Título Original – (John Carpenter`s) “The Thing”
O original de Howard Hawks (“The Thing from Another World”) é um clássico e uma grande influência.
John Carpenter tem em Hawks o seu mestre, cineasta preferido e grande influência.
“The Thing from Another World” é um dos filmes preferidos de Carpenter e altamente influente no seu Cinema.
Portanto, estava no destino que Carpenter iria fazer um remake do filme de Hawks.
E que remake!!!
E que filme!!!!!
(filmaço, mesmo!!!!!)
E que terror!!!!!!!!!!
Antárctida.
Uma base científica americana descobre que foi invadida por uma criatura alienígena, que tem a capacidade de imitar qualquer forma de vida.
Ninguém é quem parece. O medo surge e logo evolui para a paranóia.
Quem é quem? Em quem confiar?
O clássico de Howard Hawks é uma pérola de sci-fi terror, de produção B.
Carpenter mantém esse registo, mas agora numa produção A (meios, nomes envolvidos, tom, estilo).
Tendo em conta o quanto Carpenter é fã de Hawks e do filme original, o criador de “Halloween” decide enveredar por outras áreas.
Sim, continuamos no campo da sci-fi e do terror, mas Carpenter usa tais géneros para fazer uma alegoria, ensaio, análise e crítica sobre o ser humano, a paranóia, o medo, o isolamento, a alienação e o fim (do Mundo, da Humanidade).
Mais uma vez (“Assault on Precinct 13”, “Halloween”, “The Fog”, “Escape from New York”), Carpenter mostra que é um Mestre (total) no domínio do espaço e na forma como gere a tensão dentro dele, sabendo lidar (perfeitamente) com o elemento grupo (algo que herdou, e bem, de Hawks).
Fiel ao seu estatuto, Carpenter carrega na tensão e no medo, deixando o espectador no mesmo estado dos seus personagens – com o coração sempre aos saltos, acreditando que tudo vai explodir a qualquer momento (veja-se a cena da análise ao sangue).
Pormenor (bem) relevante – a Coisa nunca é mostrada como uma entidade hostil ou destrutiva, sendo “apenas” diferente e com um modus operandi algo assustador.
Assim sendo, quem acaba por ser hostil é mesmo o ser humano, preso ao seu preconceito, medo e paranóia.
E aqui reside o carácter perturbador do filme – Carpenter mostra/prova que a destruição do ser humano não passa pelo invasor ser mais poderoso ou mais bem armado, mas apenas com a astúcia suficiente para manipular todo o medo inerante do ser humano e fazer com que tal o vire contra o seu próximo/semelhante.
O filme marcou pontos (e causou polémica – bem como muito nojo) pelos make-up effects absolutamente groundbreaking (atenção ao momento do desfibrilador e ao que se segue – yup, you gotta be fuckin`kiddin`).
De facto, e até “The Thing”, nunca se tinha visto algo assim (bom, e nada se viu desde então), na forma como se ilustra a metamorfose de criaturas.
E hoje, mais de 30 anos depois da sua criação, filme e efeitos estão completamente insuperáveis.
Sim, os efeitos chocam e incomodam, mas Carpenter é de tal modo genial, que não os usa apenas para esse fim. A visualização do horror do shapeshifting não tem efeito gratuito, fazendo com que o espectador sinta o mesmo pavor e consternação dos personagens, partilhando assim a mesma sensação de insegurança e paranóia.
A Coisa é apenas uma criatura diferente, com capacidades assustadoras, sim, mas que apenas quer sobreviver.
Toda a destruição surge por parte/culpa dos humanos, mostrando-se assim o quanto são frágeis – como espécie, como indivíduo, como sociedade.
(um tema muito habitual no Cinema de Carpenter)
Carpenter aproveita para homenagear o filme de Hawks (a forma como aparece o título do filme no genérico inicial, a found footage evoca o tom visual do clássico bem como uma cena crucial, o corpo em chamas a fugir).
Seguindo as regras do seu Mestre, Carpenter é exímio a filmar um grupo, conseguindo (como no filme original) mostrá-lo frequentemente cool na atitude (mas tudo muda quando a paranóia se instala), ilustrando as diferenças de personalidade de cada um dos elementos, tendo-os em cena no mesmo plano (sempre focados e a fazerem coisas diferentes).
