ser o intermission.
Peter Bogdanovich (na época, era ainda crítico de Cinema) visitou o set. Mineo recomendou-lhe o livro “The Last Picture Show” (de Larry McMurtry). Com o mesmo título, seria o segundo filme de Bogdanovich. Ben Johnson, actor habitual de Ford, participaria nesse filme e ganharia um Oscar.
Com uma duração de 158 minutos, “Cheyenne Autumn” era o filme mais longo de Ford. A Warner Bros. decidiu remontar uma cena (a em Dodge City, com Wyatt Earp e Doc Hollyday) e o filme passou para 145 minutos. Muita gente considerava que tal cena estava fora do contexto e que servia como um momento cómico. A cena seria reinserida na montagem final para as edições VHS e DVD.
Marlon Brando disse que este era o filme mais racista e mais incorrecto que Ford fez sobre os índios.
O American Film Institute nomeou “Cheyenne Autumn” para “AFI’s 10 Top 10: Western”.