Wally Pfister é um dos grandes Directores de Fotografia da actualidade, com uma longa e frutuosa colaboração com Christopher Nolan.
Eis a sua estreia na realização, com um estupendo elenco e com um tema provocatório, profundo e susceptível de grande reflexão e debate.
Will Caster é um brilhante cientista, perito em Inteligência Artificial. O seu trabalho é notável, mas tem fortes e violentos opositores.
Durante uma palestra, Caster é alvejado mortalmente. A sua salvação passa pela transferência da sua mente para um computador avançado.
E assim nasce uma nova espécie. Mas quais os perigos?
Cinema é como a Culinária – nem sempre com os melhores ingredientes se fazem grandes petiscos.
Eis um excelente exemplo.
É certo que o tema tem (imensa) potencialidade e densidade (a alma do ser humano, até que ponto esta pode ser armazenada e transportada, pode uma máquina ter a essência do ser humano), mas tudo está tratado com superficialidade, pretensiosismo e até de forma atabalhoada, procurando, sem sucesso, conciliar o didáctico, o ensaio e o entretenimento.
O tema faria as delícias (narrativas e visuais) de Kubrick (em “2001” ele focou algo semelhante) e dos Wachowski (a trilogia “Matrix” é um prodígio de estética, filosofia, reflexão e entretenimento, à volta deste tema).
Mas infelizmente, o filme não conta com alguém ao nível destes génios.
O ritmo é lento, chato e quando tenta ser dinâmico (de repente surgem uns mercenários a julgar que combatem/destroem um computador à base de balas e explosivos) cai no patético (guys, isto não é “The Terminator”).
No meio de tanto conflito entre Homem e Máquina, o magnífico naipe de actores parece atacado por algum vírus ou em system halt que os deixam em permanente estado de letargia.
Pfister é, de facto, um excelente director of photography, e olhando para este seu debut como realizador, mais vale regressar à sua antiga função. O resultado é do mais vulgar dos telefilmes (algo inesperado de um homem que nos deu imagens de grande poder visual e espectacular – “Batman Begins”, “Inception”).
“Transcendence” é, talvez, a maior decepção cinematográfica de 2014.
A evitar.
“Transcendence” já está nas salas portuguesas.
Realização: Wally Pfister
Argumento: Jack Paglen
Elenco: Johnny Depp, Rebecca Hall, Morgan Freeman, Paul Bettany, Cillian Murphy, Kate Mara, Cole Hauser
Site – http://www.transcendencemovie.com/
Orçamento – 100 milhões de Dólares
Bilheteira – 23 milhões de Dólares (USA); 80 (mundial)
O projecto surgiu a Christopher Nolan durante as filmagens de “The Dark Knight Rises”. Nolan sugeriu-o a Pfister como o ideal para o seu debut na realização.
Pfister é um grande fã de película e métodos analógicos. Este filme mantém a sua tradição – nas filmagens e na montagem.
James McAvoy, Tobey Maguire, Christian Bale e Jude Law foram considerados para protagonista.
Rebecca Hall superou as candidaturas de Emily Blunt, Rooney Mara, Noomi Rapace e Kate Winslet (que recusou por conflito de agenda).
Paul Bettany beneficiou das recusas de Ewan McGregor e Tom Hardy, dado que estes estavam com a agenda ocupada.
Filme que trata dessa digitalização do indivíduo e de como se pode (ainda) estabelecer uma relação entre os que mantêm a carne e os que optam – ou nunca puderam escolher. Este thriller de ficção científica mais de 100 minutos, eu gostei. Transcendence é um filme estranho e muito futurista que eleva a curto prazo um futuro muito sombrio para toda a humanidade. A coisa interessante sobre este filme é o debate e o dilema moral que surge quando se discute os limites da ciência e tecnologia. Transcendênce é o primeiro filme que fez Wally Pfister, diretor de fotografia de quase todos os filmes de Christopher Nolan.