Título original – Predator 2
Perante o sucesso de “Predator” (1987; já aqui visto), eis a sequela.
O nosso favorito caçador galáctico alienígena está de volta.
Num novo cenário, com novidades.
Los Angeles, 1997.
A cidade vive a ferro e fogo devido às confrontações mortais entre gangs de droga e a Polícia. Esta não tem meios para combater o inimigo.
Até que os cadáveres dos membros dos gangs se começam a amontoar. Mas a culpa não é da Polícia.
Yup, o Predator anda em campo.
“He`s coming to town with a few days to kill” – assim informavam posters e trailers.
“Predator 2” traz novidades – novos personagens, novo tempo, novo local.
Se “Predator” movia o actioner militarista no meio da sci-fi terror, “Predator 2” move nesses últimos sectores o actioner policial urbano.
Mais uma vez a mix resulta, sempre com airosa transferência entre géneros.
“Predator” ainda “perdia tempo” em criar atmosfera, fazer sentir tensão e atrasar a aparição do caçador galáctico, mas “Predator 2” vai logo directo ao assunto – a confrontação inicial é um desfile de balas e explosões, que recorda o ataque ao campo rebelde no filme original, com um Danny Glover a revelar ideias tão heróicas como Arnie. Para compensar, Predator entra em cena e faz um massacre.
Este novo Predator é uma criatura mais jovem e rebelde que o do filme anterior. Para alegria maior, ele traz um novo arsenal de equipamento e armas.
A história até é algo mais elaborada que a do filme original – a par do jogo de gato-e-rato entre Polícia e Predator, há também as caçadas autónomas do caçador alienígena, o quotidiano da esquadra da Polícia, um pouco da ilusrtração do mundo onde se está, a dinâmica do grupo de agentes, o caso policial em mãos e o mistério que envolve uma equipa que parece saber muito (todos sabemos que é o Predator que anda a fazer aqueles massacres, sabemos que a dita equipa também o sabem, resta saber quando a Polícia vai saber também).
O problema passa por uma incoerência narrativa – para quê caçar e matar o Predator, quando ele até está a dar uma ajuda às autoridades, matando todos os bad guys da cidade?; o agente que morre, é mais de susto do que devido a um ataque do alienígena (embora este tenha de se defender perante a atitude hostil do agente); já para não falar que é o Predator o responsável pelos momentos mais espectaculares do filme.
Nenhum mal haveria em colocar protagonista e seus colegas em parceria com Predator e limpar a cidade de todos os mauzões. Seria uma variante interessante (faz-se algo assim no final de “Alien vs Predator” – mas depois irei aí).
Ooops, portanto.
Bom trabalho do elenco, com os actores a conseguirem estar muito próximos do carisma e espírito de equipa do elenco do filme original.
Os argumentistas de “Predator 2” são os mesmos de “Predator”, portanto se a magia não se repete nessa matéria, poderá ser pela falta da escrita de Shane Black (que, ao que parece, deu uma ajudinha nos diálogos entre os “machos” do filme original).
Não temos Arnold Schwarzenegger em cena, mas Danny Glover sai-se muito bem, criando um personagem anti-heróico, bom líder e firme, embora sempre rabugento (mantendo assim a sua imagem criada na saga “Lethal Weapon” – que já ia com dois capítulos). Bill Paxton tem presença curta, mas hilariante, estando ao nível do Hudson criado em “Aliens” (1986).
Não temos John McTiernan na realização, mas Stephen Hopkins até toma boa conta do recado, dando ao filme um tom rápido, violento e espectacular. Visualiza bem a acção, procura enfatizar a violência e o culto voodoo presente na narrativa e até não se inibe de boas ideias (o plano onde Predator caminha sobre uma poça de água, invisível, para depois se ver o seu reflexo visível; a morte e decapitação offscreen de um personagem e o cut into para a cabeça nas mãos do Predator).
