Já chegou às salas “Alien: Covenant”.
É o episódio 2 da nova trilogia-prequela a “Alien”.
Um bom motivo para regressarmos ao início desta nova fase.
Uma dupla de cientistas descobre sinais que a Terra já foi visitada por extra-terrestres. A descoberta mostra-lhes também um mapa que os leva ao seu planeta de origem.
Mas o que lá encontram, em vez de explicar as nossas origens pode é ser a raiz do nosso fim.
Em 1979, surgia nas salas um filme que prometia que “No Espaço, Ninguém Ouve Os Seus Gritos”.
Era “Alien” e fazia uma perfeita fusão de sci-fi com terror clássico (alguém disse que era uma versão espacial do tema da casa assombrada). Grande sucesso, estatuto de culto e clássico, revelação de um promissor cineasta (que o futuro confirmaria o seu talento, apesar de algumas gafes) e a apresentação a uma das mais assustadoras e relevantes criaturas da História do Cinema.
Fizeram-se 3 sequelas (só a primeira supera o original – “Aliens”, de James Cameron) e 2 spin of (a saga “Alien Vs. Predator”).
Há uns anos, começou-se a falar em prequela para explicar como a criatura surgiu naquele planeta, de onde (e/ou porque) veio e quem (ou o que) era o dito Space Jockey (aquela enorme criatura que vemos sentada num “cadeirão” num momento de “Alien”).
Pois bem, eis a dita prequela que promete explicar “tudo” isso.
Foi também o regresso de Ridley Scott à sci-fi (algo que não fazia há 30 anos, com o emblemático “Blade Runner” – sequela em Outubro de 2017).
Assim sendo, 33 anos depois de se ter iniciado, eis o “regresso” da saga “Alien”.
Apesar de dar (algumas) explicações sobre esse alguns elementos desse filme, “Prometheus” envereda por novos caminhos.
“Prometheus” foge ao terror (mas tem momentos de fazer muito espectador saltar na cadeira e roer as unhas), à acção (mas há intensos momentos de confrontação), ao simples espectáculo (mas é um primoroso festim visual, com muitos momentos memoráveis) e à já tão conhecida ideia que tudo o que é alienígena só nos quer mal (mas dá-nos uma “razão” para tal hostilidade).
Na verdade, “Prometheus” distancia-se do muito que caracterizou a saga “Alien”, sabendo, inteligentemente, ser condescendente com os fãs através de piscadelas de olho a momentos do clássico de Scott (a tripulação diversa, a situção da quarentena, o uso do lança-chamas, o “nascimento” da criatura, o relatório final).
O que “Prometheus” nos propõe é uma viagem. Às crenças, dúvidas, perguntas, mistérios e (possíveis) respostas que a Humanidade tem desde sempre.
O argumento é complexo e propõe um desafio intelectual a questões científicas, religiosas e filosóficas. É convidativo ao debate e reflexão após o genérico final.
Mas não se pense que “Prometheus” é um “filme-tese”. “Sir” Ridley regressa ao seu melhor e assina a sua primeira obra-prima desde “Blade Runner” (bolas, “Sir” Ridley, porque tivemos de esperar tanto tempo?). Perfeccionismo total no planeamento visual (Scott sabe mesmo compor imagens), na atmosfera, no uso dos efeitos e do 3-D (“Prometheus” junta-se assim a “Avatar”, “Tintin” e “Hugo”, como os filmes que melhor souberam utilizar tal formato), com o devido cuidado no argumento.
O elenco (e personagens) não igualam o de “Alien”, mas deve-se dar mérito a uma determinada Noomi Rapace (que compõe uma digna antecessora de Ellen Ripley, mas mais espiritual), um impressionante Michael Fassbender (com um humanóide ainda mais perfeito que humanos, mas de atitudes e moral muito dúbias) e uma inquietante Charlize Theron (as suas aparições, movimentações e roupa suscitam muitas dúvidas).
“Prometheus” entretém, assombra e faz reflectir. É pouco, para um blockbuster?
Foi um dos melhores filmes desse ano e só nos fazia ansiar (muito) pela sequela.
Obrigatório.
Gritem muito, pois longe da Terra ninguém ouve os vossos gritos.
“Prometheus” tem edição portuguesa e anda a bom preço. O mesmo se aplica noutros mercados.
Realizador: Ridley Scott
Argumentistas: Jon Spaihts, Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba, Guy Pearce, Logan Marshall-Green, Sean Harris, Rafe Spall
Trailer
Site – http://www.projectprometheus.com
Orçamento – 130 milhões de Dólares
Bilheteira – 126 milhões de Dólares (USA); 403 (mundial)
Nomeado para “Melhores Efeitos Visuais”, nos Oscars 2013. Perdeu para “Life of Pi”.
Nomeado para “Melhor Filme de Ficção Científica”, nos Saturn 2013. Perdeu para “The Avengers”.
“Melhor Banda Sonora”, nos Prémios ASCAP Film and Television Music 2013.
“Melhor Actor” (Michael Fassbender), nos Prémios CinEuphoria 2013.
“Melhor Actor Secundário” (Michael Fassbender), nos Prémios Fright Meter 2012.
“Melhor Cenografia”, pelos Críticos de Las Vegas 2012.
O projecto data do início deste século, quando Ridley Scott e James Cameron começaram a discutir ideias para um novo filme da saga. Ambos concordaram numa prequela.
Mas o início da saga “Alien v Predator” levou os dois cineastas a abandonarem o projecto.
Até que Scott voltou a mostrar interesse, no final da década passada.
