Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres (2011)

The Girl with the Dragon Tattoo - USA - Poster 3

 

Título original – The Girl With The Dragon Tattoo

 

Stieg Larsson criou a trilogia “Millennium” (ele queria 10 volumes, mas a morte prematura impediu tal), uma saga literária que marcou este início de século.

Começou por ser um fenómeno na literatura (grande sucesso mundial e um despertar sobre os policiais nórdicos), originou uma série televisiva (de assinalável sucesso na zona), que ficou convertida em três filmes que circularam pelo mundo (com sucesso).

Livro e filmes revelaram uma carismática e densa dupla de personagens, mas era uma “menina” que marcava o imaginário, tornando-se a mais original, complexa e fascinante personagem deste tempo – Lisbeth Salander.

No ecran era interpretada de forma estonteante pela incrível Noomi Rapace, que logo se revelou uma das actrizes mais capazes da actualidade.

Hollywood não ficou indiferente e logo quis fazer a sua versão (cinematográfica) da trilogia. David Fincher foi convocado (que já tinha bom curriculum com psycho thrillers). Rooney Mara tenta igualar Noomi.

Anda aí a adaptação (também Made in Hollywood) do Volume 4.

Recordemos esta versão USA do homónimo sueco.

 

Mikael Blomkvist é um empenhado jornalista em busca da verdade.

Lisbeth Salander é uma hacker hábil, de visual bizarro, histórico complicado, mas de atitude fria, anti-social e implacável.

Fazem equipa para localizar o paradeiro de uma mulher desaparecida há 40 anos, membro de uma nobre família.

A investigação vai revelar segredos tenebrosos.

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Em 2011, até torci ligeiramente o nariz a este remake (a visão do original e da trilogia ainda estavam muito recentes na minha memória).

Novas visões (de todos os filmes) ajudaram na mudança e correcção de opinião.

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A narrativa já cativa pelo mistério em causa – um problema “banal”, mas que parece não ter solução.

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Mas o apelo extra vem pelos contornos sociais, familiares e humanos da história.

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A nível social, temos uma visão (bastante) negra da sociedade sueca (vemos psicopatas ao nível do que habitualmente vemos nos USA).

A nível familiar, conhecemos uma família que é um covil de maldade, ódio, conflitos, mistérios e morte.

A nível humano, convivemos com dois personagens peculiares. Um homem e uma mulher. Dois solitários em lutas desiguais, implacáveis e dolorosas – ele contra a corrupção e o excesso de poder de grandes corporações empresariais; ela contra a marginalização, a hostilidade, o preconceito, o abandono, a indiferença e a falta de afecto.

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Mais do que um mistério policial (denso e muito bem contado), o filme é um mergulho na maldade humana (veja-se o que era feito à desaparecida e a outras vítimas, os ideais dos assassinos, a humilhação – física e psicológica – que a protagonista sofre do seu tutor) e uma cruzada (vingativa ou justiceira?) de uma mulher sobre tal, revelando-se o mal necessário (os seus métodos não são “civilizados”, mas são bem eficazes e definitivos) para destruir um outro.

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Excelente fotografia, bem negra e nítida.

Boa nota também à banda sonora, a caracterizar bem o ambiente maléfico, frio e demente da trama.

Bom aproveitamento da paisagem (urbana e natural) da Suécia (sim, também podemos ver vários modelos da Volvo).

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Final amargo e bem pessimista – no meio de uma tentativa sentimental (algo que na narrativa é bem ausente) fica a conclusão que o mundo moderno não tem lugar para tal e que quem enfrentou ou esteve sempre face ao Mal dificilmente terá oportunidade de ver o Bem.

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David Fincher é todo um entusiasta e perito em psycho-thrillers (“Seven”, “Fight Club”, “Zodiac”, “Gone Girl” – este feito posteriormente a “The Girl With The Dragon Tattoo”).

Volta a mostrar a sua mestria para o tema, numa abordagem enferma (os ambientes, as pessoas, os actos), rigorosa (o planeamento visual), austera (o tom é muito frio), de impecável aprumo na combinação de todos os meios técnicos e artísticos.

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Excelente prestação de todo o elenco.

Mas há que destacar Daniel Craig, Stellan Skarsgård e Rooney Mara.

Stellan, com o seu olhar e voz, consegue inquietar pela simpatia que demonstra e pela maldade que ilustra.

Daniel confirma que é mais que um (brilhante) James Bond (na época, ele já tinha feito “Casino Royale” e “Quantum of Solace”, indo a caminho de “Skyfall”). Dá dinamismo, emoção e racionalidade ao seu personagem.

