Com a permanente moda de remakes, era uma questão de tempo até que o clássico de Brian De Palma fosse alvo de um (ou actualização, como agora se diz).
A assinar está Kimberly Peirce, uma perita em cinema “feminino” – “Boys Don`t Cry”.
Carrie White está no final do secundário e só agora lhe chegou o período.
Se Carrie já era alvo de gozo pelas colegas, agora ainda mais. Ainda por cima, Carrie vive atormentada por uma mãe de grande (melhor dito, fanática) devoção religiosa, que considera Carrie um erro e um acto demoníaco.
Carrie descobre que tem poderes de telecinética e até se diverte com isso, procurando saber mais sobre a área.
A possibilidade de ter um final digno na sua vida escolar parece surgir quando é convidada para a prom night. Tudo corre bem, para Carrie é a realização de um sonho.
Mas um acto vingativo, violento e humilhante sobre Carrie vai levá-la a usar o pleno dos seus poderes e assegurar a merecida desforra.
A noite vai ser longa, de terror, sangue e muitos cadáveres.
É óbvio que sempre que surge um remake são feitas as comparações.
Já lá irei, mas primeiro tratemos do filme como produto autónomo.
“Carrie” ilustra profissionalismo e competência, apoiado em bons meios de produção.
Peirce dá o ritmo adequado e até cede uma sensibilidade feminina na forma como trata o tema.
O argumento pouco traz de novo face ao original e quem já o viu já sabe o que vai acontecer, mas tudo está bem estruturado e contado, devidamente adequado aos tempos modernos (a humilhação de Carrie é filmada para divulgação na net).
Como é de esperar, o grande momento é o final, com Peirce a criar uma sequência que cativa pelo poder de espectáculo e impacto, sem recusar os efeitos CGI (muito bons e discretos) e uma violência mais explícita.
Novidades, poucas. É certo que quando a destruição começa, Carrie passa mais tempo na rua e até destrói uma estação de combustível (algo que Brian De Palma queria ter feito no filme original, mas o orçamento não lhe permitiu), regozija-se com o sofrimento que sujeita alguns dos seus inimigos e até lhes prolonga a agonia, tendo também discernimento para proteger alguns inocentes. Sinal dos tempos actuais, a Carrie 2013 é mais aguerrida, destrutiva e violenta que a Carrie 1976.
Mas isso não é o suficiente para uma nova versão.
Será então este novo “Carrie” um filme desnecessário?
Pelo ponto de vista do argumento, sim, mas o filme também se defende com boas mais-valias.
A adorável Chloë Grace Moretz confirma porque é a melhor actriz da nova geração. Pode-se mesmo dizer que ela nasceu para ser Carrie. É de tal modo comovente e intensa na forma como demonstra ternura, medo, ânsia, sonhos, alegria, timidez e raiva, que é justo dizer que supera Sissy Spacek (que já tinha uma interpretação de grande nível).
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Já agora, informo os mais voyeurs que a nova versão mantém a cena do balneário e Carrie descobre que é “mulher” no chuveiro, mas o filme é educado e por isso (ao contrário do que aconteceu no filme original – Sissy Spacek já era maior de idade) não se mostra Chloë au naturel (e ela fica muito sexy com a toalha enrolada à sua volta; e aqueles lábios…, ai aqueles lábios…!!!) – Chloë ainda tem 16 anos.
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Julianne Moore está impressionante e a ela pertencem alguns dos momentos mais creepy do filme (as suas aparições). Rivaliza muito bem com Piper Laurie, que também assustava na sua interpretação.
O problema é, ao contrário do filme original, o tom algo insípido dos secundários. Carinhas larocas e corpinhos bonitinhos não chegam. Talento e carisma também são necessários. E disso havia de sobra no filme original, dentro dos secundários.
Feitas as contas, este novo “Carrie” pouco (ou nada) traz de novo face ao original (embora sejam de muito boa eficácia os efeitos CGI face aos também excelentes practical effects do filme original), conseguindo defender-se com as excelentes performances da dupla protagonista (são duas actrizes que nunca conseguem/conseguirão o medíocre, diga-se).
“Carrie” é competente filme de género, entretém e está adequado aos gostos da nova geração.
Mas não vai atingir estatuto de clássico.
Contudo, é um bom remake, que nada tem de idiota nem insulta o original.
Vê-se muito bem.
“Carrie” está nas salas portuguesas.
Realizadora: Kimberly Peirce
Argumentista: Roberto Aguirre-Sacasa, a partir do romance de Stephen King
Elenco: Chloë Grace Moretz, Julianne Moore, Gabriella Wilde, Portia Doubleday, Ansel Elgort, Judy Greer
Trailer
Orçamento – 30 milhões de Dólares
Bilheteira – 34 milhões de Dólares (USA); 84 (mundial)
“Melhor Jovem Actor/Actriz” (Chloë Grace Moretz), nos Prémios Saturn 2014.
“Sequela ou Remake que não deveria ser feito”, pela Alliance of Women Film Journalists 2013.
“Filme Favorito – Terror”, nos Prémios People’s Choice 2014.
Para Carrie sondaram-se actrizes como Shailene Woodley (ela recusou), Haley Bennett, Dakota Fanning, Emily Browning, Lily Collins e Bella Heathcote.
Sissy Spacek (a Carrie do filme original) foi ponderada para ser a mãe de Carrie. Jodie Foster também foi sondada, mas recusou. Julianne Moore substitui-a (não é a primeira vez, pois o mesmo aconteceu com “Hannibal” – o que até se revelou uma decisão sensata de Foster, dada a mediocridade do filme).
Kimberly Peirce é uma especialista em filmes femininos (“Boys Don`t Cry”). Não é de esperar o mesmo estilismo de Brian De Palma, mas os autores compensam com a promessa de uma maior fidelidade ao livro de King.
Sobre Stephen King:
http://www.goodreads.com/author/show/3389.Stephen_King
http://www.biography.com/people/stephen-king-9365136
As adaptações cinematográficas da obra de King
http://io9.gizmodo.com/all-56-single-stephen-king-movies-and-tv-series-adaptat-1783887752