GODZILLA sopra 60 velinhas.
E esta é a prenda.
A que este Deus merece e a que os seus acólitos anseiam.
Numa instalação nuclear, no Japão, dá-se um mortal e destrutivo acidente. Anos depois ainda persiste a dúvida sobre o que aconteceu. Apesar dos muitos encobrimentos, a verdade é descoberta.
O Homem andou a brincar com a Natureza e do “ensaio” brotaram medonhas criaturas que podem gerar o fim da Humanidade.
Mas das profundezas surge um Deus, um gestor do equilíbrio da Natureza que vem até à superfície para restabelecer a ordem.
E uma monstruosa e épica batalha começa.
Como já aqui referi há uns meses, fiquei muito bem impressionado com a estreia de Gareth Edwards no seu belo “Monsters” (2010). Para além do bom gosto visual (grande rigor no planeamento visual, imagens com sentido de impacto e o bem saber usá-las para contar uma história – o plano final), havia também uma forte parábola sobre o ser humano (o seu preconceito contra tudo o que é diferente e a sua capacidade em gerar a sua autodestruição e a da Terra) e os excessos militaristas (sendo mais causadores de caos do que salvação), mas também uma densidade humana e emocional rara no género da Sci-Fi (afinal, era uma história de amor, amizade e sobrevivência entre duas pessoas).
Portanto, seria o homem adequado para fazer o reboot ao “Deus dos Monstros”.
Vendo o filme, confirma-se – Edwards está para Godzilla como Sam Raimi está para Spider-Man.
Edwards tem agora a ajuda da gigantesca logística dos grandes estúdios, um monstruoso orçamento e grandiosos efeitos visuais. Mas não se deixa dominar por tal.
Edwards nunca perde a dimensão humana (um pai e marido que procura a verdade como redenção pela culpa da sua mulher, um filho já marido e pai que procura a reconciliação e a continuidade da senda do pai, um cientista à procura da verdade suprema sobre a sua teoria) e emocional (o protagonista nunca se desliga dos seus, sendo sempre motivado pelo desejo de reencontro) da narrativa, juntando aqui e ali elementos de alguma religiosidade ecológica (a visão do cientista japonês sobre Godzilla) e de parábola sobre os excessos do militarismo (quando entram em cena querem resolver tudo com armas nuclerares).
Como se viu em “Monsters”, Edwards deixa espaço para os actores.
Em “Godzilla” o elenco é vistoso, uns com mais protagonismo e relevância que outros, mas há competência.
Sally Hawkins e Juliette Binoche defendem-se com a sua habitual segurança e simpatia – Sally be convicta face a Godzilla, Juliette comove apesar do seu curto screen time.
David Strathairn convence como o líder militar, prático mas inseguro.
Elizabeth Olsen tem postura muito natural.
Ken Watanabe muito sólido como um cientista confiante mais nas leis da Natureza que as do Homem.
Bryan Cranston bem intenso pela dilaceração emocional a que foi sujeito e pela sua contínua e sentimental procura.
O grande herói (humano, entenda-se) é mesmo Aaron Taylor-Johnson – para além de mostrar uma excelente presença e se defender muito bem como action hero, Johnson dá uma grande dignidade emocional e humana ao seu personagem.
No campo técnico, tudo é de uma qualidade irrepreensível.
Excelente fotografia do sempre excelente Seamus McGarvey – homem tão habituado a coisas intimistas (“Atonement” e “Anna Karenina”) como a épicos heroísmos (“The Avengers”).
Épica partitura do sempre impecável Alexandre Desplat (“Argo”, “Benjamin Button”, “Chéri”).
Perfeitos efeitos visuais, supervisionados pelo grande Jim Rygiel (trilogia “The Lord of the Rings”, “The Amazing Spider-Man”, “Night at the Museum”), que contou com uma ajudinha do lendário John Dykstra (“Star Wars”, “Battlestar Galactatica”, “Spider-Man 2”).
Edwards faz uma excelente gestão à volta do herói e à sua aparição total, em relação ao suspense (o sentido de timing para a sua aparição), à expectativa (estamos sempre tensos quanto à sua aparição – vários são os momentos em que saltamos na cadeira a dizer “é agora, é agora”), à acção (quando estamos crentes que vai acontecer uma monumental monster action, eis que…) e à surpresa (o momento em que surge a arma secreta do “Lagartinho”).
Magnífico ritmo. Um primeiro terço a cativar pelos personagens e as suas emoções, bem como pela intriga de mistério à volta dos eventos monstruosos. Mas quando se sabe que Godzilla vai entrar em cena, o filme não pára e deixa-nos sempre colados na cadeira.
