Título Original – Kaze Tachinu
Titulo Internacional – The Wind Rises
Após muitos anos de nunca cumprir a promessa de se reformar, agora é mesmo a sério e para cumprir.
Este é, mesmo, o último filme do genial, encantador e lendário Hayao Miyazaki.
O filme foca uma boa parte da vida e obra de Jiro Horikoshi, um prodígio criativo e visionário do mundo da aviação, responsável por ter criado os míticos Zero, os aviões que ficaram populares devido ao uso da Força Aérea japonesa no ataque a Pearl Harbor.
Sei que o filme causou alguma controvérsia, precisamente por focar a pessoa que criou os ditos Zero, que seriam usados como armas de destruição e guerra.
Mas essa polémica não me interessa.
Vou é focar o filme.
A quem interessar a controvérsia, eis algumas “tertúlias”:
http://thedissolve.com/news/242-miyazaki-controversy/
http://www.newstatesman.com/culture/2014/05/animating-principle-wind-rises-and-genius-miyazaki
https://uk.movies.yahoo.com/miyazaki-admits-controversy-over-final-film-200100534.html
https://educationinjapan.wordpress.com/tag/jiro-horikoshi/
http://arthousecowboy.com/journal/2013/12/9/on-moral-repugnance-and-the-wind-rises
Agora voemos ao filme.
Fugindo do seu estilo habitual (fábula, fantasia, sci-fi), Miyazaki entra num mundo mais real e humano, até mesmo histórico.
Mas não se pense que por causa disso, o filme perde as habituais virtudes do cinema do cineasta.
Há magia (os encontros entre Jiro e Naoko), encanto (a forma como Jiro recolhe inspiração para os seus projectos, sempre entre o sonho e a realidade) e sentimento (toda a delicadeza de Jiro na sua atitude, a amizade entre Jiro e Honjo, a doença de Naoko e o sofrimento de Jiro, a relação de Jiro com a irmã).
Como sempre no Cinema de Miyazaki, belíssimo trabalho de animação, cor, ambientes e personagens. Também como sempre, brilhante uso da paisagem (a forma como se sente, no olhar e no coração, o céu e o acto de voar). Também como sempre, excelente partitura musical – sempre a cargo do genial Joe Hisaishi, longo colaborador de Miyazaki.
“The Wind Rises” é um filme sobre a vida de um homem que sonhava e procurava concretizar os seus sonhos através da sua arte (a indústria aeronáutica). Jiro acaba por ser um alter ego de Miyazaki, génio visionário que (também) usou uma outra arte (a do Cinema de Animação) para concretização e partilha dos seus sonhos (tendo por vezes de fazer, tal como Jiro, sacrifícios na sua vida familiar – há anos que Miyazaki anuncia a reforma para se dedicar à família, mas acaba sempre por adiar a decisão e pedir desculpas aos seus).
Ao focar a vida e obra de uma pessoa real, Miyazaki ilustra uma parte da História do Japão, fazendo um hino à capacidade de sonhar do ser humano, de realizar os seus sonhos, mostrando também os sacrifícios e os momentos dolorosos que tal acarreta. Dá-nos uma belíssima odisseia de um homem à realidade dos seus sonhos, uma belíssima história de amor e uma belíssima história de amizade.
(as questões políticas e bélicas são referidas com enorme subtileza e deixadas para último plano, mostrando que Miyazaki está mais interessado em Jiro e nas suas motivações do que nas consequências – mal usadas e interpretadas – da sua obra, geradas por gente irrelevante)
Estamos perante uma das obras máximas do cineasta e dos estúdios Ghibli. Infelizmente, o filme corre o risco de ser (injustamente) subvalorizado dentro da filmografia de Miyazaki (precisamente por causa de ser muito “real”), mas a passagem do tempo pode ser (muito) favorável ao filme. Até porque ele tem (muito) a ganhar quando visto de forma sequencial na filmografia do cineasta.
Tal como o sonho, a arte e a vida, o vento não pára de soprar. E há que continuar a viver. E voar.
É disso que fala “The Wind Rises”. É isso que Miyazaki sempre nos ensinou nos seus filmes. É isso que Miyazaki sempre viveu na sua carreira.
Um perfeito final de carreira (igualmente perfeita) para Miyazaki.
O perfeito “filme-testamento” para Miyazaki e para os fãs.
Miyazaki É um dos maiores Mestres de Cinema de Sempre.
