Rambo II – A Vingança do Herói (1985)

 

Título original – Rambo: First Blood Part II

 

John Rambo tinha boa popularidade graças ao sucesso e bom prestígio da sua estreia cinematográfica em “First Blood” (1982; já aqui visto).

Sylvester Stallone já tinha Rocky Balboa como o seu personagem mais popular (eram três os episódios já feitos e o quarto também surgiria em 1985).

Sly resolve trazer o green beret de volta ao ecran. Em pleno do seu heroísmo.

 

John Rambo ainda está preso, na consequência dos estragos causados em “First Blood”.

O Coronel Samuel Trautman consegue libertá-lo e levá-lo a uma missão secreta e delicada – regressar ao Vietname e procurar prisioneiros de guerra.

Rambo leva a missão a bom porto, mas é traído.

O herói inicia uma luta pela sobrevivência, procura resgatar os camaradas e regressar a casa. E eliminar o inimigo, claro.

1985 seria um ano supremo para Sylvester Stallone – teria dois filmes entre os três maiore$ do ano (“Back to the Future” seria o #1 – nacional e mundial).

Mas seria, paradoxalmente, o último ano assim. Sly só regressaria em grande às bilheteiras nos 90`s (o espectacular “Cliffhanger”, em 1993).

A par com a segunda aventura de Rambo, também haveria o quarto combate de Rocky – os dois filmes ultrapassariam largamente os 100 milhões de Dólares nos USA, 300 a nível mundial, com mais largas dezenas (para os dois filmes) no mercado doméstico.

“Rambo: First Blood – Part II”.

O título já traz a menção ao nome do herói (influência de França, onde “First Blood” foi baptizado localmente como “Rambo”) e mantém o título do original para lembrar (ou explicar) às audiências o que vão ver.

O prólogo dá imediatamente o mote – depois de Trautman explicar a Rambo qual vai ser a sua missão, dá-se a seguinte troca de lines:

  • Rambo – “Sir, do we get to win, this time?
  • Trautman – “This time is up to You.

Ou seja, Rambo vai mesmo ter a sua oportunidade de se vingar da derrota militar no Vietname.

De herói traumatizado, John Rambo passa a super-herói.

É certo que, e tal como em “First Blood”, a memória do Vietname ainda está presente na narrativa (faz sentido que o filme tenha o subtítulo “First Blood – Part II” e que em Portugal fosse “A Vingança do Herói” face ao anterior “A Fúria do Herói”; afinal, ambos lidam com os conflitos interiores de Rambo – o trauma causado pela guerra, a inglória da derrota e a necessidade de ter uma acção heróica que o faça sentir vencedor).

A localização geográfica (e a relação dela com uma ferida da sociedade americana que ainda estava a sangrar) da narrativa é uma mera (e perfeitamente aceitável) desculpa para se pegar num Viet Vet e dar-lhe uma oportunidade que muitos (Viet Vets) desejavam – vingar-se do desaire das tropas americanas nesse conflito.

O tema é interessante (e era bem pertinente na época e em tempos anteriores) e já era uma “sub-moda” no género – em 1984, Chuck Norris (rival “low cost” de Sly) procura quem estava “Missing in Action” (o filme teria duas sequelas, uma delas também em 1985); em 1983 (um ano depois de… “First Blood”) Gene Hackman lidera uns “Comandos da Noite” (assim se intitulou em Portugal) num “Uncommon Valor” a resgatar POW`s no Vietnam (“por acaso”, o filme era realizado por Ted Kotcheff, o mesmo de… “First Blood”).

Este “Rambo II” não muda muito as coisas dentro deste sub-género.

Boa acção e intriga (a que envolve a traição a Rambo), algum suspense, uma reviravolta nos eventos (que assim justificam o lado mais actioner do filme e a tal vingança do herói), algum sentimento (é bonito ver-se Rambo a mostrar afectos e a apaixonar-se) e alguma emotividade (o desabafo final de Rambo é tão forte como o que ele tem no primeiro filme, sendo bem demonstrativo do estado de espírito de muito Viet Vet – não admira que Rambo fosse visto por muitos como um “porta-voz” de muito militar que derramou sangue no Vietname).

Mas como o filme procura o lado super-heróico de Rambo, não há tempo para psicologia como havia no primeiro filme.

