Halloween (2007)

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Após 8 episódios e 7 sequelas, a saga “Halloween” pareceu ter um fim (na verdade, não, como se confirma em 2018 – mas isso é outra história) – deveria ter sido “Halloween: H20”, mas tivemos de levar com essa “comédia” que é “Halloween: Resurrection”.

Perto dos 30 anos de vida da saga, produtores e estúdio decidiram fazer um remake (do “Halloween”? de um filme de John Carpenter? a sério?).

Rob Zombie decide dar a sua visão sobre o tema.

 

Michael Myers é uma criança problemática, presente num lar disfuncional. Cansado do bullying na escola e do ambiente doentio em casa, Michael decide matar todos os que lhe são nocivos.

Internado num asilo psiquiátrico por 17 anos, Michael cativa a atenção do Dr. Sam Loomis, mas este nada consegue para atenuar Michael.

Já adulto, Michael decide fugir e ir até Haddonfield, a sua terra natal, e atacar a sua irmã Laurie.

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Estava-se numa época em que era “moda” fazer remakes (desnecessários, pois claro) de clássicos de John Carpenter – aconteceu para “The Fog” (desastroso) e para “Assault on Precinct 13” (muito recomendável, por acaso, mostrando que nem sempre tudo é mau em remakes); “Escape from New York” anda anunciado há muito tempo, mas (felizmente) nada avança (tem uma saga de “produção” que dá para uma boa comédia); “The Thing” (que já era um remake – de um clássico produzido por Howard Hawks) teve direito a uma prequela (muito interessante, diga-se); “Big Trouble in Little China” também tem remake planeado (Dwayne Johnson irá ser o protagonista e ele quer o envolvimento do The Master).

Era, portanto, uma questão de tempo até a obra-prima máxima de Carpenter (pois, “Halloween” ou “The Thing”? – a resposta é difícil e o debate é estimulante) ser alvo de uma “modernização”.

Halloween

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Rob Zombie foi chamado para tal, até se reuniu com Carpenter e contou com a sua aprovação e apoio (para depois dizer que o autor de “Starman” lhe foi hostil).

Zombie tem-se mostrado autor de um cinema de terror incómodo, doentio e ilustrador de uma certa América moderna (bem mais nos dias de hoje) – “House of 1000 Corpses” (2003), a sequela “The Devil`s Rejects” (2005; a terceira parte, “3 from Hell”, já está em pós-produção), “The Lords of Salem” (2012), “31” (2016).

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O público americano e mundial recebeu bem (em número$) esta nova versão. A crítica já foi menos simpática – como era óbvio, considerou-o (muito) abaixo do original de Carpenter.

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Do original, mantém-se o inquietante tema musical de Carpenter, que é sempre capaz de provocar calafrios (experimentem ouvi-lo às escuras e sozinhos em casa – conseguem aguentar mais do que 30 segundos sem acender a luz? façam o teste e depois digam-me os resultados).

Mas, em vez de se andar a dar dinheiro a Carpenter (ok, ele também tem contas a pagar e precisa de pão na mesa) para pagar os direitos de tantos (desnecessários, repito) remakes, não se poderia dar-lhe uns “cobres” (sim, porque Carpenter já deu provas que consegue e sabe fazer Cinema com baixos custos) e deixá-lo fazer (finalmente) um novo filme?

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Este novo “Halloween” é (como todos os filmes de Zombie) uma visão do mundo actual, de uma sociedade aberrante e distorcida, de uma família disfuncional, que só fabrica monstros, numa verdadeira kitsch horror parade (“House of a 1000 Corpses” era também um autêntico freak horror circus).

A visão incomoda (o bom terror é mesmo para isso) e não se pode dizer que Zombie anda alheio ao mundo – veja-se o bullying que Michael sofre na escola, veja-se o ambiente em casa.

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A primeira metade da narrativa assenta na infância de Michael, o lar disfuncional onde vive, a gente demente que o rodeia e a explicação porque ele explode numa besta assassina.

É aqui que Zombie propõe novidades e diferenças face ao filme de Carpenter.

Zombie explica as origens de Michael e tenta que sejam a justificação para as suas acções. Michael é oriundo de um lar disfuncional (mãe stripper e drogada, padrasto bêbado e desempregado, irmã mais velha sempre a embirrar; uma irmã bebé que precisa de uma atenção que não recebe).

A ideia é interessante – ao contrário do filme original, onde Michael se revela uma encarnação do Mal, nesta nova versão Michael é um simples humano que decide dizer “enough” e agir. E age como uma besta assassina.

Esta “humanização” de Michael é pertinente, mas não o torna mais simpático aos nossos olhos nem desculpa as suas acções homicidas.

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Na segunda metade, o argumento repete os eventos (e até diálogos) do filme original.

Zombie acaba por cair na armadilha do re-fazer o que já foi feito.