Hopkins brinca com algumas referências – o cerco na sala congeladora e o assistir a tudo via circuito tv recorda uma cena parecida em “Aliens”; a metralhadora de Glover numa cena é igual à de Schwarzie em “Predator”.
Hopkins ia no seu terceiro filme, depois do muito interessante “Dangerous Game” (1987 – ano de… “Predator”) e do capaz “A Nightmare on Elm Street: Dream Child” (1989). O futuro não lhe seria muito risonho em Cinema – caiu em actioners rotineiros ainda que eficazes (“Blown Away”, 1994, com Jeff Bridges e Tommy Lee Jones), fez uma tentativa meritória de ressurgir um modelo perdido de aventura de época com algo de fantástico (“The Ghost and The Darkness”, 1996, com Val Kilmer e Michael Douglas) e tem a sua finest hour num suspense urbano muito bem conseguido que é ”Judgement Night” (1993). A sua actividade actual está na Televisão – “24”, “Californication”, “House of Lies”.
Boa nota na fotografia (o sempre correcto Peter Levy, um habitual de Hopkins), nos efeitos visuais (agora maiores, mais presentes e mais ambiciosos que no filme original – mais orçamento ajuda), nos efeitos pirotécnicos, nas stunts e na cenografia (o interior da nave dos Predator é fantástico – o trabalho de é Lawrence G. “Blade Runner” Paull).
Montagem competente do sempre impecável Mark Goldblatt (“The Terminator”).
Alan Silvestri repete na música e volta a fazer um excelente trabalho. Mantém o main theme do filme original, faz variantes a ele, cria um novo main theme e cria temas bem electrizantes, em perfeita sintonia com a ambiente urbano, quente, violento e jamaicano, cheios de tons e ritmos africanos e sul-americanos.
“Predator 2” dá o seu contributo para a História do Cinema.
Na fase final, há um um breve plano que foi suficiente para os mais atentos (ou com auxílio da tecla “pause” no comando do leitores de VHS/DVD/Blu-Ray ou um media player) descobrissem algo – no interior da nave alienígena, é visto uma parede com uma série de troféus/crânios, entre os quais se destaca um da criatura… Alien. Foi logo o suficiente para pôr muito nerd em delírio e muita gente de Hollywood a falar que isto era o indício de juntar as duas sagas, algo que os responsáveis sempre negaram. Tal imagem funcionava como auto-referência (o estúdio produtor era o mesmo – a 20h Century Fox) e como uma brincadeira.
Aqui está o momento:
“Predator 2” procura, inteligentemente, nunca repisar os caminhos de “Predator” nem o imitar. Aqui a ali há algo que recorda o filme original (conforme disse, fica desperdiçada a possibilidade de Predator ser um aliado e tudo se resume a um duelo mano-a-mano entre o agente vingativo e o alienígena), não se conseguindo, narrativamente, ir mais além que seria desejável.
Estamos em ambientes e história diferentes. Foi pena ter-se seguido uma fórmula (novamente protagonista vs Predator), mas o filme salva-se com muitas virtudes:
- Muita acção, pois para além da feita pelo Predator e pela Policia a ele, também há a da Polícia aos vilões.
- Incremento de violência.
- O novo Predator é mais arrojado e destemido.
- Há novo arsenal do Predator (a rede, o disco cortante tipo boomerang, o arpão retráctil).
- Fazem-se adendas ao mundo, organização e história dos Predators.
- Mostram-se novos valores dos Predators (não atacam crianças nem mulheres grávidas; honram os seus combatentes e os vencedores, trocando lembranças e poupando-os).
Eis o momento de Predator face a uma criança:
É certo que o combate final e mais longo e elaborado (tem perseguições numa sala frigorífica, por telhados, por paredes e andares de prédios, túneis de elevador, subterrâneos e no interior de uma nave espacial), mas não é tão selvagem e primitivo como o do original, sendo mais típico de um actioner urbano, onde o good guy polícia persegue o bad guy criminoso, numa set piece que se pretende espectacular pois é o final de um blockbuster de grande orçamento.
