Título original – Commando
É um dos títulos máximos do actioner, do actioner 80s, do actioner Reagan e da filmografia de Arnold Schwarzenegger.
Um ano depois de ele ter assustado meio mundo como Terminator, Arnie volta a mostrar a sua destreza como action man, agora do lado dos bons.
E como papá.
John Matrix, antigo operacional das Forças Especiais, vive retirado, na companhia da sua filha Jenny.
Um dia, um grupo de antigos inimigos de John invade-lhe a casa e rapta-lhe a filha.
John deve fazer uma missão para os raptores ou Jenny morre.
Mas John não se deixa entalar – embarca sozinho numa missão de search & rescue a Jenny e ai de quem se meter no seu caminho.
Imparável actioner, levado ao extremo do delirio, que capta na perfeição toda a essência e ideologia do género nos 80s e na Era Reagan, que se tornou um modelo.
Ritmo non-stop, peripécias sem interrupções, humor desvairado, herói robusto, menina side-kick adorável, vilões odiosos, acção ao rubro (perseguições, porrada, tiroteios, duelos, explosões) e muita violência.
Mas tudo com coração – afinal, é sobre um pai que quer salvar a sua filha.
Subtilmente, a história conta uma amizade quebrada, ainda que plena de fascínio e respeito.
Notável é o equilíbrio (absolutamente perfeito) entre acção, humor e violência, que torna o filme sempre entretido e nunca incómodo. Algo que se deve à realização e à química entre os protagonistas.
Excelente trabalho no campo pirotécnico, nas stunts e nos practical effects.
Electrizante música de James Horner (que já tinha feito algo semelhante no igualmente imparável – de acção, humor e violência – “48 Hrs.”).
Mark L. Lester dirige com ritmo, sempre de pé pesado na acção e a fazer surgir a comédia da forma mais inesperada (mesmo durante a violência), dando ao filme um tom de puro comic.
Arnold Schwarzenegger está em topo de forma, como um verdadeiro Terminator (tinha-o interpretado no ano anterior) humano, indestrutível, infalível, com sentimentos, capaz de ser um verdadeiro exército numa só pessoa.
(é vê-lo a arrancar um jipe com os pés, a levantar uma cabine telefónica com um facínora lá dentro, a fazer voar meia-dúzia de polícias, a virar um carro, a arranjar espaço num veiculo, a despachar centenas de mauzões)
E depois é ver e ouvir Arnie com as suas deliciosas one lines – “I eat green berets for breakfast”, “let off some steam, Bennett”.
Rae Dawn Chong dá-lhe a devida réplica cómica.
Óptimo trabalho dos vilões – Dan Hedaya e Vernon Wells ganham mesmo a hostilidade do espectador.
Um actioner perfeito.
Um guilty pleasure em estado de graça.
Ainda um modelo referencial dentro do género.
Um clássico absoluto.
Um must para os nerds do género.
Obrigatório.
“Commando” tem edição portuguesa. Cuidado, certifiquem-se que não é a versão cortada. Procurem edições mais recentes. Outros mercados têm o cut do filme na íntegra.
O filme tem um Director`s Cut.
São mais meia-dúzia de minutos onde se dão mais momentos entre Arnie e Rae, explora-se um pouco mais da dinâmica de ambos e explicam-se mais alguns detalhes sobre o protagonista e a filha.
Realizador: Mark L. Lester
Argumentistas: Jeph Loeb, Matthew Weisman, Steven E. de Souza
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Rae Dawn Chong, Dan Hedaya, Vernon Wells, James Olson, David Patrick Kelly, Alyssa Milano, Bill Duke
Trailer
A história do filme:
https://www.empireonline.com/movies/features/commando-complete-history/
Orçamento – 10 milhões de Dólares
Bilheteira – 35 milhões de Dólares (USA); 58 (mundial)
1985 foi um ano pleno do action hero 80s/Reaganiano – Arnie em “Commando”, Sly em “Rambo: First Blood – Part II”, Chuck em “Invasion USA”.
O argumento era mais sério e denso, visando a vida e mentalidade dos comandos com experiência no Médio-Oriente. O protagonista procura o retiro, mas vê-se obrigado a regressar à violência devido ao rapto da filha.
Jeph Loeb (o argumentista inicial) tinha Gene Simmons em mente como protagonista. Simmons rejeitou e Loeb virou-se para Nick Nolte.
O argumento sofre alterações mais “delirantes” assim que se confirma a presença de Arnold Schwarzenegger.
O argumento passou por muitas reescritas e vários argumentistas. Larry Gross e Richard Tuggle andaram por lá, mas não viram o seu nome creditado.
Schwarzie ficou contente com o facto de o terem chamado e comentou com Steven E. de Souza (o argumentista) que era fixe não interpretar um selvagem (Conan) ou uma máquina (Terminator), mas sim uma pessoa normal (ainda que com incredible skills) e com emoções.
John McTiernan foi convidado para realizar, mas recusou. Seria convidado para a sequela, que assinaria (mas que originaria outro filme). McTiernan trabalharia com Schwarzenegger em “Predator” (1987) e “Last Action Hero” (1993).
Lester queria Raul Julia como vilão, mas Joel Silver (o produtor) preferia Dan Hedaya.
Primeiro filme de Chelsea Field.