Um dos melhores filmes do ano.
Infelizmente está inédito entre nós. Um exibidor/distribuidor português chegou a tê-lo em agenda para Abril deste ano, mas tudo ficou cancelado.
Felizmente que o filme “voa” noutros “céus”.
Voem também.
Sayonara, Sensei Miyazaki. Tornaste o mundo e o Cinema de Animação nuns lindos céus para se voar e sonhar.
Realizador: Hayao Miyazaki
Argumentista: Hayao Miyazaki, a partir de uma bd da sua autoria
Vozes (versão USA): Joseph Gordon-Levitt, John Krasinski, Emily Blunt, Martin Short, Stanley Tucci,Mandy Patinkin, Werner Herzog, Jennifer Grey, William H. Macy
Orçamento – 30 milhões de Dólares
Receitas – 111 (Japão); 134 (mundiais)
Sites
http://thewindrisesmovie.tumblr.com/
A canção de encerramento
Emily Blunt e Joseph Gordon-Levitt sobre o filme
Sobre Jiro Horikoshi
Sobre os Mitsubishi Zero
http://science.howstuffworks.com/mitsubishi-a6m-zero.htm
http://www.airbum.com/pireps/PirepPeanutZero.html
http://www.chuckhawks.com/zero_A6M.htm
http://militaryhistory.about.com/od/militaryaircraft/p/a6mzero.htm
Nomeado para “Melhor Filme de Animação”, nos Oscars 2014. Foi vencido por “Frozen”.
“Melhor Filme de Animação”, pela Alliance of Women Film Journalists 2013.
“Melhor Argumento para Filme de Animação”, nos Prémios Annie 2014.
“Melhor Filme de Animação”, “Melhor Banda Sonora”, pela Academia Japonesa 2014.
“Melhor Filme de Animação”, pela Associação de Críticos de Boston 2013, Associação de Críticos de Ohio 2014, Associação de Críticos de Chicago 2013, Círculo de Críticos de Nova Iorque 2013, Associação de Críticos de San Diego 2013, Associação de Críticos de Toronto 2014.
“Melhor Filme de Animação”, nos Prémios Satellite 2013.
“Melhor Banda Sonora para um Filme de Animação”, nos Prémios dos Críticos Internacionais de Música 2013.
“Prémio do Público”, no Festival de Mill Valley 2013.
“Melhor Filme de Animação”, pela National Board of Review USA 2013.
“Melhor Animação do Ano”, nos Prémios Tokyo Anime 2014.
O título do filme surge de um poema de Paul Valéry’s poem “Le Cimetière Marin”. De lá surge a frase, muito citada ao longo do filme, “Le vent se lève, il faut tenter de vivre“.
Eis o poema – http://www.leventseleve.fr/poeme.htm
Um outro poema é usado no filme. É “Qui a vu le vent ?”, de Christina Rossetti, poetisa anglo-italiana do Século XIX.
Eis o poema –
A bd de Miyazaki é de 2009. Toshio Suzuki (produtor do filme, activo produtor de Miyazaki e dos filmes Ghibli, sendo também um dos fundadores do estúdio) sugeriu ao cineasta que fizesse um filme a partir da sua bd. Na altura, Miyazaki queria fazer uma sequela para “Ponyo”.
É a primeira vez que os estúdios Ghibli fazem um filme a partir de uma personalidade verídica. O Jiro do filme é uma fusão do verdadeiro e do escritor Tatsuo Hori, autor do livro “Kaze Tachinu”, que foca a vida e obra do verdadeiro Jiro. Naoko, a menina por quem Jiro se apaixona, é a protagonista de um outro romance de Hori, precisamente com o título de “Naoko”.
Vozes humanas foram usadas para dar efeitos de som a motores de aviões e de terramotos. É a primeira vez que tal se faz nos Ghibli.
O filme junta-se a outros três que mostram o fascínio de Miyazaki pelos céus – “Porco Rosso”, “Castle in the Sky” e “Kiki`s Delivery Service”.
Hideaki Anno dá voz (na versão japonesa) a Jiro. Anno é um prestigiado realizador, argumentista e animador, no campo do Cinema de Animação. Anno e Miyazaki conheceram-se em “Nausicaa and the Valley of the Wind”, onde Anno foi encarregue de fazer alguns desenhos. É a primeira vez que Anno dá voz a um personagem de animação.
Os Estúdios Ghibli