Título Original – Omohide Poro Poro
Título Internacional – Only Yesterday
Assim prossegue a minha viagem pelo universo dos Estúdios Ghibli.
Hayao Miyazaki “apenas” produz.
O argumento e a realização pertencem ao prestigiado Isao Takahata, cujo maravilhoso “Grave of the Fireflies” foi suficiente para pôr o seu nome no mapa e na história do Cinema.
Taeko, mulher de 27 anos, administrativa numa empresa, tem a sensação que falta algo na sua vida. Como é habitual desde há vários anos, numa determinada época, parte para o interior com o fim de participar numa importante colheita agrícola. Tal viagem é sempre uma desculpa para Taeko revisitar memórias da sua infância. Mas este ano muitas serão as confrontações entre passado e presente, pelo que há que encarar a realidade e tomar decisões (em sintonia, ou não, com os seus sonhos de criança) para um futuro radiante, enquanto adulta.
Singela e delicada evocação sobre os dilemas do ser humano entre as memórias de infância e adolescência (plenas de sonhos e aspirações) com o presente da vida adulta (sempre pleno de dramas e chatices).
Há também lugar para uma revisitação aos 60s e ao impacto dos ícones culturais da época dentro da sociedade nipónica, com uma pequena ilustração de alguns aspectos da cultura familiar e escolar japonesa.
Para Takahata, o cinema de animação não é a criação de universos de magia, fantasia e infantis, mas sim uma ferramenta (técnica, estética) para contar histórias (bem reais, sérias e dramáticas).
Este é mais uma prova.
O resultado é honesto, simples, sentido e sentimental.
Claro que perde face a “Grave of the Fireflies” (uma das mais poderosas experiências cinematográficas, visuais e emocionais, do mais belo e doloroso que há memória; o título está à venda no nosso país e a bom preço, altamente recomendável), mas “Only Yesterday” é um bom atestado das qualidades do seu realizador e dos méritos do estúdio.
O filme encontra-se editado em Portugal e está a bom preço.
Trailer
A Walt Disney Company comprou os direitos de distribuição USA (algo já habitual em muitos anos, por “imposição” de John Lasseter, Number 1 da Pixar, grande fã dos títulos do estúdio japonês e da obra de Miyazaki). Mas a distribuição ficou cancelada. Tudo porque os senhores executivos ficaram chocados com a forma como o filme foca a menstruação nas adolescentes (decisão absurda, pois o filme aborda o tema com simplicidade, naturalidade e até bom humor – veja-se a cena em que os rapazes tentam descobrir se meninas estão na “semana”; como o fazem? levantando-lhes as saias e…). O contrato entre Disney e Ghibli proíbe a casa do Uncle Walt de remontar os filmes do estúdio nipónico.
A canção que se ouve no final, “Ai Ha Hana, Kimi Ha Sono Tane” é uma adaptação japonesa do tema “The Rose,” celebrizado por Bette Midler (cantou-o no filme com o mesmo título).