“Predator” (1987; já aqui visto) já tinha alcançado estatuto de clássico.
Predator já era um fan favourite no género e no Cinema.
Apesar do flop (injusto) de “Predator 2” (1990), alguns anos depois ponderou-se um “Predator 3”.
A ideia veio de Robert Rodriguez.
Um grupo de homens e uma mulher, todos de aptidões assassinas, vê-se perdido numa estranha floresta. Rapidamente dão conta que se encontram num outro planeta e que são a presa de uma raça extra-terrestre que se dedica à caça – os Predators.
Uma violenta e aterradora confrontação vai-se iniciar.
Quase 20 anos depois da sua última aparição em Cinema (se não considerarmos a sua presença na saga “Alien vs Predator”, em 2004 e 2007), eis o regresso dos mais implacáveis e astutos caçadores da galáxia.
Rodriguez já tinha este projecto na gaveta desde meio dos 90s e até se pensava em ser o regresso de Arnold Schwarzenegger à saga (Arnie protagonizou o primeiro filme).
Mas muitas complicações surgiram, houve prioridade à saga “Alien vs Predator” e o projecto ficou cancelado. Felizmente foi retomado.
“Predators” regressa à selva (era nesse cenário que ocorriam os eventos de “Predator”; “Predator 2” passava-se em Los Angeles) e prometia novidades – a acção localiza-se no planeta dos caçadores e (como o título indica) muitos são os Predadores em cena, bem como a promessa de uma visão do seu mundo e de novas criaturas.
Confesso que a primeira visão do filme, na época, me deixou algo indiferente.
Hoje, com duas visões em tempo muito curto, tenho uma opinião mais favorável a “Predators”.
“Predators” consegue um retorno ao tom do filme original, e até faz várias referências a “Predator”:
- Um personagem com uma minigun
- Os corpos mutilados
- A explicação dos eventos do filme original
- A queda na água
- O duelo mano-a-mano
- A sensação que alguém tem de sentir um Predator
- Os duelo com lâminas
- O recurso a lama
- A canção “Long Tall Sally”, com nova mix
Mas “Predators” consegue encontrar a sua identidade.
Ao passar-se no planeta dos caçadores galácticos, o filme oferece algumas adendas ao que já conhecemos dos dois filmes anteriores.
Comecemos pelo Predator World.
Já tínhamos visto algo no início de “Aliens vs Predator: Requiem” (2007), mas em “Predators” vê-se mais. Não admira que estes caçadores gostem de selva. Têm uma bela e bem densa na sua homeland. Aliás, o momento onde o espectador e grupo descobrem que se está noutro planeta que não a Terra é magnífico e de uma grande beleza.
Há um bom uso da selva, mostrando-a como um ambiente bonito, mas hostil e sempre carregado de um inesperado mortífero.
Muito bom o trabalho da fotografia, que ilustra bem a paisagem.
Sendo um regresso ao espírito do filme original, e passando-se no planeta dos Predators, há que esperar algo de selvagem e brutal.
Comecemos já pela chegada ao campo dos horrores – de um enorme impacto, para o qual ajuda o notável trabalho de cenografia.
De filme para filme, os Predators têm sempre conseguido mostrar evoluções nas atitudes, adaptações ao meio e novos equipamentos.
Aqui, sabemos que como caçadores que se prezam, eles usam uns horrendos cães de caça – o que origina uma cena de acção bem inesperada e plena de suspense.
Os Predators não ilustram novas armas, mas mostram terem novos tipos de visão (algo que já se tinha visto em “Predator 2”, mas agora descobrimos novos “olhares”) e uma apurada capacidade de filtrarem sons.
Por outro lado, mostram ter tecnologia avançada que lhes permite fazer transporte (imediato) de humanos entre a Terra e o planeta dos Predators.
Como o título indica, há Predators em cena. Não são muitos, mas suficientes para causarem muito medo.
Já não temos Stan Winston (este Mestre deixou-nos em Junho de 2008) a desenhá-los, mas o trabalho foi bem entregue a Greg Nicotero e Howard Berger (dois dos membros do KNB Studio – Robert Kurtzman saiu do grupo).
Os novos Predators continuam com ar imponente, robusto, bem feroz e mortífero. Notam-se mudanças de look facial, mas a mudança é estupenda e em sintonia com o que já se fez nos filmes anteriores.
Fiel à boa reputação e curriculum da dupla, há bons efeitos gore.
“They are the most dangerous killers on the planet. But this is not our planet.” – assim nos avisam os posters e trailers.
“Predators”, ao contrário de “Predator” (e em parte também com “Predator 2”), não procura ter um campo um grupo de personagens unidos e cujos elementos se dão bem.
Aqui todos são hostis.
E o filme funciona muito bem com tal.
