John Carter (2012)

John Carter - Poster 1

O DVD e o Blu-Ray deste filme já andam a preços mais acessíveis.

Por isso, “John Carter” saltou para as minhas prateleiras.

Aproveitei para o rever, o que se traduziu numa experiência tão fascinante como a que tive quando o vi nas salas.

John Carter é um veterano da Guerra Civil Americana que se vê transportado para Marte. No Planeta Vermelho, vê-se envolvido numa outra guerra. Duas facções lutam pelo poder, mas uma ganha a estima de Carter, pois nela está uma bela princesa (o livro em que se baseia o filme intitulava-se “A Princess of Mars”).

Na época da sua estreia, “John Carter (of Mars)” era considerado como “O `Avatar´ da Disney”. Era a grande aposta do estúdio para 2012, com um título que prometia revolucionar (e entusiasmar), mas não isento de riscos (250 milhões de Dólares de orçamento, bom elenco mas sem estrelas, um realizador estreante em imagem real, apesar de ser um nome relevante da Pixar – assinou os aclamados “Finding Nemo” e “WALL-E”).

É uma adaptação de um romance de Edgar Rice Burroughs (sim, o criador de Tarzan), aclamado, de culto e altamente influente.

As imagens divulgadas prometiam um espectáculo visual épico, que nem o autor de “Avatar” desdenharia.

Mas as coisas não correram bem, do ponto de vista financeiro. A estreia USA foi fraca (cerca de 30 milhões de Dólares), apesar da boa resposta do resto do mundo. No final, pouco mais de 70 milhões de Dólares nos USA, pouco mais de 280 a nível mundial. Flop imenso (e injusto). Muita tristeza na Disney (queria-se uma saga e assim adaptar mais livros da saga de Burroughs). E muitas cabeças “rolaram”.

Será que “John Carter (of Mars)” é mesmo  “O ´Avatar` da Disney” (assim foi “publicitado” por alguns lugares)?

Mereceu ser um flop?

Merece ser reavaliado?

É renovador/inovador no género?

Com excepção da parte flop, é Sim a tudo.

Tal como esse épico de James Cameron, também este épico da Disney é uma viagem (fascinante e espectacular) a um outro mundo e a outras civilizações. Com resultados verdadeiramente fascinantes, espectaculares, em plena sintonia com alguns dos deveres do Cinema (criar mundos, levar-nos a eles, deixar-nos de “queixo caído”, encher-nos o olho, etc.)

Apoiado nas mais modernas tecnologias do Cinema (o filme já anda planeado desde os anos 30, mas sempre adiado devido à incapacidade da tecnologia para retratar tal universo), o filme recupera o modelo clássico das space-operas, das aventuras 40`s, do western, do peplum e das histórias sobre princesas e reinos em perigo. Tudo de uma forma ora simples, ora complexa, mas plenamente entusiasmante.

Taylor Kitsch (que veríamos nesse Verão em “Battleship”, onde voltaria a enfrentar alienígenas – outro grande espectáculo e puro entertainment, mas apenas isso) até revela algum jeito como action hero (e também para capas de revista e causar suspiros nas meninas), mas falta-lhe a destreza dramática que o seu personagem exige (um homem batido pela guerra e pela violência, que tudo perdeu e com um vazio emocional e humano na sua existência).

John Carter -  1

Por outro lado, o filme também se ressente de alguma falta de química entre Kitsch e Lynn Collins (que até brilha como princesa). Isso não pode acontecer neste tipo de história sobre herói e princesas.

Felizmente que há um excelente elenco de secundários – Willem Dafoe, Bryan Cranston, Ciarán Hinds, Mark Strong, Polly Walker, Dominic West, James Purefoy, Thomas Haden Church, Samantha Morton.

Boas e maciças doses de acção e espectáculo. Um mundo maravilhosamente criado e filmado.

Absolutamente deslumbrantes os trabalhos a nível de fotografia, cenografia, efeitos visuais e som.

Como sempre acontece nos filmes Disney, bons valores e sentimentos, violência acessível, “moral” para a família, tom de feel-good-movie e aquela personagem-criatura secundária, de visual e atitude simpática, divertida e encantadora (aqui é Woola, uma espécie de cão marciano, inicialmente com ar estranho, mas que depois ganha a nossa total empatia graças à sua agilidade, audácia, boa disposição e devoção – yup, o Disney touch nunca falha).

Woola - John Carter -  1

Mas como sempre nos filmes Disney, como projecto colectivo que é, alicerçado nos valores do estúdio, carece daquela visão personalizada de quem realiza. Andrew Stanton revelou talento em “Finding Nemo” e “WALL-E”, mas filmar imagem real tem regras diferentes do cinema de animação. Tem um trabalho que demonstra empenho, profissionalismo e competência, mas falta-lhe aquela garra que os mestres do género têm. Nas mãos de James Cameron ou Tim Burton, teríamos um filme magistral.

