Perigo Iminente (1982)

Blade Runner - Poster 1

 

Título original – Blade Runner

 

 

É O Cult-Movie supremo dos 80`s, momento altíssimo no Cinema e no género Sci-Fi.

Falar-se dele ou vê-lo é sempre um enorme acontecimento cinematográfico.

É um enorme motivo de gáudio para inúmeros cinéfilos de várias gerações.

Já passaram 35 anos (bolas, passou assim tanto tempo?).

“Blade Runner” continua sempre vivo na alma cinéfila.

Agora ainda mais, pois chegou a sua sequela (continuação é melhor dito) – “Blade Runner 2049”.

(e faltam dois anos para chegarmos ao tempo de “Blade Runner” – 2019; mas onde estão as colónias no Espaço e os Replicants?)

 

Los Angeles, 2019.

A Humanidade conseguiu o prodígio técnico de criar um ser artificial que é uma autêntica réplica do ser humano (por isso, esses seres são denominados de Replicants).

O seu uso é feito nas minas das colónias humanas existentes noutros planetas. Mas há um contra – devido à sua capacidade de adquirir total humanização (e desse modo, ser quase impossível distinguir um “humanóide” de um humano), os criadores dotaram-nos de um tempo de vida muito curto (4 anos).

Quatro Replicants fogem da colónia onde estavam e vêm a L.A. em busca do seu criador.

Rick Deckard, um ex- Blade Runner já lendário no meio, é chamado ao activo para os localizar e com a missão de os eliminar.

Pelo caminho conhece Rachael, uma Replicant.

A paixão entre os dois nasce, e desse amor e da perseguição aos seus “alvos”, Deckard irá redescobrir novos valores e perceber que para ser humano não basta ter sangue nas veias.

Blade Runner - screenshot 1

“Blade Runner” adapta o conto de Philip K. Dick (importantíssimo escritor de ficção científica, já com vários contos adaptados ao cinema) “Do Androids Dream of Electric Sheep?”.

Poderia ser mais um título “normal” de ficção científica, mas diversos factores encarregaram-se de o colocar no firmamento da Sétima Arte.

Blade Runner - screenshot 3

Ridley Scott vinha do belíssimo “The Duellists” (1977; um autêntico quadro em Cinema) e do fabuloso “Alien” (1979; enorme sucesso de público e crítica, que renovou os géneros do terror e da ficção científica graças a uma combinação perfeita e sem par na História do Cinema).

 

Harrison Ford já era uma estrela, devido a dois personagens já míticos no mundo do celulóide e na pop culture – Han Solo (até então, apenas em dois episódios da saga “Star Wars”, o episódio IV “A New Hope” e o V “The Empire Strikes Back”) e Indiana Jones (surgido um ano antes em “Raiders of the Lost Ark”).

Blade Runner - screenshot 5

“Blade Runner” é, desde muito cedo, marcado por diversos problemas de produção – o guião não estava inteiramente pronto, ambiente tenso entre Scott e Ford (Ford sempre se queixou que Scott prestava mais atenção aos aspectos visuais do filme do que ao guião e aos actores), rodagem longa, orçamento ultrapassado (quase 30 milhões de Dólares – um valor brutal para a época), primeiros test screenings falhados, reedição do cut final, novo final, inserção de voz off (algo que Ford fez muito contrariado) para melhor explicar certos momentos do filme (que até resultou bem, pois remeteu o filme para a filiação com o Film Noir).

 

A estreia não corre pelo melhor. Flop imenso (as receitas só pagam os custos), reacções desconcertantes da crítica (apesar da sua excelente recepção na Europa).

 

O culto não é imediato, mas com a passagem do tempo, o mercado doméstico, diversos festivais de cinema ligados ao fantástico e revistas da especialidade, começa-se a reavaliar o filme.

 

Então que filme é este?

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“Blade Runner” leva-nos a um futuro (agora bem próximo) onde (como é de esperar) a Tecnologia está num nível supremo e próximo da perfeição na capacidade de servir o Homem. Este é criador e tem uma criação muito semelhante a si.

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Podemos começar por aqui.

É um filme de Sci-Fi, mas afinal fala do “duelo” entre Criador e Criação.

O Homem (ou mais concretamente, o líder da corporação que cria os Replicants) é (um) Deus, cria seres o mais próximo e semelhantes a si próprio, com capacidade para serem até mais humanos. As Criações mostram os mesmos dilemas, dúvidas, perguntas, angústias e ansiedades que Nós – quem somos, para onde vamos, quanto tempo temos.

Particularmente notável é a cena onde Criador e Criação se encontram e têm precisamente esse tipo de discussão.

Tocante é o monólogo do líder dos Replicants, onde ele revela o seu supremo sentido humano (ou humanitário?).

 

“Blade Runner” assenta precisamente nessa premissa narrativa, filosófica e existencial.

Blade Runner

Mas alcança outros níveis.

Mais “fáceis”, directos e visíveis.

 

Em primeiro lugar, o filme de Scott é um deslumbre visual.

Fotografia linda, com uma palette fantástica, plena de variantes e contrastes.

A cenografia leva-nos mesmo para um possível (ou certo?) 2019.

Os ambientes estão carregados de detalhes (os contrastes entre as zonas ricas, pobres e decadentes de L.A.; o apartamento de Deckard; a sala da Tyrell Corporation; as ruas; a chuva; os neons e painéis electrónicos da cidade; a arquitectura da cidade).

O guarda-roupa adequado aos personagens (elegantes para os “bons”, mais “chunga” para os “maus”).

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Depois há a filiação cinéfila do filme.

“Blade Runner” pode ser visto como um Film Noir futurista (ou Future Noir, ou Tech Noir).

O protagonista é como um Private Eye (a forma como se veste, a sua moral e conduta, os seus duelos interiores, o seu passado, a sua relação com a corporação para a qual trabalha; ainda há o “cliché” do uso da sua voz off – mas isto só se ouve no Theatrical Cut).

A (excelente) banda sonora (de Vangelis – que já tinha composto outra banda sonora emblemática para “Chariots of Fire”) tem momentos tão adequados a um Film Noir (os temas para Deckard e para Rachael) como para Sci-Fi (o Main Theme, o Theme dos end credits).

A fotografia em tom de chiaroscuro recorda também os glory days do Film Noir.

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O argumento é preciso, denso, detalhado, rico na definição dos personagens, não sendo simples na separação de bons e maus, propondo ideias, concepções e filosofias muito complexas e fascinantes.