Rob Bottin tem um trabalho brilhante, ao criar make-up effects do mais perfeito que pode haver – na criação, uso e efeito.
Excelente prestação de todo o elenco, com destaque para Kurt Russell (actor-fetiche de Carpenter – aqui na terceira, de cinco colaborações), a compor o típico herói Carpenteriano – à margem, cool, rebelde, capaz de pôr ordem num sistema caótico.
“The Thing” é a obra-prima máxima de John Carpenter, cineasta com uma filmografia carregada delas.
Plenamente eficaz como filme de género(s), “The Thing” é também a “explicação” definitiva de como se pode (e é fácil) destruir o Ser Humano.
Obra-prima total.
Clássico absoluto.
Cult Movie cultíssimo.
(Muito) Possivelmente, o melhor filme de terror de sempre.
Absolutamente obrigatório.
“The Thing” tem edição portuguesa e anda a bom preço.
Na Inglaterra existe uma edição, de dois discos, em DVD e Blu-Ray, que contém o remake de Carpenter e a prequela de 2011 (ambos guarnecidos de extras – com a versão Carpenter a ser mais luxuosa). O preço anda jeitoso. Só a edição Blu-Ray é que tem legendas em Português.
Realizador: John Carpenter
Argumentista: Bill Lancaster, a partir da short story de John W. Campbell Jr. (“Who Goes There?”)
Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley, Keith David, T.K. Carter, David Clennon, Richard Dysart, Charles Hallahan, Peter Maloney, Richard Masur, Donald Moffat, Joel Polis, Thomas G. Waites, Norbert Weisser, Larry J. Franco
Orçamento – 15 milhões de Dólares
Bilheteira – 19 (USA)
Trailer
John Carpenter sobre “The Thing”
Featurette da época
Making of
Rob Bottin sobre os seus Make-Up Effects
Nomeado para “Melhor Filme de Terror”, nos Prémios Saturn 1983. Perdeu (?????) para “Poltergeist”. Rob Bottin tentou os “Melhores Efeitos Especiais”, mas foi derrotado por Carlo Rambaldi e Dennis Muren em “E.T.”.
Nomeado (?????) para “Pior Banda Sonora”, nos Razzie 1983. Ganhou “The Pirate Movie”.
John Carpenter considera este filme como o seu preferido, de todos os que fez.
Segundo Carpenter, este é o seu primeiro capítilo da “Trilogia do Apocalipse” – os outros capítulos são “Prince of Darkness” (1987) e “In The Mouth of Madness” (1994).
Os produtores Lawrence Turman e David Foster sempre tiveram Carpenter como o realizador preferido para o filme, mas o estúdio queria Tobe Hooper (“The Texas Chainsaw Massacre”), pois estava sob contrato (“Poltergeist”). Hooper entregou dois argumentos, mas nenhum agradou.
É primeiro filme de Carpenter de grande orçamento e para uma major.
O filme é mais fiel ao conto de John W. Campbell Jr. do que foi o filme original de Hawks.
Com um orçamento de 15 milhões de Dólares, “The Thing” atingiu um valor muito raro para filmes de terror, na época.
O genérico inicial imita o do filme original. O efeito conseguiu-se com uma placa iuminada onde estava escrito o título, por detrás de um aquário cheio de fumo. À frente estava um saco plástico, que foi queimado.
Clint Eastwood foi considerado como MacReady.
Nick Nolte e Jeff Bridges recusaram ser MacReady. Bridges trabalharia com Carpenter em 1984, em “Starman”, e receberia uma nomeação para um Oscar. Kurt Rusell (na terceira colaboração com Carpenter – “Elvis”, “Escape from New York”) foi eleito.
Bernie Casey, Isaac Hayes, Geoffrey Holder, Ernie Hudson (que quase ganhou) e Carl Weathers foram considerados como Childs. Keith David (que voltaria a trabalhar com Carpenter – “They Live”) foi escolhido.
William Daniels e Brian Dennehy foram considerados como Copper. Dennehy quase ganhou, mas Carpenter preferiu Richard Dysart.
Donald Pleasence (que já tinha trabalhado – “Halloween”, “Escape from New York” – e trabalharia outra vez – “Prince of Darkness” – com Carpenter) ia ser Blair, mas conflitos de agenda impediram-no. Wilfred Brimley foi escolhido.
