Título original – Bird Box
Sandra Bullock e a prestigiada realizadora Susanne Bier reúnem os seus talentos para um conto apocalíptico.
Um evento misterioso está a levar milhões de pessoas da Terra a cometerem actos loucos e suicidas.
Um grupo de pessoas procura sobreviver.
Terror sobre o fim da Humanidade, onde o perigo está no acto de olhar.
Poderia ser uma parábola sobre o estado da Televisão (a dita “real”) actual, mas não.
É uma história apocalíptica, sim, mas um relato de sobrevivência e a capacidade (ou falta dela) do ser humano em conseguir união para tal.
Mas centra-se mais na odisseia de uma mulher, indiferente ao mundo (o dela e o dos outros) e com o (re)despertar da iniciativa de líder, de salvação e de sentimentos (inteligente o facto dela se referir aos filhos como Boy e Girl).
Inteligentemente (e seguindo a lógica de “The Birds”, de Hitchcock), o filme não procura explicações, não mostrando também a fonte da ameaça.
O facto da sobrevivência passar por andar às cegas e estar-se numa bird box, permite deixar reflexões/conclusões diversas ao espectador.
Será que a visão impede a percepção dos restantes sentidos, bem como de emoções?
Será o castigo supremo para o ser humano viver numa bird box? Ou ele sempre viveu numa e nunca conseguiu ver isso?
Susanne Bier já tinha mostrado (boa) destreza para o thriller (a excelente mini-série “The Night Manager”). Agora mostra (óptimo) jeito para o terror. É notável a criação progressiva de medo, a gestão do caos (os primeiros minutos, quando o pandemónio estala), da tensão (os conflitos na casa, cada nova entrada na casa) e de suspense (o encontro no super-mercado, o massacre na casa, a viagem final).
Muito bom trabalho do elenco, com destaque para uma esplêndida Sandra Bullock, bem brava na sua entrega física e emocional.
Consciente do risco, afirmo que este “Bird Box” tem paralelismos com “The Thing” (refiro-me ao de John Carpenter) – novamente o fim da Humanidade, a ameaça (extra-terrestre, intra-terrestre, terrestre?) que desperta o pior do ser humano, a paranóia, o medo e a desconfiança face ao próximo.
(mas calma, pois as diferenças entre os dois filmes, bem como entre Carpenter e Bier, são imensas)
Um grande momento de terror, mas também de reflexão sobre o Mal do ser humano.
Obrigatório.
“Bird Box” está disponível pela Neflix.
Realizadora: Susanne Bier
Argumentista: Eric Heisserer, a partir do romance de Josh Malerman
Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, John Malkovich, Sarah Paulson, Jacki Weaver, Rosa Salazar, BD Wong, Pruitt Taylor Vince, Tom Hollander, Parminder Nagra, Vivien Lyra Blair, Julian Edwards
Site – https://www.netflix.com/pt/title/80196789
“Location Manager do Ano – Filme Independente”, “Location Team do Ano – Filme Independente”, nos California on Location 2018.
Curiosamente, na fase inicial do projecto, Sandra Bullock e Susanne Bier disseram NÃO.
Reencontro entre Sandra Bullock e Sarah Paulson, depois de “Ocean`s 8” (2018). Sandra pediu pessoalmente a Sarah para participar no filme.
Ponderou-se a possibilidade de mostrar as criaturas responsáveis pelos eventos. Fizeram-se desenhos, caracterizações e até se filmou uma cena. Mudou-se de ideias perante os (maus) resultados.
John Malkovich falava com os pássaros. Frequentemente estes obedeciam às suas indicações.
Sandra chegou a chocar com as câmaras várias vezes.
Sandra está vendada mais de metade das filmagens.
“Curiosamente”, o filme gerou um jogo nos USA. Um jogo onde pessoas, devidamente vendadas, devem atravessar vários espaços. Perante a quantidade de gente ferida, a Netflix chegou a emitir um comunicado a pedir que cancelassem tal jogo.
O livro de Josh Malerman já está à venda em Portugal.