Título Original – The Unforgiven
Par de prestígio (acompanhado por um excelente naipe de secundários), dirigidos por um mestre, num Western de consciência social e racial.
A família Zachary vive na sua quinta, em boa harmonia com os Kiowa locais.
Mas há uma sombra no passado de ambos.
Quando a verdade desse passado é descoberta, dá-se um confronto. Violento e mortal.
Western dramático e emotivo, à volta de questões de raça, sangue, família e ódio racial, originado por segredos que deveriam ter ficado guardados.
É visível uma intenção de reflexão sobre o racismo e o sentido de família.
Elogiam-se as intenções, que conseguem aqui e ali bons resultados (as emoções à flor da pele quando a verdade é revelada), mas o filme descai para uma (desnecessária) vertente actioner que procura resolver (com demasiada facilidade) todas as complicações emocionais através de um shoot` em up.
No final, há uma tentativa de mostrar toda a futilidade da violência e do ódio, mas fica a sensação que se andou longe da verdadeira punchline que o argumento exigia.
Boa prestação do elenco, sendo de destacar um Audie Murphy sempre possuído pelo ódio, um Burt Lancaster seguro com líder fraternal e familiar, uma Lillian Gish estóica como mãe e uma Audrey Hepburn com a adequada pureza perante os eventos que assiste.
John Huston sempre filmou bem, dirigiu superiormente os seus actores e sabia transpirar emoções.
Aqui volta a dar mais uma prova do seu talento.
Recomendável.
“The Unforgiven” tem edição portuguesa, mas já é uma raridade nas lojas. Várias edições europeias estão a preço bem “perdoável”, contando com legendas em Português.
Realizador: John Huston
Argumentista: Ben Maddow, a partir do livro de Alan LeMay
Elenco: Burt Lancaster, Audrey Hepburn, Audie Murphy, John Saxon, Charles Bickford, Lillian Gish, Albert Salmi, Joseph Wiseman, June Walker, Kipp Hamilton, Arnold Merritt, Doug McClure
Orçamento – 5 milhões de Dólares
Mercado doméstico – 3 milhões de Dólares (USA)
Trailer
John Huston fez este “The Unforgiven” como resposta ao “The Searchers” (1956) de John Ford.
Inicialmente, o argumento era escrito por J. P. Miller e o filme seria realizado por Delbert Mann (com quem Lancaster já tinha trabalho em “Separate Tables”). O argumento visava a relação dos dois irmãos (nesta altura, Lancaster queria Kirk Douglas como co-protagonista). Mas as sucessivas reescritas do argumento não corriam bem, pelo que Miller saiu de cena. Mann fez o mesmo. Ben Maddow, John Gay (vindo de “Separate Tables”, também com Lancaster) e John Huston são chamados para fazer um novo argumento.
Bette Davis foi convidada, mas recusou, pois não queria interpretar a mãe de Burt Lancaster.
Eva Le Gallienne também foi considerada como mãe do protagonista.
Tony Curtis foi convidado, mas recusou, pois achava-se numa fase de carreira que não precisava de papéis secundários.
Richard Burton, Kirk Douglas e Robert Mitchum foram ponderados como irmão do protagonista.
Natalie Wood foi considerada como protagonista (uma personagem que teria muito em comum com a que interpretou em ”The Searchers”).
Richard Burton chegou a estar escolhido, mas depois recusou por questões de superstição. Uma vidente disse-lhe que ele morreria aos 33, pelo que o actor recusou qualquer oferta para o ano de 1959. Audie Murphy substituiu-o.
Oswald Morris, um Director of Photopraphy já com bom curriculum junto de Huston, teve de rejeitar o filme devido a conflitos de agenda. Zangado com tal, Huston ficou sem lhe falar durante anos.
Muitos foram os problemas nas filmagens.
Surgiram conflitos permanentes entre Huston, Rick Height e a sua companhia, os financiadores do filme. Huston queria fazer do filme um manifesto sobre o racismo. Os produtores queriam um Western mais comercial. Segundo ambos, o resultado final nem é uma coisa nem outra. Huston aceitou o trabalho pelo dinheiro pago, pois permitia-lhe restaurar uma casa.
Audrey Hepburn emagreceu bastante durante as filmagens e aumentou o seu hábito de fumar (3 packs por dia).
Hepburn ficou ferida quando foi atirada ao chão por um cavalo. A actriz estava grávida e passou semanas no hospital. Regressou ao set e terminou as filmagens. O seu vestuário teve de ser adaptado à cinta que Hepburn tinha nas costas, para tratamento. Mesmo assim, a actriz teve de fazer um aborto. Huston nunca se perdoou por tal. Hepburn nunca lhe guardou rancor. Enquanto a actriz estava no hospital, o cineasta continuou as filmagens, substituindo a actriz por uma stand-in, onde possível.
Hepburn passaria o ano seguinte sem querer trabalhar. Voltou a engravidar e tudo correu bem. Actriz regressaria ao activo em 1961, com um dos mais emblemáticos filmes da sua carreira – “Breakfast at Tiffany’s”.
Antes do começo das filmagens, Huston e Lancaster levaram Lillian Gish até ao deserto, no sentido de a ensinar a disparar uma carabina. Ambos ficaram surpreendidos pela enorme destreza da actriz na hora de manejar uma arma e na sua pontaria. Gish aprendeu tal com Al J. Jennings, antigo pistoleiro e ladrão de comboios. Jennings tornou-se actor depois de cumprir pena de prisão e trabalhou com Gish.
Durante uma pausa, Audie Murphy e um amigo foram caçar patos num lago. O barco virou e Audie quase se afogou. Valeu a acção de uma fotógrafa que estava na zona.
Durante as filmagens, Lancaster e Murphy foram convidados para um torneiro de golf em Durango. Huston arranjou forma de largar 2000 bolas de ping-pong com palavras anti-mexicanas. O jogo foi cancelado e Lancaster ficou furioso com Huston.
“The Unforgiven” é o único Western de Audrey Hepburn.
O filme foi um dos primeiros (e na época em que surge, tal acto é de coragem) a focar o racismo entre brancos e nativos americanos.
Huston considera “The Unforgiven” como o seu filme menos satisfatório.
Curiosamente, um dos seus maiores críticos (pela negativa) considera este filme como o melhor de Huston.
É o primeiro filme em que Huston trabalha com o assistant director Tom Shaw. Shaw tornar-se-ia um colaborador frequente de Huston, em quem o cineasta depositava grande confiança.
–