Não se pode negar tensão, poder de susto, impacto na violência, crescendo do medo, alguma adrenalina no conflito final.

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Zombie pouco acrescenta ao título de Carpenter (sinal que o filme não envelheceu nem perdeu força e, obviamente, nem precisava de ser refeito). Esta nova versão “parece” (ou tenta parecer) a versão de Carpenter acrescido de “cenas eliminadas” por serem demasiado violentas para a audiência, com uma adenda de “racionalização social”.

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Boa fotografia, que ilustra bem a demência dos ambientes e eventos.

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Muito boa prestação do elenco.

Malcolm McDowell interpreta um Dr. Sam Loomis algo dandy, vaidoso e engatatão, parecendo incapaz de fazer algo face a Michael, pois perdeu a capacidade de controlo e preocupação.

Daeg Faerch é impressionante e comovente como jovem Michael, traduzindo bem a sua solidão, raiva e desespero.

Scout Taylor-Compton compõe uma Laurie mais moderna, problemática e rebelde.

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Bem assustadora é a máscara de Michael. Devidamente suja e desfigurada, ajuda no medo que causa.

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Fiel ao seu estilo, Zombie dá ao filme um tom feio (a violência psicológica na casa dos Myers; a violação da paciente no asilo), violento (todas as mortes são brutais e plenas de sangue), sujo, decadente, podre, imundo, aberrante. Zombie é incómodo na ilustração das matanças de Michael. Zombie filma com boas ideias (os ambientes, as aparições de Michael, o acompanhar da forma como ele segue as pessoas).

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Final brutal e violento, que fecha o ciclo trágico da família Myers.

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Elevado body count, bem violento e sangrento.

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O problema de “Halloween” (o de Zombie) é “Halloween” (o de Carpenter) – o filme de 1978 é mais estilizado, mais scary, mais chocante, mais perturbante, mais Cinema.

Tivesse “Halloween” (o de Zombie) outro título, funcionaria bem como um psichological horror flick.

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Não sendo um título desprezável (Zombie cria bons momentos de tensão e terror – ainda que alguns sejam quase uma clonagem de sequências do original), esta versão 2007 de “Halloween” é um título acima de média no género (tendo em conta muitos dos exemplos actuais), mas (muito) inferior ao original. É um creepy movie, bem inquietante e incómodo, que mais do que apenas filme de terror, acaba por ser um “documentário” sobre o mundo de hoje e da forma como o Mal está perto de nós e é fabricado por nós.

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Muito recomendável.

Halloween

“Halloween” tem edição portuguesa e anda a bom preço. Procurem a edição com dois discos e com o Director`s Cut.

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O filme tem dois Cuts – o Theatrical e o Director`s. A versão de Zombie é mais violenta e mais detalhada na fase da infância de Michael.

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“Halloween” é um remake. Tem os seus méritos, mas vamos ver como se mede face ao original:

  • Visão – em ambos se vê uma visão de Cinema e do mundo, devidamente personalizada e estilizada; mas o filme de Carpenter é mais Cinema.
  • Violência – o título de Carpenter destaca-se precisamente pela ausência de hemoglobina, criando terror e suspense pelos eventos, pelo uso da luz, do som e da música; o filme de Zombie é bem explícito e sangrento.
  • História – o filme de Carpenter assenta na ideia que o Mal ganhou a forma de Michael Myers (o que assusta); Zombie prefere explicar a atitude assassina de Michael (o que incomoda).
  • Susto – o filme de Carpenter, por ser mais estilizado, acaba por ser mais poderoso na capacidade de assustar e fazer saltar na cadeira (a cena inicial, as aparições de Michael, a confrontação final).
  • Interpretações – mais puras, naturais e universais no filme de Carpenter; Laurie ganha a nossa simpatia (a do remake é demasiado chata e birrenta), o Dr. Loomis é mais preocupado e activo (o do remake é mais distante, é mais star, é mais incapaz).

 

Resultado? Vitória (total) do “John Carpenter`s ´Halloween`”.

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Realizador: Rob Zombie

Argumentista: Rob Zombie, a partir de personagens criados por John Carpenter & Debra Hill

Elenco: Malcolm McDowell, Brad Dourif, Tyler Mane, Scout Taylor-Compton, Danielle Harris, Daeg Faerch, Sheri Moon Zombie, William Forsythe, Richard Lynch, Udo Kier, Clint Howard, Danny Trejo, Lew Temple, Tom Towles, Bill Moseley, Leslie Easterbrook, Steve Boyles

 

Trailer

 

Site

http://halloweenmovies.com

 

John Carpenter sobre o filme

 

Orçamento – 15 milhões de Dólares

Bilheteira – 58 milhões de Dólares (Usa); 80 (mundial)

 

Body count – 17

 

Halloween - 2007 - Poster 2

“Melhor Colecção em DVD/Blu-Ray” (“Halloween”), nos Saturn 2015.

