O autor de “Seven”, o realizador de “Falling Down” e Nicolas Cage fazem uma tenebrosa incursão ao mundo das snuff movies.
E o resultado é um dos melhores filmes para cada um deles.
Tom Welles é um private investigator metido sempre em casos calmos.
A sua vida familiar é tranquila e feliz, agora que a sua filha nasceu recentemente.
Welles é contratado por uma viúva de um milionário falecido, no sentido de descobrir a veracidade de um filme onde se viola, tortura e mata uma jovem rapariga.
Welles vai descer até ao inferno das snuff movies.
Uma viagem que irá levar Welles ao limite.
Eis uma verdadeira descida ao inferno.
Tanto da degradação humana (explica-se, ainda que ligeiramente, o que certas pessoas fazem nesses snuff movies, fala-se das motivações para tais produções), do lado negro de Hollywood (aqui não há stars, glamour ou Cinema em cena, apenas pessoas a sujeitarem-se a tudo para concretização de um american dream que se revela bem dark) e de um homem (vindo de um tranquilo quotidiano profissional e feliz dia-a-dia familiar) levado além dos seus limites morais (os eventos transformam-no numa besta sedenta de sangue).
O filme ilustra um lado obscuro de Hollywood e dos pesadelos que surgem quando se persegue um big dream, mas também se mostra o evoluir de um homem normal (identificado com a situação da vítima – é pai de uma menina recém-nascida) até ao dark side como única forma eliminar parte do mal que combate.
O último acto (cerca de 30 minutos) é de uma violência física, moral e psicológica de grande intensidade.
Muito bom trabalho de fotografia, que nos pinta um mundo bem incómodo.
Joel Schumacher foi sempre um tarefeiro versátil e jeitoso. Mas tem aqui um dos momentos mais altos da sua carreira (a par com “Falling Down”, “A Time to Kill” e “Phone Booth”), pela atmosfera doentia, energética e violenta que dá ao filme.
(é certo que tudo poderia ser ainda mais negro e violento, mas para isso precisava-se de David Fincher ou Paul Verhoeven)
Nicolas Cage tem aqui uma das suas interpretações Top 3, sendo notável como ele “exibe” o seu carinho como pai e marido e explode como justiceiro vingativo – veja-se o seu rosto quando assiste à snuff movie; o seu ar incrédulo perante o mundo que descobre; a sua revolta no final, perante os culpados.
Igual qualidade e intensidade no restante elenco (James Gandolfini e Peter Stormare chegam a ser repulsivos).
Um dos melhores thrillers do cinema recente.
Obrigatório.
“8mm” tem edição portuguesa e anda a preço “milimétrico”.
Realizador: Joel Schumacher
Argumentistas: Andrew Kevin Walker, Nicholas Kazan (sem crédito)
Elenco: Nicolas Cage, Joaquin Phoenix, James Gandolfini, Peter Stormare, Anthony Heald, Chris Bauer, Catherine Keener
Trailer
Orçamento – 40 milhões de Dólares
Bilheteira – 36 milhões de Dólares (USA); 96 (mundial)
Esteve a concurso para o “Urso de Ouro”, em Berlim 1999. Perdeu para “The Thin Red Line”.
“Melhor Trailer” nos Golden Trailer 1999.
Título inicial – “Sexy World”.
O argumento inicial de Andrew Kevin Walker é muito negro e violento (o protagonista suicida-se no final, pois não aguenta mais aquele mundo onde mergulhou e toda a metamorfose psíquica que sofre). O estúdio pede a Walker que suavize a história. Walker recusa, Joel Schumacher (então já como o realizador definitivo) começa a fazer essas alterações (em colaboração com Nicholas Kazan), Walker sai de cena.
Walker diz que nunca viu o filme.
David Fincher era a primeira escolha para realizador (tal marcaria o reencontro entre ele e Andrew Kevin Walker, depois de “Seven”).
Mark Wahlberg rejeitou o personagem que seria entregue a Joaquin Phoenix.
Jenny Powell interpreta a vítima do snuff movie. Ela estava contratada para fazer de uma stripper, mas Joel Schumacher gostou do seu olhar algo triste e amaldiçoado, pelo que lhe mudou a personagem.
Filmado em Super 35.
Os edifícios cheios de graffitis são restos de edifícios construídos por Howard Hughes.
Nicolas Cage e Chris Bauer já se tinham encontrado em “Face/Off” (1997).