Título original – Black Widow
Excitante duo feminino num thriller sobre sedução, manipulação, fascínio e homicídio.
Uma agente federal investiga as mortes súbitas de vários milionários de meia-idade.
As pistas levam-na a uma misteriosa mulher, que acasala e mata.
Pegando num tema clássico do policial e do film noir (a femme fatale que seduz e mata, a investigação policial, o agente que investiga e fica fascinado pela criminosa), o filme faz um twist “feminista” muito inteligente.
Toda a trama assenta num duelo.
Duelo de astúcias – a certo momento, a assassina sabe quem é a agente e o que ela sabe, a agente sabe que a assassina sabe de tudo, gerando-se assim uma competição sobre qual vai ser mais astuta e conseguir fugir ou capturar.
Duelo de modus vivendi – assassina e agente estão presas ao seu modo de vida, nada mais querendo ou procurando.
Duelo de vidas – se a assassina parece feliz e com vida preenchida pela sua “profissão”, a agente tem uma vida vazia do ponto de vista emocional, procurando enriquecê-la com as suas capacidades profissionais.
Duelo de sexualidades – a assassina vive (intensamente) a sua, a agente tem a sua (bastante) reprimida.
Duelo de fascínios – a agente mostra-se (rapidamente) fascinada pela assassina, pelo seu poder e modo de vida; a assassina revela-se interessada em “ajudar” e “converter” a agente.
O filme consegue criar a devida envolvência pelo dito jogo de astúcias e sedução, fazendo-nos sempre acreditar num desfecho inesperado.
O problema é mesmo o final, algo convencional e politicamente correcto, que impede algo mais ambicioso, mais perverso ou irónico face às protagonistas e ao jogo que encenam.
Bob Rafelson dirige com eficácia, mas o filme pedia alguém mais estilizado e com capacidade de homenagem aos clássicos do género (Lawrence Kasdan seria bem vindo, tendo em conta o que ele conseguiu com o sedutor “Body Heat” – 1981, onde se revelou a escaldante Kathleen Turner; David Mamet também seria uma boa escolha – tendo em conta a sua excelente opera prima que é “House of Games”; já para não falar em Paul Verhoeven, tendo em conta o que ele sabe fazer com mulheres, sedução e estilo – “The Fourth Man”, “Basic Instinct”).
O conjunto de secundários é vistoso e cumpre, mas limitam-se quase todos (com excepção de Sami Frey, que tem presença em quase metade da metragem) a pequenas participações.
O charme (bem erótico) vem das suas protagonistas.
Duas actrizes de excelência, em grande momento de forma (e beleza).
Debra Winger dá convicção ao seu comportamento quase obsessivo na captura da sua presa, consegue uma sensualidade reprimida, revela o seu fascínio e descoberta de poder sedutor. É um dos seus melhores trabalhos.
Theresa Russell domina o filme e mete-o no bolso. É de uma sensualidade e poder erótico capaz de pôr a Terra em chamas. Por outro lado, consegue uma maquiavélica inocência (as suas lágrimas e lamentações quando sabe da morte dos maridos). Theresa mostra porque é umas das mais belas e sensuais mulheres do Cinema. É um dos seus melhores trabalhos (se calhar, até mesmo o melhor). É Theresa a seguir a regra de Hitchcock (“melhor o vilão, melhor o filme”) e a fazer com que o espectador também a deseje e anseie pela sua vitória.
A química entre ambas é enorme – tanto as sentimos como best of friends, como sentimos a tensão entre elas (sexual – alguns dos momentos a dois, onde ambas se revelam; criminal – a cena do mergulho, a troca de olhares no casamento; sentimental – a satisfação de Debra quando conquista o amante de Theresa, a ira de Theresa perante tal).
Um sedutor thriller, que vive do poder excitante das suas protagonistas.
Muito recomendável.
“Black Widow” não tem edição portuguesa. Existe noutros mercados, a bom preço.
Realizador: Bob Rafelson
Argumentista: Ronald Bass
Elenco: Debra Winger, Theresa Russell, Sami Frey, Dennis Hopper, Nicol Williamson, Terry O’Quinn, James Hong, Diane Ladd, D.W. Moffett, Leo Rossi
Trailers
Orçamento – 10.5 milhões de Dólares
Bilheteira – 25 milhões de Dólares
Debra Winger teve oportunidade de escolher entre Alex (a agente) e Catherine (a assassina). Debra preferiu Alex, pois não conseguia perceber as motivações de Catherine.
Cher recusou a personagem de Catherine.
Bob Rafelson regressava ao activo ao fim de 6 anos. O seu filme anterior também era um noir erótico – o remake de “The Postman Always Rings Twice” (1981, com Jack Nicholson e Jessica Lange).
Conrad L. Hall, o director of photography, regressava ao activo após 10 anos de ausência.
David Mamet, prestigiado argumentista e realizador, participa como actor – é o jogador de poker face a Debra.
Parece que havia um final alternativo, onde se sugeria que a personagem de Debra Winger iria seguir o mesmo modus vivendi da personagem de Theresa Russell.