Título original – Farewell, My Lovely
“Farewell, My Lovely” é a segunda aventura de Philip Marlowe e um dos melhores romances de Raymond Chandler.
Já tinha sido adaptada (excelentemente) em 1944, com o magnífico “Murder, My Sweet” (de Edward Dmytryk, com Dick Powell a surpreender como Marlowe).
Os 70s trazem uma modernização do Detective Noir e Marlowe/Chandler estava(m) na agenda.
Robert Mitchum protagoniza.
Philip Marlowe, detective privado, é contratado por Moose Malloy, ex-presidiário, para encontrar a sua amada Velma.
Marlowe vai descobrir que anda muita gente interessada em que a menina não seja encontrada.
Mesmo que sejam necessários uns cadáveres.
Detective Noir que funciona como uma crónica sobre o veterano cansado e desencantado, em luta pelos valores da sua pessoa contra os da sociedade que o rodeia.
Mas é também um sinuoso, estilizado e nostálgico exercício de homenagem ao género, ao escritor e ao protagonista.
O argumento segue a estrutura do romance de Chandler, fazendo aqui e ali algumas concessões e variações que até resultam (a relação de Marlowe com o amigo do quiosque, a relação de Marlowe com a criança).
Excelente reconstrução da época (a cenografia é de Dean Tavoularis – um habitual de Coppola), visualizada através de uma bela, estilizada e nostálgica fotografia.
Música bem atmosférica.
Robert Mitchum carrega bem o peso do cansaço e da idade de Marlowe. O actor já não estava na faixa etária que Chandler definiu para o personagem, mas o argumento sabe usar o factor idade a seu favor.
Charlotte Rampling é um sonho (bem fatale) de Femme Fatale.
Dick Richards ficará sempre com o seu nome associado a este filme, dada a qualidade do revivalismo conseguido.
Uma bela homenagem ao Film Noir e a Marlowe/Chandler.
Uma pequena pérola.
Um pequeno clássico do Film Noir moderno.
Obrigatório.
“Farewell, My Lovely” não tem edição portuguesa, mas existe noutros mercados, a bom preço.
“Farewell, My Lovely” vale por si, mas é uma nova versão. Vamos ver como se comporta perante “Murder, My Sweet”.
- Ambos são dois estilizados Film Noir. “Murder, My Sweet” é mais puro (vem da época áurea para tal), “Farewell, My Lovely” traz sabor de homenagem (muito bem feita, diga-se).
- Nenhum deles é inteiramente fiel ao livro, mas respeitam a matriz do romance que os inspiram.
- Marlowe é mais jovem e dinâmico em “Murder, My Sweet” (estando assim em conformidade com o livro), mais cansado e desencantado em “Farewell, My Lovely” (mas resulta, perante o argumento).
- Em ambos consegue-se caracterizar bem os ambientes de Chandler, bem como a personalidade de Marlowe.
Vitória de “Murder, My Sweet” – mais fresco, mais genuíno, mais noir, mais em sintonia com Chandler e Marlowe.
Mas “Farewell, My Lovely” merece descoberta e valorização.
Realizador: Dick Richards
Argumentista: David Zelag Goodman, a partir do romance de Raymond Chandler (“Farewell, My Lovely”)
Elenco: Robert Mitchum, Charlotte Rampling, John Ireland, Sylvia Miles, Anthony Zerbe, Harry Dean Stanton, Jack O’Halloran, Joe Spinell, Sylvester Stallone, Kate Murtagh, John O’Leary, Walter McGinn, Jim Thompson
Trailer
Filme
Orçamento – 2.5 milhões de Dólares
Bilheteira – 2 milhões de Dólares
Nomeado para “Melhor Filme”, nos Edgar Allan Poe 1976. Perdeu para “Three Days of the Condor”.
Sylvia Miles esteve nomeada para “Melhor Actriz Secundária”, nos Oscars 1976. Perdeu para Lee Grant em “Shampoo”.
