Mud – Fuga (2012)

Mud - Poster 1

Cinema independente americano, vindo por um dos seus maiores representantes – Jeff Nichols.

Mud é um fugitivo, com um assassinato no seu passado.

Ellis e Neckbone são dois catraios em busca de aventura e desconhecido numa ilhota perto das suas casas.

Os três encontram-se e surge uma inesperada e ágil cumplicidade. Mud é o tipo de “herói” que os pequenos procuram (a figura paternal está algo ausente e marginal nas suas vidas). Ellis e Neckbone vão ajudá-lo a sair da ilhota e reencontrar o seu amor.

Mas surgem homens, odiosos, em busca de Mud, dispostos a ajustar contas passadas.

Se Mark Twain escrevesse um livro, que depois seria sujeito a umas alterações por Tennessee Williams ou William Faulkner e tudo fosse filmado por Sam Peckinpah, o resultado não seria muito longe deste magnífico “Mud”.

Do autor de “Tom Sawyer” retira-se a ânsia da infância e adolescência, a procura de peripécias e o fascínio pelo “durão”. Dos autores de “A Streetcar Named Desires” e “The Sound and the Fury” temos a complexidade das relações e dos sentimentos, com toda a turbulência emocional do Sul dos USA, sem esquecer uma abordagem psicológica. Do autor de “The Wild Bunch” temos a complacência pelo looser, o tom marginal das relações e a inevitabilidade da violência como fuga a ela própria (atenção ao impacto e planeamento do tiroteio final).

Parece muita coisa incompatível, mas Nichols faz um trabalho magistral na combinação e equilíbrio de todas estas vertentes.

Ritmo suave, quase leve, mas que nunca cai na lamechice, no banal e no insustentável. 130 minutos tão bem geridos que nem se sentem.

Apesar de ser abordado tanto assunto adulto, profundo e violento, “Mud” é, acima de tudo, uma belíssima história de amizade entre dois jovens e a sua descoberta do mundo adulto, com todas as inevitáveis dores (a desilusão do primeiro amor, a necessidade de paternidade presente).

Matthew McConaughey tem uma das suas melhores performances da sua carreira (mas não apaga da memória o seu tenebroso dark side mostrado em “Killer Joe” de William Friedkin, do qual já aqui falei). Contudo, o filme é dominado por uns esplêndidos Tye Sheridan e Jacob Lofland, verdadeiros herdeiros de alguma da essência artística teen dos 80s (vêem-se semelhanças a River Phoenix e a Will Wheaton e a um belíssimo título que fizeram nessa década – “Stand by Me”, de Rob Reiner).

Jeff Nichols afirma-se, cada vez mais, como o grande cronista do interior americano e assina o seu melhor filme.

Um dos melhores filmes de 2013 e um sério candidato a ser o melhor filme do ano na lista de muito cinéfilo.

Site – http://mud-themovie.com/

Nichols bem procurou ter Michael Shannon (o seu actor-fetiche – protagonizou-lhe “Shotgun Stories” e “Take Shelter”) como protagonista, mas conflitos de agenda impediram-no. Shannon acaba por fazer uma curta participação, num importante personagem.

Um dos personagens tem o nome de uma pessoa verídica, que serviu de modelo a Mark Twain para criação de Huckleberry Finn.

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