A dinâmica do grupo é boa, mas pela negativa. O grupo não é unido, é conflituoso entre os elementos e acreditamos que se irão matar uns aos outros em qualquer instante. Até há espaço para uma surpresa num personagem.
Os Predators (em atitude) acabam mesmo por ser os humanos (como alguém refere no filme), sendo perfeitamente natural que os Predators (os alienígenas) lhes dêem caça e se divirtam com tal.
Resultam muito interessantes os diálogos entre mercenário e atiradora, muito focados entre ser humano vs ser besta – tal ajuda na visão metafórica do filme.
O cast é variado e com capacidade carismática, mas não consegue a riqueza interactiva que fazia faísca no cast do filme original. Contudo, consegue-se alguma densidade entre o mercenário, a atiradora e o presidiário (mérito dos actores).
Adrien Brody (que revela boa musculatura e detreza como action hero individualista) e Alice Braga (absolutamente mortífera, mas nunca isenta de emoções) dominam. O restante elenco porta-se bem e com postura adequada aos personagens e tom do filme.
O filme consegue retomar alguma da natureza selvagem e survival do filme original e isso é visível nos duelos mano-a-mano (tanto entre Predators como entre eles e os humanos) – a demonstração que a brutalidade primitiva da saga não se deve perder.
Bom score de John Debney, que mantém muito do score original de Alan Silvestri.
Nimród Antal deu provas de competência e eficácia – terror em “No Vacancy” (2007), acção em “Armored” (2009), mostrando que sabia gerir tensão, espaço, ritmo, violência, sustos.
Em “Predators” faz o mesmo.
Aqui e ali mostra que é fã do filme de John McTiernan (vários são os momentos que evocam momentos de “Predator”). Mas Antal nunca cai na homenagem vulgar nem na imitação banal. A tensão está muito bem gerida (estamos sempre à espera de um ataque dos Predators a qualquer momento), a acção está bem encenada (a sensação dos ataques dos cães) e com a brutalidade adequada (a chegada do grupo ao “altar” de sacrifícios e o que ocorre depois), o ritmo nunca decai.
Assim sendo, tudo é óptimo em “Predators”?
Hmmmm…
Não.
E é pena. Pois passou-se ao lado de um filme que poderia ser tão magnífico como o original.
“Predators” soa a “Aliens”.
Só que o filme de Antal, ao contrário do épico de James Cameron, não consegue a sensação de caos (devido ao plural dos Predators), medo, terror, guerra e tensão insustentável.
Tendo a acção localizada no planeta dos Predators, o filme era obrigado a mostrar mais (muito, mesmo) sobre o local e a raça.
Faltou um melhor aproveitamento dos Predators, algo mais na sua organização social e do seu quotidiano, as suas relações, a forma como se adaptam e evoluem, novidades no armamento e equipamento.
Percebe-se que há duas facções, ilustram-se dois looks diferentes. Mas não se percebe (nem se explica) o porquê.
Mas há um momento em que o filme deixa fugir uma grande oportunidade de fazer mais, melhor e diferente – quando o grupo abandona o Predator prisoneiro. Ao libertá-lo, teria um valioso aliado e serviria para ajuda contra os Predators maus, na “visita guiada” ao planeta e como ajuda de fuga. Já “Predator 2” caiu na mesma armadilha (afinal, o Predator só andava a caçar os criminosos da cidade; mas preferiu-se seguir para um rotineiro mano-a-mano entre polícia e alienígena). “Predators” teve outra oportunidade de mudar as regras da fórmula, mas repete-a. Tudo se resume a um duelo (bem selvagem e primitivo, ao nível do visto no primeiro filme) entre Predator (do lado dos maus) e humano, mas sente-se que ali um elemento narrativo (oriundo do Predator prisioneiro) que fica desperdiçado.
“Alien vs Predator” (2004) soube fazer esta aliança Predator-Humano e a coisa resultou.
Vamos ver o que Shane Black vai fazer neste campo em “The Predator”. O duelo das facções dos Predators parece continuar. Esperemos que haja uma aliança entre os humanos atacados e o Predator hostilizado.
Os Predators mudam de look e de criadores, mas não mudam o seu poder icónico. Continuam nobres, imensos, temíveis, mortais e astutos.
“Predators” honra os dois filmes anteriores, principalmente o original.
“Predators” honra os caçadores galácticos, mostrando novidades e mudanças, mas conservando o tom da saga e as características dos caçadores galácticos.
Supera “Predator 2“ e faz boa figura face a “Predator”.
Uma sequela de muito bom nível, que faz boas adendas a esta mítica criatura.
Recomendável.
“Predators” tem edição portuguesa e anda a bom preço. O filme também existe em diversas edições europeias e a bom preço.
