Título original – Anatomy of a Murder
Gente ilustre à frente e atrás das câmaras, num clássico exemplar do filme-tribunal.
Um militar é preso pelo assassinato de um homem, invocando que o fez para salvar a esposa de ser violada.
Um advogado veterano é chamado para o defender.
O tribunal vai ser uma feira sobre a personalidade do réu e da sua esposa, bem como dos seus hábitos.
Ganhará a justiça ou a “moral”?
Visão, bem anatómica, sobre um crime, a sua investigação e o juízo legal sobre tal.
A sua natureza e justificação, a sua defesa e ataque, a descoberta da verdade e todos os mecanismos judiciais para a sua resolução.
Tudo está lá, focado com detalhe, rigor e realismo.
Vê-se como policial de mistério (sabe-se quem é a vítima e o culpado, mas não se sabe como o culpado se vai salvar), como filme-tribunal (quase tudo se passa num julgamento) e como drama humano (as consequências dos eventos em todos os participantes – directos e indirectos).
Para além de tudo isto, “Anatomy of a Murder” é também o drama de homens em certa redenção ou redescoberta das suas capacidades “heróicas” no mundo judicial.
Mas “Anatomy of a Murder” é, acima de tudo, grande Cinema.
Como tal, há “desfile” do que compõe um bom filme – interpretações, argumento, realização, áreas técnicas.
O argumento é blindado, pleno de detalhe, atento às pessoas e às emoções, aos eventos, à lógica e progressividade, às prova e reviravoltas, e, claro, ao jogo de tribunal.
Os actores são a todos os níveis impecáveis.
James Stewart é fantástico como um advogado dedicado e metódico, engenhoso e pleno de ironia.
Lee Remick convence como esposa preocupada e mulher arisca.
George C. Scott é impressionante como advogado temível e astuto.
Ben Gazarra mostra-se preocupado como réu.
Arthur O`Connell é comovente como um veterano caído no álcool e em busca de uma oportunidade.
Todo o restante elenco está em perfeita sintonia.
Otto Preminger dirige com mestria, gerindo toda a tensão emocional (tanto no tribunal como a nível interpessoal), criando um ritmo vivo e envolvente na sala de tribunal (o duelo entre os advogados é tão empolgante como uma boa action scene).
Um verdadeiro manual de como fazer (grande) cinema-tribunal.
Obra-prima do género e de Cinema.
Um clássico.
Obrigatório.
“Anatomy of a Murder” tem edição portuguesa. Pode ser uma dificuldade encontrá-lo nas lojas. Diversas edições europeias têm legendas em Português e estão a bom preço. Seria um crime cinéfilo desperdiçar.
Realizador: Otto Preminger
Argumentista: Wendell Mayes, a partir do romance de John D. Voelker
Elenco: James Stewart, Lee Remick, Ben Gazzara, Arthur O’Connell, Eve Arden, George C. Scott, Murray Hamilton
Trailer
O tema de Duke Ellington
Filme
Bilheteira – 11 milhões de Dólares
Mercado doméstico – 5 milhões de Dólares
Esteve nomeado para “Melhor Filme”, “Melhor Actor” (James Stewart), “Melhor Actor Secundário” (Arthur O’Connell e George C. Scott), nos Oscars 1960. Perdeu para, respectivamente, “Ben-Hur”, Charlton Heston (em “Ben-Hur”), Hugh Griffith (em “Ben-Hur”)
Para os Globos de Ouro 1960, também teve fortes candidaturas – “Melhor Filme – Drama”, “Melhor Realizador”, “Melhor Actriz – Drama” (Lee Remick). Perdeu para, respectivamente, “Ben-Hur”, William Wyler (por “Ben-Hur”), Elizabeth Taylor (por “Suddenly, Last Summer”).
Nos BAFTA 1960, igual destino – nomeado para “Melhor Filme” e “Melhor Actor” (James Stewart), perde para “Ben-Hur” e Jack Lemmon (em “Some Like It Hot”).
“Melhor Banda Sonora”, nos Grammy 1959.
“Melhor Drama”, “Melhor Actor” (James Stewart), “Melhor Actor Secundário” (Arthur O’Connell), nos Laurel 1960.
“Top 10 do Ano”, pela National Board of Review 1959.
“Melhor Actor” (James Stewart), “Melhor Argumento” pelos Críticos de Nova Iorque 1959.
“Melhor Actor” (James Stewart), em Veneza 1959.
“Filme a Preservar”, pela National Film Preservation Board 2012.
Música de Duke Elleington, que até faz um Cameo.
O personagem do juiz foi oferecido a Spencer Tracy e a Burl Ives. Joseph N. Welch foi o escolhido, pois era juiz.
A personagem de Lee Remick tinha sido inicialmente oferecida a Lana Turner. Lana fez um conjunto de exigências que Preminger não concordou.
Jayne Mansfield recusou a personagem de Remick.
Richard Widmark e Gregory Peck foram ponderados, como réu e advogado, respectivamente.
Filmado em dois meses.
O filme ficou pronto um mês depois das filmagens.
Alguma da controvérsia que o filme gerou passou pelo uso de termos algo inéditos no cinema de então – “bitch”, “contraceptive”, “panties”, “penetration”, “rape”, “slut”, “sperm”.
O pai de James Stewart não gostou do filme e chegou a tornar público o seu pedido às pessoas para não o verem.
O filme foi banido em Chicago.
Foi a última nomeação ao Oscar por James Stewart. Foi a primeira de George C. Scott.
O poster do filme ficou como #1 nos “25 Melhores Posters de Cinema de Sempre”, pela Premiere.
O American Film Institute deixou-o como #7 nos “10 Melhores Filme-Tribunal”.
Está nos “1001 Movies You Must See Before You Die”, de Steven Schneider.