 

Também se pode ver como um filme de entretenimento.

Há uma época, há “bons”, há “maus”, há motivos para ambos, há confrontações, há efeitos visuais de encher o olho, há boa acção.

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Mas no final, “Blade Runner” deixa-nos a pensar.

Sobre Nós, sobre o Futuro, sobre o Homem, sobre a Existência.

Leva-nos a fazer perguntas. O que faz sentido, pois o filme é sobre pessoas (naturais ou artificiais) a fazê-las e em busca das suas respostas.

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Uma das perguntas principais do filme (e que tanto “duelo” criou em Scott e Ford, bem como em imensos fãs do filme) é saber se Deckard é ou não um Replicant (algo que não é suscitado no Theatrical Cut, mas cujos Director`s e The Final Cut indiciam subtilmente).

 

O filme nunca esclarece isso, nem oferece facilmente essa questão.

Deixa a (eventual) dúvida e a (possível) resposta à consideração do espectador.

 

A meu ver, o filme funciona melhor com Deckard como humano. Deckard é um homem, especializado na caça a Replicants, que perdeu o seu sentido humano e humanitário, redescobrindo-o numa caçada final, incentivado pelo seu sentimento por uma… Replicant.

Se Deckard fosse também um Replicant, o argumento repetia demasiado a presença de Replicants, andando todos na mesma senda (afinal, no final, Roy Batty, Replicant e caça, dá uma lição de humanidade a Deckard, humano e caçador, que perdeu a sua humanidade – sendo um Replicant face a um humano, essa componente ganha uma força emocional, humana e filosófica maior do que se ambos fossem Replicants; Deckard como humano a apaixonar-se por Rachael que é Replicant, o caçador a ganhar sentimentos por quem devia caçar, um humano a redespertar a sua humanidade graças a uma criatura não-humana, também dá um maior vigor emocional à narrativa do que se fossem ambos Replicants, até porque já há duas love stories nos quatro Replicants – Leon com Zhora, Batty com Pris).

 

Tudo passa pelo sonho do unicórnio (num momento do Director`s e The Final Cut, Deckard sonha com um). No final, Gaff deixa um origami à porta de Deckard (com a forma de um… unicórnio). Ao longo do filme, Gaff faz sempre orgamis, de diferentes animais. O “recado” final é apenas a indicação que ele passou pelo apartamento de Deckard e poupou Rachael, deixando a ambos o direito de decidirem as suas vidas e destino.

Scott força (com o tal sonho) a ambiguidade sobre Deckard (ou seja, tanto faz se o origami era de um unicórnio ou de um cão, um gato, uma coruja, etc.). No livro de Dick, sim, Deckard anda à procura de um animal real, e poderia-se ter isso em conta no filme. Mas não é isso que ocorre.

Aliás, ao ver-se o Theatrical Cut, a sensação que fica no final é mesmo essa – Gaff andou por lá, não matou Rachael e deixou-a fugir com Deckard.

No seu cut, Scott procura “empurrar” o espectador para o facto que Deckard é um Replicant.

(é, portanto, compreensível o confronto criativo entre Scott e Ford)

 

Por outro lado, compreende-se a dúvida de muito nerd perante o tal sonho, ao questionar se Scott não usou footoge de um filme posterior (“Legend”, em 1985), sendo o seu cut feito bastante tempo depois de “Blade Runner” e havendo ao tal forçoso direccionar.

 

Mas esta discussão só reforça o poder do filme – sendo ele sobre perguntas e resposta dos personagens em cena, porque não levar o espectador nessa senda?

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Conforme se depreende pelo escrito acima, este é um daqueles casos raros em Cinema onde todos os seus elementos (técnicos, estéticos, temáticos, narrativos, criativos, visuais, interpretativos, humanos) se combinam na perfeição.

 

Já elogiei a fotografia, os efeitos visuais, a cenografia, o guarda-roupa, a música, o argumento, as suas ideias.

Auxiliares vitais para o fantástico resultado final do filme e para o (fascinante) ambiente criado são Lawrence G. Paull e David Snyder (o designers de produção), Jordan Cronenweth (director de fotografia), Syd Mead (o look futurista de L.A.), Terry Rawlings (na montagem), Richard Yuricich (autor do efeitos visuais) e Vangelis (autor da envolvente banda sonora). Vangelis já tinha curriculum em Cinema (“Chariots of Fire”, pelo qual ganhou um Óscar) e voltaria a Scott (“1492 – Conquest of Paradise”, cujo tema principal é muitas vezes usado nos congressos do… PS(???)).

(lamenta-se Paull e Cronenweth não terem ganho uns Oscars que lhes seriam bem merecidos)

Mas há mesmo que reforçar o lado humano mais visível.

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Ridley Scott dá uma autêntica “aula” de estética, de criar, fazer e filmar Sci-Fi, de ilustrar o futuro e um meio urbano. Realização elegante, vistosa, plena de detalhe, com bom ritmo (tanto face ao tempo como ao tom, às emoções, acontecimentos e personagens), fazendo-nos não estar a ver um filme, mas a viajar, viver e sentir aquele mundo, mas com o cérebro sempre activo sobre o que ali se fala.

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O trabalho dos actores é puro ouro.

Harrison Ford já tinha criado esses personagens-ícones que são Han Solo (da saga “Star Wars” – tinha já feito dois episodes) e Indiana Jones (tinha feito a primeira aventura). Sabia-se que tinha destreza para action hero e o carisma das grandes stars do Cinema. Aqui mostra uma enorme versatilidade dramática, ao compor um personagem complexo, ilustrando toda a dor, angústia e vazio do seu personagem. Como já é tradição no curriculum do actor, Deckard torna-se também um personagem de culto.

Rutger Hauer é absolutamente magistral, criando um personagem líder, temível, mas tão frágil nas suas emoções e dúvidas (afinal) tão humanas.

Sean Young apresenta-se com um belíssimo look, bem old fashioned, expondo bem os seus receios e ansiedades.

Igual qualidade no restante elenco.

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Sci-Fi como deve ser – deslumbrante, fascinante, densa, com capacidade de entreter, visionar e fazer sentir e reflectir.

 

Um must absoluto – do Cinema e da Sci-Fi.

 

Obrigatório.

 

“Blade Runner” tem edição portuguesa. Há uma (fabulosa) edição em DVD/Blu-Ray. Os preços andam jeitosos.

