Título original – The Predator
É uma das criaturas mais fascinantes, mortíferas e icónicas do Cinema.
Surgiu em 1987 (o filme já aqui foi visto) e quase fez de Arnold Schwarzenegger um troféu de caça.
Já teve duas sequelas e até se cruzou com Alien.
Ei-lo de volta.
O mais incrível caçador galáctico vem novamente à Terra.
Shane Black dirige a caçada.
Um sniper vê parte da sua equipa morta por uma estranha criatura.
Uma criança começa a brincar com um artefacto misterioso e isso atrai um Predator até à Terra.
Uma cientista é chamada para estudar um alienígena.
Um grupo de ex-militares vê a sua transferência a ser atacada por um invisível inimigo.
Eventos que parecem isolados, mas que vão obrigar todos a formar equipa e enfrentar um (bem) grande inimigo – um super Predator que anda em campo.
Shane Black entra pelo Predator Universe.
O resultado é algo mixed bag.
Comecemos pelo tom shaneblackish.
Temos acção rápida e viva, bom humor, diálogos que definem personagens e relações, dinâmica de grupo (ao contrário da habitual buddy-buddy story do autor de “Lethal Weapon”).
A dinâmica de grupo está em sintonia com a do grupo de “Predator” (onde Black participou). Os Loonies (como se designam) são os típicos “cromos” (quase uns Loonie Tunes humanos) e rapidamente geram simpatia da nossa parte – parece ser Black a fazer a sua versão de “The Dirty Dozen” (embora seja mais half-dozen), “The A- Team” ou “The Suicide Squad”.
O humor funciona e consegue ser uma forma descontraída de relaxar perante os eventos (violentos) – temos wisecrack one-lines (“Do I get a cookie, now?”, “We took a vote. Predator is cooler, right?”).
Predator Universe.
O mundo destas criaturas recebe boas adendas (o que eles andam a fazer pela Terra, como cá chegam, o que se está a passar dentro da raça, o estado em que estão, o porquê das “trancinhas”).
Nessa matéria, “The Predator” até fornece mais informação do que “Predators” (que se passava no planeta deles).
Por outro lado, o argumento leva a saga para algo mais do que um alienígena que anda por cá a caçar humanos e enfrenta um que lhe dá luta. Explora-se uma possibilidade muito interessante, que dá mesmo uma volta ao conceito da saga (que estava a ficar repetitiva nas suas ideias).
Ahhh, de volta estão os Predator dogs (vimo-los em “Predators”). E um deles até reserva uma (simpática) surpresa.
Boa fotografia de Larry Fong (“300”, “Watchmen”, “Kong: Skull Island”).
A partitura de Henry Jackman (“X-Men: First Class”, “Kingsman: The Secret Service”) mal se ouve, pois ele passa o tempo a reutilizar e a fazer variantes ao (fabuloso) score que Alan Silvestri fez para “Predator”.
Bons efeitos visuais (começamos logo em grande, com uma batalha/perseguição espacial) e melhores creature effects (da dupla Alec Gillis e Tom Woodruff – que também tiveram este trabalho na saga “Alien vs. Predator”).
Fiel à classificação R, o filme tem bom nível de sangue e gore, com elevado body count.
Divertidas referências ao filme original – alguém considera um Predator como “you`re one beautiful motherfucker”, num momento de fuga alguém grita “get to the choppers”.
(sim, Black exige cinefilia ao espectador)
Pormenor pertinente – há um detalhe sobre o interesse dos Predators na Terra que tem algo de alerta ecológico nos dias de hoje.
O trabalho dos actores é simpático e honesto, com destaque para Sterling K. Brown (very badass, mas sempre scene stealer), Olivia Munn (very hot, muito compassiva pelos Predators e com boa atitude kick-ass), Jacob Tremblay (que incrível actor, petiz no tamanho mas enorme no talento – brilhante futuro a caminho; o actor de 11 anos dá uma sensibilidade humana e emocional rara na saga e neste tipo de filmes).
Se houver “The Predator 2/Predator 5”, por favor mantenham estes três.
Só que…
Pois. Agora vamos ao bad side de “The Predator”. Onde o filme deixou de ser predador e passou a presa.
Como escrevi acima, há ideias e rumos de mudança. Mas da ideia ao resultado vai um (grande) passo. O filme pisa as ideias de mudança, mas não consegue fugir do conceito habitual (Predator e humanos à caça e em confrontação). Para um filme que procura mudança, passeia-se muito por coisas que já se fizeram em episódios anteriores.