“Melhor Filme”, nos Rondo Hatton Classic Horror 2007.

Nomeado para “Melhor Filme”, em Sitges 2007. Perdeu para “The Fall”.

Halloween - 2007 - Poster 3

Theatrical Cut – 83 minutos (USA); 109 minutos (internacional)

Director`s Cut – 121 minutos

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Antes do estúdio decidir o remake, ainda ponderou uma prequela da saga original, centrando-se nos dias de Michael dentro do asilo – “Halloween: The Missing Years” ia ser o título.

O projecto inicial ia ser uma nova sequela da saga original – “Halloween: Retribution” era o título.

A Dimension ponderou fazer um crossover entre “Halloween” e “Hellraiser”, inspirados pelo sucesso de “Freddy vs. Jason” (2003 – o filme que cruzava os vilões das sagas “A Nightmare on Elm Street” e “Friday, the 13th”). A ideia foi rejeitada após uma sondagem que mostrava que o público não estava interessado em tal.

Segundo Rob Zombie, os Weinsteins (Bob & Harvey – líderes da Miramax e da Dimension, sendo esta a secção de terror da primeira) queriam dois filmes – um sobre a infância de Michael, outro sendo o remake do filme de John Carpenter. Zombie procurou conciliar tudo num só filme, daí que uma parte dele seja sobre a infância de Michael, aumentando assim a metragem (que atinge as 2 horas no Director`s Cut).

Zombie foi mesmo reunir com Carpenter para lhe pedir “autorização” para este remake. Carpenter disse a Zombie para fazer o filme à sua maneira, no seu estilo.

Halloween

Chegou-se a falar de Oliver Stone como realizador.

John Hurt foi considerado para o Dr. Samuel Loomis.

Emma Stone e Danielle Panabaker fizeram auditions para serem Laurie. Panabaker seria protagonista do remake de “Friday, the 13th” (2009). Curiosamente Scout Taylor-Compton (que ficou protagonista de “Halloween”) tentou ser protagonista nesse filme.

Zombie tinha preferência em Danielle Harris como protagonista. Harris ficou escolhida, mas com outra personagem. Harris vinha da saga original (“H4” e “H5”) e era bem próxima a Michael Myers (era a sobrinha).

Halloween - 2007 - Girls Cast

A linha narrativa à volta da estadia de Michael no asilo procura homenagear as cenas extra que Carpenter teve de filmar para a versão televisiva do filme original – uma das cenas mostrava o Dr. Loomis em conversa com colegas sobre o tratamento clínico de Michael ao longo daqueles anos.

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Tyler Mane é o mais alto de todos os actores que interpretaram Michael Myers – mais de 2 metros.

Sheri Moon Zombie é a esposa de Rob Zombie.

 

O filme teve atrasos na produção devido ao falecimento de Moustapha Akkad, o produtor dos 8 filmes sa saga original.

Filmado em Pasadena, Califórnia, na mesma zona onde Carpenter filmou o seu filme.

Malcolm McDowell criava frequentemente risadas no elenco, pelo que o actor exigiu muitos takes nas suas cenas.

William Forsythe estava magoado numa perna. É essa a explicação para o seu mancar.

Halloween - 2007 - Backstage - 2

Quando Laurie descobre que Michael a observa, este está em frente à casa da Laurie do filme original. A casa da Laurie do remake fica a rua onde as três amigas do filme original são seguidas por Michael.

Num momento, vê-se na televisão o filme “White Zombie” (1932). “White Zombie” é o nome da banda musical de Rob Zombie.

O filme que Laurie vê na companhia de Tommy e Lindsey é “House on Haunted Hill” (1959, com Vincent Price).

Tal como no original “Halloween”, num momento também se vê na televisão o filme “The Thing From Another World” (que teria um remake feito por John Carpenter).

É a primeira vez num filme “Halloween” que uma das vítimas morre por suicídio.

É o primeiro “Halloween” onde Michael (ainda criança) fala.

 

Adrienne Barbeau viu-se retirada da montagem para as salas, mas a sua footage foi incluída no Director`S Cut. Barbeau foi esposa de John Carpenter.

Muitas das cenas com Udo Kier ficaram fora do cut final.

A morte de Danny Trejo ia ficar cortada da montagem final, mas Zombie conseguiu convencer o estúdio da importância da cena e esta preservou-se.

Os primeiros test screenings foram desastrosos. Tal originou a filmagem de novas cenas (a fuga de Michael, o final) e uma nova montagem.

Um primeiro final mostra o Dr. Loomis a sobreviver e Michael a ser morto pelos homens do sheriff Brackett na casa dos Myers. Por outro lado, dava um destino diferente a Laurie.

Com 121 minutos, é o mais longo “Halloween” de sempre.

 

Em números redondos, este foi o maior sucesso de todos os filmes “Halloween”.

Halloween - 2007 - Poster 7

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