Fabulosas cenas de monster action, que não cessam de nos espantar e arrebatar, que ficarão na História do Kaiju.
Edwards confirma-se como um óptimo realizador, um dos melhores do cinema actual no campo da Sci-Fi.
E perante tudo isto, que(m) mais referir?
…
…
…
Ahhh, pois…
GODZILLA.
(estavam mesmo a pensar que eu me ia esquecer dele?)
Tal como o filme, deixo o melhor para o fim.
Godzilla espera pelo momento oportuno para entrar em acção e fá-lo à medida do seu estatuto. Épico, grandioso, forte, ágil, enorme, majestoso, nobre e liiiiiiiiiiiiindo. Godzilla passa pelas “passas do Algarve” face aos seus inimigos e a acção envolve-nos de tal maneira, que quase nos sentimos no meio dela e com vontade de ajudar o herói.
Muitos são os momentos que ficarão na memória do fã (a sua chegada à ilha, a visão das patas, o primeiro rugido, o seu nadar pelo Pacífico na companhia de uma frota, a aflição na ponte, o duelo na cidade, o seu apogeu).
Nunca vimos Godzilla tão perfeito, detalhado, emocional, viril e frágil.
(mesmo assim, há boas criações nas diversas fases Made in Japan)
E perto do final até se consegue um momento comovente que quase nos leva a “lubrificar os olhos”.
(Godzilla ganha, perde, sobrevive? That would be telling, e não o farei)
GODZILLA está de volta e em grandiosa forma. Épicos e majestosos 60 anos.
ELE É O “Deus dos Monstros”.
“Godzilla” é a sua “Deusa-Prenda”.
“Godzilla” é grande momento Kaiju.
“Godzilla” (2014) esmaga (totalmente) o imbecil “Godzilla” (1998 – tremenda ofensa ao “Lagartinho”).
Nasceu um clássico.
“Godzilla” é, “apenas”:
O melhor filme de 2014.
O melhor blockbuster de 2014.
Um dos melhores blockbusters de sempre.
Um dos melhores Monster/Kaiju Movies de sempre.
Um dos melhores Godzilla Movies de sempre.
Obrigatório.
“Godzilla” está nas nossas salas.
Realizador: Gareth Edwards
Argumentistas: Max Borenstein, Dave Callaham, inspirados pelo personagem criado por Ishirô Honda, Takeo Murata, Shigeru Kayama e pela Toho
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston, Ken Watanabe, Sally Hawkins, Juliette Binoche, David Strathairn
Trailers
Site – http://www.godzillamovie.com
Canal YouTube – http://www.youtube.com/user/godzillawb
Uma featurette
Orçamento – 160 milhões de Dólares
Bilheteira – 200 milhões de Dólares (USA); 529 (mundial)
Mercado doméstico – 40 milhões de Dólares
Nomeado para “Melhor Filme de Ficção Científica”, nos Saturn 2015. Perdeu para “Interstellar”.
Nomeado para “Melhor Filme Estrangeiro”, pela Academia Japonesa 2015. Perdeu para “Frozen”.
Nomeado para “Melhor Filme – Acção/Aventura”, nos Teen Choice 2014. Perdeu para “Divergent”.
“Melhor TV Spot”, “Melhor Poster Internacional”, “Melhor Poster – Blockbuster Verão 2014”, nos Golden Trailer 2014.
“Melhor Destruição”, nos Matchflick Flicker 2014.
“Melhor Som”, pelos críticos de Seattle 2015.
“Compositor do Ano” (Alexandre Desplat), nos World Soundtrack 2014.
Gojira – assim é Godzilla em Japonês, misto de golila (gorila) e kujila (baleia).
O filme original surge em 1954, nove anos depois dos bombardeamentos nucleares em Hirochima e Nagazaki. O filme era uma reflexão sobre os perigos do Nuclear e como a Natureza se podia vingar.
O projecto começou em 2005, por parte de Yoshimitsu Banno (autor d “Godzilla vs. Hedorah”, em 1971). Seria em IMAX 3D e mostraria Godzilla a lutar contra um monstro chamado Deathla (parecido com Hedorah, de cor vermelha e com uma cabeça em forma de crânio). A acção passar-se-ia em diversos países. Na procura de parceiros e financiadores, Banno acaba por se cruzar com Legendary Pictures, mas o projecto muda de rumo.
Guillermo del Toro foi ponderado como realizador, mas estava ocupado com “Pacific Rim” (espectacular homenagem ao género Kaiju, ao qual pertencem os Godzilla films).
Gareth Edwards é um fã de Godzilla desde criança. O seu primeiro filme “Monsters” (2010), chama a atenção dos produtores.
Juliette Binoche, Bryan Cranston, Sally Hawkins, David Strathairn, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson foram as primeiras escolhas de Edwards.