Há muitos eventos e factos em cena para tão pouco tempo de antena (o filme dura pouco mais de 100 minutos). Muitos são os personagens que sabem tanto sobre os Predators, mas não se explica como se chegou a tais verdades.
Há muitos personagens e nem todos recebem a mesma atenção. No caso da equipa, lamenta-se pois todos geram a nossa simpatia e queríamos mais iniciativas de todos eles (nomeadamente dos que ficam muito secundários). No líder do projecto científico, ainda mais, pois este sabe muito e nunca fica definida a sua agenda.
Tal como em “Predator 2” e “Predators” o Predator bom fica desperdiçado e sem a devida presença e utilidade. Ao adiantar mais faria spoiler, mas há um momento em que ele ganha a nossa simpatia e complacência, mas depois é-lhe reservado o destino errado. Mais uma vez, evita-se (erradamente) a parceria Predator-humano(s) (isso só foi feito em “Alien vs. Predator” e resultou bem).
Gafe no argumento que não soube ser mais coeso em relação ao primeiro Predator – a sua motivação não é coerente com a sua atitude. Se era para ter Predator action, então punham-se os humanos mais hostis a ele ou punha-se o segundo Predator em cena mais cedo e em conflito com os humanos.
Algumas transições resultam algo bruscas (as acções do grupo, a localização muda rapidamente) e deixa a sensação que Black não teve controlo total na sala de montagem (sabe-se que todo o climax sofreu reshoots e ainda teve de ser alinhado com alguma footage já filmada).
E depois há aquele final!!!
(pelos vistos, o final inicialmente escrito era outro)
Nenhum mal há em deixar “The Predator” preparado para “Predator 5” ou “The Predator 2” (sabe-se que Black tem na sua cabeça uma trilogia já delineada em termos narrativos – e as verdades descobertas em “The Predator” mostram muito bom potencial a ser desenvolvido). Mas a ideia (e o que se mostra) parece ser algo para outro filme, de outro tipo (explicar mais faria spoiler).
É algo que vai dividir os fãs. Já está a dividir, na verdade (basta ver a quantidade de reviews que estão na net feitas por nerds da saga).
Mais uma vez, sente-se que houve excesso de interferência do estúdio na produção.
“The Predator” traz boas ideias e muitas adendas ao que já foi mostrado na saga.
Só faltou coragem. Coragem para fazer um argumento mais cerebral (hey, a “concorrência” já fez isso – “Prometheus” para a saga “Alien”), coragem para dar mais metragem (hey, a “concorrência” já fez isso – “Aliens”, com mais de 150 minutos, para a saga “Alien”), coragem para tornar alguns Predators em nice guys e dar-lhes o devido protagonismo e heroísmo (hey, a “concorrência” já fez isso – a saga “Alien vs. Predator”; já para não falar dos comics que os caçadores galácticos têm).
Os Predators em cena.
São dois.
Ambos de look very impressive, com novidades na sua capacidade de visão, mostrando que são uma criatura que não pára de evoluir e desafiar a imaginação.
O good guy até revela sentido de humor (a sua atitude final no ataque na carrinha) e bom gosto (no meio de uma fuga ainda tem tempo para espreitar para Olivia Munn au naturel e mostra gostar do que viu).
O bad guy é mesmo mau e bem medonho.
“Do I get a cookie, now?” – alguém pergunta no filme.
Eu dava um pacote grande de cookies a Shane e a Fred.
Mas perante os resultados (e nem tudo o que é menos bom é culpa total deles), dou apenas uma cookie a cada um.
“The Predator” não é um passo atrás na saga nem na carreira de Black. Todos temos direito a erros, azares, lapsos e percalços, até mesmo argumentistas talentosos como Black.
O ritmo é non-stop, o entretenimento é elevado, o espectáculo é correcto, os Predators são temíveis, há boas ideias em campo.
O que impede um filme mais certinho e ao nível do original são mesmo os apontados erros, que já não se desculpam.
Como fica “The Predator” na saga e face ao original e às sequelas?
Como qualquer das sequelas, nem sequer iguala o original.
Face às sequelas, fica bem. Tal como as outras, o filme tem virtudes e defeitos. “Predator 2” tem boa Predator action mas falha nalguma coesão narrativa, limitando-se a certa altura a ser mais um embate entre um Predator e um humano; “Predators” devolve o tom selvagem do original, mas falha na abordagem de novas ideias e desenvolvimentos sobre os caçadores galácticos; “The Predator” é o que mais novidades traz, empurra a saga para novos rumos, mas ressente-se do excesso de interferências do estúdio e de confusões nas filmagens e pós-produção.