“Top 10 do Ano”, pela National Board of Review USA 1975.
Primeiro filme de Jerry Bruckheimer como produtor.
Primeiro de dois filmes que Lew Grade produziu, protagonizados por Philip Marlowe – “Farewell, My Lovely” (1975) e “The Big Sleep” (1978), ambos com Robert Mitchum. Os dois filmes não estão relacionados, apesar de ambos contarem com o protagonismo de Mitchum. O primeiro filme passa-se nos 30s em L.A., o segundo em Londres nos 70s.
Segunda produção de Elliott Kastner numa adaptação cinematográfica de um romance de Raymond Chandler, protagonizada por Philip Marlowe – a outra foi “The Long Goodbye” (1973), de Robert Altman, com Elliott Gould.
Esta é a terceira versão cinematográfica de “Farewell, My Lovely” – “The Falcon Takes Over” (1942, mas o protagonista não era Marlowe, mas sim The Falcon) e “Murder, My Sweet” (1944).
Os 70s trazem novas adaptações/modernizações de Philip Marlowe ao Cinema – “Marlowe” (1969, com James Garner), “The Long Goodbye” (1973, com Elliott Gould) e “Farewell, My Lovely” (1975, com Robert Mitchum), ”The Big Sleep” (1978, com Robert Mitchum).
Richard Burton ia ser o protagonista, mas teve de recusar devido a conflitos de agenda.
Robert Mitchum tinha 57 anos, no livro Marlowe está nos 30s. Mas o argumento tem em conta a idade.
Mitchum voltaria a ser Marlowe – na nova versão de “The Big Sleep” (1978). Mas os filmes não estão ligados. O novo “The Big Sleep” passa-se em Londres e nos anos 70, “Farewell, My Lovely” passa-se nos anos 40 e em L.A..
Um dos fatos que Mitchum usa era um usado por Victor Mature, nos 40s. Mitchum detestava o fato e estava sempre a queixar-se.
Marlowe conduz um Buick Special 1940.
A casa da personagem de Charlotte Rampling era a casa de Harold Lloyd.
A personagem de Ann Riordan (o interesse sentimental de Marlowe) não aparece nesta nova adaptação. Aparece no livro e na versão de 1944.
Cameo de Jim Thompson (relevante escritor de hardboiled noir) – é o juiz.
Mitchum foi considerado demasiado velho para ser Marlowe.
(ele está muito bem, ainda que dê um ar mais envelhecido ao personagem; é pena que Hollywood não se tivesse lembrado do actor para interpretar o herói, nas décadas 40 e 50)
Sobre os actores que interpretaram Philip Marlowe:
Raymond Chandler tem muitos dos seus romances editados em Portugal.
Aconteceu na “Colecção Vampiro” dos Livros do Brasil. Em formato de bolso (na colecção generalista) e depois em formato gigante (na colecção dedicada). Estas edições são uma raridade e só em alfarrabistas é que se podem encontrar.
Recentemente foi feita uma tentativa (bem tímida) de voltar a haver Chandler no nosso mercado livreiro. A Contraponto editou dois romances (“The Big Sleep” e “Lady in the Lake”), a Presença editou um (“The Long Goodbye”). E nada mais há e nada mais se sabe sobre continuidade de edições.
Sobre Raymond Chandler:
https://www.britannica.com/biography/Raymond-Chandler
https://www.biography.com/people/raymond-chandler-9244073
https://www.esquire.com/uk/culture/news/a6742/raymond-chandler-quotes/
https://www.brainpickings.org/2013/05/08/raymond-chandler-on-writing/
https://www.livrosdobrasil.pt/autor/raymond-chandler
http://www.detnovel.com/chandler.html
https://www.goodreads.com/author/show/1377.Raymond_Chandler
http://www.thrillingdetective.com/trivia/chandler.html
A Grande Ilusão 