Joseph Gordon-Levitt, Henry Cavill, Scoot McNairy (que já tinha trabalhado com Edwards em “Monsters”) e Caleb Landry Jones foram considerados como Ford Brody. Taylor-Johnson seria o escolhido.
Hilary Duff, Jennifer Lawrence, Aly Michalka, Imogen Poots, Margot Robbie, Emilia Clarke e Emmy Rossum foram consideradas como Elle Brody. Olsen seria a escolhida.
Cranston é um fã de Godzilla desde criança. Temia que o filme caísse no ridículo, mas depois de conversar com Edwards e ver o seu “Monters” mudou de opinião.
Olsen ficou muito bem impressionada pelo filme anterior de Edwards (“Monsters”), pelo seu entusiasmo na preparação do filme e na conversa que teve com ele.
Watanabe estava céptico perante um novo Godzilla filme feito por Hollywood (a versão de 1998 caiu muito mal no Japão). Mas ficou entusiasmado depois de conversar com Edwards.
Binoche (que já tinha recusado participar em “Jurassic Park”) aceitou devido a uma carta pessoal de Edwards, que a deixou comovida. A actriz também foi sensível à opinião do seu filho, grande fã de Godzilla.
Sally Hawkins chegou três semanas depois das filmagens terem começado.
Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen reencontrar-se-iam, em “Avengers: Age of Ultron” (2015).
Godzilla iria ser descoberto num glaciar siberiano. A ideia foi abandonada quando se soube que “Man of Steel” tinha uma cena semelhante.
King Ghidorah ia ser o vilão (já era um habitual nos muitos filmes feitos no Japão). Ghidorah vinha do Espaço, caía na Terra na Idade do Gelo e ficava congelado e preservado. A organização MONARCH descobria-o, mas ele fugia e semeava o caos e o medo. Godzilla procura-o para o confrontar. Edwards rejeita a ideia, pois queria tudo ligado à natureza na Terra.
O argumento pega nalgumas das (boas) ideias que Terry Rossio e Ted Elliott criaram para o filme que andava planeado em 1994 (na época Jan de Bont estava indigitado como realizador; diversas complicações e tudo resultou nesse “adorável” filme que se viu em 1998):
- Um prólogo onde se mostra um antepassado de Godzilla já morto.
- Godzilla em San Francisco num confronto na Golden Gate Bridge.
- Godzilla a enfrentar inimigos ancestrais.
- Godzilla a enfrentar um inimigo que voa.
- Godzilla decapita um inimigo com recurso ao seu bafo atómico.
- Godzilla a regressar ao mar, no final.
David S. Goyer, Drew Pearce, Tony Gilroy e Frank Darabont trabalharam no argumento, mas os seus nomes não receberam crédito.
Para Edwards, Godzilla é como o Samurai visto em “The Last Samurai” (2003) – um guerreiro solitário, o último da sua espécie, longe da “multidão”, que regressa para repor a ordem.
Para Edwards, Godzilla é um anti-herói, fruto da ganância do Homem e da sua exploração sobre a Natureza, simbolizando a raiva desta.
Edwards e a crew ligada ao design viram todos os filmes de Godzilla para se inspirarem no design final.
O design de Godzilla inspira-se em ursos e Dragões de Komodo; a cabeça é um misto de urso, cão e águia.
O Sound Designer do filme recebeu o som original do filme de 1954 relativo ao rugir de Godzilla. Erik Aadahl limitou-se a fazer um upgrade ao som.
O design dos MUTO é inspirado nas criaturas vistas em “King Kong” (1933), “Alien” (1979), “Jurassic Park” (1993) e “Starship Troopers” (1997).
Com 108 metros de altura, este era o maior Godzilla até então.
Godzilla é criado numa combinação de CGI e motion capture (TJ Storm interpreta Godzilla).
Os autores dos efeitos visuais de Godzilla inspiraram-se nos movimentos de lagartos, os dragões de Komodo, leões, lobos, ursos.
Jim Rygiel (a trilogia “The Lord of the Rings”) era o supervisor dos efeitos visuais.
O lendário John Dykstra (“Star Wars”, “Battlestar Galactica”, “Spider-Man”) deu uma relevante ajuda.
Importantes empresas de efeitos visuais participaram no filme – Moving Picture Company, Double Negative, Weta Digital, ComputerCafe/CafeFX, Stereo D, The Third Floor.
Edwards inspirou-se em filmes como “Alien”, “Jaws” e “Close Encounters of the Third Kind”, procurando, tal como nesses filmes, criar uma forte tensão e expectativa sobre a criatura, suscitando suspense sobre a sua aparição através de subtis aparições onde pouco é visto, deixando a ilustração definitiva para o final.
