Título Original – D.O.A.
O original “D.O.A.” marcou e tornou-se um clássico.
Seria de esperar um remake, não?
Ei-lo.
(na verdade, é o segundo)
Dexter Cornell é professor de Literatura. Dexter é também um escritor one-hit-wonder, caído no esquecimento, que nunca mais conseguiu recuperar a sua veia criativa, tendo também falhado no seu casamento.
Dexter descobre que um dos seus alunos é uma mente brilhante para a escrita. Mas antes que bons laços se possam dar, o aluno morre.
Entretanto, Dexter vem a saber que foi envenenado e não tem cura.
No seu tempo limite procura descobrir a verdade. Tem a ajuda de uma aluna, mas tem muitos obstáculos pelo caminho. Pelos vistos, há muitos segredos na faculdade à volta do falecido aluno, que alguém quer proteger.
Mas porquê matar o professor?
Nem sempre os remakes oferecem mais do mesmo, com o devido upgrade estético, tecnológico, ideológico, etc.
Eis um bom caso.
Este novo “D.O.A.” acaba por ser mais tenso do que trepidante.
Se o original mostrava um protagonista em plena vitalidade da sua vida e a vê-la chegar ao fim, esta nova versão mostra um looser que perdeu a chama pela vida e aproveita os seus momentos finais para sentir a chama perdida.
Tal como no original, há uma love story, mas aqui ela surge no decorrer dos eventos e é um derradeiro momento do protagonista voltar a sentir vida dentro de si.
O problema é que o interesse sentimental vem de uma personagem que funciona como sidekick (algo que o original não tinha). Tal traz humor (numa história bem dark), mas causa algum travão no ritmo e no tom.
Inteligente resulta a banalidade do motivo que origina o assassinato do protagonista, que origina um twist muito bem conseguido.
Suprema ironia – tudo se passa no Natal.
E até há homenagem ao original (genérico a P&B, alguns planos são quase iguais).
E é assim que se deve ver este novo “D.O.A.” – um hábil suspense thriller à volta de um homem despegado à vida, com os minutos contados, que a redescobre e a vive no tempo que lhe resta, tendo também de descortinar o mistério à volta da origem da sua morte.
A dupla Annabel Jankel & Rocky Morton mostra a sua vinda do mundo dos music vídeos, mas isso não é defeito. Dirigem com ritmo (nunca atabalhoado) e com sentido visual e estético, contado tudo com bom gosto.
Dennis Quaid tem aqui uma das suas melhores interpretações, dando ao personagem raiva e desalento.
Sendo um remake, deve-se analisar por si, mas não se pode evitar a comparação.
O argumento traz ideias muito interessantes, até opostas ao original:
- O protagonista é um desencantado; no original, o protagonista era um optimista.
- Tudo se passa num campus universitário, pleno de mistérios; o original passava-se em diversas cidades.
- O protagonista é assassinado e é procurado por assassínio (algo que não acontecia no original).
- Na procura da verdade, tudo foge ao protagonista, as dificuldades são imensas, nada faz sentido, algumas pistas são falsas; no original, o protagonista ia apanhando pedaços da verdade, de iniciativa em iniciativa.
- Há mais personagens em cena e sub-plots.
- Há uma conspiração e uma tragédia familiar (cheia de complexos freudianos); no original, a verdade era mais “certinha”.
- O protagonista tem uma aliada, a tempo inteiro; no original, o protagonista move-se sozinho, como pequenos recursos à sua secretária.
- Maior body count, acção e violência.
Continhas feitas:
Elogia-se o twist, a complicada trama, o tipo de personagem, a geografia mais fechada, mais acção, cadáveres e violência, a estética, a dificuldade no protagonista em descobrir algo – tudo pontos positivos, que fazem deste “D.O.A.” um sólido e elegante suspense mystery thriller.
Mas o filme ressente-se da love story e da sidekick (e eu gosto muito da Meg Ryan) que causa algum atraso num filme que tem de andar (tal como o protagonista) sempre acelerado.
Um muito bom remake, que ruma por opções narrativas e visuais diferentes e muito interessantes, dando origem a um muito bom filme do género.
Mas o original é melhor (factor novidade, melhor ritmo, menos entraves na narrativa).
Muito recomendável.
“D.O.A.” chegou a ter edição nacional em VHS, mas ainda não a tem em DVD. O filme tem edição noutros mercados e anda a preço “morto” (a começar pela edição inglesa, com legendas em Inglês e Espanhol).
Realizadores: Annabel Jankel, Rocky Morton
Argumentistas: Charles Edward Pogue, Russell Rouse, Clarence Greene
Elenco: Dennis Quaid, Meg Ryan, Charlotte Rampling, Daniel Stern, Jane Kaczmarek, Christopher Neame, Robert Knepper, Brion James, Jack Kehoe, Elizabeth Arlen
Orçamento – 29 milhões de Dólares
Bilheteira – 12 milhões de Dólares
Trailer
D.O.A. significa “Dead On Arrival” (Morto à Chegada).
Terceira versão da história – a primeira é de 1950 (“D.O.A.”, de 1950, realizado por Rudolph Maté, com Edmond O`Bien), a segunda é de 1969 (“Color Me Dead”, realizado por Eddie Davis, com Tom Tryon).
Ao longo do filme, a cor vai-se deteriorando, chegando quase ao monocromático. Pretende-se, assim, estar em sintonia, do ponto de vista visual, com o estado do protagonista.
O grupo rock Timbuk 3 tem uma aparição no filme.
É o primeiro filme da dupla Rocky Morton & Annabel Jankel (casados), um casal com curriculum muito elogiado no campo dos videoclips e que fez história na Televisão com a série “Max Headroom”.
Dennis Quaid e Meg Ryan já estavam casados. Tinham-se conhecido um ano antes, no divertido “Innerspace”.
Reencontro entre Quaid e Daniel Stern, depois de “Breaking Away” (1979, de Peter Yates).
Segundo de três filmes que Quaid & Ryan fizeram juntos – “Innerspace”, este e “Flesh and Bone”.