Título original – The Big Sleep
“The Big Sleep” (1946) foi um enorme sucesso (público e crítico) tendo ganho (grandioso) estatuto – grande filme, perfeito Film Noir, obra-prima de Cinema, clássico de Cinema, (A) referência do género, etc.
Alguém achou que seria boa ideia (a sério???) fazer uma nova versão do romance de Raymond Chandler (melhor que a de Howard Hawks? melhor que a com Humphrey Bogart & Lauren Bacall?? melhor que a escrita por Leigh Brackett e William Faulkner???).
Michael Winner é o corajoso.
Robert Mitchum é Philip Marlowe (repetindo o personagem depois do lovely “Farewell, My Lovely”, em 1975).
Londres.
Philip Marlowe, detective privado, é contratado pelo General Sternwood, para resolver um caso de chantagem que paira sobre a sua família.
Marlowe vê-se metido num negócio sórdido de chantagem, pornografia, homicídio e mistérios de família.
Michael Winner investe numa certa modernização do Film Noir levando-o mais para o campo do British Crime Noir, aproveitando a “moda” lançada pelo emblemático “Get Carter” (1971, de Mike Hodges, com Michael Caine).
A acção passa para os tempos actuais (os 70s) e muda a localização (de L.A. para Londres).
Dados os tempos, Winner pode ser mais fiel ao livro de Raymond Chandler (a relação entre Marlowe e as meninas Sternwood é menos sentimental que no filme de Howard Hawks; o final é menos romântico, ainda que com a mesma ética de Marlowe) e ser mais explícito nalgumas áreas (da sexualidade).
Elogia-se a fidelidade, mas Winner nada traz de novo, estilizado ou notável, sendo até bastante precipitado nas transições entre cenas, demasiado rápido nos diálogos (perdendo assim a essência do género e de Chandler), sendo banal e inconsequente no explícito – coisas habituais no cinema de Winner.
Como se sabe e já se viu em Cinema, não é uma fiel adaptação de um livro (mesmo que seja excelente) que origina um igualmente excelente filme. Hawks é paradigmático nisso – ele fugiu ligeiramente ao livro de Chandler e fez maravilha; praticamente que ignorou o romance de Ernest Hemingway, “To Have and Have Not”, e fez a maravilha de Cinema que é o filme.
O título fala num “grande sono” e quase todo o elenco parece, de facto, adormecido.
Estão lá grandes nomes, mas todos estão mal dirigidos e muitos deles têm presença de poucos minutos.
Robert Mitchum já tinha mostrado estofo para ser Marlowe (em 1975, no nostálgico “Farewell, My Lovely”), mas aqui parece que anda sempre zangado, sonolento e a fazer frete.
Boa fotografia e recriação de ambientes.
Tom frio, ausência de estilo, tudo muito déjà vu.
Sobra o poder da narrativa de Chandler.
Uma modernização de um clássico (da Literatura e do Cinema) que se revela frouxa e banal, funcionando apenas como ligeiro entertainment.
Vê-se bem.
“The Big Sleep” (1978) não se afirma como um remake de “The Big Sleep” (1946). Quer ser uma nova adaptação do homónimo romance de Raymond Chandler.
Vamos ver como o filme(zinho) de Michael Winner se mede com O Film Noir de Howard Hawks:
- O filme de Hawks segue a estrutura do romance de Chandler, mas desvia-se em certos momentos – seja para evitar problemas com a Censura (abordavam-se temas que não seriam do seu agrado), seja para dar mais combustível à química de Humphrey Bogart & Lauren Bacall. Funciona, o romance de Chandler não é traído, sendo até mesmo enriquecido ou sujeito a variantes brilhantes.
- O filme de Winner procura ser mais fiel (os tempos já o permitiam), mas isso não faz melhor filme, pela forma precipitada como o realizador resolve e aborda as coisas.
- No filme de Hawks, tudo é sublime – argumento, diálogos, fotografia, música, roupa, cenografia, tom, ritmo, interpretações.
- No filme de Winner para que tudo está sleeping – ritmo rápido mas precipitado, diálogos (demasiado) curtos, interpretações sonolentas, tom inexistente.
- No filme de Hawks há movie magic a todo o momento.
- No filme de Winner, há… não sabemos o quê.
Resultado?