(apesar da qualidade das edições domésticas, este é um daqueles títulos que só “cabe” no grande ecran)

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1982, BLADE RUNNER

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Toda esta opinião é válida para qualquer um dos Cuts do filme. Aqui e ali com esta variante ou novidade, a essência do filme nunca é perdida. Os ganhos e perdas (da voz off, de planos e cenas) só mudam a forma de contar a história e abrem (ou fecham) caminhos para interpretações, reflexões, considerações, perguntas e respostas.

 

A escolher um, opto pelo Theatrical Cut – tem tudo o que precisa, tudo funciona, a voice over resulta (e o texto nada tem de idiota, como Ford afirmava) na narrativa (complementa a explicação sobre o estado de espírito de Deckard) e filia o filme no Film Noir, não há ambiguidades sobre Deckard, o final é aberto, deixa perguntas e dúvidas.

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Realizador: Ridley Scott

Argumentistas – Hampton Fancher, David Peoples, baseado no romance de Philip K. Dick (“Do Androids Dream of Electric Sheep?”)

Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Edward James Olmos, Joanna Cassidy, Daryl Hannah, Brion James, M. Emmett Walsh, Joe Turkel

 

Blade Runner - Poster 2

Em 1992 sai um denominado “Director`s Cut”.

Várias novidades – eliminação da voz off, novos planos, novo final.

Esta nova montagem surge já em momento de crescente culto e (re)descoberta do filme.

Mas, apesar do acontecimento que foi, a nova montagem divide muita gente.

Para uns, o final (não feliz e em aberto, ao contrário do original que era bem mais “optimista” e luminoso) é demasiado abrupto (o último plano não parece ser um final de um filme, mas o final de uma sequência que vai ter continuação noutra) e ambíguo. Em relação aos novos planos, houve quem notasse que um deles traz metragem de um filme posterior na filmografia de Scott (a cena do unicórnio parece vir de “Legend”, produzido em 1985), o que leva muita gente a interrogar-se de quando é esta nova montagem (após “Legend” ou foi feito logo na época de montagem de “Blade Runner”?). O corte da voz off também não agrada a alguns, acusando que o filme perdia a filiação com o Film Noir (o recurso à voz off faz parte das “regras” do género). Como se não bastasse, esta nova montagem traz uma novidade desconcertante – a história sugere que Deckard pode ser também um Replicant (é pelo menos essa a opinião de Scott, completamente contrariada pela de Ford; neste novo cut, há a adição do momento em que Deckard sonha com um unicórnio, criatura que é alvo de um origami de Gaff, no final, à porta do apartamento de Deckard – coincidência ou Gaff está a par dos sonhos de Deckard? como? Gaff está a par dos sonhos de Deckard, porque este é um Replicant? afinal, no final, Gaff diz a Deckard “you did a man`s job”). E alguém repara que no filme se fala em seis Replicants – ora, Deckard só caça quatro, Rachael é o quinto? Então qual é o sexto? Deckard? Uns afirmam que sim, elementos da produção afirmam que os seis que o argumento menciona são uma gafe escrita.

(mas se estiverem atentos, quando Bryant faz o briefing a Deckard, ele explica que são 6 Replicants, mas só 4 sobreviveram – os tais  que Deckard caça)

Mesmo assim, inicia-se a “discussão” que só ajuda (ainda mais) no culto.

Blade Runner - Collector`s Edition - Photo 1

Para o mercado doméstico sai esta nova versão. A original (vista nas salas) vai sendo exibida nos canais de televisão, até que, a partir de certa altura, só se exibe este dito “Director`s Cut”.

Com o crescimento do mercado DVD, muitos perguntavam para quando um edição decente deste must. No mercado só existia a montagem de 1991, parca em extras (contudo, existiu uma edição que é um luxo para o cinéfilo coleccionador).

Blade Runner - Collector`s Edition - Photo 3

Mas queríamos mais.

E há uns anos surge a notícia que a Warner estava a preparar uma edição especialíssima para celebrar os 25 anos do filme.

Ela chegou. Com várias novidades – uma nova, final e definitiva montagem (por isso se chama “The Final Cut”), com novos efeitos a nível de imagem e som, mas também a presença da montagem estreada em 1982 (com duas variantes – a vista nas salas americanas e a vista no resto do mundo, mais “violenta”), do “Director`s Cut” de 1992 e do Working Print (montagem prévia para exibição ao estúdio, para controle por parte deste, para decisões finais – novas cenas, finais, remontagem – ou para pedido de mais dinheiro para a pós-produção), bem como imensos extras (entre eles, um extensivo e completo documentário).

Blade Runner - Collector`s Edition - Photo 4

O futuro de alguns nomes envolvidos no filme não foi igual para todos e aqueles que interpretaram Replicants viram a realidade a imitar a ficção – tal como os personagens que interpretaram, a suas carreiras viram-se com curto “tempo de antena” e quase “eliminados” do meio.

Scott pouco mais teria a este nível (fosse no género ou enquanto objecto de cinema). O seu filme seguinte “Legend” é uma brilhante fantasia, mas (muito) marcada por mais problemas de produção (rodagem longa, orçamento ultrapassado, montagens várias) que resulta num flop. Recentemente teve direito a uma excelente edição (apenas nos USA) onde se inclui o definitivo “Director`s Cut” que repõe a (magnífica) banda sonora de Jerry Goldsmith (a versão vista nos USA tinha música dos Tangerine Dream). Depois perdeu-se (talvez para manter ou ter posição no meio) em projectos típicos de indústria, entre o correcto (“Someone to Watch Over Me”, “Black Rain”, “Black Hawk Down”), o banal (“Thelma & Louise”, “G.I. Jane”, “Hannibal”, “Matchstick Men”, “A Good Year”) e o grandioso (“Gladiator”, “Kingdom of Heaven”), até recuperar o magnifico (“Prometheus”), para depois voltar à mediocridade (“Alien: Covenant”).

Ford converteu-se na lenda que todos conhecem. Terminou a saga “Star Wars” no ano seguinte (“Return of Jedi”), continuou com a saga “Indiana Jones” (“Indiana Jones and the Temple of Doom”, “Indiana Jones and the Last Crusade”), mostrou (imensos) dotes dramáticos (“Witness”, “Mosquito Coast”, “Frantic”, “Presumed Innocent”, “Regarding Henry”, “Devil`s Own”), cómicos (“Working Girl”, “Six Days, Seven Nights”), mostrando também o seu lado maléfico (“What Lies Beneath”), nunca abandonando o perfil de action hero (“The Fugitive”, “Air Force One”, “Firewall”) nem os seus personagens clássicos (regressou como Indy em “Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull”, bem como Han Solo em “Star Wars: Episode VII – The Force Awakens”).

