Ao longo dos anos 80 surgiu uma vaga de filmes sobre actos jornalísticos, em jeito de drama ou thriller, à volta de tumultuosos eventos sócio-político-militares, ocorridos em diversos lugares do planeta, mais ou menos recentes.
É certo que tal (sub-)género começou nos 70s com o emblemático “All the President’s Men” (1976, de Alan J. Pakula, sobre o caso Watergate).
Mas nos 80s, o mérito deste recomeço deve-se a este “The Year of Living Dangerously”.
Peter Weir realiza, ainda em início de carreira, mas já com bom prestígio graças a “Picnic at “Hanging Rock” (1975), “The Last Wave” (1977) e “Gallipoli” (1981).
Mel Gibson e Sigourney Weaver, ainda jovens e também em início de carreira, protagonizam.
Indonésia, 1965. O país vive um ambiente de revolução.
Guy Hamilton é um jovem jornalista em busca da sua big break. Em parceria com o seu cameraman Billy Kwan, Hamilton consegue chegar a lugares difíceis e fazer óptimas coberturas.
Jill Bryant é uma diplomata britânica que se move à vontade junto de pessoas influentes.
A paixão nasce entre ambos.
Mas os eventos vão obrigar Hamilton a ter de fazer escolhas entre o coração e a profissão.
Drama forte sobre o jornalismo e a guerra, onde são relevantes as histórias de amizade e de amor que se geram entre todos os intervenientes e os perigos que eles enfrentam para viver as situações e emoções.
O filme cria momentos de “reportagem” sobre os eventos, mas sabe quando entrar pela intimidade do casal protagonista, nas emoções e dilemas pessoais de cada um.
Realismo e drama muito bem combinados, nunca caindo no demagógico, manipulador ou lamechice.
Mel Gibson caracteriza muito bem o carácter imberbe, ambicioso, determinado e apaixonado do seu personagem.
Sigourney Weaver dá presença elegante, sedutora e sentimental.
Linda Hunt impressiona pela sua total transfiguração (interpreta um homem).
Peter Weir dirige como se fosse uma reportagem, mas cria grande cinema (a presença humana e emocional, o detalhe nos eventos).
O drama é emotivo.
A ilustração dos eventos sócio-político-militares é plena de detalhe e imparcial.
A história de amor é clássica e simples, mas intensa e convincente.
A amizade retratada desafia regras e convenções, conseguindo mudar mentalidades.
Um óptimo exemplo de cinema autêntico, real e humano.
“The Year of the Living Dangerously” tem edição portuguesa e anda a preço “inofensivo”.
Realizador: Peter Weir
Argumentistas: Peter Weir, David Williamsonm, C.J. Koch, Alan Sharp (sem crédito), a partir do romance de C.J. Koch
Elenco: Mel Gibson, Sigourney Weaver, Linda Hunt, Michael Murphy
Trailer
Orçamento – 13 milhões de Dólares
Bilheteira – 11 milhões de Dólares
Linda Hunt foi a “Melhor Actriz Secundária”, nos Oscars 1984.
Hunt foi a “Melhor Actriz Secundária”, pelo Australian Film Institute 1983. O filme ainda concorreu a “Melhor Filme” (perdeu para “Careful, He Might Hear You”), “Melhor Realizador” (Peter Weir perdeu para Carl Schultz em “Careful, He Might Hear You”), “Melhor Actor” (Mel Gibson perdeu para Norman Kaye em “Man of Flowers”).
“Melhor Actriz Secundária” (Linda Hunt), pelos Críticos de Boston 1984, de Kansas City 1983, de Los Angeles 1983, de Nova Iorque 1983, pela National Board of Review 1983.
“Melhor Filme Estrangeiro”, pelos Críticos de Espanha 1984.
Hunt esteve nomeada como “Melhor Actriz Secundária” nos Globos de Ouro 1984, mas perdeu para Cher em “Silkwood”.
O filme concorreu à “Palme d’Or” em Cannes 1983, mas foi vencido por “The Ballad of Narayama”.
Nomeado para “Melhor Drama Adaptado”, pelo Writers Guild of America 1984. Perdeu para “Reuben, Reuben”.
Faz parte de um conjunto de filmes, surgidos nos 80s, sobre cobertura jornalística em cenários de guerra – “The Year of the Living Dangerously” (1982), “Under Fire” (1983), “The Killing Fields” (1984), “Salvador” (1986), “Cry Freedom” (1987).
O filme inspira-se nas experiências jornalísticas de Philip Koch, jornalista australiano que cobriu alguns eventos na Indonésia ao longo dos 60s. Philip é irmão de C.J. Koch, o autor do livro que inspira o filme.
Phillip Noyce chegou a andar interessado em realizar.
Koch escreveu um primeiro argumento, mas que não agradou a Peter Weir. Alan Sharp fez modificações e depois coube a David Williamson e a Weir a elaboração da versão final. Weir e Koch tiveram várias discussões sobre as diferenças criativas que cada um tinha para o argumento.
Joel Grey, Bob Balaban e Wallace Shawn foram ponderados para o personagem que seria entregue a Linda Hunt.
David Atkins tinha sido escolhido como Billy Kwan. Mas durante os ensaios, Weir deu conta que a relação entre Atkins e Mel Gibson não era a que o cineasta pretendia. Hunt foi então chamada.
Weir escolheu Hunt pois não conseguiu encontrar um actor capaz de interpretar o personagem em causa.
Primeiro filme de Linda Hunt, que até então só tinha experiência em Teatro.
Segunda colaboração entre Weir e Gibson, depois de “Gallipoli” (1981).
Segunda colaboração entre Weir e Williamson, depois de “Gallipoli” (1981).
Pretendia-se filmar em Jakarta, mas foi proibido. As filmagens decorreram nas Filipinas.
Cast & Crew chegaram a receber ameaças de morte. As filmagens saíram das Filipinas e passaram para a Austrália.
Os diálogos não ingleses são em filipino.
A música do filme usa um tema de Vangelis (“L’Enfant”). Este tema ia ser usado em “Chariots of Fire” (1981), mas o compositor conseguiu criar um outro tema que ele considerou melhor para o filme.
Eis o tema:
Na época, tinha sido a produção australiana mais cara de sempre.
Tudo indica que o filme é a primeira co-produção entre Australia e Hollywood.
O filme esteve banido na Indonésia até 1999.
Linda Hunt foi a primeira actriz a ganhar um Oscar por interpretar um homem.