O Predator deste filme é, de facto, mais jovem e rebelde, e Kevin Peter Hall (a interpretá-lo pela segunda e última vez) volta a fazer um magnífico trabalho. Hall repete a elegância de expressividade corporal que tinha mostrado no primeiro filme, e aqui consegue uma maior libertação e destreza que o novo comportamento do Predator exige.
Stan Winston volta a fazer os creature effects e mais uma vez o trabalho é fenomenal.
Uma sequela de grande nível, que iguala alguns aspectos do original, embora saia enfraquecida noutros.
Mesmo assim, “Predator 2” mostrava que havia aqui uma saga com potencial e que Predator merecia estar no trono dos grandes monstros/alienígenas/criaturas do Cinema.
Um pequeno clássico.
Recomendável.
“Predator 2” tem edição portuguesa e anda a bom preço. Algumas edições europeias têm legendas em Português, estando também a bom preço.
Realizador: Stephen Hopkins
Argumentistas: Jim Thomas, John Thomas, a partir do personagem criado por eles
Elenco: Danny Glover, Gary Busey, Rubén Blades, Maria Conchita Alonso, Bill Paxton, Robert Davi, Adam Baldwin, Kent McCord, Morton Downey Jr., Calvin Lockhart, Steve Kahan, Henry Kingi, Elpidia Carrillo, Kevin Peter Hall
Trailers
Making of
O Main Theme
A Banda Sonora
Orçamento – 35 milhões de Dólares
Bilheteira – 30 milhões de Dólares (USA); 57 (mundial)
Nomeado para “Melhor Filme – Ficção Científica”, nos Saturn 1992. Perdeu para “Terminator 2: Judgment Day”. Esteve também nomeado para “Melhor Caracterização” e “Melhores Efeitos Visuais”. Perdeu, respectivamente, para “The Silence of the Lambs” e “Terminator 2: Judgment Day”.
Esteve a concurco para “Melhor Filme”, no Fantasporto 1991. Perdeu para “Henry: Portrait of a Serial Killer”.
“Director de Fotografia do Ano” (Peter Levy), pela Australian Cinematographers Society 1991.
Jim Thomas e John Thomas chegaram a conceber um argumento onde o Predator estava na Terra num tempo onde ainda não havia armas.
O argumento inicial previa que a acção se localizasse em Nova Iorque (num momento, Predator estava no topo do Chrysler Building). Mudou-se para Los Angeles por razões financeiras.
John McTiernan (realizador de “Predator”, produzido por Joel Silver) chegou a ser convidado a realizar. Mas o seu salário estava em alta depois do sucesso de “Die Hard” (1988, também produzido por Silver), pelo que foi recusado. Por outro lado, McTiernan andava ocupado com “The Hunt for Red October” (1990), pelo que também recusou fazer “Die Hard 2” (1990, também produzido por Silver).
Stephen Hopkins foi convocado depois de ter chamado as atenções pelo seu trabalho em “A Nightmare on Elm Street V: Dream Child” (1989).
Arnold Schwarzenegger foi chamado, mas recusou. O actor não aprovou o argumento e o realizador. Gary Busey substituiu-o, através de um personagem diferente.
Foi o primeiro filme de Busey depois do seu acidente de moto.
John Lithgow era a escolha de Hopkins para o personagem Peter Keyes, mas Silver insistiu em Busey.
Patrick Swayze ia ser o protagonista, mas teve de recusar por estar ocupado com “Roadhouse” (1989, também produzido por Silver).
O estúdio chegou a insistir no protagonismo de Steven Seagal, mas Hopkins recusou.
Elpidia Carrillo regressa do primeiro filme. Ela participa numa cena onde se descrevem os eventos do filme original (explicando assim como o personagem de Busey sabe tanto sobre o Predator), mas tal cena ficou fora da montagem final. A sua presença limita-se a um plano num monitor, na cena onde se faz essa explicação.