Como é óbvio, vitória total de “The Big Sleep” – versão de 1946.
“The Big Sleep” não tem edição portuguesa, mas existe noutros mercados, a preço “adormecido”.
Realizador: Michael Winner
Argumentista: Michael Winner, a partir do romance de Raymond Chandler (“The Big Sleep”)
Elenco: Robert Mitchum, Sarah Miles, Richard Boone, Candy Clark, Joan Collins, Edward Fox, John Mills, James Stewart, Oliver Reed, Harry Andrews, Colin Blakely, Richard Todd, Diana Quick, James Donald, John Justin
Trailer
Orçamento – 3 milhões de Libras
O livro e filme de 1946 passam-se nos 40s, em Los Angeles. Esta nova versão passa-se nos 70s e em Londres.
Robert Mitchum tinha 60 anos. Muita gente o considerou demasiado velho para ser Philip Marlowe.
É o segundo de dois filmes que Lew Grade produziu, protagonizados por Marlowe – “Farewell, My Lovely” (1975) e “The Big Sleep” (1978). Ambos são com Robert Mitchum.
É o segundo de dois filmes onde Mitchum interpreta Marlowe – “Farewell, My Lovely” (1975) e “The Big Sleep” (1978). É o único actor que conseguiu tal. Os dois filmes não estão ligados. O primeiro passa-se em L.A. nos 40s, o segundo em Londres nos 70s.
James Stewart já se encontrava bastante doente, com problemas de memória e audição. Mitchum chegou a dizer que o filme era sobre cadáveres e que Stewart tinha o ar mais morto de todos. Jimmy e Bob faleceriam com 24 horas de diferença – Mitchum faleceu a 1 de Julho de 1997, com 79 anos; Stewart faleceu a 2 de Julho de 1997, com 89 anos.
Stewart chegou a ponderar recusar fazer o filme.
Oliver Reed aceitou participar só pela vontade de contracenar com Mitchum.
Mitchum e Reed eram bons beberrões e faziam concursos. Mitchum chegou a beber uma garrafa de gin em 55 minutos.
Richard Boone partiu o pé dias antes das filmagens. O actor foi convocado mesmo assim e esse elemento foi usado na história.
Segundo Michael Winner, Mitchum e Boone estavam bêbados na cena do tiroteio.
Uma das modelos do livro que Marlowe encontra é Lindy Benson, que seria companheira de Mitchum.
Joan Collins usa peruca.
É o único filme que Stewart e Mitchum fizeram juntos.
É o último filme de Richard Boone e de James Donald.
Reencontro entre Mitchum, Sarah Miles e John Mills, depois de “Ryan`s Daughter (1970, de David Lean).
Crítica e público reagiram de forma negativa a esta nova versão de “The Big Sleep”.
Philip Marlowe foi alvo de várias modernizações nos 70s – “Marlowe” (1969, com James Garner), “The Long Goodbye” (1973, com Elliott Gould), “Farewell, My Lovely” (1975, com Robert Mitchum), “The Big Sleep” (1978, com Robert Mitchum).
Sobre os actores que interpretaram Philip Marlowe:
Raymond Chandler tem muitos dos seus romances editados em Portugal.
Aconteceu na “Colecção Vampiro” dos Livros do Brasil. Em formato de bolso (na colecção generalista) e depois em formato gigante (na colecção dedicada). Estas edições são uma raridade e só em alfarrabistas é que se podem encontrar.
Recentemente foi feita uma tentativa (bem tímida) de voltar a haver Chandler no nosso mercado livreiro. A Contraponto editou dois romances (“The Big Sleep” e “Lady in the Lake”), a Presença editou um (“The Long Goodbye”). E nada mais há e nada mais se sabe sobre continuidade de edições.
Sobre Raymond Chandler:
https://www.britannica.com/biography/Raymond-Chandler
https://www.biography.com/people/raymond-chandler-9244073
https://www.esquire.com/uk/culture/news/a6742/raymond-chandler-quotes/
https://www.brainpickings.org/2013/05/08/raymond-chandler-on-writing/
https://www.livrosdobrasil.pt/autor/raymond-chandler
http://www.detnovel.com/chandler.html
https://www.goodreads.com/author/show/1377.Raymond_Chandler
http://www.thrillingdetective.com/trivia/chandler.html