Título original – Unbreakable
“Split” mostrava ligação a “Unbreakable” (era esse o twist que Shyamalan porpunha).
“Glass” chegou às salas e termina a trilogia (que Shyalaman idealizou a certa altura).
Um bom motivo para revermos este início de saga.
David Dunn é um homem normal, que regressa a casa de comboio, no final do dia.
O comboio sofre um terrível desastre e David é o único sobrevivente entre mais de 130 passageiros. E escapa sem um único arranhão.
Elijah Prince é um homem misterioso, que parece ter a justificação para tal.
Afinal quem é David e que ligação há com Elijah?
Parece um drama de um homem face a uma desgraça e a procura de uma lógica para o seu destino.
Parece a desgraça de um homem frágil e a sua procura para semelhante karma.
Shyamalan faz, afinal, uma história sobre a origem e descoberta de um super-herói, em sintonia com o tom dos comics.
Com grande finesse e subtileza, Shyamalan não cai em facilistismos (muita acção e efeitos visuais), dando sempre ao filme um tom lógico, credível e real, fazendo com que tudo pareça um melodrama do quotodiano normal do ser humano.
Shyamalan realiza com competência, dando um ritmo suave, planos longos e muitos em sequência, seguindo a regra do “menos é mais” (o desastre ferroviário não é mostrado, o confronto entre protagonista e um inimigo é directo e sem “piruetas” – até recorda Hitchcock e a morte lenta e agonizante do agente soviético em “Torn Curtain” -, o confronto final entre herói e vilão é pela descoberta da verdade do que por um duelo onde tudo explode e é destruído), sabendo criar empatia (o filho a querer que o pai seja um super-herói, quando o pai revela a verdade ao filho), emoção (a cena no hospital, o date entre marido e esposa) e tensão (quando o filho tenta alvejar o pai para provar que ele é invulnerável, quando herói e vilão descobrem a verdade), com boas ideias de mise en scène (a conversa no comboio, em plano-sequência com a câmara “escondida”).
Muito boa prestação do elenco, com Bruce Willis e Samuel L. Jackson em destaque, ambos em topo de forma, onde cada um deles cria uma das melhores interpretações da sua carreira.
Óptimo trabalho de fotografia, aqui e ali com uma palette a evocar a dos comics.
Boa música de James Newton Howard.
Um inteligente reformular das histórias de super-heróis, uma brilhante homenagem aos comics, sempre com o toque Shyamalan (a verdade descoberta, no final).
Um clássico moderno.
Muito recomendável.
“Unbreakable” tem edição portuguesa e anda a bom preço.
Realizador: M. Night Shyamalan
Argumentista: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright, Spencer Treat Clark, Charlayne Woodard
Trailer
Orçamento – 75 milhões de Dólares
Bilheteira – 95 milhões de Dólares (USA); 248 (mundial)
Mercado doméstico – 123 milhões de Dólares
Nomeado para “Melhor Filme – Acção/Aventura/Thriller”, nos Saturn 2001. Perdeu para “Crouching Tiger, Hidden Dragon”.
“Melhor Trailer – Terror/Thriller”, nos Golden Trailer 2001.
M. Night Shyamalan teve a ideia para “Unbreakable” durante as filmagens de “The Sixth Sense” (1999).
Shyamalan escreveu o argumento sempre com Bruce Willis e Samuel L. Jackson em mente.
Shyamalan recebeu 10 milhões de Dólares directos – 5 pela venda do argumento à Disney, 5 como realizador.
Reencontro entre Willis e Shyamalan, depois de “The Sixth Sense”.
Reecontro de Willis e Jackson, depois de “Loaded Weapon 1” (1993; embora Willis tenha um pequeno cameo), “Pulp Fiction” (1994) e “Die Hard With a Vengeance” (1995).
Julianne Moore foi sondada como esposa do protagonista, mas preferiu fazer “Hannibal” (2001). Robin Wright foi então escolhida.
Filmado em sequência.
Filmado em Philadelphia, cidade onde Shyamalan vive e é oriundo. Quase todos os seus filmes são lá filmados e passados.
Shyamalan e Eduardo Serra (o Director of Photography) quiseram usar uma palette e ângulos de câmara que emulassem os comics.
A bengala de vidro é uma ideia de Jackson.
O primeiro comic que Elijah recebe é um número de “Active Comics”. O título e logo são referências a “Action Comics”, o comic que apresentou Superman.
Numa cena, Elijah é visto ao lado de vários comics da Marvel. Samuel L. Jackson seria Nick Fury em muitos dos Marvel Films recentes.
Quando Elijah recebe um comic da mãe, esta garante-lhe que há um twist no fim. É uma referência ao filme e ao seu final.
Elijah tem um nome bíblico. Elijah profetizou a vinda de um salvador.
O estádio onde o protagonista trabalha é o Franklin Field, na Univesidade da Pennsylvania. É o estádio mais antigo nos USA, o primeiro a ter um placard electrónico e o primeiro a fazer emissões televisivas e radiofónicas.
A cena em que o filho de David tenta alvejá-lo deriva de um mito urbano à volta de George Reeves (actor que ficou popular por interpretar Superman numa série televisiva de grande sucesso) – Reeves viu-se confrontado com uma criança munida de uma arma de fogo, que pretendia verificar se Reeves ficaria imune às balas se estivesse com o fato de Superman; Reeves convenceu a criança que as balas fariam ricochete e feririam outras pessoas.
A cena em que David sente um abuso infantil envolve Kevin Crumb, o protagonista de “Split” (2016).
Cameo de M. Night Shyamalan (tal como Hitchcock, o cineasta indiano faz sempre um nos seus filmes) – o dealer no estádio.
A doença que afecta Elijah é Osteogenesis Imperfecta. É uma doença rara. O dom de David é (ainda) fantasia.
Kevin Smith (ilustre cineasta indie e grande nerd de comics – já escreveu para Spider-Man e Daredevil) considera “Unbreakable” similar a “Mage: The Hero Discovered” (comic de Matt Wagner).
Quentin Tarantino considera “Unbreakable” como um brilhante recontar da história de Superman e acha que o filme tem a melhor interpretação de Bruce Willis.
Em 2011, a “Time” considerou “Unbreakable” como #4 nos seus “10 Melhores Filmes com Super-Heróis”.
Em 2018, “The Hollywood Reporter” considerou “Unbreakable” como uma inteligente desconstrução da relação herói/vilão”.
É um dos filmes preferidos de Tarantino.
É o filme favorito de Shyamalan, dentro da sua filmografia.
O filme ganhou estatuto de culto.
Muitos vêm em “Unbreakable” uma homenagem aos comics, uma redefinição das histórias de super-heróis, uma redefinição de Superman.
Durante muito tempo falou-se que Shyamalan iria fazer uma sequela.
“Split” revela no final que há uma ligação com “Unbreakable”. “Glass” faz o final da trilogia com todos os personagens em confronto (final?).
A trilogia “Unbreakable”/”Split”/”Glass” está denominada “Eastrail 177 Trilogy”.
Uma visão sobre “Unbreakable”: