Keanu Reeves está de volta.
Como action hero.
E com o dedo bem pesado no gatilho.
John Wick é um retirado hitman. O seu passado de violência foi abandonado pelo amor a Helen, a sua amada esposa.
Mas o falecimento de Helen deixa John só e amargurado, tendo apenas dedicação ao seu carro (um Ford Mustang de 69), numa vida cuja única energia vem da adrenalina que John retira dos seus drifts numa pista. Um dia, John recebe uma prenda de Helen – uma adorável cadelinha, através da qual Helen pede a John a missão de cuidar dela e assim continuar a ter alguém a quem dar afecto.
Mas uma noite, a casa de John é assaltada. Ele é atacado, o carro roubado e a cadela é morta.
Para John, é uma perfeita justificação para retomar o seu antigo modo de vida e vingar-se. Sem tréguas, piedade e prisioneiros.
Começamos em tom de melodrama – um homem preso a um quotidiano de solidão e rotinas, onde só uma adorável cachorrinha é alvo da sua emotividade e onde a adrenalina vem de drifts num aeródromo.
Mas tudo muda quando a violência atinge o lar do protagonista.
“John Wick” explode nu muito eficaz, dinâmico e entretido action revenge flick, cuja mais-valia reside nas muito bem elaboradas set pieces, que combinam a essência dura do actioner 70s e 80s com a estética de videogame (John Wick é personagem de um popular jogo) – a acção traz a violência de outros tempos e a forma como John despacha os inimigos faz-nos sentir dentro de um bom first person shooter.
O argumento é básico, limitando-se apenas a gerir a premissa simples da ideia.
Mas surgem muitas e boas ideias – a visão de um mundo povoado por hitmen/hitwomen (a existência de gente “normal” é quase nula) cria um universo alternativo, há potencial nos personagens secundários que visa mais do que aquilo que é mostrado (a esposa de John, a equipa da “limpeza”), em relações que se percebem ser longas, duradouras e profundas (o agente da Polícia que se dá bem com John, John e um outro hitman) e nos ambientes (o hotel de luxo que é um resort para hitmen/hitwomen, onde existem regras muito rígidas e plenas de ética).
Ideias que são tratadas com simplicidade, mas que mostram algo de mais denso (perfeitamente capazes de serem dignas de um spin-off televisivo).
É nesta entrada e saída rápida de ambientes e personagens que o filme evoca algo de videogame (surgem consoante as necessidades do personagem/jogador).
Quem sabe se “John Wick” não será um pilot para uma série (ou jogo) onde se irá desenvolver mais estas questões.
Excelente trabalho de fotografia, que recupera aquele visual de urban & underground noir dos 70s.
Festival de algum do melhor gun power que a indústria tem no momento.
Keanu Reeves está em grande, ora fragilizado ora temível, sempre heróico e implacável, conseguindo transmitir a dor, raiva e determinação do seu personagem. Os anos passam e ele não perde a sua destreza como action hero.
O restante elenco é vistoso (pelos nomes envolvidos), mas limitam-se a pequenas participações.
Contudo, destaque-se um horado maléfico Michael Nyqvist e um sofisticado irónico Ian McShane.
Um actioner de grande nível, com contornos modernistas e nostálgicos, que é uma bomba de adrenalina.
Óptimo entretenimento.
Obrigatório.
“John Wick” já está nas salas portuguesas.
Realizadores: Chad Stahelski, David Leitch (sem crédito)
Argumentista: Derek Kolstad
Elenco: Keanu Reeves, Michael Nyqvist, Willem Dafoe, Adrianne Palicki, Bridget Moynahan, John Leguizamo, Ian McShane, David Patrick Kelly
Orçamento – 20 milhões de Dólares
Bilheteira – 43 milhões de Dólares (USA); 88 (mundial)
Site – http://www.johnwickthemovie.com
“Grande Surpresa do Ano”, nos Prémios Golden Schmoes 2014.
“Melhor Filme de Acção do Ano”, nos Prémios IGN Summer Movie 2014.
“Melhor Luta”, nos Prémios World Stunt 2015.
