Do Uruguai surge-nos este muito curioso filme de suspense psicológico.
Um bom mérito – é todo filmado em plano-sequência.
Laura e o pai vão para uma casa para fazer umas reparações, dado que o dono vai vendê-la. Pai e filha decidem passar lá a noite para iniciar os trabalhos logo pela manhã cedo. Cai a noite e o pai mergulha rapidamente num tranquilo sono. Mas Laura tem dificuldade em adormecer. Algo naquela casa a incomoda. O desenrolar da noite vai ser uma jornada de medo e sustos para Laura.
Muito eficaz e competente exercício de estilo, que assenta num virtuoso trabalho de câmara a criar um plano-sequência (ainda que “falso”, pois assenta numa hábil montagem de vários planos-sequência – o engenho está mesmo nessa montagem, pois o resultado final é fantástico).
Dado o tom “real” e live (o filme decorre em tempo real), consegue-se uma grande aproximação e convívio com a protagonista. É grande a sensação de medo, por mérito da actriz Florencia Colucci (que ilustra muito bem o rosto do medo), bem como pelo uso da luz e sombras, sem esquecer a excelente gestão do som e do silêncio.
Há bons momentos para sustos em estado puro, capazes de fazer saltar muito espectador (a aparição na casa; quando tudo fica às escuras, a protagonista recorre ao flash de uma máquina fotográfica e o que se segue; o vulto “luminoso” na estrada).
No final, e como brinde, um temendo twist e poucas explicações, deixando muita ambiguidade no “veredicto” do espectador sobre os eventos e a protagonista.
O genérico final dá umas “explicações”, mas no final do genérico há uma cena extra, com dois twists (um à volta do twist no final do filme e mais um sobre este novo twist). Conclusões (sobre os eventos e a protagonista)? Essas ficam à consideração do espectador.
Uma pequena preciosidade, que é mais uma demonstração que medo e terror não é uma questão de gritos, sangue & tripas e violência.
Hollywood não ficou indiferente e comprou os direitos para o remake. Ele já anda nas nossas salas.
“La Casa Muda” é inédito no nosso mercado. Existe noutros, a bom preço.
Realizador: Gustavo Hernández
Argumentistas: Oscar Estévez, Gustavo Hernández, Gustavo Rojo
Elenco: Florencia Colucci, Abel Tripaldi, Gustavo Alonso, María Salazar
Trailer
Orçamento – 6.000 Dólares.
Baseia-se num evento ocorrido no Uruguai, nos anos 40. Os corpos de dois homens são encontrados numa casa de campo, com as línguas cortadas. São também encontradas umas misteriosas fotografias. O caso nunca teve conclusão satisfatória.
O filme foi filmado com uma Canon EOS 5D Mark II.
Quatro dias de filmagem.
Basicamente, o filme é um plano-sequência de 78 minutos.
O filme foi apresentado na Quinzena de Realizadores, em Cannes 2010, onde foi elogiado e onde se viu a dita cena extra, após o genérico final.
A Grande Ilusão 