Temos um actioner puro, simples, descontraído, honesto, profissional, que procura o entretenimento.

Ao contrário do primeiro filme, onde as peripécias começam logo a meio do primeiro acto e só depois vêm as explicações (nesse aspecto, “First Blood” continua a ser um modelo referencial), nesta Part II gasta-se um primeiro acto em explicações e só a partir do segundo é que temos acção heróica.

E quando ela começa, não pára até ao fim.

Boas set pieces, apoiadas na qualidade dos efeitos pirotécnicos, dos efeitos especiais, do som e das stunts.

É old school action de grande nível.

E é um deleite ver Rambo a despachar vilões com tudo o que tem à mão – as próprias mãos, armas de fogo, facas, helicópteros e arco & flecha (que fez muito furor na época).

Ao contrário do que se diz/disse, o filme não é um panfleto ideológico anti-comunismo ou anti-Vietnam, mas apenas um (óptimo) entretenimento, com linhas bem definidas entre bem e mal (como todo o simples actioner que se preze).

Excelente fotografia (do grande Jack Cardiff), que traduz bem o calor, humidade e a natureza selvagem da selva.

Jerry Goldsmith volta a criar um score pleno de sonoridade épica e heróica, agora também com laivos de romantismo.

George Pan Cosmatos dirige com eficácia, ritmo e bom sentido de espectáculo, procurando que o filme seja apenas puro entretenimento.

Sylvester Stallone está em grande forma física e torna Rambo bigger than life. O que resultou em “First Blood” está agora numa fasquia mais elevada. É certo que se perde a dimensão humana, psicológica e emocional do personagem, mas ganha-se um big action hero. Sendo sequela e perante as intenções, é uma concessão perfeitamente aceitável.

Richard Crenna volta a estar sólido e íntegro como Trautman, mostrando um personagem que é mesmo dedicado e amigo de Rambo e não apenas um superior hierárquico.

Charles Napier, Steven Berkoff e Martin Kove interpretam vilões de diferentes intenções, fazendo bom uso do seu rosto e voz adequadas, mas sendo apenas mauzinhos.

Julia Nickson traz uma sensibilidade feminina que a saga só voltaria a ver em “Rambo IV”. Mais screen time e melhor definição ajudavam.

É a Part II de “First Blood” e funciona como um final de círculo para Rambo.

Se na Part I havia o trauma de uma guerra perdida e ainda viva dentro da memória de Rambo, nesta Part II dá-se a sua vingança (o título português rima com o dado em terras lusas ao primeiro filme e ajuda no estabelecer desse encerramento de círculo), o defender da honra e um reerguer como (ex-)combatente e homem.

É o mais popular episódio da saga e o que deixou Rambo registado na pop culture e no Cinema.

E com toda a justiça.

Uma quintessência do Actioner 80s/Reaganiano.

Actioner ao seu melhor, com um dos seus mais icónicos heróis.

Dentro da componente actioner, é o mais entretido e melhor da saga.

 

Obrigatório.

 

“Rambo: First Blood – Part II” tem edição portuguesa e está a bom preço. A edição é parca em extras. Procure-se as Special Edtion noutros mercados, que existem e a bom preço, contando também com novo master (já há em 4K). Existe pack com os três primeiros filmes.

Realizador: George Pan Cosmatos

Argumentistas: Sylvester Stallone, James Cameron, Kevin Jarre, a partir dos personagens criado por David Morrell

Elenco: Sylvester Stallone, Richard Crenna, Charles Napier, Steven Berkoff, Julia Nickson, Martin Kove

 

Trailer

 

Clips

 

Making of

 

A banda sonora

 

Orçamento – 44 milhões de Dólares

Bilheteira – 150 milhões de Dólares (USA); 300 (mundial)

Mercado doméstico – 78 milhões de Dólares.

Nomeado para “Melhor Som”, “Melhores Efeitos Sonoros”, nos Oscars 1986. Perdeu para “Back to the Future”.

“Pior Filme”, “Pior Actor” (Sylvester Stallone), “Pior Argumento”, “Pior Canção”, nos Razzie 1986. Julia Nickson esteve nomeada para “Pior Actriz Secundária” e “Pior Nova Estrela”, mas Brigitte Nielsen foi eleita, por “Rocky IV” (escrito, realizado e protagonizado por… Sylvester Stallone) e “Red Sonja”. George Pan Cosmatos foi nomeado para “Pior Realizador”, mas Sylvester Stallone foi preferido por “Rocky IV”.

