Título original – The Last Boy Scout
Shane Black escreveu “Lethal Weapon” (1987) e (re)definiu o buddy-buddy movie.
Ficou logo entre os argumentistas mais procurados e caros de Hollywood.
Ei-lo a fazer (bom) uso da fórmula.
Novamente com produção de Joel Silver.
Tony Scott filma (com estilismo).
Bruce Willis e Damon Wayans são os buddies.
Joe Hallenbeck, detective privado, é contratado para vigiar uma stripper.
O trabalho corre mal e a menina é morta.
Jimmy Dix, ex-quarterback e namorado da vítima, junta-se à investigação e juntos descobrem uma trama que envolve jogadores, dirigentes e políticos, no sentido de mexerem nas apostas desportivas.
Shane Black pega na fórmula que ele usou para (re)definir o buddy-buddy movie em “Lethal Weapon” e reutliza-a (é certo que se podem ver algumas variantes do argumento e situações desse filme, mas isso pode ser explicado pelas confusões nas filmagens e as muitas alterações feitas ao argumento inicial – mais abaixo explico melhor).
Saimos de polícias e conspirações militares, movemo-nos pelo mundo dos private detectives e dos joguinhos dos bastidores do futebol americano.
Humor, acção, drama, violência, elevado body count.
Temos algo do detective noir clássico (o protagonista caído em desgraça da vida, mas íntegro; a visão decadente de um sector da sociedade; a fotografia em chiaroscuro – agora com neons e filtros dignos da publicidade e videoclips dos 80) e temos drama (o casal em crise, a filha na fase rebelde, o jogador em busca de uma nova big break).
Como buddy-buddy movie, há o protagonismo de dois homens, inicialmente antagonistas e depois best friends (sempre de piadas cortantes, agressivas e amigáveis).
Os diálogos são afiados e definidores da personalidade e relação entre os personagens.
(nesse aspecto há algo herdado do cinema clássico – Leigh Brackett e o Cinema de Howard Hawks)
Bruce Willis em grande forma, a retomar a imagem de action hero que tinha criado em “Die Hard”, mas também apto para o registo descontraído e divertido que já se conhecia da (excelente) série televisiva “Moonlighting”, aqui e ali a revelar uma capacidade dramática que exploraria noutros filmes.
Willis mostra boa química Damon Wayans, que se revela um interessante comediante.
Boa prestação do restante elenco, com destaque para Taylor Negron, a compor um vilão refinado e letal.
Tony Scott dirige com o seu habitual (e brilhante) sentido de estética e espectáculo, sempre com pé pesado no estilo e na fúria.
É a fórmula buddy-buddy de Shane Black em boa forma.
Muito recomendável.
“The Last Boy Scout” tem edição portuguesa e anda a preço nada “furioso”.
Realizador: Tony Scott
Argumentistas: Shane Black, Greg Hicks
Elenco: Bruce Willis, Damon Wayans, Chelsea Field, Noble Willingham, Taylor Negron, Danielle Harris, Halle Berry, Bruce McGill, Badja Djola, Kim Coates, Chelcie Ross, Joe Santos
Trailer
Orçamento – 29 milhões de Dólares
Bilheteira – 59 milhões de Dólares
Jack Nicholson foi a primeira escolha como Joe Hallenbeck.
Mel Gibson foi considerado como Jimmy Dix.
Tony Scott queria Grace Jones como a stripper, mas os produtores preferiram Halle Berry.
Reencontro entre Bruce Willis e Joel Silver, depois de “Die Hard” (1988), “Die Hard 2” (1990) e “Hudson Hawk” (1991).
Reencontro entre Shane Black e Silver, depois de “Predator” (1987), “Lethal Weapon” (1987) e “Lethal Weapon 2” (1989). Voltariam a encontrar-se em “Kiss Kiss Bang Bang” (2005) e “The Nice Guys” (2016).
Berry e Silver reencontrar-se-iam em “Swordfish” (2001).
Reencontro entre Willis e Damon Wayans, depois de “Look Who`s Talking Too” (1990). Os dois não contracenam, pois apenas dão voz a dois personagens.
Black escreveu o argumento depois de uma pausa de dois anos, devido ao fim de uma relação. Para Black, a escrita do argumento teve um efeito catártico sobre a sua crise emocional.
O título do argumento de Black era “Die Hard”. Silver pediu autorização para uso de tal título para um outro filme – o famoso “Die Hard”, de John McTiernan, com Bruce Willis.
O argumento de Black sofreu imensas alterações. Era mais obscuro e violento, sendo mais elaborado e complexo.
Mas Scott vinha do flop que fora “Days of Thunder” (1990), Silver & Willis (que estavam bem posicionados devidos aos blockbusters que foram “Die Hard” e “Die Hard 2”) tiveram no Verão desse ano um gigantesco flop (que só souberam no final das filmagens de “The Last Boy Scout” – daí o caos na post-production) com “Hudson Hawk” (já agora, não percam a oportunidade de redescobrir e revalorizar esta pérola, perfeito herdeiro do melhor do burlesco e non-sense clássicos), por isso não podiam arriscar muito.