Rae Dawn Chong queria estar no filme só pela presença de Schwarzenegger.
Vernon Wells fez uma audition mas não foi chamado. Logo no primeiro dia de filmagens, o realizador Mark L. Lester não gostou do actor escolhido e chamou Wells.
Wells descreve o look do seu personagem como “Freddie Mercury on steriods“.
Alyssa Milano diz que Schwarzenegger era muito protector com ela.
Para estar na devida forma física, Schwarzenegger corria cerca de 5 Km por dia e levantava pesos por uma hora.
Wells não conhecia Schwarzenegger.
Hedaya tinha receio ao usar armas de fogo.
Os studio execs não queriam que Schwarzenegger falasse durante o filme.
Schwarzenegger recebeu um salário de 1.5 milhões de Dólares.
Filmado em 45 dias.
O genérico inicial, onde se apresenta John Matrix e a sua “matriz” física é inspirado nalguns filmes propaganda de Leni Riefenstahl.
Valverde é um país fictício. Criado por Steven E. de Souza, é também referido em “Predator” e “Die Hard 2”.
O shopping mall (Sherman Oaks Galleria) é o mesmo visto em “Terminator 2” (1991, de James Cameron, com… Arnold Schwarzenegger).
Schwarzenegger consegue levantar pesos enormes. Mas na cena em que ele levanta uma cabine telefónica, esta é feita de uma madeira leve.
O aeroporto de Valverde é um antigo terminal do Long Beach airport.
A confrontação final foi filmada no estate de Harold Lloyd, em Beverly Hills. Lloyd era supersticioso e acreditava que teria azar se contornasse a fonte em frente à casa. “Por acaso” todos os vilões que passam pela fonte têm azar – são todos mortos pelo protagonista. A mesma mansão foi usada para a confrontação final em “Beverly Hills Cop” (1984).
Lester queria que Schwarzenegger pegasse em David Patrick Kelly. Arnie ficou estupefacto perante a ideia. Kelly ficou suspenso por uma grua.
O carro de Chong é um Sunbeam Alpine dos 60s.
Chong filmou a sua presença na luta no motel à margem de Schwarzie e Bill Duke. As reacções e lines foram improvisadas pela actriz.
Após uma cena, Schwarzenegger pediu a Lester para nunca mais dar uma faca verdadeira a Wells.
Schwarzenegger aleijou-se numa cena e teve de receber tratamento.
O colete que Schwarzie usa na confrontação final é o que era usado pelos paraquedistas americanos da época.
Na cena em que Matrix decepa um braço a um vilão, ele deveria virar-se para este e dizer-lhe “Need a hand?“. Tal momento nunca foi filmado pois foi considerado demasiado macabro.
Schwarzenegger fez todas as suas stunts. Por causa disso, aleijou-se diversas vezes.
O filme inspira-se no comic da DC, “Sgt. Rock”. Schwarzenegger e Silver tentaram levá-lo ao Cinema durante anos.
Schwarzenegger, Duke e Silver reencontrar-se-iam em “Predator”, de John McTiernan (que tinha sido convidado para realizar “Commando”).
O filme estreia no mesmo ano, meses depois de “Rambo: First Blood – Part II”. O filme com Sylvester Stallone (o mais popular, emblemático e mais bem $ucedido da saga “Rambo”) conseguiu ser um sucesso maior que “Commando” e ganhou mais estatuto a nível mundial. Na época, muita gente argumentou que Arnie e Sly eram rivais e se davam mal. Tudo mentira – ambos são grandes amigos desde há décadas, muito antes de 1985 (ano dos dois filmes em causa).
É o filme preferido de Mark L. Lester, dos que ele realizou.
Lester considera “Commando” como a quintessência do género.
Arnold Schwarzenegger e Vernon Wells ainda hoje são grandes amigos.
O filme foi um enorme sucesso (ainda que os números não fossem gigantescos, foram bem compensadores face ao custo). Em 1986, Steven E. de Souza (argumentista de “Commando”) e Frank Darabont escreveram uma sequela, com John McTiernan em mente como realizador. Era baseado no livro “Nothing Lasts Forever” (1979) de Roderick Thorp (que era uma continuação do romance “The Detective”, que tinha dado origem a um filme com Frank Sinatra). Schwarzenegger é chamado, mas ele não mostra interesse.
A trama mostra Matrix a ser convidado para ser o responsável pela segurança dos executives de uma corporação empresarial. Matrix contrata alguns tough guys para o ajudar. Mas tudo se complica quando Matrix descobre qual a agenda maléfica do grupo que o contratou. Mas já é tarde – a filha Jenny e a amiga Cindy foram raptadas e estão presas num arranha-céus. Matrix inicia uma acção de guerrilha para as salvar e derrotar todos os que se merem no seu caminho (incluindo aqueles que ele contratou).
O argumento tem algo de familiar?
Pois, seria depois alvo de umas alterações e transformado em “Die Hard”, aquele actioner que tudo renovou no género. John McTiernan realizaria, com Bruce Willis como protagonista.
Em 2008, o cinema soviético faria um remake.
Em 2010, Hollywood planeou um remake. David Ayer (“Street Kings”) esteve chamado para escrever e realizar. Queria-se Sam Worthington para protagonista. Pretende-se dar um approach mais realista. Nada ainda avançou.