Mas fica (e não é pouco) um grande entretenimento, espectacular, divertido, escapista e até cinéfilo. E é isto que o Cinema (também) deve ser.

Regressem a Marte (ou Barsoom) na companhia de John Carter.

Garanto-vos que viagem vale a pena.

Como se costuma dizer – The Ride of Your Life.

John Carter - Poster 2

Site – http ://disney.go.com/johncarter/

Sabe-se que a obra de Edgar Rice Burrough é uma enorme influência sobre muita da sci-fi escrita, desenhada e filmada que se seguiu – percebem-se os seus ecos em “Flash Gordon”, “Buck Rogers”, “Star Wars” e até “Avatar”. O filme pode ajudar na (re)descoberta da obra deste fantástico escritor. Em 2012 passavam 100 anos sobre “A Princess of Mars” (o livro onde o filme se inspira). Eis um excelente motivo para os editores livreiros portugueses trazerem até nós esta fascinante viagem a Barsoom (ou Marte, como nós, os terrestres, lhe chamamos).

Sobre Edgar Rice Burroughs – http://www.tarzan.com/

O livro chamou-se inicialmente “Under The Moons of Mars” e foi editado em seis números da pulp magazine “The All-Story”, de Fevereiro a Julho de 1912. Só em 1917 é que a obra foi reunida num único volume e com o título de “A Pincess of Mars”. Edgar Rice Burroughs escreveu-a sob o pseudónimo de Norman Bean (a ideia de Burroughs era Normal Bean, mas o dactilógrafo julgou que era engano e corrigiu para Norman), pois tinha medo de ser ridicularizado dada a fama e prestígio já ganhos com “Tarzan”. Contudo os receios foram infundados – a obra foi um (enorme) sucesso e revelou-se de grande influência no futuro, dentro do género. A saga teria mais 11 títulos (publicados ao longo de 30 anos) e ficaria com o título “Barsoom”.

A Princess of Mars - Cover 2

Sobre “The All-Story”

http://www.magazineart.org/main.php/v/pulpgeneral/all-story

Sobre a saga – http://www.barsoomian.net/

O livro “A Pincess of Mars” celebrava 100 anos. Em Abril desse ano foi lançada uma edição luxuosa, aproveitando a data, a celebração e o filme. Mas só nos USA.

A saga terminou em 1948 com 10 livros. Em 1964 eram editados mais dois livros, com pequenas histórias, criadas por John Burroughs, filho de Edgar. Essas histórias foram lançadas em forma de serial, em 1941 e 1943. Na sua continuidade, a saga divide protagonismo com o filho (episódio 4), a filha (episódio 5) e a neta (episódio 10) de John Carter, Ulysses Paxton (outro terrestre “enviado” para Marte – episódio 6), Tan Hadron e Vor Daj (habitantes locais – episódios 7 e 9).

É um projecto que já anda pensado desde 1931. Problemas logísticos, técnicos e financeiros foram-no adiando até 2004. Neste ano, tudo parecia bem encaminhado por (e para) Robert Rodriguez (“Sin City”), mas tudo emperrou novamente. Depois o projecto andou pelas mãos de Kerry Conran (devido a “Sky Captain and the World of Tomorrow”) e Jon Favreau (devido a “Zathura”). Mais cancelamentos e a Disney volta a deitar as mãos ao projecto (a meio dos 80`s pensou em contratar John “Die Hard” McTiernan para a realização). Perante o sucesso e aclamação de “WALL-E”, pela estima que Andrew Stanton tinha no estúdio, pelas suas capacidades mostradas para com o género sci-fi e com a sua vontade em estrear-se em imagem real, Stanton foi o escolhido.

O objectivo era fazer em Cinema a (primeira) trilogia literária. “The Gods of Mars” e “The Warlord of Mars” são os seguintes episódios. Todos são protagonizados por John Carter, que só regressaria nos episódios 8, 11 e 12.

À semelhança dos livros, o filme exigiu um perito em linguística para criação de um dialecto próprio.

Comparações sobre títulos que revelam influências da saga de Burroughs

http://www.empireonline.com/features/john-carter-sci-fi-influence-chart

Um guia sobre o filme.

http://www.empireonline.com/features/guide-to-john-carter-mars/

10 minutos de filme.

http://www.empireonline.com/news/story.asp?NID=33319

Entrevistas

http://www.empireonline.com/interviews/interview.asp?IID=1477

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