Fresquinho de ter ganho, há semanas, dois importantes Globos de Ouro (“Melhor Actor – Drama” – Matthew McConaughey; “Melhor Actor Secundário” – Jared Leto), eis um dos mais originais, humanos e sentimentais filmes do ano.
Ron Woodroof é electricista de profissão e vigarista nas horas vagas, em jogos de apostas em rodeos. Amante de excessos (droga, álcool, sexo), a sua vida sofre uma reviravolta quando sabe está doente de SIDA. Os médicos dão-lhe 30 dias de vida, mas a possibilidade de um ligeiro tratamento através de um novo medicamento. Descrente de tudo, mas não disposto a desistir de viver, Woodroof parte para o México onde se submete a um tratamento mais eficaz (ainda que não autorizado nos USA). Woodroof aproveita a situação para ganhar algum, a contrabandear um conjunto de fármacos não-aprovados (mas não ilegais) e a vendê-los a quem necessita. O seu esquema torna-se num “clube” de tratamento e salvação de muitos doentes. Mas isto vai trazer incómodos às autoridades médicas.
Divertido, dramático e pleno de sentido humano, o filme é também um tributo ao direito à vida, à luta por ela e pelo direito à dignidade (mesmo que em fim de vida).
Mas o filme funciona também como um “panfleto” sobre os males da indústria farmacêutica e o sistema de saúde (americano apenas?), para quem doentes são apenas números, clientes e cobaias.
Pertinente o facto do filme se passar nos 80s, numa época em que pouco se sabia sobre a doença, havendo um imenso preconceito sobre os doentes, o que direccionou a uma forte homofobia (achava-se que só afectava faggots – veja-se a forma como se aborda a morte de Rock Hudson e toda a consternação que se seguiu sobre as verdades da sua vida sexual; a forma como Ron é tratado pelos colegas e amigos quando sabem do seu “problema”).
Estamos perante um puro filme de actores. Todos estão muito bem.
Mas (como é óbvio) o destaque maior tem de ser dado a McConaughey. Um trabalho absolutamente impressionante, comovente e dilacerante. Cheio de raiva (atenção ao seu “desabafo” no carro), paixão (o seu “discurso” perante os “peritos” farmacêuticos) e convicção, com uma notável entrega física (veja-se o seu ar skinny).
Belo filme.
Um dos mais relevantes de 2014.