Título Original – Sleuth
“Sleuth” ganhou estatuto.
Seria de esperar um remake.
Até porque chegou a ser moda andar-se a refazer títulos clássicos com Michael Caine (“The Italian Job”, “Alfie”, “Get Carter”).
Tal como no filme original, há um argumentista de prestígio, um realizador de méritos e um duo de actores de elite.
Andrew Wyke é um popular escritor de policiais. Milo Tindle é o amante da esposa de Andrew. Uma noite, Milo é convidado por Andrew para um serão em sua casa. Andrew mostra que sabe quem é Milo. Mas o serão não é para ameaças ou discussões. Andrew propõe a Milo um jogo no qual ambos podem ganhar umas massas.
Mas o jogo revela-se uma manipulação. Para ambos. Quem sobreviverá?
Um perverso jogo e duelo de astúcias, com o facto de ser entre dois escroques manipuladores e oportunistas.
O confronto vicia e surpreende, com uma narrativa curta mas plena de reviravoltas (atenção à meia hora final).
Há lugar para humor (e bem desconcertante – a troca dos “eu”) e até mesmo uma certa perversão sexual (a proposta final).
O bullseye é mesmo o inesperado twist final (bom, na verdade o final reserva três twists) – profundamente irónico, que nos leva a rever todos os eventos por um outro prisma.
O duelo passa por personagens. Como tal, tem de chegar aos actores.
Michael Caine (um dos protagonistas do “Sleuth” original, onde interpretava o personagem mais jovem) e Jude Law (que Caine considera como o seu “herdeiro”; Law protagonizou “Alfie”, remake de um clássico dos 60s com Caine) estão em topo de forma, exaltando ao máximo o seu carisma e o poder da sua imagem cinematográfica.
Kenneth Branagh dirige com estilo e elegância, criando a ideia que estamos num palco, mas brincando a algumas técnicas do cinema moderno (a câmara a filmar dos lugares e ângulos mais inesperados), dando uma permanente sensação de cerco num lugar rodeado de videovigilância.
“Sleuth” tem muitos e bons méritos, enquanto filme autónomo. Mas é um remake. Como tal, há que o colocar em comparação com o original:
- “Sleuth” (o remake) dura menos tempo (quase menos uma hora). Tem menos acontecimentos, muitos deles são mais curtos e a história vai mais cedo directa ao assunto. “Sleuth” (o original) demora mais tempo, desenvolve mais as situações e cria diálogos mais elaborados. Mas no meio da sua curta duração, “Sleuth” (o remake) ainda reserva umas muito interessantes novidades e surpreendentes twists.
- Ambos os “Sleuth” são vistosos. “Sleuth” (o remake) tem um look mais moderno e hi-tech. “Sleuth (o original) tem um look mais clássico e até majestoso.
- Nos dois filmes, o trabalho de actores é perfeito, bem como o de realização.
Continhas feitas:
“Sleuth” (o remake) é um remake de muito bom nível, conseguindo a correcta adaptação aos tempos modernos (cinematograficamente incluídos), trazendo boas novidades e variações no argumento, dando mesmo a ideia que Harold Pinter (reputado dramaturgo) reinventou a peça original de Anthony Shaffer.
Mas “Sleuth” (o original) beneficia de ser mais longo, conseguindo com tal desenvolver mais os eventos e os diálogos, prolongando assim o viciante jogo e o gozo do espectador.
Assim, sendo, e apesar das muito boas qualidades do remake, prefiro o “Sleuth” original.
“Sleuth” tem edição portuguesa e já o vi a preço digno de vir “jogar” na prateleira do cinéfilo. A nossa edição traz bons extras.
Realizador: Kenneth Branagh
Argumentista: Harold Pinter, a partir da peça de Anthony Shaffer
Elenco: Michael Caine, Jude Law
Bilheteira – 4.8 milhões de Dólares (mundial)
Trailer
Nomeado para “Melhor Filme Internacional”, nos Prémios Saturn 2008. “Eastern Promises” foi preferido.
“Menção Especial”, em Veneza 2007.
A peça de Shaffer estreou na Broadway em Novembro de 1970. Durou 1222 representações e venceu um Tony para “Melhor Peça”. Anthony Quayle (Andrew Wyke) e Keith Baxter (Milo Tindle) protagonizavam.
A ideia da peça (e do filme original) mantém-se, mas os diálogos são alterados (face a ambos – o filme original mantinha muitos dos diálogos da peça). Algumas das reviravoltas são diferentes.
Michael Caine vem do filme original, mas interpretava o personagem mais jovem. Agora interpreta o mais veterano.
No filme original, o personagem de Milo é um cabeleireiro. Aqui é confundido como um.
O comando que Caine usa é um comando universal da Apple para os seus produtos.
Jude Law participa pela segunda vez num remake de um clássico com Caine – o outro foi “Alfie”.
Filmado pela ordem do guião.
É o último argumento de Harold Pinter, um prestigiado escritor de teatro.
Cameo de Pinter – o homem que surge na televisão.