Edwards também se inspirou nos filmes-catástrofe dos 70s.
O filme “Akira”, de Katsuhiro Otomo, foi também uma forte influência visual.
Os Marines recusaram ajudar na produção, por causa do argumento – os Marines não ficam muito bem vistos como resolvem as coisas (uso de armas nucleares) na sua atitude face a Godzilla (preconceituosa). A ajuda veio da Marinha.
O Sergeant Major James D. Dever, um marine reformado, ajudou Aaron Taylor-Johnson no seu treino, serviu como conselheiro militar e ajudou os stuntmen na cena do salto nocturno.
O exército americano disponibilizou muitos dos seus elementos para participarem no filme.
Filmado em Vancouver e em Honolulu.
Andy Serkis, grande perito na técnica de motion capture (é ele o Gollum da saga “The Lord of the Rings” e o “King Kong” de Peter Jackson) ajudou nas cenas que recorreram a tal método.
Para as cenas passadas nos anos 50, Seamus McGarvey (um dos melhores Directores de Fotografia do Cinema actual) usou câmaras dos anos 60, tendo depois sujeito as imagens a um tratamento digital.
O filme tem 960 efeitos visuais. Godzilla tem 327 shots. Se tudo fosse produzido num só computador, seriam precisos 450 anos de trabalho.
O Dr. Ishiro Serizawa (o personagem de Ken Watanabe) tem o seu nome vindo do realizador do filme original de 1954 (Ishirô Honda) e do personagem que detem Godzilla nesse filme (o Dr. Daisuke Serizawa).
No momento em que Ford e Joe entram na casa japonesa, vê-se um aquário com o nome “Mothra” – e outra criatura relevante do mundo Kaiju, que já se defrontou e ajudou Godzilla.
O comportamento dos MUTO inspira-se nalguns insectos.
Os MUTOS são uma criação exclusiva de Hollywood, não sendo adaptação de qualquer criatura do universo Kaiju.
A cena da queda livre dos marines foi executada na realidade. Recorreu-e a uma equipa profissional de skydivers.
Godzilla demora quase uma hora de filme até aparecer e tem um screen time de 11 minutos.
O bafo atómico de Godzilla só é usado ao fim de 100 minutos de filme.
No momento final, ouve-se discretamento o main score do filme original de 1954.
Akira Takarada era um veterano da saga, tendo participado no filme original e em mais cinco filmes. Neste novo filme ia interpretar um agente dos serviços de imigração. Por razões de ritmo, as suas cenas foram cortadas. Edwards lamentaria tal.
Bryan Cranston tem um screen time inferior a 30 minutos. Actor e autores reconheceram que matar o seu personagem foi um erro criativo.
O filme estreou no ano em que se comemorava os 60 anos de Godzilla.
Os executivos da Toho (a companhia japonesa que detém os direitos de Godzilla) viram o filme num screening exclusivo e ficaram encantados com ele. Rapidamente escreveram a Edwards a tecer enormes elogios, o que comoveu o realizador.
Haruo Nakajima, o homem que interpretou Godzilla por várias vezes dentro de um fato, adorou o filme.
Quentin Tarantino chorou no momento em que Juliette Binoche morre. Para o cineasta é a primeira vez que o faz num blockbuster 3-D.
“Godzilla: Awakening” é um comic book que funciona como uma prequela ao filme e narra a origem de Godzilla.
Greg Cox escreveu uma novelização do filme.
Godzilla apareceu também em diversos jogos e brinquedos.
Primeiro filme do Monsterverse – seguir-se-ão “Kong: Skull Island” (2017), “Godzilla: King of the Monsters” (2019) e “Godzilla vs. Kong” (2020). Ainda não se sabe o que mais se seguirá.
Godzilla em spots comerciais:
Em Julho de 2014, Godzilla decora a cidade de Tóquio.
https://screencrush.com/godzilla-statue-tokyo-japan/
https://taiken.co/single/the-godzilla-experience-in-tokyo/
Rapidamente surgiram as notícias de sequelas:
- “Godzilla: King of the Mosters” em 2019, onde o “Lagartinho” iria cruzar-se com outras relevantes criaturas do Kaiju – Mothra, Rodan e o temível King Ghidorah.
- “Godzilla vs. Kong” em 2020, onde se dará o embate das duas míticas criaturas.
A Toho (a “casa” de Godzilla) – http://www.tohokingdom.com/
Grandes momentos:
http://www.totalfilm.com/features/50-greatest-godzilla-moments
Os filmes de Godzilla:
http://www.godzilla-movies.com/
http://www.scified.com/site/godzillamovies
http://www.empireonline.com/features/godzilla-movie-guide