Título Original – Le Hussard sur le toit
O romanesco é um ícone da cultura francesa, nomeadamente no campo da Literatura e do Cinema.
Juliette Binoche é um rosto, talento e presença, sempre perfeita para estes registos.
Ei-la como donzela suprema num monumento do género, num filme assinado por um mestre para estas coisas – o realizador do belissimamente romanesco “Cyrano de Bergerac” (1990).
- Provence, Sul de França.
Uma praga de cólera assola a região.
Angelo Pardi, (jovem) Coronel dos Hussardos, percorre a região em fuga aos seus inimigos e à procura de alguns dos seus aliados.
Durante tal aventura, Angelo conhece a Madame Pauline de Théus, uma jovem, misteriosa, fascinante e independente mulher, que procura ir ao encontro do seu marido.
Angelo ajuda. Pauline é algo relutante.
Entre ambos inicia-se uma parceria inesperada e uma viagem cheia de peripécias.
Mas para ambos será também uma viagem pelo romantisco, heroísmo, cavalheirismo e por uma diferente forma de amar, ainda que de difícil retribuição.
Eis um Romanesque como deve ser.
Perfeita combinação de acção e aventura, com toda a delicadeza e profundidade de uma histoire d`amour à moda antiga, com a ilustração épica de tempos de outrora.
O filme tanto consegue grande espectáculo e entretenimento pelas peripécias vividas pelos protagonistas, como uma forte envolvência emocional/sentimental por aquilo que os une.
A história também é sobre uma viagem.
E como tal, há também uma viagem psicológica e emocional pelos personagens, de uma notável densidade.
Se a Madame muda a sua rígida independência à medida que vai recebendo a dedicação do seu protector, o Hussard muda a prioridade da sua missão, perde alguma da sua inocência perante a forma protegida como está no mundo, altera a sua sensibilidade na hora de se expor (emocionalmente) e descobre um poder maior dentro de si quando sente a motivação suprema (o cuidado, carinho, empenho protector e rigor cavalheiresco para com a Madame).
Muito interessante resulta a omnipresença da mãe do Hussardo (da sua rigorosa educação emanam as boas maneiras, correcta conduta, impecável educação e delicados valores de Angelo; este mostra-se uma pessoa que recebeu todos os luxos protectores, vindos de uma mãe hiper-protectora, que resultam na atitude hiper-protectora dele sobre a Madame; o permanente cuidado de Angelo em escrever à mãe sobre o que se está a passar – com ele, dentro dele e ao seu redor).
Por outro lado, há a dimensão “super-heróica” do Hussardo (nunca é atingido pela doença, tem sempre uma solução, tem sempre meios financeiros), que enaltece ainda mais essa figura protectora.
Belíssima e luminosa fotografia (do sempre excelente Thierry Arboagast – um habituée de Luc Besson), a ilustrar toda a beleza natural da zona de Provence e o calor da intimidade sentimental dos protagonistas.
A zona de Provence nunca esteve tão bem filmada e fotografada. Terminado o filme, apetece fazer as malas e percorrer o trajecto feito pelo Hussard e pela Madame.
Foi a mais cara produção de sempre (até então) do cinema francês – orçamento, locais, logística, extras, equipa, acessórios e adereços, tudo atinge uma dimensão tão épica como a história. Mas tudo brilha no ecran, a todo o momento, em todos os fotogramas.
Juliette Binoche nunca esteve tão linda (a sua entrada em cena, à luz de um candelabro), heróica (a sua atitude na fuga final), glamorosa (quando se arranja para o jantar), nobre (na casa dos amigos), sentimental (quando mostra o que sente) e tão Senhora (a sua postura). Como sempre, Juliette é uma verdadeira Madame de Cinema.
Olivier Martinez defende-se muito bem como Hussardo, compondo um personagem complexo, valoroso, evolutivo, ora heróico ora frágil, ora egoísta ora dedicado.
Jean-Paul Rappenau realiza com rigor, tão atento ao lado épico, dinâmico e aventureiro da narrativa, como terno nos momentos mais emotivos, filiando o filme na melhor, mais clássica e perfeita tradição do romanesco.
A pérola cinematográfica do género Romanesque.
Um verdadeiro manual de como fazer um (grande) filme do género.
(e como ser dedicado/delicado/heróico perante uma Madame)
Obrigatório.
“Le Hussard sur le Toit” não tem edição portuguesa. Mas entre nós vende-se uma edição espanhola, com legendas em Português, em Blu-Ray, num transfer excelente. O preço já anda pelos “telhados” do cinéfilo. A edição conta com um excelente e explicativo documentário.