Rutger Hauer vinha de uma excelente colaboração com Paul Verhoeven na Holanda. Hollywood “usou-o” apenas como vilão e ao serviço de filmes de acção B e Z. A excepção foi mesmo o tenebroso “The Hitcher” e o belíssimo “Ladyhawke”.

Sean Young viu-se vítima de má-língua devido ao seu feitio algo conflituoso e relações sentimentais conturbadas. Continuou com trabalho, mas com pouca coisa digna de relevo.

Joanna Cassidy teve uma carreira regular mas com pouca coisa digna de destaque (excepção com “Who Framed Roger Rabbit?”).

Daryl Hannah seria uma bela sereia em “Splash” (ao lado de Tom Hanks), mostrar-se-ia à vontade em comédias, thrillers e policiais, tendo uma carreira muito regular (vimo-la nos dois Volumes de “Kill BIll”, de Tarantino).

Quem teve melhor destino foi mesmo Edward James Olmos. Andou pela televisão (“Miami Vice”) e por um cinema mais independente. Foi várias vezes premiado teve um momento de alta com a nova adaptação televisiva da série “Battlestar Galáctica”.

Blade Runner - Poster 3

O cinema continuou a interessar-se pelas obras de Philip K. Dick.

Vários filmes, com resultados desiguais (nas bilheteiras e na qualidade).

Entre as melhores:

  • “Total Recall” de Paul Verhoeven, com Arnold Schwarzenegger. Sob a mascara de um action thriller (alguém lhe chamou “Os Salteadores da Arca Perdida em Marte”), o filme mantém traços que são marca da obra de Dick (a identidade do indivíduo, dentro do sistema e sobre si próprio), sendo também uma parábola sobre o colonialismo e o capitalismo. Verhoeven confirma o seu estilo de cinema (brutal, violento, crítico) e Schwarzie mostra ser o rei neste género.
  • “Minority Report” de Steven Spielberg, com Tom Cruise. O filme coloca questões muito interessantes sobre o sistema judicial e penal (somos culpados depois de cometer o crime ou no momento em que o pensamos?), mas o filme alterna entre a acção vertiginosa (alguém falava que era um “Salteadores da Arca Perdida em formato sci-fi”) e o melodrama com lamechices sentimentais que fragilizam a premissa. Cruise não ajuda ao mostra-se desajustado a este género de cinema.
  • “Paycheck” de John Woo, com Ben Affleck. Volta-se a focar a identidade, agora no campo do conspiracy thriller. Não cumpre todas as possibilidades, mas o filme é honesto no seu objectivo de entretenimento de luxo. Affleck não tem grande à vontade no género, mas não se sai mal.
  • Como pérola suprema (há mesmo quem considere como a melhor adaptação cinematográfica de uma obra de Dick) está “A Scanner Darkly” de Richard Linklater, com Keanu Reeves. Belo uso da técnica motion capture (como foi visto em “Polar Express” e “Beowulf”), numa intriga labiríntica sobre a identidade.

 

Também há casos de modéstia:

  • “Screamers” de Christian Duguay, com Peter Weller. Tecnologia a revoltar-se contra o Homem, mas tal premissa serve apenas para um discreto, eficaz e modesto filme de terror em ambiente sci-fi.
  • “Impostor” de Gary Fleder, com Gary Sinise. “´O Fugitvo` do Futuro” (como alguém descreveu), aborda novamente o tema da identidade, mas trata de forma simples, não explorando todas as possibilidades, resultando num entretenimento simpático e eficaz, mas menor.

 

“Blade Runner” ficou como o título máximo (ou um dos títulos máximos, pois muito de bom no género se fez nessa época) do género nos 80`s.

A seu lado estão “Mad Max: The Road Warrior” (1981) de George Miller, “Escape fom New York” (1981), de John Carpenter (a meu ver, o melhor filme Sci-Fi de sempre – mas isso fica para outra discussão) “The Terminator” (1984) de James Cameron, “Robocop” (1987) de Paul Verhoeven. Quatro retratos (ou visões?) sobre o futuro da Humanidade e da sua relação (dependência?) com a tecnologia.

(ao longo da década ainda podemos colocar pérolas e cult movies como “The Last Starfighter” em 1984 de Nick Castle, “The Hidden” em 1987 de Jack Sholder; há que não esquecer essas outras obras-primas que são “E.T. – The Extra-Terrestrial” em 1982 de Steven Spielberg, “Back to the Future” em 1985 de Robert Zemeckis – mas são filmes de outro género de Sci-Fi)

 

Os anos seguintes tiveram alguns títulos que rivalizaram em impacto e mérito.

Os 90`s tiveram os gloriosos “Total Recall” (o pujante aspecto visual do filme impressionou muita gente; o argumento é bem sinuoso) e “Strange Days” (de Kathryn Bigelow, com argumento de James Cameron; levou muita gente a considerá-lo “O ´Blade Runner` dos anos 90”). Cada um andou perto (em termos de impacto) mas tinham objectivos e temáticas diferentes. Comum a todos é o culto crescente com a passagem do tempo.

 

Os primeiros anos deste novo século tiveram dois títulos com alguma filiação, mas com resultados díspares – “Artificial Intelligence” (2001) de Steven Spielberg e “I, Robot” (2004) de Alex Proyas.

O título de Spielberg volta a focar o futuro da Humanidade face à tecnologia (desta vez, a possibilidade de se criarem crianças artificiais, com notáveis capacidades de se humanizarem, para “adopção” a casais que não podem ter filhos) e o “toque Spielberg” dá-lhe um ar de “Pinóquio de ficção científica” (a criança-humanóide tem como sonho ser uma criança verdadeira). O filme também coloca a questão sobre o que é ser humano (no filme, acabam por ser mais humanos os humanóides que os membros da raça homo sapiens). É, talvez, o título que mais se aproxima do de Scott.

