Título Original – Jupiter Ascending
É o regresso dos talentosos manos Wachowski, naquele que marca o seu regresso à sci-fi.
Poderia ser um dos eventos cinematográficos de 2015.
Contudo…
Jupiter Jones é uma rapariga presa a uma existência banal. Até que um dia se vê alvo de muitas pessoas. O seu protector esclarece-a – Jupiter é a mais recente “reencarnação” de uma linhagem real que visa o reger equilibrado e pacífico do Universo.
Mas há facções que não pretendem tal e querem Jupiter fora de cena.
Assim se inicia uma batalha decisiva pelo futuro do Universo.
Dos Wachowskis estamos habituados a receber projectos de grande complexidade (narrativa, técnica e visual) como “The Matrix” e “Cloud Atlas”.
Ei-los de volta, agora num registo mais fácil e popular (algo que já tinham feito com o esplendoroso e espectacular “Speed Racer”, uma das mais fascinantes fantasias e injustos flops do cinema recente).
Como habitualmente no cinema dos manos, há sempre lugar para ideias complexas (a ligação entre a reencarnação e a genética, o tempo como bem precioso, a Terra e outros planetas como “pomares” da fonte da juventude eterna, o Cosmos regido por uma linhagem real, vários planetas com vida humana).
Mas devido à mudança de dimensão do argumento (inicialmente era de 600 páginas, convertendo-se numa plot para duas horas de metragem), muita coisa fica (natural e infelizmente) condensada.
Ficam as ideias, embora nem sempre bem alinhadas (há personagens relevantes que entram e saem sem explicação, era necessário um prólogo detalhado sobre a existência e ligação de todos aqueles mundos, a relação de Jupiter com a família, o conflito dos três irmãos que querem reinar o Universo, a cumplicidade entre os protectores de Jupiter).
Felizmente (embora saiba a “pouco”) fica o deslumbre visual, mostrando todo o perfeccionismo dos Wachowski na criação (e preenchimento) dos planos (alguns chegam a ser pinturas), no uso do som e dos efeitos, no recurso à música como um narrador extra.
Como seria de esperar, perfeição total no campo dos efeitos visuais.
Continhas feitas, fica um enorme espectáculo visual, por vezes campy, em plena sintonia com a space opera clássica, regido por um argumento (demasiado) comprimido e longe do potencial que tinha (e deveria ter).
O elenco é vistoso, mas oferece serviços mínimos. Quem acaba por ascender é mesmo Mila Kunis, que cativa (sempre) com a sua simpatia, naturalidade e (invulgar) beleza, embora deixe a sensação (por culpa do argumento) que é apenas uma presença decorativa e uma (permanente) lady in distress.
Face à concorrência, “Jupiter Ascending” destaca-se pela qualidade (e perfeccionismo) visual e pelas ideias (ainda que desenvolvidas de forma muito superficial), pelo que até é uma ascensão face à média do que nos chega às salas neste género.
Face ao que os manos nos habituaram, o filme acaba por ser uma (pequena grande) decepção.
Mas vale pelo entretimento e pelo consolo visual.
Azares criativos acontecem aos melhores. Por isso, e ao contrário do que tenho lido e ouvido, não é caso para se deixar de acreditar nos Wachowskis (embora o enorme flop que o filme vai ser – e já é o terceiro consecutivo dos manos, depois de “Speed Racer” e “Cloud Atlas” – possa pôr em perigo a sua carreira no campo dos grandes estúdios e orçamentos – já se sabe o quando Hollywood é vingativa a quem a faz perder dinheiro). A sua ascensão irá regressar, de certeza. E até pode ser já no final deste ano e na televisão – a promissora série (de promissora narrativa) “Sense8” está a caminho; ao lado dos manos está o grande J. Michael Straczynski (“Babylon 5”).
Realizadores: The Wachowskis (Andy & Lana)
Argumentistas: The Wachowskis
Elenco: Mila Kunis, Channing Tatum, Eddie Redmayne, Sean Bean, Douglas Booth, Tuppence Middleton, Christina Cole, Doona Bae
Site
http://www.jupiterascending.com/index.php
Orçamento – 176 milhões de Dólares
Bilheteira (até agora) – 23 (USA); 56 (mundial)