Realizador: Nimród Antal
Argumentistas: Alex Litvak, Michael Finch, a partir do personagem criado por Jim Thomas & John Thomas
Elenco: Adrien Brody, Topher Grace, Alice Braga, Walton Goggins, Oleg Taktarov, Laurence Fishburne, Danny Trejo, Louis Ozawa Changchien
Trailer
Making of
Orçamento – 40 milhões de Dólares
Bilheteira – 52 milhões de Dólares (USA); 127 (mundial)
“Melhor Stunt em Altura”, nos World Stunt 2011.
Robert Rodriguez desenvolveu o argumento em 1994, como sendo o terceiro episódio e que marcaria o regresso de Arnold Schwarzenegger à saga.
O argumento inicial mostrava os Predators a andarem de mota, a beber cerveja e a terem jogos numa arena. Tal obrigava a haver imensos Predators em cena, o que faria disparar o orçamento.
O argumento inicial previa as aparições de Dutch (Arnold Schwarzenegger) e Michael Harrigan (Danny Glover), os protagonistas dos dois filmes anteriores.
O personagem entregue a Laurence Fishburne seria, inicialmente, o Dutch. Dutch e Harrigan tinham sido raptados pelos Predators (afinal, tinham sido vencedores nos duelos com o Predator que enfrentaram) para participarem nos diversos jogos de caça.
Neil Marshall, Michael J. Bassett, Bill Duke, Marcus Nispel, Peter Berg e Darren Lynn Bousman foram considerados como realizador. Nimród Antal foi escolhido pois Rodriguez gostou muito do trabalho dele em “Vacancy” (2007).
Reencontro entre Antal e Fishburne, depois de “Armored”.
Quando Danny Trejo soube que o argumento ia ter um personagem parecido com ele, logo ligou a Rodriguez (já trabalharam juntos por várias vezes) e dizer que queria o personagem, pois Trejo era parecido com… Danny Trejo.
Rodriguez considerou o personagem que seria entregue a Walton Goggins como muito parecido com o de Bill Paxton em “Aliens”, pelo que fez alterações. Mas considerou que Goggins não seria o adequado. Antal conseguiu convencê-lo do contrário.
Jeff Fahey foi considerado para o personagem que foi entregue a Laurence Fishburne.
Milo Ventimiglia, Freddy Rodríguez e Josh Brolin foram considerados como protagonista, até a escolha cair sobre Adrien Brody.
Brody foi escolhido por Antal.
Brody “inchou” vários quilos, mas de músculo.
Louis Ozawa Changchien pediu que o seu personagem lutasse com a arte marcial Kendo, dado que o actor é praticante de tal.
Como parece ser tradição na saga, as mulheres presentes são todas latino-americanas – Alice Braga em “Predators”, Maria Conchita Alonso em “Predator 2”, Elpidia Carrillo em “Predator”.
Antal queria actores que conseguissem ser convincentes como pessoas duras e violentas, mas sem terem o aspecto musculado que tinha o cast do filme original.
Alan Silvestri, o autor dos scores dos filmes anteriores, foi chamado, mas teve de recusar por estar ocupado com “The A-Team” (2010). John Debney foi convocado, pois já tinha trabalhado com Rodriguez (“Sin City”, em 2005). Debney inspirou-se nos scores de Silvestri.
Filmado em 53 dias, no Hawai.
Antal fez um livro de storyboards, com mais de 100 páginas, antes do começo das filmagens.
Os creature effects são de Howard Berger e Greg Nicotero, que já tinham trabalhado com Rodriguez em “From Dusk Till Dawn” (1996).
O filme segue a série a partir do segundo filme e ignora os eventos da saga “Alien vs. Predator”.
Durante uma cena, Oleg Taktarov embateu contra uma câmara Steadicam e começou a sangrar. O actor não parou, pois achou que tal ajudava à cena.
Os “cães de caça” inspiram-se nos crânios vistos na sala dos trofeús da nave vista em “Predator 2” (1990).
A luta entre Hanzo e o Predator evoca a de Billy contra o Predator no filme original (esta luta não é vista).
O filme ainda faz referências à saga “Alien” – alguém diz “If the time comes, I’ll do us both” (tal vem de um momento em “Aliens”); quando encontram um cadáver, o peito está explodido para fora (tal como em “Alien” quando a criatura sai do corpo humano); numa cena ouve-se um ligeiro tune do main score de “Aliens”; no campo dos Predators está um crânio de um Alien.
A Dark Horse Comics fez um comic de 4 números que funcionava como uma prequela ao filme. Desenvolve um pouco mais os personagens e dá mais umas explicações.
Várias action figures foram feitas, alusivas ao filme.
Vários jogos foram feitos, alusivos ao filme.
Antal mostrou interesse em fazer uma sequela a “Predators”, para assim explorar mais o mundo das criaturas.
“Predator” nos Videogames:
“Predator” nos Comics:
https://www.darkhorse.com/Search/Browse/”predator”/PpwNwkt8
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