“I, Robot” mostra a humanização dos Robots e como estes, ao descobrirem a evolução da sua inteligência e a dependência do Homem face a eles, decidem tomar o mundo nas suas mãos. O argumento baseia-se (muito ligeiramente) num livro Isaac Asimov (outro importante escritor do género, que muito focou este tema na sua obra), brilha pelo (impecável) aspecto visual, mas peca pela ligeireza do argumento (fica-se como um mero whodunit com robots) e pela prestação de Will Smith (cujas tiradas humorísticas fiéis ao seu estilo não estão de acordo com a história).

 

“Blade Runner” merece tudo o culto que tem e o que mais vier. O culto manter-se-á até ao fim dos tempos, vai ser um daqueles títulos em permanente (re)descoberta por gerações sucessivas de cinéfilos. Em 2019, ou mais tarde, saberemos se o filme foi profético ou apenas “filme”. O visual do filme em nada foi ultrapassado (reflexo do enorme perfeccionismo que Scott tem nesta área – pena que andasse “diluído” durante tantos anos). O trabalho de Ford e de todos os restantes actores é puro ouro (e mesmo assim, é consensual que Scott deu-lhes pouca atenção). O argumento usa elementos do Film Noir (o anti-herói relutante na sua nova missão, passado algo obscuro, uma sociedade com regras nas quais ele não se insere), da ficção científica clássica (futuro obscuro para o Homem, o “lado negro” da tecnologia, a desumanização da sociedade, os desastres ecológicos), bem como uma série de questões filosóficas sobre o Homem, a Criação e a Existência (os Replicants tentam encontrar o seu criador, que se pode ver como uma parábola sobre a relação do Homem com Deus e a busca de resposta sobre a sua condição no mundo).

 

Com as permanentes (re)descobertas que o filme tem tido, as discussões sobre este e aquele aspecto não fazem mais do que continuar e reflectir aquilo que o filme é – uma jornada sobre perguntas e a procura de respostas.

É também tudo isto que o filme tem gerado entre os cinéfilos.

É esta também a Magia do Cinema.

É este o poder de “Blade Runner”.

 

Long Live ”BLADE RUNNER”.

 

Blade Runner - Poster 9

 

Orçamento – 28 milhões de Dólares

Bilheteira – 32 milhões de Dólares

 

Trailers

 

Cenas apagadas

 

A banda sonora de Vangelis

 

Blade Runner - Poster 7

Nomeado para “Melhor Cenografia” e “Melhores Efeitos Visuais”, nos Oscars 1983. Perdeu, respectivamente, para “Gandhi” (???) e “E.T. – The Extra-Terrestrial” (!!!).

Nomeado para “Melhor Banda Sonora”, nos Globos de Ouro 1983. Perdeu para “E.T. – The Extra-Terrestrial”.

“Melhor Fotografia”, “Melhor Cenografia”, “Melhor Guarda-Roupa”, nos BAFTA 1983.

“Melhor Special Edition em DVD”, nos Prémios Saturn 2008.

“Melhor Lançamento em Video”, nos Prémios Saturn 1994.

Nomeado para “Melhor Actor Secundário” (Rutger Hauer), “Melhor Realizador” e “Melhores Efeitos Visuais”, nos Prémios Saturn 1983. Perdeu, respectivamente, para Richard Lynch em “The Sword and the Sorcerer” (???), Nicholas Meyer por “Star Trek II: The Wrath of Khan” (???) e “E.T. – The Extra-Terrestrial” (!!!).

Nomeado para “Melhor Filme”, no FantasPorto 1983. Perdeu para “Scanners” (de David Cronenberg).

Nomeado para “Melhor Filme”, no FantasPorto 1993. Perdeu para “Braindead” (de Peter Jackson).

“Melhor Edição em DVD/Blu-Ray”, nos Prémios Golden Schmoes 2007.

“Melhor Filme”, nos Prémios Hugo 1983.

“Prémio Especial”, pelos Críticos de Londres 1983.

“Melhor Fotografia”, pelos Críticos de Los Angeles 1982.

“Filme a Preservar”, pela National Film Preservation Board USA 1993.

Blade Runner - Poster 5

Philip K. Dick inspirou-se enquanto fazia uma investigação para o livro “The Man in the High Castle” (o livro está editado em Portugal e tem uma excelente adaptação televisiva, com produção de… Ridley Scott). Dick teve acesso a uma série de documentos da Gestapo e ficou horrorizado com o que leu e interrogou-se até que ponto os homens daquela unidade eram humanos, se não mesmo criaturas a parecerem humanos.

 

Em 1968, Dick idealiza a adaptação cinematográfica do seu livro – Gregory Peck (Deckard), Dean Stockwell (Sebastian) e Grace Slick (Rachael).

 

Em 1969, Martin Scorsese e Jay Cocks falaram com Dick sobre uma adaptação do seu romance ao Cinema. Nada avançou.

 

Um primeiro argumento foi escrito por Robert Jaffe. Mas Dick rejeitou-o e odiou-o, pois era uma comédia.

Blade Runner - backstage - Ridley Scott directing - 1

Ridley Scott chegou a rejeitar fazer “Blade Runner”, pois já estava comprometido com “Dune” (1984, que seria feito por David Lynch) e estava a preparar “Tristan & Isolde” (que ele produziria em 2006 para Kevin Reynolds). Michael Apted, Bruce Beresford e Adrian Lyne foram sondados, mas rejeitaram. Robert Mulligan chegou a estar convocado, mas saiu de cena devido a conflitos criativos com Hampton Fancher (um dos argumentistas). Scott sai de “Dune” (muitos atrasos) e aceita “Blade Runner”. Scott tinha perdido um irmão e sabe-se que o estado de espírito do cineasta foi determinante no tom do filme.

 

Dustin Hoffman chegou a ser a escolha prioritária para interpretar Deckard. Mas o actor queria fazer do personagem algo diferente do que Scott tinha em mente. Até se chegar a Ford, foram ponderados actores como Tommy Lee Jones, Gene Hackman, Sean Connery, Jack Nicholson, Paul Newman, Clint Eastwood, Arnold Schwarzenegger, Al Pacino, Burt Reynolds, William Devane, Raul Julia, Scott Glenn, Frederic Forrest, Robert Duvall, Judd Hirsch, Cliff Gorman, Peter Falk, Nick Nolte, Christopher Walken e Martin Sheen.

Debbie Harry chegou a ser uma escolha para Pris.

Scott queria Monique van de Ven para Pris. Monique já tinha trabalhado com Rutger Hauer em “Turkish Delight” (1973) e Scott tinha ficado muito bem impressionado com ela.