Rooney Mara impressiona (tremendamente) e é o grande trunfo do filme. Noomi Rapace tinha deixado a fasquia (bem) alta (altíssima, mesmo) com a sua (perfeita) interpretação de Lisbeth Salander, na trilogia (cinematográfica) sueca – rebelde, fria, prática, impçacável, astuta, frágil e carente. Rooney consegue igualá-la, traduzindo mais a juventude de Lisbeth (Noomi é mais velha que Rooney), a sua fragilidade emocional (Noomi foi mais subtil nisso) e a sua raiva (vê-se em Rooney uma destreza mais próxima da action heroine que em Noomi – esta procurava mais a astúcia e a capacidade predatória).

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“The Girl With The Dragon Tattoo” é um remake.

Não faltam qualidades ao original, mas vamos ver como se mede o filme americano face ao sueco:

  • A versão USA tem mais (e melhores) meios de produção e isso é visível no campo visual.
  • A versão USA tem um autor de Cinema ao seu comando e isso muda tudo no resultado final cinematográfico (o filme de Fincher é mais arte e estética).
  • A versão USA tem actores mais sonantes e conhecidos, e isso ajuda numa maior abertura de público.
  • Os dois filmes têm algumas diferenças narrativas (a versão USA é, pelos vistos, mais fiel ao livro – assim sendo, foca mais alguns elementos emocionais e sentimentais).
  • O empate dá-se nas meninas.

 

Vitória do remake.

Mas o original (e a trilogia sueca) vale(m) bem a pena, OK?

(até porque se desenvolve mais a personagem de Lisbeth e a sua relação com Mikael)

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Um thriller de mistérios, que assenta as suas mais-valias na abordagem visual e narrativa, tendo como pilar a “excentricidade” da sua protagonista e a sua criação artística.

 

Obrigatório.

 

“The Girl With The Dragon Tattoo” tem edição portuguesa e anda a preço nada odioso.

(o mesmo se aplica para a trilogia sueca)

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Realizador: David Fincher

Argumentista: Steven Zaillian, a partir do romance de Stieg Larsson

Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård, Steven Berkoff, Robin Wright, Yorick van Wageningen, Joely Richardson, Geraldine James, Goran Visnjic

 

Site –  http://www.sonypictures.com/movies/thegirlwiththedragontattoo/site/

 

Orçamento – 90 milhões de Dólares

Bilheteira – 102 milhões de Dólares (USA); 232 (mundial)

Mercado doméstico – 22 milhões de Dólares

 

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“Melhor Montagem”, nos Oscars 2012. Rooney Mara tentou ser “Melhor Actriz”, mas perdeu para Meryl Streep em “The Iron Lady”; Jeff Cronenweth tentou a “Melhor Fotografia”, mas foi vencido por Robert Richardson em “Hugo”.

Rooney Mara tentou ser “Melhor Actriz – Drama”, nos Globos de Ouro 2012. Meryl Streep, em “The Iron Lady”, foi preferida.

“Melhor Thriller”, nos Saturn 2012. Rooney Mara tentou ser “Melhor Actriz”, mas foi derrotada por Kirsten Dunst em “Melancholia”.

“Filme do Ano”, nos AFI 2012.

“Melhor Cenografia”, no Art Directors Guild 2012.

“Melhor Música”, nos ASCAP Film and Television Music 2012, nos BMI Film & TV 2012.

“Melhor Argumento Adaptado”, pelos críticos de Ohio 2012.

“Melhor Guarda-Roupa”, nos Costume Designers Guild 2012.

“Melhor Actriz do Ano” (Rooney Mara), nos Golden Schmoes 2011.

“Melhor Drama”, nos Golden Trailer 2012.

“Melhor Banda Sonora”, nos Grammy 2013.

“Melhor Actriz” (Rooney Mara), nos IGN Summer Movie 2011, pelos críticos de St. Louis 2011.

“Top 10 do Ano”, “Melhor Jovem Actriz (Rooney Mara), pela National Board of Review 2011.

“Prémio Virtuoso” (Rooney Mara), no Festival de Santa Barbara 2012.

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O filme é um remake/nova adaptação. O romance homónimo de Stieg Larsson já tinha sido adaptado em 2009 – “The Girl With The Dragon Tattoo”, de Niels Arden Oplev, com Michael Nyqvist e Noomi Rapace. O filme foi um enorme sucesso na Suécia, na Europa e a nível mundial. Teve direito a mais dois episódios, para assim se adaptar a trilogia literária. Hollywood queria fazer o mesmo.

 

Noomi Rapace foi sondada para voltar a interpretar Lisbeth, mas a actriz rejeitou pois não se queria repetir.

Rooney Mara derrotou forte concorrência – Natalie Portman (recusou), Scarlett Johansson (David Fincher considerou-a demasiado sexy), Jennifer Lawrence (era demasiado alta), Carey Mulligan, Ellen Page, Kristen Stewart, Mia Wasikowska, Keira Knightley, Anne Hathaway, Olivia Thirlby, Emily Browning, Eva Green, Sophie Lowe, Sarah Snook, Léa Seydoux, Emma Watson, Evan Rachel Wood e Katie Jarvis.