Realizador: Jean-Paul Rappeneau
Argumentistas: Jean-Paul Rappeneau, Jean-Claude Carrière, Nina Companeez, a partir do livro de Jean Giono (“Le Hussard sur le toit”)
Elenco: Olivier Martinez, Juliette Binoche, Pierre Arditi, François Cluzet, Jean Yanne, Claudio Amendola, Isabelle Carré
Trailer
Making of
O tema musical principal
Orçamento – 176 milhões de Francos (26 milhões de Euros)
Bilheteira – 1.8 milhões de Dólares (USA); 2.,4 milhões de espectadores (França)
“Melhor Fotografia”, “Melhor Som”, nos César 1996. Esteve nomeado para “Melhor Filme” (venceu “La Haine”), “Melhor Realizador” (Jean-Paul Rappeneau foi derrotado por Claude Sautet em “Nelly & Monsieur Arnaud”), “Melhor Actriz” (Juliette Binoche foi derrotada por Isabelle Huppert em “La Cérémonie”), “Melhor Actriz Promissora” (Isabelle Carré foi derrotada por Sandrine Kiberlain em “En Avoir (ou Pas)”), “Melhor Música” (venceu “Élisa”), “Melhor Cenografia” (venceu “La Cité des Enfants Perdus”), “Melhor Montagem” (venceu “La Haine”), “Melhor Guarda-Roupa” (venceu “Madame Butterfly”).
“Melhor Guarda-Roupa”, pelos jornalistas italianos de Cinema 1997.
“Melhor Som”, pelos Sound Editors USA 1997.
Há muito tempo que o cinema francês queria adaptar o livro de Jean Giono.
Mas os autores deparavam-se com vários problemas:
- Os produtores queriam Gérard Philipe (grande estrela da época, com boa destreza para o género), mas Giono não gostava do actor.
- O livro tinha reputação de infilmável, devido a uma (grande) parte do romance ser com o protagonista no telhado a reflectir sobre o que se estava a passar e as circunstâncias que o tinham levado ali. Tal momento era uma dificuldade para os argumentistas.
O tempo passou e o projecto ficou na gaveta.
Quando Rappeneau triunfa com o fabuloso “Cyrano de Bergerac”, o cineasta parecia ser o adequado para adaptar o livro de Giono. Rappeneau era grande fã do livro (desde a sua infância) e aceitou o desafio.
Na parceria de Jean-Claude Carrière (prestigiado dramaturgo e argumentista do teatro e cinema francês), ambos contornaram o tal problema narrativo, indo directo à essência da obra e da cena.
Jean-Paul Rappeneau demorou um ano até encontrar o actor adequado para ser o Hussardo. Olivier Martinez foi eleito, mas precisou de fazer várias auditions.
Martinez aprendeu esgrima, a cavalgar e a falar italiano.
As filmagens ocuparam cerca de cinco meses. Decorreram em 50 locais diferentes.
Alguns dos locais – Aix-en-Provence (o início e final do filme), Manosque, Avignon e Châteauneuf-Miravail (alguns exteriores), Cucuron (exteriores nos telhados), Fort des Têtes (a cena do forte em quarentena), Menthon-Saint-Bernard (o castelo dos Théus), Montbonnot-Saint-Martin (o final com a protagonista), bem como muitos lugares de Alpes-de-Haute-Provence, Bouches-du-Rhône e Hautes-Alpes.
Cameo de Gérard Depardieu (o Comissário da Polícia) – Depardieu tinha protagonizado “Cyrano de Bergerac”, também escrito e realizado por Rappeneau.
Na época, foi a mais cara produção de sempre do cinema francês.
Na época, foi o maior sucesso de sempre de Juliette Binoche.
Sobre Jean Giono
http://www.alalettre.com/giono-bio.php
http://centrejeangiono.com/en/
Sobre o livro
http://www.babelio.com/livres/Giono-Le-Hussard-sur-le-toit/5757
http://www.gallimard.fr/Catalogue/GALLIMARD/Folio/Folio-plus/Le-hussard-sur-le-toit
http://www.paris-sorbonne.fr/IMG/pdf/B2_Le_Hussard_sur_le_Toit_Grece.pdf
Um ensaio sobre o filme
http://institutfrancais.de/cinefete/IMG/pdf/hussard.pdf
Sobre Provence
http://www.provenceweb.fr/e/provpil.htm