Dick queria Victoria Principal (muito popular na série “Dallas”) como Rachael. O rol final só considerou três – Sean Young, Nina Axelrod e Barbara Hershey. Scott preferiu Young.

Grace Jones foi considerada para ser Rachael.

Joe Pantoliano foi considerado para Sebastian.

Pete Townshend foi convidado para fazer a banda sonora, mas recusou depois da má experiência em “Tommy” (1975).

Blade Runner - backstage - Ridley Scott directing - 2

Scott escolheu Rutger Hauer sem o conhecer. O cineasta gostou de o ver em “Turkish Delight” (1973), “Keetje Tippel” (1975) e “Soldier of Orange” (1977) – todos de Paul Verhoeven – e chamou-o imediatamente.

Scott teve de lutar pela escolha de Sean Young. Scott viu nela qualquer coisa ao nível de Vivien Leigh.

Scott queria que Rick Deckard se vestisse como um detective dos anos 40. Mas mudou de ideias depois de ver Harrison Ford em “Raiders of the Lost Ark” (1981), pois não queria que o actor se repetisse.

Blade Runner - screenshot 10

Dick sempre elogiou as escolhas sobre Ford e Hauer.

 

Moebius foi convidado a participar no filme, mas o artista teve de rejeitar por estar ocupado com outro filme (“Les Maîtres du Temps”).

A ideia de Syd Mead para uma Los Angeles futurista envolvia mais prédios monumentais, muitas auto-estradas e carros. Mas por razões de orçamento, algumas dessas ideias tiveram de ser canceladas. Scott achou que muita chuva, escuridão e fumo ajudariam na atmosfera.

 

Hampton Fancher escreveu o argumento em 1977.

Fancher escreveu os personagens de Deckard e Tyrell a pensar, respectivamente, em Robert Mitchum e Sterling Hayden.

Fancher tinha um argumento rico que muito agradou a Scott, mas este chama David Webb Peoples para o tornar menos “cerebral” e mais acessível.

Quando Peoples é chamado para “polir” o argumento de Fancher, este sai de cena. Os seus receios ao trabalho de Peoples revelaram-se sem sentido – Fancher gostou das mudanças e tornou-se amigo de Peoples.

Uma das ideias de Peoples era abordar uma guerra onde se foca a relevância dos Replicants. A ideia ficou de fora, mas Peoples usaria tal em “Soldier” (1998, estimável sci-fi actioner de Paul W.S. Anderson, com Kurt Russell), que ele considera como uma “side-quel” a “Blade Runner”.

O argumento inicial de Fancher falava em questões complexas como Deus, Criação e Mortalidade. Deckard é mesmo humano. O sexto Replicant surge (é uma fêmea). Os Replicants matam humanos sem razão. Rachael mata-se. Deckard pondera suicidar-se num deserto, mas ganha vontade de viver ao ver uma tartaruga. Novas alterações levam a um final onde Deckard mata Rachael, depois de a levar a uma zona rural.

Com as primeiras alterações de Peoples, Tyrell revela-se um Replicant, Deckard descobre que Gaff é um Replicant e mata-o, Deckard e Rachael fogem e chegam a uma zona costeira.

Blade Runner - backstage

De acordo com o argumento inicial, o confronto final entre Roy Batty e Rick Deckard seria num ginásio, numa luta de artes marciais. Hauer (Batty) rejeitou a ideia.

O argumento inicial incluía uma cena de amor entre Deckard e Rachael, mas Scott rejeitou-a.

Scott planeou uma cena incial, plena de acção, onde se mostrasse o lado duro e cruel de Deckard – este está num local, a comer uma sopa; um homem entra e é abatido implacavelmente por Deckard; este tira-lhe a mandíbula e a vítima revela-se um Replicant.

 

O livro de Dick fala em Androids ou Andies. O filme trata-os como Replicants. A ideia veio da filha de Peoples, que estava a estudar replicação de células para efeitos de clonagem.

O livro de Dick passa-se em 1992 (o livro é editado em 1968). O filme passa-se em 2019.

 

Scott considerou filmar em Hong Kong.

 

Títulos considerados – “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, “Android”, “Mechanismo”, “Dangerous Days” e finalmente “Blade Runner” (vindo de um conto de William S. Burroughs).

 

Scott nunca se sentiu bem nas filmagens, notando fortes contrastes com a forma de filmar/produzir na Inglaterra (o seu país oriundo e onde tinha filmado “The Duellists” e “Alien”) – questões de sindicados, regras diferentes, intromissão de produtores e financiadores. Scott deu-se mal com os seus camera operators americanos, pois estes tinham regras diferentes das dos ingleses.

O perfeccionismo de Scott originou vários conflitos e atrasos – Scott pediu alterações nos sets e na iluminação. Tal originou subida do orçamento, o que muito incomodou estúdio e produtores.

 

Scott e Jordan Cronenweth (o Director of Photography) conseguiram um determinado efeitos nos olhos dos actores recorrendo a uma técnica desenvolvida por Fritz Lang, denominada “The Schüfftan Process”- os olhos dos actores são “iluminados” por um espelho que está a cerca de 45 graus da câmara.

Cronenweth já estava com a sua doença (Parkinson) em estado muito avançado. Apesar das (enormes) dificuldades (principalmente no final das filmagens), Cronenweth levou o seu trabalho até ao fim.

 

Hauer lançou muitas ideias para o seu personagem e até improvisou lines – “All those moments will be lost in time… like tears in rain” é uma delas (e uma das mais memoráveis do filme. “All Those Moments” é o título da sua autobiografia.

Blade Runner - screenshot 23

Joanna Cassidy sentia-se à vontade com a cobra pois era o seu animal de estimação.

Blade Runner - backstage - Ridley Scott and Harrison Ford - 2

Scott e Ford entraram em conflitos criativos logo desde o início.

Ford não gostou que Scott desse mais valor ao lado visual do filme e descurasse atenção aos actores e personagens.

Scott estava muito empenhado no lado visual do filme e procurou ter excelentes actores, para não ter preocupações em dirigi-los.

Ford era contra a ideia de Deckard ser um Replicant (Ford achava que a história era sobre Deckard a redescobrir a sua humanidade). Scott gostava da ideia.

 

Muita da crew referia-se ao filme como “Blood Runner”.

