Título Original – The Babadook
Da Austrália temos, quase sempre, recebido talento – nos filmes, nos actores e nos realizadores.
Infelizmente, a visibilidade desta (notável) cinematografia é cada vez mais rara (até porque muitos dos talentos da “terra dos cangurus” estão em Hollywood, e como tal os seus trabalhos são Made in USA).
A exibição deste “The Babadook” tem, portanto, motivos de gáudio. Infelizmente, há riscos que possa “assustar” a recepção do público.
Pelo tema (casa assombrada, mãe e filho aos gritos) e pela ausência de nomes sonantes.
Algo injusto, pois estamos perante uma das grandes surpresas e filmes do ano.
Amelia perdeu o marido num acidente, logo no dia em que ia dar à luz.
Enfermeira num lar de idosos, Amelia só vive para o filho Samuel.
Samuel é uma criança muito especial, sempre a precisar de atenção, com uma enorme imaginação e energia, devoto à mãe, mas com fortes carências.
A descoberta de um misterioso livro, “The Babadook”, parece alimentar a imaginação de Samuel. Mas o que parecia ser apenas brincadeira de uma imaginação fértil, logo se revela algo mais.
Estranhos eventos começam a acontecer na casa, estranhas visões começam a ter Amelia e Samuel. Pelos vistos, com a leitura do livro, o tal Mister Babadook foi convocado e não há como se livrarem dele.
A não ser… que um deles se deixe possuir pelo dito senhor.
Jennifer Kent (veterana actriz da televisão australiana, que aqui se estreia em longas-metragens, depois de um par de curtas) dá uma verdadeira lição de eficácia, ritmo, tensão, medo e emoção.
O que poderia dar origem a um “carrossel” de sustos (“Annabelle”, por exemplo), Kent prefere seguir um ritmo mais lento, onde expõe a densidade da relação entre mãe e filho, os seus dramas, dilemas e emoções, dando a devida progressão dramática (e assustadora) dos eventos.
A tensão e o medo estão sempre presentes (e num crescendo magistral), mas Kent enfatiza o lado humano e emotivo da narrativa, nunca desleixando os personagens. Quando chega o momento adequado, Kent carrega (e bem) no susto, seja para nos parar a respiração (a aparição no quarto), fazer saltar na cadeira (o “passageiro extra” na carrinha) ou deixar-nos sem unhas (os 20 minutos finais são quase insustentáveis).
Essie Davis (que grande actriz!!!) é estupenda como uma mãe frágil, empenhada e desesperada, na luta interior entre a loucura, a possessão maldita e o seu amor maternal.
Noah Wiseman (que prodigioso actor!!!, no seu primeiro trabalho) é absolutamente impressionante como uma criança carente, necessitada, imaginativa, devota e assustada. Que actor incrível está aqui. Noah merece muita atenção no seu futuro.
Nota altíssima para a fotografia.
Assim se faz um (grande) filme de terror (psicológico), onde este não está na exposição física de violência (aqui não há “sangue & tripas”), mas sim na perturbação de um quotidiano (já frágil, do ponto de vista psicológico) e da manipulação de emoções (igualmente frágeis).
Não é absurda a comparação com “Annabelle” (que também está em exibição nas salas). O filme de Kent consegue sustos tão bons como o filme de John F. Leonetti. Mas o filme australiano consegue aquilo em que o filme americano é mais modesto – a garra das interpretações e o poder emocional que deriva dos personagens.
Como disse, “The Babadook” é uma das grandes surpresas de 2014 e um dos seus melhores filmes (dar-lhe o “prémio” de “Melhor Filme de Terror do Ano” é plenamente justo).
Um instant classic. Acreditem.
Infelizmente há a possibilidade do filme passar despercebido (vi o filme numa sala onde estava apenas mais um espectador). O que seria uma enorme injustiça.
Não deixem. “Assustem” essa indiferença.
Realizadora: Jennifer Kent
Argumentista: Jennifer Kent
Elenco: Essie Davis, Noah Wiseman
Site – http://thebabadook.com
Bilheteira – pouco mais de 1 milhão de Dólares (mundial)
Financiado pelo projecto Kickstarter – https://www.kickstarter.com
É realmente uma obra de arte. Perfeito!
Viva…
Vi o filme e fiquei surpreendido. Por todos os aspectos que estão expostos no artigo. A demonstração de que não é necessário recorrer a “sangue e tripas” e a cenas repentinas que nos fazem saltar da cadeira para termos uma masterpiece de terror. O trabalho do petiz é sem dúvida magistral e surpreendente pela sua idade… A actuação da “mãe”, não lhe fica atrás…
Toda a fotografia do filme está também perfeita… todo ele tem uma cor, uma luminosidade muito própria, muito sóbria que cria um atmosfera perfeita para a série de eventos que a leitura de um livro desencadeia.
Não sou grande adepto de filme do género, mas obras como estas merecem ser visionadas por todos aqueles que gostam de cinema. Mas infelizmente, o facto de não ser “made in Hollywood” poderá retirar-lhe a visibilidade mais do que merecida…
Excelente.