Kevin Peter Hall regressa à saga, novamente como Predator. O actor estudou danças tribais para dar um certo estilo e agilidade ao Predator.
Reencontro entre Silver, Busey e Danny Glover, depois de “Lethal Weapon” (1987). Silver e Glover ainda se tinham encontrado em “Lethal Weapon 2” (1989) e encontrar-se-iam de novo em “Lethal Weapon 3” (1992) e “Lethal Weapon 4” (1998).
Segundo os argumentistas, Dutch (o personagem de Schwarzenegger no primeiro filme) é levado a um hospital para ser curado das queimaduras e ferimentos a que foi sujeito devido à luta com o Predator. Peter Keyes (o personagem de Busey) interroga-o e descobre o que se passou. Keyes cria uma equipa especial e vai ao local dos eventos para recolher algumas provas. E assim se inicia uma caça e observação a qualquer Predator ou acção sua ocorrida na Terra.
Como o Predator ia ter mais tempo de presença, Winston (autor do design da criatura), Hopkins (realizador) e Paull (production design) decidiram que o personagem deveria trazer novidades em matéria de armamento (por cada novo ataque, o Predator mostra uma nova arma).
As filmagens num certo beco da cidade de L.A. revelaram-se complicadas para cast & crew – os residentes locais foram hostis ao pessoal do filme e até se encontrou um cadáver no meio do lixo.
A arma de ombro do Predator foi roubada assim que terminaram as filmagens.
O Sargento da cena inicial é interpretado pelo actor que interpreta o Capitão na saga “Lethal Weapon”.
O gang jamaicano inspira-se num que amedrontou as cidades de Nova Iorque e Kansas City nos 80s.
O Predator mais velho mostra um pedaço de tecido da U.S. Army’s 2nd Infantry Division. Esta unidade combateu na Guerra da Coreia, principalmente durante um Inverno. Assim sendo, os Predators não se movem apenas em zonas de calor (como se descobriria em “Alien vs. Predator”).
O ataque do Predator no metro deriva de uma cena vista num comic.
A partir de um certo momento, o Predator é interpretado nalguns shots por um stuntman que só tem um braço.
A ideia do crânio do Alien na nave dos Predators veio de Hopkins. Foi uma piada cinéfia (dado que as sagas “Alien” e “Predator” partilham o mesmo estúdio – a 20th Century Fox), mas também uma piscadela aos comics “Aliens vs. Predator” (editados pela Dark Horse), que eram muito populares na época.
A arma que o Predator dá ao personagem de Glover diz “Raphael Adolini 1718”. Segundo os argumentistas, Raphael Adolini era um pirata espanhol que chegou a enfrentar um Predator. Adolini é morto pelos seus camaradas durante um motim. Já moribumbo, Adolini oferece a arma ao Predator.
O filme foi alvo de muitos cortes devido à visualização explícita dos ataques violentos do Predator.
Apesar de ter sido um flop de crítica e público, “Predator 2” tem ganho culto com a passagem do tempo, ganhou estima entre os nerds da saga, conquistou o seu público.
Simon Hawke escreveu uma novelização do filme. Explica o que aconteceu a Dutch, desenvolve a agente policial feminina (e a sua gravidez),
O filme teve adaptação aos videogames.
Chegou a haver um vídeo com os Predators a dançar.
Ei-lo:
(muito divertido)
“Predator” nos Videogames:
“Predator” nos Comics:
https://www.darkhorse.com/Search/Browse/”predator”/PpwNwkt8
[…] 2” (1990; já aqui visto), de Stephen Hopkins, com Danny Glover, Gary Busey, Ruben Blades, Maria Conchita Alonso e […]
Acabei parando aqui pesquisando uma imagem do Danny Glover. Ótima postagem! Grande abraço
Obrigado.
Volta sempre.