Blade Runner - screenshot 29

O penteado de Rachael é inspirado no usado em “Anna Karenina” (1935).

Blade Runner - screenshot 38

O make-up de Daryl Hannah era inspirado em ”Nosferatu”(1979).

A arma de Deckard inspira-se numa arma criada pela Steyr-Mannlicher.

 

Alguns dos efeitos sonoros e de computador vistos nos carros vêm de alguns usados em “Alien” (1979, de… Ridley Scott).

 

O apartamento de Deckard inspira-se num apartamento desenhado por Frank Lloyd Wright.

O The Bradbury Building (onde vive Sabastian) já é um ícone em Hollywood e já foi visto em diversos filmes – “D.O.A.” (1950), “M” (1951), “I, The Jury” (1953), “Indestructible Man” (1956), “Good Neighbor Sam” (1964), “Marlowe” (1969), “The Night Strangler” (1973), “Chinatown” (1974), “Avenging Angel” (1985), “Murphy`s Law” (1986), “Wolf” (1994), “Disclosure” (1994), “Lethal Weapon 4” (1998), “Pay It Forward” (2000), “(500) Days of Summer” (2009), “The Artist” (2011). Na altura de “Blade Runner”, o edifício estava em más condições, o que até deu jeito paras as cenas em causa.

 

O “The Voight-Kampff Test” vem de um teste desenvolvido por Alan Turing (o matemático de Cambridge que descodificou o código Enigma desenvolvido pelos nazis) – chamava-se “The Imitation Game” (há um par de anos surgiu um filme com este título, dedicado à obra de Turing na descodificação do tal código) e está no princípio da criação da “Inteligência Artificial”.

 

Na cena em que Deckard encontra a pele de cobra, ele é interpretado por Vic Armstrong. Ford não estava disponível na altura. Armstrong seria por várias vezes stunman de Ford, dadas as imensas semelhanças físicas.

Na cena em que Deckard impede Rachael de sair do apartamento, Ford foi demasiado violento com Young. A sua expressão facial na cena só o confirma. O actor procurou compensar tal dano ao longo do resto das filmagens.

Numa cena em que Pris foge de Sebastian, Hannah chegou mesmo a embater num vidro, a parti-lo e a magoar-se. Tudo porque a actriz se enganou no seu rumo.

Hannah foi dobrada por um ginasta quando Pris ataca Deckard. Scott procurou filmar com uma mulher ginasta, mas foram tantos os takes, que a mulher ficou exausta.

O monólogo final de Roy Batty seria mais longo e técnico. Hauer decidiu improvisar.

Foi Hauer que deu a ideia de uma pomba voar depois do monólogo de Batty.

 

O set usado no climax foi usado no videoclip da canção “Tonight, Tonight, Tonight”, dos Genesis, em 1986.

A perseguição nos telhados envolveu uso de matte painting.

A cena final foi filmada poucas horas antes dos produtores despedirem Scott.

Os planos finais do filme (no seu Theatrical Cut) vinham de planos rejeitados por Stanley Kubrick para “The Shining” (1980).

 

Devido ao facto do filme ter ultrapassado o orçamento, Scott e Michael Deeley (o seu produtor) foram despedidos na fase de post-production. Por imposição de Alan Ladd Jr. (o chefe máximo do estúdio), Scott e Deeley foram reconvocados.

 

O primeiro cut do filme tinha cerca de 4 horas. Muitos elementos de cast & crew, apesar de considerarem o filme lindo e grandioso, comunicaram a Scott que o filme estava demasiado complexo, necessitava de uma remontagem e uma voice-over.

O estúdio não gostou do final original (demasiado aberto e ambíguo) e pede um mais feliz e positivo. Scott contacta Kubrick que lhe cede footage não usada em “The Shining” (1980).

Depois de um par de preview screenings, percebe-se que o público acha o filme algo incompreensível. Os produtores decidem recorrer à voz off (Ford achou que foram palhaços que escreveram o texto de tal sector) e mudar o final (passou a ser “feliz”). Scott queria que a voz off explicasse a filosofia e mentalidade de Deckard em certos momentos, os produtores queriam que esse recurso explicasse certas coisas, eventos e personagens.

Blade Runner - backstage - Ridley Scott and Philip K. Dick

Dick só conseguiu ver cerca de 20 minutos de filme. Ele faleceu em Março de 1982 e não conseguiu ver o filme completo. Dick gostou do que viu e achou que Scott tinha capturado na perfeição o mundo, ideias e tom do seu livro. Curiosamente, Scott e Peoples não tinham lido o romance do escritor.

 

Muitas são as mudanças do filme face ao livro:

  • O livro passa-se em San Francisco em 1992. O filme passa-se em Los Angeles em 2019.
  • O livro refere a guerra que afectou o mundo. O filme é mais subtil.
  • No livro, fala-se em androids. No filme, eles são referidos como replicants ou skinjobs.
  • No livro, a empresa é a The Rossen Association. No filme, é a The Tyrell Corporation. O dono só muda o apelido – de Eldon Rossen passa a Eldon Tyrell.
  • No livro explica-se a necessidade da Humanidade se mudar para Marte. No filme a explicação é mais curta e subtil.
  • No livro foca-se o status social através de ter um animal real. No filme isso é omitido, mas fala-se da raridade de animais reais.
  • No livro, Deckard é casado e tem uma ovelha-robot. No filme isso não acontece.
  • No livro a unidade que persegue os Replicantes é a “Rep Detect” (“Replicants Detection”). No filme são designados como “Blade Runners”.
  • O livro fala de uma organização de Replicants. No filme isso é ignorado.

 

O filme estreia num excelente ano para a Sci-Fi – “E.T – The Extra-Terrestrial”, “John Carpenter`s ´The Thing`” e “Blade Runner”. Todos são títulos de culto, clássicos absolutos, obras-prima de Cinema, títulos altamente aclamados e influentes. Mas só o filme de Spielberg conseguiu ser um sucesso nas bilheteiras. Os filmes de Scott e Carpenter estrearam demasiado próximos ao filme de Spielberg e deram-se mal por isso (mas tudo mudaria com a passagem do tempo).

 

Muita gente viu o filme como um Film Noir futurista (denominado como Future Noir) – o protagonista é uma espécie de Private Investigator (a forma como se veste), há recurso à voz off, há uma Femme Fatale, há ambiguidade moral, há fotografia em tom chiaroscuro.

