Título original – The Detective
E assim termina a jornada de Frankie pelo policial e pelo noir.
(ele regressaria, mas muitos anos depois)
Com grande nível.
Joe Leland, veterano police detective dos Homicídios, investiga o assassinato de uma importante figura da cidade, mas de comportamento homossexual.
Na investigação, Leland descobre toda uma trama que envolve ligações perigosas entre Polícia e Política, bem como alguns vícios dúbios.
Sólido policial urbano, onde conta mais o realismo, o detalhe, a emoção e relevância humana dos personagens em cena, do que os labirintos da trama ou a tradicional acção policial (perseguições, tiroteios).
É uma visão desencantada e nada heróica do mundo da Policia, acompanhando o quotidiano de um homem igualmente desencantado com o mundo que vive, investiga e combate.
O filme procura retratar com realismo o police detective work, mas dando sempre ênfase à psicologia e emotividade do protagonista.
Para este, acaba por ser mais importante lidar com a esposa e salvar o casamento do que a captura do criminoso ou a ascensão na carreira.
É precisamente neste “duelo” entre policial e drama que o filme encontra a sua (enorme) mais-valia.
Por outro lado o filme revela coragem – já se abordam temas complexos (e que começavam a ser modernos na sociedade da época) como a homossexualidade, a brutalidade e corrupção policial.
Frank Sinatra tem aqui uma das suas mais fortes e conseguidas interpretações da sua carreira, com um personagem duro e frágil (veja-se a forma como ele trata um suspeito homossexual, a emoção do desabafo com a esposa). Joe Leland é um polícia veterano, pleno de cansaço pela “evolução” do mundo moderno, tão duro com o criminoso como com o seu colega mais radical.
Lee Remick tem presença delicada, sentimental e de apoio.
Gordon Douglas dirige com garra e tom, tão atento à dureza da componente policial da narrativa como à tranquilidade da parte sentimental.
Provavelmente, o melhor policial que Sinatra fez.
Um digno “pai” de muito do melhor do policial moderno, fazendo excelente figura ao lado dos grandes momentos do género na época (“Bullitt”, “Madigan”, “Dirty Harry”).
Um clássico.
Obrigatório.
“The Detective” está editado em Portugal, mas não isolado. Faz parte de um pack (“The Frank Sinatra Collection – Volume 2”) onde constam os outros dois noir que Sinatra fez (“Tony Rome” e “Lady in Cement”). O preço anda bom.
Realizador: Gordon Douglas
Argumentista: Abby Mann, a partir do romance de Roderick Thorp
Elenco: Frank Sinatra, Lee Remick, Ralph Meeker, Jack Klugman, Lloyd Bochner, Tony Musante, Robert Duvall, Jacqueline Bisset
Orçamento – 4.5 milhões de Dólares
Mercado doméstico (USA) – 6.5 milhões de Dólares
Trailer
Gordon Douglas realizou os três filmes que Sinatra fez dedicados ao Noir – “Tony Rome” (1967), “Lady in Cement” (1968) e “The Detective” (1968).
Douglas já tinha dirigido Sinatra em “Young at Heart” (1954) e “Robin and the 7 Hoods” (1964, com o Rat Pack).
Frank Sinatra ia participar com a sua esposa Mia Farrow, mas esta estava presa a um outro filme que tinha atrasos nas filmagens (“Rosemary’s Baby”). Sinatra ficou furioso, chamou Jacqueline Bisset e meteu os papéis do divórcio.
Suzanne Pleshette e Barbara Parkins foram ponderadas.
Mark Robson ia realizar, mas Sinatra preferiu Gordon Douglas. Robson e Sinatra já tinham trabalhado juntos em “Von Ryan`s Express” (1965) e deram-se mal.
Primeiro filme de Tom Atkins e de Don Fellows.
Roderick Thorp escreveria uma sequela – “Nothing Lasts Forever”.
Nessa história, Joe Leland fica preso num arranha-céus, tomado por terroristas alemães, procurando salvar a filha e a neta.
A história é-vos familiar?
Não admira. É o romance que inspirou “Die Hard” (1988), um dos melhores, mais populares e renovadores filmes de sempre, no campo do action cinema.
Por razões legais e contratuais, Sinatra teve de ser o primeiro actor a ser convidado. Claro que o actor-cantor recusou (a idade!!! – 73 anos) e Bruce Willis foi chamado.
O resto é… História.
Curiosamente, o primeiro filme de Willis foi “The First Deadly Sin” (1980, de Brian G. Hutton, com Faye Dunaway), com… Frank Sinatra. É o filme que marcou o regresso de Frankie ao policial noir.
Lloyd Bochner participa em “The Detective” (e em “Lady in Cement”, mas com personagens diferentes). O seu filho, Hart Bochner, participa em “Die Hard”.