É o filme que marca a estreia em Hollywood (ainda que com financiamento de vários países – USA, mas também da Europa e da Ásia -, com filmagens na Europa) de um dos melhores realizadores do cinema sul-coreano e mundial – Bong Joon-Ho.
Grande parte da imprensa sul-coreana considerou “Snowpiercer” como “O Melhor Filme de 2013”. Elogio (merecido) que culmina uma carreira cheia de (merecidos) prémios.
Um dos produtores do filme é Chan-Wook Park (“OldBoy”), outro relevante realizador da Coreia do Sul (e do Cinema mundial) que também já deu o passo para Hollywood (“Stoker”, com Mia Wasikowska, Nicole Kidman, Matthew Goode).
(falarei de Park em breve)
2014 (o filme já não é ficção científica, portanto).
Cientistas do mundo inteiro fazem experiências para conseguir evitar o aquecimento global do planeta, no sentido de baixar a temperatura média da Terra. Resultado? “Resulta”. A Terra passa a ser um permanente “congelador”, onde se extermina toda a vida animal e vegetal.
O “Snowpiercer” passa a ser o mundo. Um enorme comboio, capaz de gerar alimentos e albergar os sobreviventes, percorre o planeta num trajecto fixo, ao longo de anos.
Dentro do comboio começam-se a criar diversas sociedades e hierarquias. A revolta não tarda. Mas o comboio tem um segredo que irá abalar toda a organização daquela sociedade.
Nos dois primeiros actos, estamos na companhia de um muito entretido e inteligente survival actioner, tenso e trepidante.
Mas o último acto, quando a verdade é descoberta, reserva-nos um brutal punch.
“Snowpiercer” faz do comboio um mundo. O Mundo. E Bong aproveita a viagem para fazer uma parábola sobre o Homem, a Humanidade, a Sociedade, o Homem e a Natureza, O Homem e o Caos, o Homem e a necessidade de Sociedade, de liderança, de organização, Céu e Inferno, Bem e Mal, Deus e Diabo, a Vida e o seu equilíbrio, os jogos (divinos, humanos, sociais, políticos) para se organizar, gerir, controlar e manter uma sociedade.
Tanto tema complexo e vasto (em que muitas reflexões ficam entregues ao espectador) num título que visa (também) o entretenimento.
Bong dirige com garra, dando um óptimo ritmo (apesar do filme passar as duas horas de duração), conseguindo assegurar permanentemente o interesse e a surpresa (não há personagem que ganhe a garantia de sobreviver, nunca se sabe o que vai acontecer à medida que se passa um novo vagão) no espectador, criando aqui e ali bons momentos de mise en scéne (a batalha às escuras) e de choque (o castigo dado a um revoltado, a descoberta dos ingredientes das barras de proteínas).
A estreia em Hollywood para Bong não poderia ser melhor. Assina o seu filme mais complexo e ambicioso.
Nota alta para a fotografia e para a cenografia.
Efeitos visuais de muito bom nível.
Um dos melhores filmes de 2014 (embora seja de 2013). Pena que tenha passado despercebido.
Apanhem “Snowpiercer” noutra “estação”. A viagem vale a pena.
Realização – Joon-ho Bong
Argumentistas – Joon-ho Bong e Kelly Masterson, segundo uma bd (“Le Transperceneige”) de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette
Elenco – Chris Evans, Kang-ho Song, Ed Harris, John Hurt, Tilda Swinton, Jamie Bell, Octavia Spencer, Ewen Bremner, Ah-sung Ko, Alison Pill
Orçamento – 39 milhões de Dólares.
Bilheteira – 4 (USA); 86 (mundiais).
Site – http://snowpiercer-film.com/
Trailer
Nota – O filme tem uma duração de 126 minutos. É este o tempo que dura o Director`s Cut. Sabe-se de uma disputa entre Bong e os irmãos Weinstein, pois estes quiseram um corte de 20 minutos.
Sobre tal:
http://screenrant.com/snowpiercer-deleted-scenes-us-theatrical-cut-version/
Sobre a BD onde o filme se baseia:
http://io9.com/the-original-snowpiercer-comic-is-dystopian-scifi-at-i-1507420694
http://kotaku.com/the-snowpiercer-comic-is-pretty-damn-good-1593503489
http://www.theverge.com/2014/1/28/5335822/snowpiercer-english-debut
Entrevista com Kelly Masterson, co-argumentista do filme
http://www.comicbookresources.com/?page=article&id=53188