Uma visão bem juvenil, divertida, obscura e irreverente sobre a Bruxaria.
Sabrina Spellman é uma menina de 16 anos.
No aniversário, Sabrina descobre que é uma bruxa e que tem de ser educada como tal.
Mas como conciliar tal com o mundo dos humanos, onde já criou bons laços?
Criador: Roberto Aguirre-Sacasa
Elenco: Kiernan Shipka, Ross Lynch, Miranda Otto, Lucy Davis, Richard Coyle, Chance Perdomo, Michelle Gomez, Jaz Sinclair, Tati Gabrielle, Adeline Rudolph, Abigail F. Cowen, Lachlan Watson
Site – https://www.netflix.com/pt/title/80223989
Lembram-se de “Buffy, The Vampire Slayer”?
Eis a sua equivalente para este Século XXI.
Só que aqui não se caçam vampiros nem monstros.
Aqui é tudo sobre bruxas, magos e bruxaria.
E aqui estão os “bons”. Os “maus” estão nas pessoas “normais”.
O drama passa pela protagonista querer saber a arte da bruxaria, mas em querer ser também humana.
Pelo meio, uma visão sobre a “Igreja das Trevas”, onde se ilustra um mundo paralelo ao das religiões mais “iluminadas” (com o mesmo tipo de seguidores, regras, pastores, sumos pontífices, locais de culto, orações, escola de formação, etc.), ainda que com uma distorção mais negra e demoníaca.
E ainda há espaço para um mistério conspirativo dentro da igreja, no passado/origem de Sabrina e o seu lugar dentro dos respectivos mundos onde ela se move.
O drama é convincente e até cria momentos comoventes e divertidos.
O humor nasce pelas suas tias, tanto pela atitude contrastante delas (uma é boa a outra é “má”, uma “mata” constantemente a outra) como pelos comportamentos de ambas face à sobrinha (uma quer que Sabrina assuma o seu lugar no mundo das bruxas, a outra quer que ela consiga ser bruxa a conviver pacificamente entre os humanos) e à bruxaria (as visões opostas de cada uma face a tal arte).
Muito bem conseguida está a relação de amizade entre a protagonista e os seus amigos. Sendo um pilar de humanidade em Sabrina, são também uma fonte de peripécias no sentido de os ajudar e salvar.
Igualmente bem conseguida é a relação entre Sabrina e os membros da “Igreja das Trevas”, com Sabrina ser constantemente provocada (é considerada “mestiça” e não “pura”), sujeita a imensos desafios, que tanto provocam gargalhadas como sustos.
Consegue-se assim, impecavelmente, uma variada e personalizada galeria de personagens, que ganham a nossa estima, preocupação, identificação e até hostilidade.
Há, portanto, lugar para humor e drama, mas o tom é bem obscuro.
Os mais “puristas” podem-se sentir desconfortáveis pela abordagem “blasfema” de certos comportamentos, expressões e valores que são mais associados ao Cristianismo. Mas parte do humor (negro) passa por aí – afinal, aqui é sempre Satanás que é invocado, o “catecismo” é um manual de feitiços, a “catequese” é para formar bruxas, etc.
(mas calma, que nada de ofensivo é criado)
Excelente fotografia, que nos remete para os glory days de Mario Bava e da Hammer.
Igual nota alta para a cenografia.
Muito boa prestação do elenco, todos em magnífica sintonia e com óptima química. O pessoal da bruxaria traduz bem a união do seu convénio, as tias são desconcertantes na sua relação, os jovens exploram bem os drama da idade e a relação firme entre eles.
Kiernan Shipka é uma doçura de bruxinha, sendo devidamente natural como menina adolescentes, como adequadamente dark quando bruxa.
Miranda Otto e Lucy Davis divertem pela sua relação antagónica, mas cúmplice – Miranda é um prodígio de perversidade, Lucy é adorável como tia protectora.
Richard Coyle e Michelle Gomez transmitem bem a postura maléfica dos seus personagens.
Uma muito bem conseguida mix de terror, bruxaria, humor e drama teenager, rica em personagens e relações.
O tom dark é constante.
A Season 1 é mais suavizada pelo irónico humor (bem negro).
A Season 2 é mais carregada no terror, no body count e no sangue.
(mas calma, é tudo em moldes “familiares”, OK?)
Uma das mais provocantes propostas televisivas da actualidade.
Obrigatório.
“Chilling Adventures of Sabrina” está disponível via Netflix.
Já terminou duas Seasons. A Season 3 chega em 2020.
Kiernan Shipka fez a sua primeira audition com cabelos castanhos. Foi-lhe pedido para regressar, mas com cabelos loiros. Nessa audition, Kiernan foi logo aceite.
Cerca de 150 pinturas foram feitas por Clive Barker, mestre literário do terror (“Hellraiser”, “Candyman”).
“Sabrina” decorre em simultâneo com o universo da série “Riverdale”. Ambas as séries derivam de comics da Archie. Sabrina era uma personagem de “Riverdale”, até ter ganho o seu comic autónomo.
Tal como “Riverdale”, a série ia ser exibida no canal CW. Mas a Netflix comprou os direitos de produção.
A história nunca menciona datas. A povoação tem algo de retro e moderno. Apesar da presença de tecnologia moderna, o look dos ambientes é dos 60s.
O Paramount Theatre visto numa cena é o mesmo que é visto numa cena de “It” (1990).
As “The Weird Sisters” derivam de um trio de bruxas em “Macbeth”, de William Shakespeare. O feitiço que Sabrina usa para as convocar usa lines dessa peça.
Os nomes Hawthorne e Putnam vêm de “The Crucible”, de Arthur Miller, que aborda o julgamento de bruxas em Salem. George Hawthorne foi o juiz, os Putnam eram uma das famílias julgadas por bruxaria.
Sabrina não passa muito tempo com o seu gato Salem. Isto porque a actriz Kiernan Shipka é alérgica a gatos. Roberto Aguirre-Sacasa chegou a considerar que Salem fosse um cão.
Kiernan Shipka e Miranda Otto reencontrar-se-iam (agora como filha e mãe) em “The Silence” (2019, também produção da Netflix).
Sabrina nos Comics:
http://archiecomics.com/characters/sabrina-spellman/
https://www.vanityfair.com/hollywood/2018/10/sabrina-netflix-comic-book-story-chilling-adventure