Título Original – The Thing
Eis o regresso de uma das mais assustadoras criaturas do cinema de terror.
A Coisa. A tal Coisa que consegue ser qualquer um de nós e qualquer outra criatura viva.
Tudo começou em 1951, com “The Thing from Another World” (já aqui visto), co-realizado (ainda há muita controvérsia à volta disto) por Howard Hawks. É uma (grande) pérola de sci-fi terror (foi a década de ouro para os géneros), pela simplicidade técnica (low budget em espaço fechado) e eficácia de resultados (as sequências em que a criatura aparece ainda hoje provocam susto).
Em 1982, John Carpenter fez um remake à altura (também já aqui visto), intitulado apenas de “The Thing”, com uma maior fidelização ao livro que inspira os dois filmes (“Who Goes There?” de John W. Campbell – já agora, senhores editores, por favor lancem o livro em Portugal), apoiado nuns inovadores efeitos especiais de caracterização que fizeram História (e repulsa, ou mesmo nojo, em muita gente). Trata-se de um poderoso filme de terror (é a obra-prima máxima de Carpenter), sendo também uma reflexão sobre o medo, a paranóia e a desconfiança. Felizmente, a passagem do tempo deu-lhe o culto e respeito que o filme merece (à época de estreia foi um flop nas bilheteiras e arrasado por muita gente).
Depois do clássico de Howard Hawks e do remake cult masterpiece de John Carpenter, eis a prequela, mas do filme de Carpenter.
Numa estação científica na Antárctida, um grupo de cientistas noruegueses descobre uma nave alienígena.
Nela vem incluída uma criatura.
Rapidamente o visitante revela-se uma coisa capaz de imitar qualquer forma de vida.
Qualquer um pode não ser quem aparenta.
O medo, a desconfiança e o terror estalam.
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“The Thing” (versão 2011) foi planeado inicialmente como um remake da versão de Carpenter (que já era um remake), mas (felizmente) alguém teve o bom senso de perceber que seria impossível fazer melhor (sejamos francos – algum remake a filmes de Carpenter fez melhor que The Master?).
Sendo assim, decidiu-se (e bem) por uma prequela (apesar do filme de Carpenter já explicar, e muito bem, o que se passou na estação norueguesa que descobriu A Coisa).
Este novo “The Thing” é um muito eficaz filme de terror, servido por bons efeitos (digitais, pois claro – mas não se conseguem impor face aos make-up effects dos 80`s, principalmente aos que Rob Bottin criou para o filme de Carpenter), um conjunto de set-pieces com bom efeito de susto, mas (como seria de esperar) sem o toque dO Mestre.
“The Thing” (a prequela) entretém, dá para uns (bons) sustos, é um competente e muito eficaz sci-fi horror flick, tem laivos de homenagem ao filme de Carpenter (ambiente fortemente masculino, o medo e paranóia que surgem, o recurso aos lança-chamas, os efeitos gore, os pilotos americanos, algumas cenas parecem rip-offs), ao original de Hawks (o protagonismo da mulher, a forma como ela se impõe no meio masculino e como dá luta na situação) e até ao modelo clássico do género nos 50s.
So que…
“The Thing” (de Carpenter) cria medo, perturba, inquieta e faz-nos reflectir.
Tudo se passa antes da versão de 1982, mas os eventos narrados e a forma como são visualizados dão a entender que estamos perante um remake disfarçado e não-assumido do filme de Carpenter (compare-se a evolução dos acontecimentos, os momentos que envolvem a transformação e confrontação com A Coisa).
Mas tal desculpa-se pelos próprios eventos – não permitem grande margem de manobra criativa.
Afinal, ao vermos o filme de Carpenter percebe-se o que terá acontecido na base norueguesa, e que não terá sido muito diferente do que ocorre na base americana (que é o que se mostra no filme de Carpenter).
Por oposição ao filme de Carpenter, a Coisa é mostrada como uma criatura maléfica, assassina e sedenta de sangue.
Apesar de tanto elemento masculino, não há carisma por parte deles nem se tem aquele ambiente de virilidade masculina tão característica dos filmes de Carpenter (e de Hawks).
A sempre tranquila e singela Mary Elizabeth Winstead defende-se (muito) bem, trazendo à memória a atitude de Margaret Sheridan (protagonista da versão de Hawks), bem como das mulheres habituais do Cinema de Carpenter e Hawks.
Dias antes da estreia de “The Thing” (versão 2011), circulava um rumor que indicava que na prequela se veria um momento que dava uma resolução ao final do filme de Carpenter (o que aconteceu aos personagens sobreviventes).
Falso alarme, esse momento não existe. Mas assistam aos primeiros 5 minutos do genérico final, pois faz-se a ligação entre o final de “The Thing” (prequela) e o início de “The Thing” (de Carpenter).
