Título original – The Mechanic
É um dos grandes filmes e trabalhos do grande Charles Bronson.
Dirige Michael Winner, que dirigiu Charlie em muitos dos seus melhores filmes.
O filme teve um (entretido, mas inferior) remake há uns anos.
Há umas semanas chegava às salas a sequela desse remake.
Um bom motivo para se revisitar este clássico.
Um hitman tem de fazer parceria com um jovem ambicioso, sedento de saber e viver o que é ser um Mechanic.
Mas a parceria sofre um revés devido às agendas de cada um.
Qual vencerá?
Retrato frio sobre homens frios (o Mechanic simula uma vida sentimental recorrendo a serviços de uma call girl; o aprendiz celebra a morte do pai; a indiferença de ambos perante a tentativa de suicídio de uma rapariga), onde há espaço para a ética (a atitude do protagonista quando o alvo é um conhecido dele).
É também um duelo ético entre mestre e aprendiz (o veterano tem dog`s old tricks insuperáveis, o novato procura ficar com “o lugar do califa”), por onde passa uma certa ambiguidade sexual e moral, dando-se relevo ao fascínio do jovem pela vida assassina e à sabedoria do veterano.
O filme procura ser uma crónica sobre dois solitários fartos da sua solidão – o “professor” sente um vazio no isolamento emocional que a sua vida obriga e até procura apaziguar a sua consciência ao ter de treinar um “aluno”; o “aprendiz” é um rebelde com uma vida de vazio moral, que procura usar essa rebeldia numa vida de armas e morte.
Todo o potencial de tal não chega a ser explorado até ao limite (mais metragem dava jeito para explorar certos aspectos), mas ainda se consegue ser certeiro nalguns elementos (a forma como se trata, subtilmente, da paternidade perdida e o preenchimento de vazio existencial).
A certa altura dá-se um twist e o suspense surge pelo comportamento dos protagonistas, um face ao outro, perante os novos acontecimentos.
Final (ou dois?) surpresa, que resume bem a moral do duelo entre professor e aluno.
Charles Bronson (um tough guy e leading man a precisar de reavaliação e revalorização) em grande forma, criando um personagem frio e solitário, mas complexo e exímio. É uma das grandes criações de Charlie.
Jan-Michael Vincent está muito convincente, criando um jovem arrogante, sem valores, que confunde destreza com arrogância.
Michael Winner dirige de forma sóbria e fria, criando boas set pieces (a espectacular perseguição de motos, a perseguição e confrontação na estrada), dando ao filme um certo look europeu, à moda dos Polar dos 70s, tendo até boas ideias de mise en scène (os primeiros 15 minutos de filme – sem diálogo, ilustrando de forma exemplar o carácter minucioso e perfeccionista do método de trabalho do protagonista).
Um clássico da carreira de Charlie.
Um pequeno clássico do género.
Muito recomendável.
“The Mechanic” não tem edição portuguesa, mas pode ser encontrado noutros mercados, a preço já “mecanizado”.
Realizador: Michael Winner
Argumentista: Lewis John Carlino
Elenco: Charles Bronson, Jan-Michael Vincent, Keenan Wynn, Jill Ireland
Trailer
No argumento inicial, Lewis John Carlino tornava explícita a homossexualidade dos protagonistas. Os produtores viram isso como um obstáculo para contratar actores.
Carlino queria fazer um statement sobre as relações humanas e sobre a manipulação, mostrando um jogo de xadrez entre um veterano e um aprendiz.
George C. Scott chegou a ser sondado, mas recusou devido a essa temática sexual.
Numa primeira fase de produção, Cliff Robertson era Arthur Bishop (The Mechanic) e Jeff Bridges era Steve McKenna (o aprendiz).
O filme ia ser realizado por Monte Hellmann, que tinha vindo do êxito (apenas crítico) “Two Lane Blacktop”.
É o primeiro filme de Michael Winner em Hollywood. Ele e Bronson já tinha trabalhado juntos em “Chato`s Land” (1972). Voltariam a trabalhar juntos mais quatro vezes – “The Stone Killer” (1973), “Death Wish” (1974), “Death Wish 2” (1982) e “Death Wish 3” (1985).
Bronson tinha cerca de 50 anos de idade.
Vários locais emblemáticos de Hollywood surgem no filme – Manderville Canyon Ranch (que foi propriedade de Robert Taylor), Pasadena Mansion (usada como Wayne Manor na série televisiva “Batman”, de 1966), Hollywood Wax Museum e La Esperanza (uma mansão que foi propriedade de Greta Garbo).
Para a cena da perseguição de moto, as duas motos Husqvarna receberam modificações adequadas para a cena e para o terreno onde esta se passava.
Na época, o filme teve a mais elaborada e espectacular explosão já feita em Los Angeles. Explodiu-se um hotel já velhinho. Usaram-se cinco tanques de butano e 4 Kilos de pólvora.
As cenas de artes marciais foram reduzidas para evitar comparações com outras produções do género.
Body count – 25.
“Mechanic” é um termo usado no underworld USA, que designa assassino por contrato ou hitman.
O filme teria um remake. Feito em 2011, tinha o mesmo título, sendo realizado por Simon West, com Jason Statham, Ben Foster e Donald Sutherland. Lewis John Carlino também participou no argumento.
–