Título original – Potiche
François Ozon, um dos novos mestres do Cinema francês, pega numa popular peça de Teatro, reúne um fantástico grupo de actores e elabora uma deliciosa comédia de costumes.
França, 1977.
Um empresário cruel é hospitalizado devido a um enfarte. Tudo por culpa de uma greve que ocorreu na sua fábrica. Os funcionários estão fartos das péssimas condições de trabalho.
A esposa, sempre negligenciada, aproveita a situação para tomar as rédeas da família e do negócio. Tudo corre bem com a senhora a dar um novo e energético rumo às coisas.
Mas tudo se complica com a entrada em cena do seu ex-amante e com o regresso do marido, agora recuperado – questões sentimentais, empresariais, laborais, políticas, sindicais e familiares vai entrar em conflito.
“Potiche” é inteligentemente divertido no seu registo cómico (é o regresso de Ozon ao espírito de “8 Femmes”), mas o filme também funciona como uma notável, atenta e até corrosiva crónica de costumes, da família, dos negócios, interesses empresariais, políticos e sindicais, fazendo uma excelente ilustração social de época (final dos anos 70), conseguindo meter na narrativa as confusões político-sociais-sindicais desse tempo.
Resultam hilariantes as discussões familiares à volta de questões políticas (comunismo vs. capitalismo) e os momentos “feministas” (quando a protagonista assume o controlo e tem de enfrentar o cepticismo masculino).
Fabuloso trabalho nas áreas da fotografia (palette de cores bem viva), guarda-roupa (muito 70s) e cenografia (a visão da fábrica, o luxo da casa), que nos remetem na perfeição para aqueles tempos.
Como é óbvio, o trabalho dos actores (todos) é impecável, com (claro) destaque para uma sempre radiante Catherine Deneuve e o prazer de a ver (mais uma vez) numa excelente química com o grande (sim, está com um ar bem “grandioso”) Gérard Depardieu – vejam-se as cenas do primeiro reencontro, o serão entre os dois, a revelação no carro.
François Ozon dirige com estilo, graça, elegância, sentido de ritmo e sintonia com a melhor comédia clássica francesa.
Não sei se François Ozon é o “novo François Truffaut” (já li e ouvi muita gente a dizer tal), mas que é grande realizador, Oui.
Uma divertidíssima e pertinente análise social, com laivos de nostalgia cinéfila.
É François Ozon em grande forma e a (boa) comédia de costumes francesa ao seu melhor.
Obrigatório.
“Potiche” tem edição portuguesa e anda a bom preço.
Realizador: François Ozon
Argumentista: François Ozon, a partir da peça teatral de Pierre Barillet & Jean-Pierre Grédy
Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard, Judith Godrèche, Jérémie Renier
Sites
https://www.musicboxfilms.com/film/potiche-trophy-wife/
Trailer
Clips
Orçamento – 13 milhões de Dólares
Bilheteira – 28 milhões de Dólares
Teve várias nomeações para os César 2011 – “Melhor Actriz” (Catherine Deneuve perdeu para Sara Forestier em “Le Nom des Gens”), “Melhor Actriz Secundária” (Karin Viard perdeu para Anne Alvaro em “Le Bruit des Glaçons”), “Melhor Argumento” (“The Ghost Writer” foi o eleito), “Melhor Guarda-Roupa” (“La Princesse de Montpensier” foi o eleito).
Nomeado para “Melhor Filme Não Falado em Inglês”, nos BAFTA 2012. Perdeu para “La Piel que Habito” (de Pedro Almodóvar).
Nomeado para o “Leão de Ouro”, em Veneza 2010. Perdeu para “Somewhere” (de Sofia Coppola).
“Prémio do Público”, no Cinemania 2010.
“Melhor Actor Secundário” (Jérémie Renier), nos Magritte 2012.
O filme concretiza um desejo antigo de François Ozon – fazer um filme sobre o poder da Mulher na Sociedade e na Política. Quando Ozon viu a peça teatral de Pierre Barillet e Jean-Pierre Grédy, logo a imaginou em filme. Mas foram necessários 10 anos até à sua produção.
Cécile de France e Ludivine Sagnier tinham sido abordadas por Ozon, mas tiveram de recusar por conflitos de agenda e motivos familiares.
Sétimo encontro entre Catherine Deneuve e Gérard Depardieu.
Reencontro entre François Ozon e Catherine Deneuve, depois de “8 Femmes” (2002).
Reencontro entre François Ozon e Jérémie Renier, depois de “Les Amants Criminels” (1999).
Filmado na Bélgica, ao longo de oito semanas.
Ozon inspirou-se na estética do Cinema de Jacques Demy.
A canção “C’est Beau la Vie” foi escrita nos anos 60 por Jean Ferrat.
A música inspira-se em scores dos anos 70, principalmente nas composições de Vladimir Cosma e Michel Magne.
A banda sonora: