Título original – Hanover Street
Harrison Ford, ainda jovem, vindo do sucesso de “Star Wars”, mas ainda a caminho do estrelato que surgiria nos 80s, mostra aqui que o seu registo estava longe de franchises e dá provas de versatilidade.
A bela Lesley-Anne Down é o interesse romântico.
Christopher Plummer traz o prestígio britânico.
Peter Hyams, um competente artesão para o action cinema, dirige.
Todos juntos, ilustram uma nostálgica visita ao melodrama 40s.
Londres, 1943. Época da Segunda Guerra Mundial.
David Holloran é um piloto Americano, estacionado na cidade, ao serviço da RAF. Margaret Sellinger é uma enfermeira dedicada, esposa e mãe.
David e Margaret conhecem-se e apaixonam-se.
Um dia, David é chamado para levar um alto oficial dos Serviços Secretos Britânicos até território inimigo. A missão corre bem, até que David descobre que ele é o marido de Margaret.
Amor e dever. Qual se vai sobrepor?
História clássica sobre encontro de almas solitárias, em tempo de guerra, em busca de algo de amor e vida perante o cenário de conflito e morte que os rodeia e a incerteza do tempo.
Serve como uma (muito) boa desculpa para se retomar um tipo de cinema e género já perdido(s) e que fez chorar plateias décadas antes.
O exercício cinéfilo convence, entretém e até comove.
O argumento, ainda que simples, obedece a uma boa organização estrutural.
No primeiro terço surge a love story, tão intensa como a ameaçar ser breve.
O segundo segue os pergaminhos das missões de cada um dos protagonistas (ele a voar e bombardear, ela a salvar vidas), onde a morte pode surgir a qualquer momento.
Mudança total no terceiro acto, seguindo por um tom de mission impossible atrás das enemy lines, onde surge uma inesperada parceria, gera-se tensão e suspense (quando um personagem sabe quem é o outro) e criam-se boas cenas de acção.
E depois, para gáudios dos nostálgicos, há aquele final, tão personalizado face ao filme, como evocativo de outros clássicos (“Casablanca”, “Brief Encounter”).
Bons valores de produção, dando uma excelente reconstituição da época.
Muito eficazes practical effects.
Belíssima, romântica e nostálgica música do grande John Barry.
À boa maneira clássica, muito do humor vem dos personagens secundários (o oficial líder, que é um chato e um idiota; a crew do protagonista, muito descontraída; o chefe da intelligence, sempre a experimentar novos tabacos).
Harrison Ford vinha de “Star Wars” e ia precisar das sequelas e das aventuras de Indiana Jones (tudo surgiria poucos anos depois) para se tornar uma movie star. Mas o talento, carisma, presença e versatilidade já estavam aqui mostrados. Ford compõe um homem frágil, delicado, romântico, heróico e pleno de valores morais.
Lesley-Anne Down (um dos olhares azuis mais belos e serenos do Cinema, actriz dotada de uma beleza rara, nobre e sofisticada) está maravilhosa como uma mulher dividida, carente, sentimental e dedicada.
Christopher Plummer oferece a sua habitual segurança.
Peter Hyams dirige com competência, eficácia, elegância e sentido de nostalgia cinéfila.
Uma bela homenagem ao war melodrama 40s, naquele tom de “já não se fazem filmes assim”.
Um pequeno clássico.
Muito recomendável.
“Hanover Street” não tem edição portuguesa.
Diversas edições europeias têm legendas em Português e andam a bom preço.
Realizador: Peter Hyams
Argumentista: Peter Hyams
Elenco: Harrison Ford, Lesley-Anne Down, Christopher Plummer, Alec McCowen, Richard Masur, Michael Sacks, Patsy Kensit
Bilheteira – 3 milhões de Dólares
Trailers
Harrison Ford substituiu Kris Kristofferson, que preferiu fazer um tour (para além de actor, Kristofferson é também cantor).
Ford regressava aos filmes de guerra, depois de “Force 10 from Navarone (1978, de Guy Hamilton, com Robert Shaw, Franco Nero, Barbara Bach, Edward Fox, Carl Weathers e Richard Kiel; era uma sequela a “The Guns of Navarone”). Ford voltaria a combater nazis em duas aventuras de Indiana Jones – “Raiders of the Lost Ark” (1981) e “Indiana Jones and the Last Crusade” (1989).
Lesley-Anne Down substituiu Sarah Miles.
Genevieve Bujold era a escolha inicial para protagonista. Mas a actriz desistiu perante a saída de Kristofferson.
Peter Hyams inspirou-se em “Waterloo Bridge” (1940), bem como noutros filmes do género.
Muitas das cenas com aviões foram filmadas no campo da RAF em Hertfordshire. Esse campo está desactivado.
O filme fez recurso a bombardeiros americanos Mitchell B-25, vindos de propósito para o filme.
Na época em que se passa o filme não havia estação de metro em Hanover Street.
A música foi escrita por John Barry, mas as gravações foram conduzidas por Harry Rabinowitz (Barry estava indisponível para vir a Inglaterra).
No final da post-production, Peter Hyams pediu reescritas de alguns temas.
Apesar de ter sido um flop na época, com o passar do tempo o filme ganhou um certo estatuto de culto entre alguns happy few.
O Main Theme de Barry