Lee Van Cleef (já com curriculum no cinema de Carpenter – “Escape from New York”), Jerry Orbach, Kevin Conway, Richard Mulligan e Powers Boothe foram ponderados para ser Garry. Donald Moffat foi eleito.
O cão visto no filme era norueguês, misto de lobo e husky. Deu-se bem com toda a gente da equipa e nunca deu trabalho na hora de filmar. Carpenter tece-lhe os maiores elogios como actor.
A cena de transformação do cão em Coisa é da autoria de Stan Winston. Winston não quis ficar com crédito para não prejudicar o trabalho e nome de Bottin. No genérico final, Winston recebe um agradecimento.
Numa cena, para o necessário creature effect, era necessário fogo. Mas este foi tal, que destruiu o trabalho de Bottin. Tudo teve de ser reconstruído.
A certo momento, Bottin ficou a viver no estúdio, tal era o seu empenho. Exausto, teve de receber tratamento hospitalar.
Bottin comanda uma equipa de 40 pessoas.
Algumas cenas ligadas à creature effects fizeram recurso ao método stop motion, mas Carpenter rejeitou-as por as considerar demasiado falsas.
Segundo Carpenter, Wilford Brimley foi o único elemento do elenco que não se enojou na cena da autópsia (onde se usaram vísceras reais). Brimley já tinha curriculum como cowboy, pelo que o contacto com vísceras animais era rotina.
Keith David passa todo o filme com luvas. Era para esconder umas cicatrizes devido a um acidente automóvel.
Filmado no Alaska, num sound stage (devidamente “congelado”) de L.A. e na British Columbia.
O campo norueguês é composto pelos restos do campo americano, depois de destruído. Carpenter achou desnecessário criar um novo campo (já destruído, por exigência narrativa) e limitou-se a usar o que restava do em uso, depois de destruído.
Quando Mac destrói uma variação da Coisa, ele usa um pau de dinamite. A reacção de Russell é mesmo autêntica, pois ele não imaginava que a explosão tivesse aquele impacto.
No momento em que um personagem fica sem braços, este é interpretado por um homem que não tinha os dois braços. Uma máscara tornava-o parecido com o actor que estava a interpretar o dito personagem.
O filme origina passa-se no Pólo Norte, no Ártico. O remake passa-se no Pólo Sul, na Antárctida.
Carpenter e Russell queriam que MacReady fosse um antigo piloto do Vietnam. Mas tal ideia foi rejeitada.
Num momento, alguém brinca sobre os extra-terrestres e afirma “Chariots of the Gods”. É uma referência a um livro, com o mesmo título, de Erich von Daniken, onde se teoriza que muitas dos grandes monumentos do planeta (principalmente pirâmides e esfingies) foram criados com ajuda de tecnologia extra-terrestre. Tal livro e teoria inspirou o filme e a série televisiva “Stargate”.
Apesar de dois personagens terem o nome de Mac e Windows, não há piada aos respectivos sistemas operativos nem às empresas que os criaram.
Chegou-se a filmar um final alternativo, onde se esclarece quem é humano. Mas nunca foi usado, pois ia contra a visão de Carpenter.
Não há personagens femininas no filme. A crew é também, maioritariamente, masculina – contam-se pelos dedos o número de mulheres.
Foi o primeiro filme de Carpenter onde ele não assinou a música.
Jerry Goldsmith tinha sido a primeira escolha para a música, mas o veterano compósitor rejeitou.
O filme foi banido na Finlândia.
Quando o filme foi exibido na televisão americana pela primeira vez, o filme sofreu um cut – adicionaram-se cenas onde os personagens eram apresentados. O cut foi rejeitado por Carpenter e está (felizmente) perdido.
O filme é mais fiel ao livro de John W. Campbell Jr.
No filme e no livro, diferentes personagens sofrem destinos diferentes.
Cameo de John Carpenter – um dos noruegueses no vídeo.
Cameo de Larry J. Franco (um dos produtores do filme e produtor habitual de Carpenter nos 80s) – é o norueguês armado, no início do filme.
“Cameo” de Adrienne Barbeau (a Mrs. Carpenter, na época) – é a voz do computador de Mac/Russell.
Estreou no mesmo dia que “Blade Runner”. Ambos tiveram o mesmo destino – flop de público e crítica, passagem a culto e clássico com o decorrer do tempo.