Estreia na realização de uma prestigiada dupla coordenadora de uma stunts team (fundaram a 87Eleven, uma das mais prestigiadas empresa ligadas a stunts).
Chad Stahelski tem curriculum como duplo de Keanu Reeves – “Point Break”, a trilogia “The Matrix”, “Constantine”.
David Leitch e Stahelski serão os produtores de uma mini-série planeada intitulada “Rain”. O protagonista é… Keanu Reeves, que interpreta… um hitman (de nome John Rain). A série continua anunciada, mas ainda nada avançou.
O argumentista Derek Kolstad inspirou-se nalguns dos seus film noir preferidos.
Stahelski cita “The Good, The Bad and the Ugly” (1966, de Sergio Leone), “Point Blank” (1967, de John Boorman), “Le Cercle Rouge” (1970, de Jean-Pierre Melville) e “The Killer” (1989, de John Woo), como títulos inspiradores.
Numa fase inicial, o título era “Scorn”. Wick era mais velho (andava na casa dos 60 anos) e a cadela também. Wick não fala durante bastante tempo e o body count era mais baixo. O estúdio produtor recusou a ideia à volta da idade do personagem e procurou ter um actor mais jovem.
O filme inspira-se num evento verídico – o ex Navy SEAL Marcus Luttrell (autor do livro “Lone Survivor” – que originou o filme com o mesmo título, protagonizado por Mark Wahlberg) recebeu um pequeno labrador; este foi morto a tiro por quatro homens; Lutrell perseguiu-os por quatro condados e conseguiu que eles fossem capturados pela Policia; os quatro homens foram condenados à prisão e nunca mostraram arrependimento; Lutrell afirmou que lhes poupou as vidas pois já estava farto de mortes.
Reeves foi sujeito a um treino rigoroso e intensivo de quatro meses, nas artes de judo e jiujitsu.
Reeves fez a maior parte das stunts exigidas.
A cadela de Wick é uma beagle com 8 semanas de vida.
John Wick é também um personagem do jogo “Payday 2”.
Usou-se gordura de bacon na cara de Reeves, no sentido de atrair a cadela a ir-lhe lamber a cara.
Michael Nyqvist aleijou-se seriamente numa stunt. Teve de ser operado.
Muitos dos stuntmen são reutilizados ao longo do filme. Os realizadores mudaram-lhes o aspecto (cabelo, barba).
Na cena do aeroporto, um segurança acena a Wick. O homem está a ler o romance “Shibumi”, de Rod Whitaker (escritor que usava sempre o pseudónimo de Trevanian). Nesse livro, o protagonista também é um assassino já reformado, mas de volta ao activo.
Quando se refere que Wick já matou com recurso a um lápis, tal ideia vem desse romance.
Clint Eastwood já realizou e protagonizou um filme inspirado num romance desse escritor, com esse personagem – “The Eiger Sanction” (1975).
A tatuagem de Wick diz “Fortis Fortuna Adiuvat” – “A Sorte Favorece os Audazes”. É o lema de muitas forças especiais mundiais.
No filme refere-se um certo “The Red Circle Bar”. É uma alusão ao filme “Le Cercle Rouge” (1970, de Jean-Pierre Melville).
Os american muscle cars vistos no filme são: Ford Mustang Mach 1 1969, Chevelle SS 454 LS6 1970, Dodge Charger LD 2011 e Dodge Charger 1968.
Na casa de Wick pode ser visto um livro sobre Álvaro Siza Vieira.
Segundo filme onde Reeves conduz um Dodge Charger, depois de “Street Kings” (2008).
Eva Longoria, a mais famosa das “Desperate Housewives” é uma das produtoras do filme.
O primeiro cut era de 140 minutos.
Body count – 119.
John Wick mata 77 pessoas.
Viva…
Muito Bom regresso de Reeves ao cinema de acção. O registo perfeito para as suas capacidades como actor, na minha modesta opinião! Um filme de “kick ass” que deixará os fãs do género satisfeitos, embora não seja uma obra-prima do género.
Só um pequenino pormenor- John Wick é aprecidador de boa arquitectura, já que possui um livro de Siza Vieira na mesa de centro da sala de estar 🙂