- O argumento dava bom ênfase aos vilões Milo e Shelly Marcone – Milo era realizador de snuff movies, raptava e matava mulheres, chega mesmo a matar uma família que se encontrava numa zona onde ele fazia uma transacção. Tais momentos foram retirados por serem demasiado violentos.
- Ia haver uma perseguição de barco entre Joe e Jimmy face a Milo e aos seus homens, com o barco destes a chocar contra um helicóptero. A cena ficou retirada por questões de custo.
- Ia dar-se um tiroteio bem aceso entre Joe e os homens de Marcone, na casa de Joe; outro tiroteio cerrado entre Joe e os homens de Marcone, na casa deste, com Joe e Jimmy a salvarem Sarah de um snuff movie de Milo; o confronto final entre Joe e Milo era no escritório de Joe, com Milo a ser morto por Sarah. Tudo foi cancelado por razões financeiras e para fazer concessões na área da violência.
- O conflito entre Joe e o Senador Baynard era diferente – Joe era o segurança da família Baynard e esta encobre a morte de uma mãe e filha, Joe expõe a trama e é acusado de tráfico de drogas. Os Baynard (pai e filho) são vilões e são mortos no fim. O argumento final faz alterações a tudo isto.
Black recebeu um salário de 1.75 milhões de Dólares. Recusou uma oferta da Carolco Pictures no valor de 2.25 milhões de Dólares, pois Black queria trabalhar com Silver e na Warner Bros.. Era o valor mais alto até então pago por um argumento. Tal duraria apenas 67 dias, pois Joe Eszterhas conseguiria 3 milhões de Dólares por “Basic Instinct”. Black e Eszterhas voltariam a “lutar” por argumentos caros – “The Long Kiss Goodnight” para Black (4 milhões de Dólares), “Jade” e “Showgirls” (ambos também com 4 milhões de Dólares) para Eszterhas.
Wayans treinou com o quarterback dos Los Angeles Raiders, Vince Evans, para se preparar para o seu personagem.
Willis e Wayans interpretam compinchas e mostram boa química, mas deram-se muito mal nas filmagens.
Silver e Willis dominaram a produção, procurando satisfazer todas as suas vontades. Alteraram o argumento de Black e obrigaram Scott a filmar cenas que ele não queria.
Na cena inicial, o jogador diz “Ain’t life a bitch?“. A frase deveria ser “I’m going to Disneyland.“, uma frase habitual entre jogadores vencedores da Super Bowl.
A conversa sobre as calças e o o seu preço vem de uma cena apagada de “Lethal Weapon” – Murtaugh questionava as calças da filha.
Num momento, a filha de Joe assiste a “Lethal Weapon”.
A line “Your show, ace” também é usada em “Monster Squad” (1987), co-escrito por Black.
O carro de Joe é um Buick “Boat Tail” Riviera de 1971.
O argumento bateu recordes no uso de expressões de calão.
Body Count – 27.
Filmado entre Março e Junho de 1991. “Hudson Hawk” estreia em Maio e é um enorme flop. Como tal, “The Last Boy Scout” tem de ser um sucesso.
Devido às muitas confusões nas filmagens, mudanças no argumento e necessidade de atenuar a violência, manter ritmo de acção e fazer-se um actioner que funcionasse bem nas bilheteiras, toda uma legião de (magníficos) editores foi convocada – Stuart Baird (“Lethal Weapon”), Mark Goldblatt (“The Terminator”), Mark Helfrich (“Predator”), Conrad Buff (“True Lies”), Chris Lebenzon (“Hudson Hawk”). Baird, o mais veterano de todos (teve um problema parecido em 1989, com “Tango & Cash”), comanda as operações.
Até a canção inicial mudou – ia ser “Are You Ready For Some Football Tonight” de Hank Williams Jr., passou para “Friday Night’s a Great Night for Football” de Bill Medley.
Ei-la:
Taylor Negron recorda que Silver estava sempre presente nas filmagens e envolvido em todo o processo.
Michael Kamen detestou o filme. Kamen aceitou fazer o score por amizade a Willis e a Silver – já tinha feito os scores dos dois “Lethal Weapon” e “Die Hard”, bem como “Hudson Hawk”.
Segundo James W. Skotchdopole (o assistant director) as filmagens foram marcadas por duelos de egos – Bruce, Joel, Tony e Shane estavam todos em pico de stardom, pelo que cada um dava ordens.
Silver guarda péssimas memórias das filmagens. Scott também.
Scott detestou trabalhar com Silver. Scott foi ao ponto de criar o personagem do produtor Lee Donowitz em “True Romance” (1993) inspirado em Silver – o look e atitudes eram muito semelhantes a Silver.
Black e Scott afirmam que o argumento inicial é (bem) melhor que o filme.
Damon Wayans participa na série televisiva “Lethal Weapon”.
Foi a última colaboração entre Bruce Willis e Joel Silver.