No início, “Prometheus” (mas com o título de “Alien: Engineers”) era uma prequela directa a “Alien”.
Passava-se no mesmo planeta onde decorre parte da acção desse filme.
David é mais hostil aos humanos e chega a ajudar os Engenheiros a matar a tripulação humana.
Elizabeth é contaminada e chega a ficar “grávida”. Consegue remover a criatura e esta fica à solta na nave, crescendo e matando elementos da tripulação.
O final é mais ambíguo.
Os executivos da Twentith-Century Fox (estúdio produtor da saga) não queriam tantos paralelismos com os filmes anteriores e pretendiam que esta nova saga tivesse alguma autonomia narrativa. Damon Lindlof foi então contratado para reescrever o argumento.
Scott quis fazer um filme que explicasse quem era o space jockey encontrado em “Alien”.
Scott deu a ideia que um dos Engenheiros viesse à Terra, no sentido de acabar com o Mal da Humanidade, sendo crucificado por tal. Mas a ideia foi abandonada por ter demasiados paralelimos com a vida de Cristo.
O argumento baseia-se nas ideias do livro “Chariots of the Gods”, de Erich Von Daniken. O livro aborda a possibilidade da Terra já ter sido visitada por extra-terrestres, que até deram uma “mãozinha” na nossa criação. As ideias do livro já inspiraram o filme “Stargate”.
Sobre Von Daniken – http://www.daniken.com/e/index.html
Uma versão do argumento previa que Peter Weyland teria um gabinete, numa colónia de Marte. A ideia foi abandonada por questões de ritmo.
O filme passa-se entre 2089 e 2093 – 37 anos antes dos eventos de “Alien”.
Gemma Arterton, Carey Mulligan, Olivia Wilde, Anne Hathaway, Abbie Cornish e Natalie Portman foram ponderadas como protagonista.
Charlize Theron ia ser a protagonista. Mas compromissos impediram-na a tal. Devido a alterações neles, a actriz ficou livre, mas Noomi Rapace já estava escolhida.
Michelle Yeoh e Angelina Jolie foram ponderadas para a personagem que seria entregue a Charlize Theron.
Theron teve dificuldades nalgumas cenas de acção, pois a dinâmica física exigida era incompatível com o seu hábito de fumar.
Scott pediu a Theron para estar sempre nos cantos dos locais e mexer-se de forma misteriosa e ameaçadora.
Scott queria Max von Sydow para o personagem que seria entregue a Guy Pearce. Rutger Hauer chegou a ser também ponderado.
Michael Fassbender viu filmes como “Blade Runner”, “The Man Who Fell to Earth”, “The Servent” e “Lawrence of Arabia”, para preparar o seu personagem.
H.R. Giger, que desenhou a criatura Alien, está de regresso e assina o desenho de alguma cenografia e criaturas. Giger faleceu em 2014, pelo que esta é a sua última colaboração na saga “Alien”.
O design para os Engenheiros é inspirado nas obras de J.W. Turner e William Blake, bem como nas estátuas da Liberdade e a de David.
Desde o início que Scott queria fazer um filme duro, incómodo e para adultos. O estúdio não interferiu.
Tal como em “Alien” e “Blade Runner”, Scott procurou utilizar o máximo de efeitos visuais on set. O uso de efeitos digitais foi mínimo.
Inteiramente filmado em 3-D. Como filmar em 3-D requer uma luminosidade maior que as filmagens convencionais, todo o visual dark típico da saga foi criado na fase de pós-produção.
Para uma cena, Scott não informou uma actriz sobre o que iria emergir de um corpo. Assim, a reacção da actriz é totalmente honesta e natural.
A criatura que é removida de um úturo vinha dentro de um preservativo, que iria “explodir” quando fosse removido – um brilhante exemplo de practical effects.
Marc Streitenfeld pôs a sua orquestra a tocar a música do filme do fim para o princípio. Depois, Marc fez uma reversão. Isto deu à música um tom estranho e bizarro, adequado ao filme.
Ao longo da saga, os andróides seguem nomes por ordem alfabética – Ash em “Alien”, Bishop em “Aliens” e “Alien 3”, Call em “Alien Resurrection” e David em “Prometheus”.
“Prometheus” chegou a fazer estragos. A muito ansiada e prometida (mas sempre adiada) adaptação do livro de H.P. Lovecraft, “At The Mountains of Madness” (já editado em Portugal) foi cancelada (Guillermo del Toro seria o realizador). Tudo devido às (imensas) semelhanças narrativas com “Prometheus”.
Sobre esse livro – http://www.scifi.darkroastedblend.com/2009/02/h-p-lovecraft-at-mountains-of-madness.html
Scott logo pensou em sequela.
Ela deveria explicar o que se passa depois dos eventos de “Prometheus” e começar a levar a narrativa para “Alien”.
A sequela é “Alien: Covenant”. Scott volta a realizar e conta com as presenças de Katherine Waterston, Danny McBride, Demian Bichir, Callie Hernandez e Billy Crudup. Rapace, Fassbender e Pearce regressam.
Eis o trailer
A Dark Horse Comics criou uma saga, spin-off a “Prometheus”, que mantém elementos do filme e da saga (que a editora criou) “Alien v Predator”. Intitula-se “Fire and Stone”. Começou em Setembro de 2014.
Sobre o comic:
https://www.darkhorse.com/Books/25-651/Prometheus-The-Complete-Fire-and-Stone-HC
Sobre H.R. Giger, o designer da criatura de “Alien”:
O Museu Giger:
Imagens do trabalho de Giger:
[…] anos depois, eis a prometida sequela a “Prometheus” (já aqui […]