Daniel Craig venceu também forte concorrência – Johnny Depp, Viggo Mortensen, Brad Pitt e George Clooney.

Max von Sydow era a primeira escolha como o líder da família. Perante a sua recusa, Christopher Plummer foi chamado.

Robin Wright foi a primeira escolha de Fincher para a sua personagem.

Reencontro entre Fincher e Mara, depois de “The Social Network” (2010).

 

Fincher sugeriu a Mara para sair à noite e embebedar-se e regressar na manhã seguinte para uma audition com os executives do estúdio. O seu look era tão decadente, que logo foi aprovada.

Craig ia recusar o filme devido aos compromissos com “Skyfall” (2012; a sua terceira aventura como James Bond). Mas devido aos atrasos de produção deste, o actor pode participar no filme de Fincher.

Craig quis engordar para não ter um físico à James Bond.

Os piercings que Mara usa são reais e não make-up. Terminadas as filmagens, eles foram retirados.

Mara quis perder muito peso.

 

Steven Zaillian demorou seis meses para escrever o argumento.

Fincher e Zaillian queriam ser fiéis ao romance de Larsson.

 

Filmado na Suécia, ao longo de 160 dias. A equipa enfrentou o mais frio Inverno em 20 anos.

Os actores foram alvo de uma aprendizagem de sotaque sueco.

Ao fazerem filmagens num restaurante, a equipa descobriu que Ellen Nyqvist (a filha de Michael Nyqvist, o Mikael Blomkvist da trilogia sueca) trabalhava lá. Foram escritas cenas para ela fazer um cameo – é a filha de Mikael Blomkvist, agora com o rosto de Daniel Craig.

Stellan Skarsgård ficou contente com a ideia de poder ir dormir à sua casa todos os dias, pois era algo que já não fazia há muito tempo, devido a filmar sempre fora de Estocolmo ou da Suécia.

Jeff Cronenweth substituiu Fredrik Bäckar ao fim de oito semanas.

Reencontro entre Cronenweth e Fincher, depois de “Seven”, “Fight Club” e “The Social Network”.

Cronenweth é fã de Sven Nykvist (reputado Director of Photography sueco – trabalhou com Ingmar Bergman e Woody Allen). Nykvist fazia pouco uso de luz, Cronenweth procurou fazer o mesmo, no sentido da homenagem.

Reencontro entre Fincher e Trent Reznor & Atticus Ross, depois de “The Social Network”.

 

Na cena da violação a Lisbeth, o violador está nú, mas tal nudez é um efeito digital. O actor ficou de tal modo perturbado, que terminada a cena refugiou-se no seu quarto de hotel, onde permaneceu o resto do dia, a chorar.

Quando Lisbeth toma banho, são visíveis nódoas negras no seu corpo. São o resultado da cena da violação. A acrtriz recusou tratamento a tais ferimentos.

Na cena em que Mikael cura o seu ferimento, o sangue é um efeito digital.

Na cena em que Mikael está a ser torturado, a canção que se ouve foi uma sugestão do actor, ao seleccionar uma canção de forma aleatória no seu telemóvel.

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Está nos “1001 Movies You Must See Before You Die”, de Steven Schneider.

 

David Fincher queria fazer os dois episódios seguintes – “The Girl Who Played With Fire” e “The Girl Who Kicked The Hornets’ Nest”. A sua motivação era tal, que até os quis filmar em simultâneo.

Em 2012 tudo sofre um revés – Steven Zaillian está com dificuldades em elaborar o argumento, Andrew Kevin Walker (já conhecido de Fincher – “Seven”) entra em cena para terminar o trabalho.

Em 2014 Fincher revela que “The Girl Who Played With Fire” já tem argumento e que este é bem diferente do livro.

Em 2015 a Sony cancela os projectos dessas sequelas e avança com a adaptação do quarto livro (iniciado por Larsson, mas interrompido devido à sua morte; um outro escritor, escolhido pelos seus herdeiros, termina o Volume 4).

No final de 2015 tudo fica esclarecido – “The Girl In The Spider’s Web” vai ser adaptado, será um misto de sequela e reboot a “The Girl With The Dragon Tattoo” (a versão USA) e ninguém da cast & crew regressa. Fede Álvarez (o remake de “The Evil Dead”, “Don`t Breahte”) é o realizador, a nova Lisbeth Salander é Claire Foy.

 

Sobre Stieg Larsson:

http://stieglarsson.com

https://www.goodreads.com/author/show/706255.Stieg_Larsson

The Girl with the Dragon Tattoo - USA - Poster 5

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