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Título original – Marlowe
Philip Marlowe é uma das grandes criações literárias de sempre (perfeitamente ao nível de Sherlock Holmes, Nero Wolfe, Hercule Poirot), fruto da imaginação do magnífico Raymond Chandler, provavelmente o escritor maior do género hardboiled noir.
Marlowe passeou-se também pela Televisão (uma muito agradável série com Powers Boothe, exibida nos 80s, a partir de pequenos contos de Chandler) e pela BD.
Claro que o Cinema não lhe poderia ficar imune.
Humphrey Bogart imortalizou-o (em “The Big Sleep”, de Howard Hawks, ao lado de Lauren Bacall) e Robert Mitchum deu-lhe rosto por duas vezes (a nova versão de “The Big Sleep” por Michael Winner, a nova versão de “Farewell My Lovely” de Dick Richards). Dick Powell (“Murder, My Sweet”), Robert Montgomery (“Lady in the Lake”) e Elliott Gould (“The Long Goodbye”, numa inesperada incursão pelo género por parte de Robert Altman) foram outros dos actores que recriaram Marlowe.
O personagem foi tendo sempre uma adaptação à evolução dos tempos, acompanhada pela mudança de rostos.
Eis uma versão adapta Marlowe/Chandler aos 60s.
James Garner dá rosto a Philip Marlowe.
Philip Marlowe é contratado por uma jovem mulher, no sentido de localizar o seu irmão.
A investigação do P.I. leva-o a cruzar-se com uma chantagem sobre uma estrela de Televisão e uma misteriosa clínica.
A trapalhada é grande, os meandros sinistros.
Mas que relação há nisto tudo e o desaparecido?
Uma entretida adaptação de Marlowe e Chandler, bem como dos arquétipos do Film Noir, aos 60s (e inícios dos 70s), à sua estética, moral e quotidiano.
A ideia de adaptar os códigos do Film Noir aos 60 não era nova – em 1966, surgia o excelente “Harper” (de Jack Smight, com Paul Newman), adaptação do personagem Lew Archer, criado por Ross MacDonald (considerado por muitos como o herdeiro de Chandler). O filme conseguia uma muito bem conseguida fusão entre os códigos do Film Noir clássico e a estética 60s.
A “Marlowe” faltou mais punch e estilo na encenação – o filme acaba por ser mais uma cool detective comedy e menos hardboiled noir.
A tentativa (estimável) de ser algo “realista” (o shoot on location, o tom menos estilizado, as situações mais plausíveis) evita a presença de todo aquele glamour, charme, sedução e elegância (irreal ou não – não interessa, o Cinema quer, também, estilo) que o género tinha nos (good) old days.
Momento divertido de alguma nostalgia screwball – o diálogo telefónico, a três.
Felizmente que a escrita e a narrativa de Chandler são sempre impossíveis de destruir ou banalizar, daí que o filme envolve pela (bem confusa) trama.
James Garner porta-se bem, dá a Marlowe uma coolness bem 60s, algum romantismo e poder de sedução (muito na linha da atitude de James Bond – então no auge da sua popularidade), sem perder o sentido de defensiva ironia e galante heroísmo (moral). Mas está (muito) longe da imagem de viril e digno white knight criada por Raymond Chandler nos seus livros.
Vê-se muito bem.
“Marlowe” não tem edição portuguesa, mas tem edição americana a bom preço.
Realizador: Paul Bogart
Argumentista: Stirling Silliphant, a partir do romance de Raymond Chandler (“The Little Sister”)
Elenco: James Garner, Gayle Hunnicutt, Carroll O’Connor, Rita Moreno, Sharon Farrell, William Daniels, H.M. Wynant, Jackie Coogan, Kenneth Tobey, Bruce Lee
Trailer
Sobre Raymond Chandler:
http://www.goodreads.com/author/show/1377.Raymond_Chandler
http://www.thrillingdetective.com/trivia/chandler.html
http://www.biography.com/people/raymond-chandler-9244073
https://www.theguardian.com/books/raymondchandler
http://www.telegraph.co.uk/culture/books/booknews/10195308/Raymond-Chandler-Master-crime-writer.html
http://www.brainyquote.com/quotes/authors/r/raymond_chandler.html
“The Little Sister” (o livro que inspira o filme – o quinto da saga literária de Philip Marlowe) foi o primeiro romance de Raymond Chandler depois da sua experiência como argumentista em Hollywood (escreveu “Strangers on a Train” para Hitchcock, “Double Indemnity” para Billy Wilder, “The Blue Dahlia” para Veronica Lake & Alan Ladd). Chandler detestou a experiência e o romance reflecte um pouco a sua opinião sobre tal e sobre Hollywood.
Muitas das piadas (sempre irónicas e cínicas) de Marlowe são retiradas do livro.
O romance de Chandler passa-se em L.A., nos 40s. O filme passa-se em L.A., mas nos 60s.
É o primeiro de dois filmes onde Bruce Lee fala Inglês. O outro foi “Enter The Dragon” (1973). É o único filme onde Lee interpreta um vilão. Foi também o filme de apresentação de Lee ao público americano.
A line “Does your mother know what you do for a living?“seria novamente dita por James Garner – num episodio de “The Rockford Files”, “The Kirkoff Case”.
“The Little Sister” seria alvo de uma (excelente) adaptação à BD, assinada pelo (excelente) artista Michael Lark.
Sobre Philip Marlowe no Cinema
http://www.thrillingdetective.com/marlowe2.html
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