 

William Gibson (reputado teórico, filosófico e escritor de sci-fi) estava a preparar o livro “Neuromancer”. Ao ver o filme, ficou impressionado pelas muitas semelhanças.

 

Surgiram dois jogos (para Commodore 64, Sinclair ZX Spectrum e Amstrad) – um em 1985 e outro em 1997.

O jogo de 1997 tinha uma acção em paralelo à do filme – Sean Young, James Hong, William Sanderson, Joe Turkel e Brion James deram voz e forma aos seus personagens. O jogo fala também de Dekard, Holden, Gaff e Bryant.

 

Scott considera “Blade Runner” como o seu filme mais pessoal e complexo.

É o seu filme preferido.

Scott considera “Blade Runner” como um filme de entretenimento e nunca procurou fazer um filme esotérico.

O filme é dedicado a Frank Scott, irmão de Ridley, falecido em 1980.

“Blade Runner” é o filme preferido de Hauer.

Hauer comprou um iate com o seu salário deu-lhe o nome de “The Bladerunner”.

Ford considera o filme como um dos seus trabalhos mais frustrantes, devido aos conflitos e às mudanças constantes.

Durante muitos anos, Ford recusou-se a falar sobre o filme (sabe-se de mau relacionamento com Scott, o quanto esteve contrariado a fazer voz off). Mas em 2007, para o documentário sobre o filme (inserido na Special Edition em DVD e Blu-Ray), Ford afirmou que tudo já era passado.

Blade Runner - backstage - Ridley Scott and Harrison Ford

O cut mostrado em 1992 tinha sido descoberto uns anos antes. Houve quem achasse que era um cut para outros países, houve quem achasse que era o Director`s Cut (assim foi estreado no mundo, na altura). Scott nunca afirmou tal e sempre defendeu que o seu cut precisava de reajustes. Tal só ocorreu em 2007 e deu-se-lhe a indicação de ser o “The Final Cut”.

 

Fizeram-se vários documentários – “On the Edge of Blade Runner” (2000, 55 minutos, de Andrew Abbott; abordava o processo de pre-production), “Future Shocks” (2003, 27 minutos; eram entrevistas com produtores, membros do cast e da crew), “Dangerous Days: Making Blade Runner” (2007, 213 minutes, de Charles de Lauzirika; documentário muito elaborado sobre a produção do filme, com conversas com praticamente todos os principais envolvidos, à frente e atrás das câmaras), “All Our Variant Futures: From Workprint to Final Cut” (2007, 29 minutos, de Paul Prischman; uma visão sobre os diversos cuts).

 

K.W. Jeter, amigo de Dick, escreveu três livros que continuavam a saga de Rick Deckard – “Blade Runner 2: The Edge of Human” (1995), “Blade Runner 3: Replicant Night” (1996) e “Blade Runner 4: Eye and Talon” (2000).

 

Roger Ebert (prestigiado crítico de Cinema) deu nota negativa ao filme, na época da estreia. Mudaria de ideias com o tempo e já tem o filme na sua lista de “Great Movies”.

O filme é uma enorme influência sobre muitos e relevantes cineastas – Christopher Nolan, Guillermo del Toro, Frank Darabont e Tony Scott (irmão de Ridley).

 

Está nos “1001 Movies You Must See Before You Die”, de Steven Schneider.

É o #9 nos “Top 50 Cult Films of All-Time”, da “Entertainment Weekly”.

Em 2000, o “Moviemail” elege “Blade Runner” como o quarto melhor filme de sempre.

Em 2000, a BBC elege “Blade Runner” como o segundo melhor filme de sempre.

Em 2001, a “Empire” elege “Blade Runner” como o 16º melhor filme de sempre.

Em 2002, o Channel 4 elege “Blade Runner” como o oitavo melhor filme de sempre.

Em 2002, a Online Film Critics Society elege “Blade Runner” como o segundo melhor filme de Ficção Científica de sempre.

Em 2002, a “Wired” elege “Blade Runner” como o melhor filme de Ficção Científica de sempre.

Em 2002, a “Sight & Sound” elege “Blade Runner” como o sétimo melhor filme dos últimos 25 anos.

2004, o “The Guardian” elege “Blade Runner” como o melhor filme de Ficção Científica de sempre.

Em 2007, o American Film Institute (que foi sempre algo reticente a colocar filmes de sci-fi na sua lista de 100 melhores) elege “Blade Runner” na posição 97 dos melhores de sempre.

Em 2007, a “Empire” elege “Blade Runner” como o melhor filme de Ficção Científica de sempre.

Em 2007, a Visual Effects Society elege “Blade Runner” como o segundo filme mais influente do ponto de vista visual.

Em 2008, a “New Scientist” elege “Blade Runner” como o melhor filme de Ficção Científica de sempre.

É o terceiro melhor filme de sempre, pela The Screen Directory.

É o melhor filme de Ficção Científica de sempre, pala Futurist Movies.

Blade Runner 2049 - Poster 5

Scott sempre ponderou fazer uma sequela.

Ela acontece.

“Blade Runner 2049” chega às salas a 5 de Outubro de 2017. Scott produz (não realizou por estar ocupado com “Alien: Covenant”). Harrison Ford regressa. Ryan Gosling protagoniza. O filme promete revelar qual o destino de Deckard e Rachael, mais detalhes sobre os Replicants e a Tyrell Corporation, bem como a resolução da dúvida sobre Deckard (é humano ou um Replicant?). Denis Villeneuve realiza e o argumento é escrito por Hampton Fancher (co-argumentista de “Blade Runner”) e Michael Green.

 

Trailers

 

Sites

https://www.warnerbros.com/blade-runner

http://wwws.warnerbros.fr/bladerunner/

https://br-insight.com/library/

 

Sobre Syd Mead

http://sydmead.com/v/12/

 

Sobre Philip K. Dick:

(muitos dos seus livros estão a ser editados em Portugal pela “Relógio d`Água” – “Do Androids Dream of Electric Sheep”, o romance que inspira “Blade Runner” já está editado no nosso país)

https://www.goodreads.com/author/show/4764.Philip_K_Dick

http://www.philipkdickfans.com

 

Como fazer os Origami do filme

http://www.gamesradar.com/want-to-make-your-own-blade-runner-origami-unicorn-heres-how/

Blade Runner - Poster 10

One comment on “Perigo Iminente (1982)

  1. […] Runner” (já aqui visto) é um dos filmes […]

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