James Cameron escreveu a primeira versão do argumento (Cameron estava bem visto no meio devido ao argumento de “The Terminator”, feito em 1984, e já estava convocado para “Aliens”). Cameron colocava Rambo em recuperação psicológica num hospital psiquiátrico, Rambo tinha um side-kick e o argumento apostava na parceria de Rambo com um ex-combatente americano e uma rebelde local, no crescer emocional de Rambo e na sua destreza e experiência no Vietname face aos seus colegas.

Stallone reescreve o argumento (mas mantém a love story entre Rambo e a menina rebelde asiática que o ajuda), dando a Rambo maior heroísmo, retirando-lhe traumas (e a presença no hospício) e o side-kick masculino, enfatizando alguma politiquice que envolve o twist da missão.

Cameron usou muitas das ideias descartadas por Stallone para “Aliens” (1986) e “Terminator 2” (1991).

Stallone usaria algumas ideias de Cameron para “Rambo” (2008).

Cameron tinha sido recomendado por David Giler. Giler tinha feito algumas modificações no argumento de “First Blood” e já tinha chamado Cameron para escrever e realizar “Aliens” (Giler era um dos produtores).

O argumento de James Cameron para “Rambo II”:

http://www.jamescamerononline.com/Rambo2script.htm

 

Dolph Lundgren ia ser o líder soviético. Mas como Lundgren já estava chamado para “Rocky IV” (onde também interpretava um soviético), Steven Berkoff foi chamado para o substituir.

John Travolta ia ser o side-kick. Stallone e Travolta tinham trabalhado juntos em “Staying Alive” (1983, escrito e realizado por Stallone; era a sequela de “Saturday Night Fever”). Travolta chegou a ser considerado para Rambo em “First Blood”.

Lee Marvin ia interpretar Marshall Murdock, mas depois desistiu. Charles Napier substituiu-o. Marvin chegou a ser ponderado como Coronel Trautman em “First Blood”.

 

Reencontro entre Sylvester Stallone e Martin Kove, depois de “Death Race 2000” (1975).

 

George Pan Cosmatos foi recomendado pelo filho de Stallone, Sage, depois de ter visto o filme “Of Unknown Origin” (1983).

Era o primeiro filme de Julia Nickson.

Jerry Goldsmith regressa à saga. Tinha composto o score de “First Blood”, compõe o de “Rambo: First Blood – Part II” e voltaria para “Rambo III”. Não compôs a música para “Rambo” pois já tinha falecido (Brian Tyler faria um excelente trabalho).

O título original ia ser “First Blood II”. Cameron ia intitulá-lo “First Blood II: The Mission”. “Second Blood” foi outro título pensado.

Stallone queria centrar o título da saga no nome do protagonista, à semelhança de “Rocky”, pelo que “Rambo” foi colocado no título. Para ajudar o público a perceber de que filme se tratava, “First Blood Part II” foi acrescentado, para que se entendesse que o filme era sequela a “First Blood”.

 

Sylvester Stallone recebeu um salário de 15 milhões de Dólares.

 

Filmado no México.

Stallone treinou 4 horas por dia, com ensinamentos da SWAT, uso de arco e flecha, bem como tácticas de sobrevivência.

Os extras que interpretam vietnamitas foram recrutados em restaurantes chineses.

O stuntman Cliff Wenger Jr. faleceu numa explosão. O filme é dedicado a ele.

Na época, estavam cerca de 2.500 combatentes americanos dados como Missing In Action no Vietnam.

Não era o primeiro actioner a abordar o tema de prisioneiros de guerra no Vietname. Um ano antes, Chuck Norris ia em busca de quem estava “Mising in Action” (o filme teria mais duas sequelas, com a primeira a surgir também em 1985). O primeiro foi mesmo “Uncommon Valor” (1983), onde Gene Hackman procura o seu filho perdido no Vietname. O filme era realizado por Ted Kotcheff, o realizador de… “First Blood”.

O logo da Carolco Pictures usa parte da música de “Rambo II”.

Rambo nasceu em 6 de Julho de 1947. Sylvester Stallone nasceu a 6 de Julho de 1946.