Carpenter sentiu-se mal devido ao desprezo/ódio que o filme recebeu pelo público e pela crítica. Mas ainda mais pelo reacção negativa de Christian Nyby, o (co-)realizador do filme original.
O flop do filme pode ser explicado pelo sucesso de “E.T.” (de Steven Spielberg), estreado semanas antes. “E.T.” era um filme mais positivo no tema de encontro com extra-terrestres.
Hoje, o filme é considerado como uma revolução no campo dos makeup effects. Bottin, o responsável por eles, tinha 22 anos.
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Spoilers
(a ler só por quem já viu “The Thing” – a versão de Carpenter e a prequela de 2011)
Perante as dúvidas à volta do final, Carpenter explica que Mac é humano e Childs não. Isto porque, se o espectador estiver atento a um plano, Mac expira névoa pela boca enquando fala e Childs não.
Numa convenção, David (o Childs) afirma que o seu personagem era humano.
Apesar da opinião de Carpenter, “The Thing” (a prequela de 2011) explica um pormenor à volta da Coisa que ajuda Childs – ele tem um brinco e a Coisa só consegue imitar o organismo e não o que ele traz “agarrado”.
“The Thing” teve “sequelas”:
- “The Thing (from Another World)” – mini-série em BD, editada pela Dark Horse em 1991. Mac e Childs são resgatados por um submarino soviético, vão parar a um país da América Latina. Fica-se a saber quem está contaminado, volta a estalar o pânico e a paranóia, descobrindo-se como a Coisa se movimenta em terreno quente.
- “The Thing from Another World: Climate of Fear”, “The Thing from Another World: Eternal Vows” e “The Thing from Another World: Questionable Research” – continuam as aventuras de Mac em busca de uma forma de travar a Coisa
- “The Thing: The Northman Nightmare” – digital comic, que é um prelúdio à prequela cinematográfica de 2011.
- “The Thing” – videogame de 2002, que ilustra uma acção de resgate à base, onde se descobre que a Coisa continua activa. John Carpenter faz um cameo (é um médico). Mac é encontrado, escapa e no final do jogo leva o jogador para fora do campo. Foi editado para PC, Xbox e PlayStation 2.
- “The Things” – pequeno conto de Peter Watts, editado em 2010 pelo Clarkesworld Magazine. Conta a história pelo lado da criatura, mostrando-a como simpática, procurando partilhar com os humanos a sua capacidade metafórfica, mas sem intenções destrutivas ou agressivas. Mostra também como a criatura fica triste perante a reacção hostil dos humanos. Foi premiada com um Hugo.
- “The Thing” – prequela cinematográfica, feita em 2011. Explica o que se passou no campo norueguês, visitado na versão de Carpenter.
End of Spoilers
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“The Thing” teve homenagens:
- Em 2000, a McFarlane Toys lança, na sua colecção “Movie Maniacs”, duas action figures – Blair (como se vê no final) e Norris (na cena do desfibrilador).
- A Sota Toys também lançou a spider head e a Coisa a imitar cães.
- O filme criou uma tradição na Antárctida. As estações científicas britânicas, estacionadas no Amundsen–Scott South Pole Station, assistem sempre a “The Thing” a 21 de Junho.
- Os Universal Studios de Orlando têm uma atracção chamada “The Thing – Assimilation”. Os visitantes entram no denominado Outpost 3113, uma instalação militar que recria o campo científico do filme.
- O filme recebe uma homenagem/variante na série “The X-Files” – é na Season 1, com o episódio “Ice”, cuja história é muito semelhante.
Alan Dean Foster escreveu a novelização do filme, em 1982, a partir da segunda versão do argumento. Mantém muita coisa do filme, mas adiciona momentos muito interessantes (uma perseguição a cães infectados que fugiram da base).
Em 2003, o Sci-Fi Channel quis fazer uma mini-série em forma de sequela, mas nada se concretizou.
Em 2004, Carpenter chegou a ponderar uma sequela. Visaria o resgate dos personagens sobreviventes (esclarecendo-se quem é humano) e um novo ataque da Coisa. Para o envelhecimento dos actores, o argumento iria ter em conta o desgaste causado no rosto pelo frio.
Fan site do filme original
http://www.celtoslavica.de/chiaroscuro/films/thing/the_thing.html
Fan site do remake de John Carpenter
http://www.houseofhorrors.com/thing.htm
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