Com este “The Thing” (versão 2011) muito se deveria falar (devido à inevitável comparação) da versão de John Carpenter.
Mas não esqueçam também da versão de Howard Hawks. Vale (bem) a pena (re)descobri-la(s).
Mesmo assim, “The Thing” (2011) é muito recomendável.
“The Thing” (versão 2011) tem edição portuguesa e anda a bom preço.
Na Inglaterra existe uma edição, de dois discos, em DVD e Blu-Ray, que contém esta versão (a prequela do remake de Carpenter) e o remake de Carpenter (ambos guarnecidos de extras – com a versão Carpenter a ser mais luxuosa). O preço anda jeitoso. Só a edição Blu-Ray é que tem legendas em Português.
Realizador: Matthijs van Heijningen Jr.
Argumentista: Eric Heisserer, a partir do livro de John W. Campbell Jr. (“Who Goes There?”, com o pseudónimo de Don A. Stuart)
Elenco: Mary Elizabeth Winstead, Joel Edgerton, Ulrich Thomsen, Eric Christian Olsen, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Paul Braunstein, Trond Espen Seim, Kim Bubbs, Jørgen Langhelle, Stig Henrik Hoff
Trailer
Orçamento – 38 milhões de Dólares
Bilheteira – 16 (USA); 27 (mundial)
Nomeado para “Melhor Filme de Terror/Thriller”, nos Prémios Saturn 2012. Venceu “The Girl with the Dragon Tattoo” (o remake de David Fincher). Nomeado também para “Melhor Make-Up”, perdeu para “X-Men: First Class”.
O estúdio queria fazer um remake do filme de Carpenter (na altura, era “moda” refazer os filmes dO Mestre). Mas o produtor percebeu que seria impossível fazer melhor e optou pela prequela.
Um primeiro argumento tinha sido escrito por Ronald D. Moore, em 2009. O estúdio pediu depois uma revisão a Eric Heisserer (o argumentista com crédito no filme). Em 2013, Moore cria uma série televisiva chamada “Helix”, que lida com um tema semelhante.
Matthijs van Heijningen Jr. vinha do mundo dos spots publicitários (onde tinha bom curriculum, elogios e prémios), sendo este filme a sua estreia em longas-metragens cinematográficas.
Por oposição à versão Carpenter (elenco 100% masculino – Adrienne Barbeau dá voz a um computador) e em homenagem à versão original, o protagonismo cai numa mulher.
A personagem de Mary Elizabeth Winstead (Kate Lloyd) foi criada tendo como inspiração a de Sigourney Weaver (Ellen Ripley) em “Alien”.
E equipa do production design teve sempre à mão imagens e desenhos do filme de Carpenter, nos momentos passados na base norueguesa. Tudo para que a fidelidade visual fosse a mais rigorosa possível.
Os creature F/X são misto de animatronics (o realizador queria que os actores reagissem a algo visível) e efeitos CGI (que foram usados para melhoria dos animatronics).
Os creature make-up effects são da prestigiada dupla Alec Gillis & Tom Woodruff (“The X-Files: Fight the Future”, “Alien Ressurrection”, “Alien Vs. Predator”).
A prequela diferencia-se do filme de Carpenter pela presença feminina. Mas no momento em que ela entra em cena, o filme marca o único momento na saga onde a acção não é exclusiva na Antárctida.
A canção que Kate ouve é “Who Can It Be Now?”, dos Men at Work. É uma canção sobre a… paranóia.
O produtor quis manter um tema da banda sonora (criada por Ennio Morricone) do filme de Carpenter – “Humanity – Part II”. Era também uma forma de fazer homenagem ao filme.
John Carpenter ia fazer um cameo, mas conflitos de agenda impediram-no.
Spoiler
(a ler só por quem já viu os dois “The Thing”)
Indirectamente, “The Thing” (2011) resolve o mistério do final de “The Thing” (1982). Na prequela, descobre-se que a Coisa não consegue imitar metal (é assim que uma personagem descobre que um outro é a Coisa a imitar – momentos antes, o dito personagem tinha metal no corpo, depois não tem). Assim sendo, fica esclarecido que no final do filme de Carpenter há pelo menos um personagem que é humano (Childs, pois tem um brinco; MacReady acredita-se que é sempre humano ao longo do filme).
End of Spoiler
Entrevista com o argumentista
http://io9.com/5524998/what-sick-john-carpenter-moments-will-the-thing-prequel-explain
Fan site do filme original
http://www.celtoslavica.de/chiaroscuro/films/thing/the_thing.html
Fan site do remake de John Carpenter
http://www.houseofhorrors.com/thing.htm