Segundo a história, Rambo matou 59 inimigos quando presente na guerra do Vietname.

A base militar era uma base militar mexicana. As referências a tal eram tapadas ou filmadas com truques ópticos.

É o único filme da saga onde Rambo tem um romance com uma mulher. Em “First Blood” havia uma cena em flashback que mostrava o herói com uma mulher vietnamita, mas a cena ficou de fora da montagem final.

Todas as armas usadas eram reais.

Num momento, Rambo diz “…I am expendable”. Em 2010, Stallone criaria a saga “The Expendables” (com duas sequelas).

Segundo Cosmatos, o filme marca a diferença na saga pela vulnerabilidade de Rambo face a Co (a guerrilheira).

É o primeiro filme a usar uma pistola SIG-Sauer P226. Esta arma concorreu a ser a arma de apoio para o exército americano.

Nas cenas com flechas, estas são direccionadas por arames, no sentido de não causarem acidentes.

Segundo Cosmatos, o desafio criativo era como arranjar novas formas de matar os soviéticos.

A reacção de Rambo perante a morte de um personagem seria editada de forma a mostrá-la por três vezes, em ângulos de câmara diferentes. Nos test screenings o público riu-se. A cena foi reeditada para mostrar a reacção só uma vez.

O duelo final entre Rambo e o líder soviético foi um reshot. A cena terminava inicialmente de forma mais expedita (Rambo abatia o helicóptero inimigo). Os test screenings queriam uma resolução mais intensa.

No desabafo final de Rambo, ele choraria (à semelhança do final de “First Blood”). A cena seria remontada para mostrar Rambo mais firme.

Body count – 85; 74 pelas mãos de Rambo.

Na época, os USA não tinham relações diplomáticas com o Vietnam. Só seriam retomadas em 1995.

Nos 80s, uma equipa Delta Force preparou-se para efectuar uma missão de resgate de prisioneiros de guerra no Sudeste asiático. A missão ficou cancelada por iniciativa política (estavam lá senadores como John Kerry e John McCain – este um ex-combatente no Vietname e antigo prisioneiro de guerra). Tudo porque se chegou à conclusão que não existiam prisioneiros.

Foi o primeiro filme a estrear em mais de 2.000 salas, nos USA.

O ano (e o filme) marca também o auge do Actioner da Era Reagan e a sua atitude bem o demonstra. Ronald Reagan (ex-actor B com muito actioner no seu curriculum, agora em funções como Presidente dos USA) é grande fã do filme convida Sly para um almoço na Casa Branca. Depois de ver o filme, Reagan diz “…Boy, after seeing ‘Rambo’ last night, I know what to do the next time this happens …” (Reagan referia-se a terrorismo, tomadas de reféns).

Sylvester Stallone e George Pan Cosmatos reencontrar-se-iam em 1986, em “Cobra”. O filme seria arrasado pela crítica, mas seria um bom sucesso. Falou-se em flop – por má-língua ou por relativização (os número$ foram inferiores aos de “Rambo II”, mas perfeitamente suficientes, compensadores e rentáveis).

O filme bateu vários recordes de bilheteira.

É a Part II, mas é o episódio mais popular da saga “Rambo”, o que originou mais rip-offs, imitações e spoofs.

David Morrell escreveria uma novelização do filme.

O filme teria adaptações aos videogames – para ZX Spectrum, Amstrad CPC e Commodore 64.

A famosa faca de Rambo teria uma edição para venda ao público.

Para Stallone, este é o seu quarto filme favorito da saga (nos episódios 1 a 4), pois considera-o como um cartoon.

Sobre David Morrell:

http://www.davidmorrell.net/

https://www.goodreads.com/author/show/12535.David_Morrell

https://davidmorrell.net/books/

https://www.fantasticfiction.com/m/david-morrell/

https://rambo.fandom.com/wiki/David_Morrell

https://www.thriftbooks.com/a/david-morrell/218404/

https://crimereads.com/david-morrell-preparing-for-crisis-and-finding-inspiration/

One comment on “Rambo II – A Vingança do Herói (1985)

  1. […] First Blood Part II” (já aqui visto) – feito em 1985, realizado por George Pan Cosmatos, com Sylvester Stallone, Richard […]

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