Se o Cinema já não sabe o que ou como fazer algo pelos Predators, deleguem funções à NetFlix e deixem-nos fazer uma série sobre a espécie e adaptar um par de (bons) comics.
“The Hunt Has Evolved” – promete-se nos posters.
Há evolução através das ideias. Há um marcar passo nalguns dos resultados.
Perante algumas das confusões das filmagens e da montagem, resta-nos acreditar que haverá (em breve) um Director`s Cut.
Recomendável.
“The Predator” já está nas nossas salas.
Nota – nos últimos dias, antes da estreia, surgiram boatos de cameos (filmados à última da hora) de Arnold Schwarzenegger e Danny Glover, bem como uma cena extra (também filmada em cima da hora) no final dos end titles. É tudo mentira – nem cameos nem cena extra.
Realizador: Shane Black
Argumentistas: Shane Black & Fred Dekker, a partir do personagem criado por Jim Thomas & John Thomas
Elenco: Boyd Holbrook, Olivia Munn, Jacob Tremblay, Sterling K. Brown, Trevante Rhodes, Keegan-Michael Key, Thomas Jane, Yvonne Strahovski, Alfie Allen, Augusto Aguilera, Jake Busey
Sites:
https://www.foxmovies.com/movies/the-predator
http://www.predator4-movie.com
Orçamento – 88 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 29 milhões de Dólares (USA); 64 (mundial)
Shane Black conhece bem a saga e o Predator. Participou no primeiro filme, tinha sido contratado para fazer mudanças no argumento (tal acabou por não acontecer) e foi a primeira vítima do caçador galáctico.
O estúdio (a 20th Century Fox) queria um novo filme como reboot e remake. Black negou-se a tal e preferiu fazer uma sequela, continuando assim a explorar o Predator.
Adrien Brody (protagonista de “Predators”, em 2010) mostrou interesse em participar em “The Predator”.
Benicio Del Toro ia ser o protagonista, mas teve de recusar por conflitos de agenda.
Jake Busey é filho de Gary Busey. Gary participou em “Predator 2”, Jake interpreta o filho desse personagem.
Arnold Schwarzenegger e Danny Glover (protagonistas de “Predator” e “Predator 2”) foram convidados para fazer cameos, mas recusaram.
Tal como no filme original e sequelas, o Predator é interpretado por um actor num fato e não um efeito digital.
Black procurou usar o mínimo de efeitos visuais digitais.
Black procurou fazer um filme fiel ao tom do filme original, não fazendo concessões na violência.
O filme é Rated R e não PG-13 como o estúdio queria.
A escola tem o nome Lawrence Gordon. É o nome de um dos produtores de “Predator” e “Predator 2”.
Edward James Olmos viu todas as suas cenas encostadas na sala de montagem.
Reencontro entre Shane Black e Fred Dekker. Shane e Fred são amigos desde os tempos de faculdade e já trabalharam juntos – foi no adoravelmente infantil e terrorífico “Monster Squad” (1987).
Ambos tinham escrito um argumento em 1984 chamado “Shadow Company”, mas tal nunca avançou para produção. Contava a história dos elementos de um grupo de forças especiais da guerra do Vietname, que morriam em combate mas ressuscitavam como zombies devido a uma experiência científica. O grupo dedicava-se a semear o terror numa povoação. Em 1989, John Carpenter é anunciado como o realizador e Kurt Russell (seria mais uma parceria entre ambos) ia ser o protagonista (um membro sobrevivente do grupo que os enfrenta). Walter Hill seria o produtor. Alguns dos personagens de “The Predator” têm nomes de alguns personagens de “Shadow Company”.
(que equipa de sonho!!! – Carpenter, Russell, Black, Dekker, Hill. “Shadow Company” deveria ser uma realidade o mais depressa possível)
“Predator” nos Videogames:
https://www.avpgalaxy.net/games/
“Predator” nos Comics:
https://www.darkhorse.com/Search/Browse/”predator”/PpwNwkt8
[…] pegando também nalgumas ideias abordadas na saga “AvP”. “The Predator” é o título (já aqui visto) e chega em Setembro de 2018. Black co-escreve (com o seu amigo de longa data, Fred Dekker […]